13 de janeiro de 2012

FALANDO DOS EXCESSOS...






- Taís Luso de Carvalho


Este assunto só  veio à tona  por eu ter dado com os olhos num programa de televisão sobre mulheres ricas. Não quero falar do que vi, só me servi dele para fazer um parâmetro entre o real e necessário e a futilidade. Não me interessa falar do programa em si. Que vivam, tais pessoas, como bem lhes agrade.  

E, no mesmo dia, li uma matéria sobre  Danuza Leão - que foi casada com o jornalista Samuel Wainer.  Conheceu e conviveu com pessoas importantes no mundo da política e da cultura. Gosto muito dos textos de Danuza, viveu com todas as mordomias e luxos numa época importante do nosso país. Não importa seus vestidos de grife, suas bolsas e malas famosas. Caiu fora! Levou alguns anos para chegar à conclusão de que luxo, na real, é simplicidade.

Pois bem, Danuza doou muitos de seus livros, vendeu suas roupas, suas bolsas e sapatos de grifes famosas. Vendeu seu apartamento, seu carro e tudo que lhe parecia supérfluo e foi morar em algo bem menor, um apartamento que simplificasse sua vida. Logicamente com bom gosto. Vendeu seu carro, livrou-se do Seguro e do IPVA, pois mora num bairro que tem de tudo. Veste-se, agora, com a maior simplicidade: jeans, tênis, camiseta, por aí. E isso eu adorei, pois tenho este perfil, esta maneira de pensar.  

Acorda, lê os jornais, caminha na praia, não tem centenas de amigos, não sai à noite e faz questão de mostrar que pode ser feliz abrindo mão de bobagens. Luxo para ela, agora, significa levar uma vida mais simples. Escrevia suas colunas nos jornais, seus livros onde encontrou muitos leitores e fãs. O importante é que se diz feliz. Realmente fiquei impressionada pelo desprendimento. Antes tarde do que nunca. E valeu.

Em geral as pessoas tentam se enquadrar dentro de algumas atitudes mais normais, tentam fazer as coisas mais ou menos certas, mas é difícil diante de tantos apelos,  para se ter o que não se pode, que a coisa vai ficando difícil, tudo vai virando uma bola de neve e, quem não sabe das consequências, passa a dançar conforme a música. A música dos outros. Aí o cartão dança e muitos se perdem nessa euforia perigosa do consumismo.  

Vivemos numa sociedade corrupta, consumista, opressora e exibida. Como ostentam!  Nossos alicerces são fracos. Nosso mundo é uma selva. Impera a lei do mais forte, que oprime e dita as regras. E de muitas ofertas viramos ótimas presas.  

No fundo nosso mundinho é um castelo de areia, frágil e de mentira; desaba com um sopro. Aí é que entra nossa estrutura para aguentarmos tais apelos. Programas de televisão nos vendem sonhos. Quantas mulheres não se deixam influenciar por cocotas malhadas e siliconadas, vistas em programas de televisão? E, estas,  passam a ideia de que isso tudo faz alguém feliz.  

Existem aqueles maratonistas atrás de tudo o que é top, querem tratamento vip por ser o fulano, filho do beltrano e neto do sicrano. E dê-lhe carteiraço.  Pagam os olhos da cara para exibirem uma etiqueta Armani, Versace, Givenchy, Chanel, Prada... e o escambau.

E aquele carrão, o top dos tops ? E a mansão da praia,  ocupada por um ou dois meses no ano? E ainda escuto que não se vive de aparências! Ohh... Precisamos ser muito autênticos para não cair na teia. Mas, como vivemos num mundo de falsidades, existem aqueles que mesmo sem poderem, entram na roda e ficam devendo os olhos... E pagam alto preço por serem insaciáveis.  

Descobrir o que é melhor pra nós não é fácil, mas é a grande sacada. É a qualidade de vida que muitos  sonham: viver bem sem grandes sacrifícios, com o conforto necessário. O que mata as pessoas é a ambição pelo luxo e a ostentação.

A grossura é detestável, mas ser autêntico e simples é a maior grife. Por isso penso que tudo o que excede, todo esse luxo excessivo, pelos quais muitos se matam, vai ficar por aqui. Iremos todos pro mesmo lugar: com as mesmas flores,  a mesma terra preta. Ou cinzas. 

E dias depois já seremos águas passadas... Completamente esquecidos.




20 comentários:

  1. Taís,
    Excelente reflexão sobre esse mundo consumista que seduz como se tudo se resumisse àquilo que podemos comprar. Comprar e ter são os verbos que substituíram o gostar e ser, lamentável. Fico muito contente que exista gente como você que consegue expressar com competência e audácia isso que muitos de nós pensamos, mas não conseguimos dizer. Parabéns pelo belo texto, JAIR

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  2. Taís, quando leio um texto bem elaborado como o seu fico contente e se as ideias que ele traz são semelhantes às minhas, então nem se fala! Parabéns, você expressou de forma inteligente e clara, verdades que tantos precisam ouvir (ler). Às vezes fico me perguntando, até que ponto algumas pessoas vão permitir que a ambição embote a visão? É assustador o ritmo do atual consumismo, "ter" é a moeda mais valorizada e "ser" está cada dia mais esquecido, que pena!

    Tenha um lindo fim de semana, beijos

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  3. Anônimo17:18

    Tais, cada dia eu me convenço mais que o material não nos faz feliz... Devemos descobrir em nós mesmas uma maneira de satisfazer nossas ansiedades, não sei como, mas eu acho que alguma maneira existe, pois tem muita gente simples nesse mundão que vive com pouco e estão satisfeitos com a vidinha que levam. Eu, as vezes me envergonho de ter mais do que eu preciso e assim mesmo fico reclamando, não que eu tenho muito, mas o que eu tenho é mais do que suficiente para viver. Sabe que fiquei enojada com o tal programa... Meu Deus!!! Essas mulheres deveriam ir capinar num milharal que ficariam bem melhor na foto rsrsrs. Beijão e ótimo final de semana.

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  4. Realmente, o luxo é ter o necessário. Ontem fui num outlet de grife perto de S.P e, por curiosidade, entrei na loja Armani, que estava em liquidação: uma blusa super simples em liquidação de 1000 reais por 450. Não tem sentido pagar isto por uma etiqueta, não?

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  5. Taís querida,amei tua crônica.Na vida, o verdadeiro luxo é fazer o que gostamos.Para ser feliz não precisamos de muito.Só o que aquece o coração. Parabéns pelo tema abordado!
    Serve como reflexão.
    Tenhas um lindo final de semana.Bjs Eloah

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  6. Incrível.....Então não é que essa história de Danusa, aconteceu hoje aqui, com uma escritora muito conhecida....Parece a mesma história.
    Foi notícia hoje em todos os diários..
    As pessoas tomam consciência da futilidade em que vivem e resolvem viver a sério....
    Adorei o texto...
    Beijo

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  7. Não tem jeito, Tais. O povo é assim mesmo. As pessoas vivem o tempo todo atras de ter e, pior, de mostrar que têm. Pouco se pensa sobre as coisas menores. Pouco se extrai de momentos simples. Porque a maioria das pessoas está preocupada com o que o fulano vai dizer, com o que o fulano espera que você tenha.
    Sorte tem aqueles que conseguem ficar fora disso e se sentir feliz com essa decisão.
    Amei o texto.
    Eu andava sumida dos comentários, mas sempre passo por aqui.
    Beijos
    Fê Coelho

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  8. Tais, que maravilha de crônica!
    Realmente, os excessos são a ruína de muitas pessoas... Vivem presas ao material, nunca sabem ao certo se as pessoas que se aproximam ali estão em virtude de sua amizade ou de seus bens... Por isso são amargas e inseguras lá dentro de seus carros de luxo, por trás das vidraças de suas mansões... Muitas vezes, são os mais tristes seres, os menos amados, os mais atormentados. Muito luxo para mim é prisão, é escravidão, e nada tem a ver com felicidade. Vida de aparências? Tô fora!

    "Ser autêntico e simples é a maior grife", você disse TUDO aqui! Texto maravilhoso!

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  9. Anônimo08:57

    Taís, estou triste por mais uma vez a TV colocar programas sem utilidade nenhuma. Muito legal sua colocação, bjs Cynthia.

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  10. Prezada Tais, boa tarde!

    Não há como discordar do seu ponto de vista, é bem verdade.Contudo, acredito que o mais pese nesse ponto, não seja a radicalidade de escolher entre o ápice do luxo e o ponto mais simples possível. Se todos nós de forma disciplinada usarmos o bom senso, sem nos deixarmos levar pelas hipnotizantes imposições da mídia,almejando sempre mais e mais, conseguiremos viver numa sociedade mais saudável.
    Utopia talvez, mas pra que servem as palavras?

    Muita paz!

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  11. Muito oportuno. Ainda mais se lembrarmos que a própria presidenta do Brasil disse que é importante consumir para sair da crise...

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  12. Anônimo13:12

    Maravilhoso o texto, a muito tempo não via um texto tão bem elaborado como este. Realmente as pessoas hoje são levadas ao consumo extremo, e muitas perdem sua verdadeira identidade, vivendo num mundo de glamour que destoa da realidade da maioria. De uma olhada na capa da veja. Parabéns.

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  13. Oi Thaís,

    O consumismo já atacou até nossas crianças. Penso onde vamos para com tudo isso?
    É preciso que mais e mais pessoas levantem essa bandeira para que a população acorde desse transe coletivo.
    Ótimo texto. Parabéns!

    Beijos e boa semana

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  14. Taís,

    Um taxto actual que pode levar o ser huamno a reflectir sobre as suas escolhas.
    Viver de aparências,muitas vezes endividando-se até ao último cabelo, é o que mais acontece no momento. E vê-se como vai a Europa... de repente está a desmoronar-se porque todos queriam viver com o que não tinham.
    Há que despertar para a realidade e encontrar dentro de si a verdadeira felicidade.
    A simplicidade e a natureza podem ser uma ajuda importante nesta nossa viagem de trilhar novos caminhos e constriir um Mundo Novo , melhor e mais justo.

    Parabéns pelo texto.
    Um 2012 cheio de paz.

    um abraço

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  15. Penso assim como você, sou uma pessoa bem simples, realmente é assim que me vejo...rsrsrs...claro que gosto das coisas boas, do necessário, nada mais...
    O mundo "parece"que tem uma regra, e a maioria segue este padrão de manada, mas eu prefiro seguir meus próprios caminhos.
    Adorei a postagem e obrigada por passar no Wallarte.
    Bjos.
    WaleriaLima.

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  16. Olá Tais! Passando para apreciar esta bela e pertinente crônica, assim como, agradecer a honrosa visita e o gentil comentário deixado lá no nosso humilde espaço.

    Estamos retornando às atividades, com a esperança de continuarmos merecendo o teu valioso apoio, um dos principais esteios de sustentação do nosso Arte & Emoções.

    Furtado.

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  17. Bom Dia Tais!
    Lendo tua crônica que só veio confirmar o que aos poucos fui descobrindo, claro, sempre fui pobre, nunca tive nada em excessos,mas mesmo assim,esse final de ano,arrumando as coisas,ocorreu-me um pensamento,acho que isso também vem com a maturidade,”o
    Tempo”,quem o tem como aliado,que foi o caso da Danuza,descobre o lado incrível da vida.
    Pois bem, pensei, acho que devemos ter o necessário para podermos administrar, para podermos tomar conta sem estresses...Isso vale para tudo, para que tanto dinheiro se á vida ele não acrescenta um dia a mais? Tantas roupas se quem usa é um corpo só?
    Tantos sapatos para um par de pés?
    Arrasou!
    Beijos!
    Sou tua fã de carteirinha.

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  18. Para que excessos, se podemos viver com o necessário?
    A sua crônica diz tudo, sem mais nem menos. O exemplo da Danusa, é perfeito. Tenho uma sobrinha, que "herdou" parte do enxoval da filha da Danuza com o Samuel Wainer, a minha cunhada era amiga da Nara Leão, isso há mais de 50 anos...ou seja, ela já passava adiante, não é de hoje o seu despreendimento...O consumismo, é estarrecedor.

    Parabéns, Taís pelo belo texto reflexivo...De utilidade pública, até!!!

    Um abraço,
    da Lúcai

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  19. Taís você também se deparou com "Esta peRóla" da tv".

    Bem amiga luxo e futilidades não são minha praia não ambiciono nem sonho.

    Gosto da vida, amo viver a vida de verdade.

    Boas férias amiga e volte renovada para nos brindar com suas belas palavras.

    bjs

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  20. Anônimo22:33

    Gostei do texto. Ja gostei muito de joias, antiguidades e afins. Certo dia,acordei para a vida. Nao abri os olhos,somente, para dar inicio a um novo dia de trabalho, eu me encontrei. Foi a melhor coisa que ja me aconteceu.Hoje, brinco dizendo aos poucos amigos que tenho que de aparencias so conheco uma pessoa que se deu bem. ao menos, na epoca do lancamento do LP!!!! Nada mais e nada menos que o Roberto Carlos!!! um sucesso foi a musica Aparencias nada mais....bjo grande e parabens!

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Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís