16 de outubro de 2010

MEMÓRIAS DE CRIANÇA

 

Árvore da Vida


 

- Tais Luso de Carvalho



Quando nasci fui batizada e anos mais tarde crismada na Religião Católica. Depois veio a 1ª Comunhão - tudo nos trilhos, como fazia toda a menina que estudava em colégio de freiras: colégio cheio das exigências, um ensino ótimo, forte. Tínhamos, também, o ensino religioso, é claro. As aulas eram dadas pelo padre da capela do colégio, o padre capelão , assim era chamado.

Lembro da agonia do sacramento da confissão antes da comunhão: ajoelhar naquela casinha (confessionário), contar meus pecados, arrepender-me e rezar algumas Ave-Marias. Foi nessa época que comecei a encrencar: confessar o quê? Que pecados? Então passei a dizer sempre a mesma bobagem, pois a freira ficava ali, no posto de observação. De olho nos anjinhos - que não éramos.

A partir de então, comecei a ser contestadora, não admitia que meu comportamento pudesse ser tachado como pecado. Começaram os meus porquês.

Eu tinha 12 anos, brincava com bonecas, mas queria saber o porquê das coisas. Observava muito o mundo dos adultos: louca para crescer e ser um deles, poder discordar e armar um barraco, ou seja, arrumar confusão com minhas ideias. Mas, passei a ser o docinho das freiras - talvez para não tumultuar as aulas de religião, dadas na bela capela onde eu olhava o teto, as imagens, de canto a canto, tudo, menos para o padre, eu já gostava muito da Arte Sacra, rica, cheia de detalhes.

Fazíamos caras, bocas e barulho com os saquinhos que guardavam o Terço, o Missal e outras bugigangas para tumultuar o negócio: o sermão do capelão! Um sermão com sotaque terrível, pesado. Na verdade nenhuma criança prestava atenção, estávamos noutra dimensão! Ninguém estava a fim de morte, ressurreição, castigos e pecados. Estávamos no começo da vida!

Eu tinha 12 anos, mas tinha de amar o próximo, perdoar os pecados do mundo, honrar pai e mãe, adorar a Deus sobre todas as coisas. Enfim, aqueles 10 mandamentos.

Eu só tinha 12 anos, mas já sabia que o ser humano era generoso, herói, afetivo, amigo, mas também competitivo, raivoso, bandido, egoísta e vingativo. E matava por prazer. Eu já lia jornais.

Eu tinha 12 anos, mas já sabia que éramos essa mistura de pensamentos, de atitudes, de sentimentos vulneráveis e contraditórios. Eu era, apenas, um ser humano em formação.

Embora eu tivesse 12 anos, não entendia como éramos à imagem e semelhança de Deus. Como entender isso com 12 anos? Nós, seres humanos tão pequenos? Ficou difícil. E por que terceirizar, no confessionário, minha conversa com Deus, meus supostos pecadinhos? Não aceitava isso.

Eu tinha 12 anos, e meu objetivo era cursar psicologia, pois para resolver os dramas que existiam nas profundezas do ser humano, aqueles sermões pouco serviam. Acreditava que a ciência daria as pinceladas mais exatas para arrumar esta confusão que somos e seremos sempre. Fui uma criança atenta a essas coisas. E muito pelas conversas com meu pai. Logo larguei minhas bonecas.

Cresci; meus 12 anos desapareceram, e o que eu consigo ver hoje são seres iguais àqueles: imperfeitos e contraditórios. E mesmo agora, tão distante da minha infância, mantenho os mesmos pensamentos. Se for para exercer a Democracia, que comece pela Liberdade Religiosa. Que cada um siga a sua fé, ou outro caminho de diferentes convicções.

Acredito em religiões e filosofias que trazem paz e alívio para as dores dos que precisam. Contudo, permanece em mim o gosto pela Arte Sacra e pela Arquitetura magnífica das Igrejas através dos tempos. É arte e História.




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20 comentários:

  1. Gostei desse seu texto Taís. Concordo em quase tudo com ele, só por duas diferenças: não estudei em colégio de freiras e descobri que não acredito em nada.Sou atéia mesmo tendo sido criada, como vc, na religião católica, indo à missa e confessando. Muito cedo, abandonei as crenças e tirei minhas próprias conclusôes. Os homens precisam da fé em suas vidas, de qq uma, de fé em qq deus. Eu não. Basta acreditar em mim e nos seres humanos, coisa meio difícil hj em dia. Mas no meio da multidão, sempre sobram um ou dois que fazem valer a pena. Beijos.

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  2. Oi, Tais:
    O importante, como disse, é encontrar Deus dentro do próprio coração. O diálogo sempre será entre cada um e a própria Divindade. Uma ótima tarde para você, beijos :)

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  3. Também estudei em colégio de freiras e nunca suportei a tal de confissão.Lembro que eu perguntava se o padre não fazia nada. Diziam que ele confessava direo para Deus.Eu respondia que eram uito melhor...

    Adorei tua crônica!E cada um tem o seu Deus, ninguém pode impor.deve vir de denro.

    beijos,chica

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  4. Concordo contigo. Eu fiz a primeira comunhão na marra, para não perder ponto no colégio. Concordo também com a Chica. Acho que cada um de nós tem o seu DEUS, pois cada um vê, fala e sente o seu DEUS de forma diferente, inclusive, não importando o lugar que esteja.

    Abraços e ótimo final de semana pra ti e para os teus.

    Furtado.

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  5. olá minha amiga! esse é um testemunho vivo de que somos apenas sere humanos cheios de erros, que vive uma busca constante da perfeição.e muitos acham que vão encontrar. tomara. amei.bjus tere.

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  6. E as vezes nem como mais idade acabamos entendendo os mistérios divinos, mas quando a gente vê que a felicidade nos dá ao fazer um bondade (sem ganhar nada, apenas se doar para ajudar um irmão), podemos acreditar que há algo perfeito cuidando de nós...

    Fique com Deus, menina Tais Luso.
    Um abraço.

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  7. Texto extraordinário.

    Beijo.

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  8. Tais, querida!

    Tive uma história muito parecida, sempre estudei em colégio de freiras e lembro a rotina semanal: confessar no sábado e comungar no domingo. Lembro do Padre Agostinho, dentro do confessionário, e a enorme fila dos alunos esperando a vez de confessar e, no domingo, lá estava ele para dar a comunhão aos “pecadores” que ele havia penitenciado no dia anterior. Ele era um padre muito querido, mas enérgico e exigente quanto à disciplina.

    Quanta inocência! Tempo em que a gente acreditava que brigar com a irmã era pecado! Confessava para se “redimir” e na semana seguinte repetia a mesma ladainha na confissão. Tempo de inocência e muitas culpas que incutiam na nossa mente.

    Hoje, sendo bem pontual, vejo com indignação a intromissão da igreja nas questões políticas com discursos fundamentalistas e preconceituosos. Padres e pastores tentando influenciar e povo para eleger candidatos e, o pior, ver pessoas atendendo tal chamado!!!

    Questões muito delicadas e de ordem íntima e pessoal, como o aborto e o homossexualismo, sendo tratadas como bandeira de campanha por “padrecos” e uma multidão de falsos moralistas. To fora!

    Há muito me afastei da igreja e hoje não acredito nela.

    Tenho minha fé em Deus e acredito nos valores da honestidade, verdade e generosidade. O resto é papo.

    Adorei a crônica.

    Beijos
    Lia

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  9. Belos textos, bonito o teu blogue, cores lindas.
    Obrigado pela visita.

    Saravá!

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  10. É muito complicado essa escolha numa idade tão tenra!
    Taís, lindona!
    Obrigada por participar da minha festa de aniversário.
    Sem a sua presença a festa não teria o mesmo brilho!
    Obrigada pelo carinho!
    Beijocas, muitas!

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  11. Bom dia, Tais! Eus já estava me afastando dia após dia de religiões. Acho que não preicso mais que ninguém sistematize para mim um conjunto de peceitos para me justificar perante aquilo que creio. Então, religião sou eu e o meu Deus. Depois dessa campanha eleitoral, aí é que desisti de vez. rsrs. Muito bom ler seus textos, sempre! Abraços. Paz e bem.

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  12. Eu também estudei num tradicional colégio de freiras. E você descreveu direitinho muitos dos momentos que tive por lá. A diferença é que você foi o docinho das freiras; eu fui provavelmente a coisa mais amarga que elas experimentaram.

    E você tem razão, se é Deus só pode haver um, apesar dos diferentes caminhos para se chegar a ele.

    Aliás, neste momento em especial Deus é a maior celebridade da mídia impressa, do horário eleitoral e dos jornais da televisão em qualquer canal. rsrs

    Adorei a crônica! Bjs, amiga. Inté! ju

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  13. Bom dia Tais...
    kkkkkk...Que texto delicioso de ler...muito bom.
    E concordo viu, cada um no seu quadrado. Acredito em Deus, tenho fé e sou muito abençoada e feliz...

    Tua fã demais...

    beijos

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  14. Olá Tais

    Também eu estudei num colégio de freiras. De facto tinha um horror enorme à confissão. E vá lá o diabo saber porque sempre me vinham à cabeça ovos estrelados quando me ajoelhava a pensar nos pecados! Até hoje nunca entendi essa obcessão por ovos na hora da confissão!
    Quanto ao ser humano, esse precisa de acreditar em alguma coisa...seja num qualquer deus, seja em si próprio. Há que manter a esperança de que o bem prevalecerá sobre o mal e que um dia se fará justiça. Aquelas coisas que nos "vende " a religião. Tudo bem, desde que não caiam em fanatismos.

    Beijinhos
    Maria

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  15. Taís
    Foi uma alegria muito grande econtrá-la entre os seguidores do meu modesto espaço.
    Vim conhecer o seu e fiquei encantada!
    Tudo muito lindo.
    O texto desta postagem , muito bem escrito, é matéria para profunda reflexão.
    Deixo-lhe um abraço, todo entremeado de gratidão

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  16. Olha, Tais: fui ao teu blogue, post de 2/1/2009 e saquei o boneco.
    Quem rouba pão por ter fome... merece perdão!

    Perdoas-me?

    Beijinho deste lado do Atlântico!

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  17. Esses 'dogmas' da igreja é que acabaram me afastando dela. Acredito no meu Deus, não naquele que me impuseram. Bjs querida, tenha um ótimo final de semana.

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  18. Taís, gostei de ler a sua experiência com a religião. Nós somos mesmo uns seres imperfeitos, muito limitados. E queremos saber demais, como se fôssemos perfeitos, donos da verdade. Porque a verdade que nos apresentaram era cheia de falhas, queremos que a nossa seja a verdade. Tapamos o sol com a peneira. O assunto Deus é mais simples e mais complicado. Primeiro é preciso um pouco de humildade. Ah, preciso dizer que passei pelas mesmas dificuldades (apenas com outras roupagens, talvez com mais revolta). Foi preciso descobrir a humildade para me submeter a Deus e à história. Porque a questão é essa: somos tão presunçosos que negamos a própria história. Afinal, o homem é um bicho triste que se crê infinito, eterno. Talvez seja verdade. É uma questão de escolha. Como se vive melhor.
    Um grande abraço.

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  19. gostei muito de ver o seu blog. também gosto de escrever umas coisas.
    se puder, leia e dê-me a sua opinião.
    Abraço,
    Manuela
    http://fragmentos.net

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  20. Boa tarde querida Tais..
    achei uma chatice passar por todas essas coisas..
    o tempo do meu pai foi mais tranquilo..
    eu era obrigado a ir na missa, assinar o nome no final dela..
    nada de faltas... pra que..
    hj vemos a igreja vazia..
    rezo, sou católico.. mas rezo o rosário de joelhos no meu quarto..
    a intenção é que vale..
    naquele tempo a gente ia confessar srrs
    bah.. sempre a mesma coisa...
    quais são os teus pecados dizia o padre..
    eu... sempre vejo revista de mulher pelada...
    e o de sempre né rsrs
    se por coisas assim não fossemos perdoados a terra seria um mar de chamas e todos estariamos queimando rsrs
    somos seres buscando melhorar...
    ontem mesmo vi um video do programa que sempre acompanho..
    programa vida inteligente- O Eu sou..
    adorei a abordagem..
    se desejar confira no youtube..
    beijos e feliz sempre querida amiga

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Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís