16 de abril de 2013

NAMORO, CASAMENTO, FILHOS E NETOS




                       -  Tais luso de Carvalho

Se há coisa que chateia são certas perguntas que insistem em permanecer no século 21. Pensei que tivessem sido esquecidas, mas não: continuam, insistentemente. Lembro, quando adolescente, sempre vinha uma tia, lá das cavernas, daquelas que comiam pelas beiradas,  para saber da vida dos outros:

– E o namoradinho,  filhinha?
– Não tenho...
– Não acredito! Uma menina tão bonitinha sem namorado?

Putz, não sei por que esse tipo de pergunta se espraiava pelos recantos do meu restrito universo adolescente – 14 anos, na época. Que coisa chata era aquilo. Só sobrava um risinho meio murcho, caminhando pelos cantos. Tá bom; era outra época, entendo. Talvez faltasse assunto com os adolescentes, sei lá.

Mais tarde, ao curtir meu namoro, a segunda pergunta era fatal...
– E o casório, filhinha... ele não tá te enrolando?

O tal de filhinha  já me tirava do sério. E também nunca entendi por que aquelas criaturas eram tão obcecadas em ver todos os solteiros, casados.

Mas casei! E veio a terceira pergunta:

– E o nenê, minha filha, é pra quando?

E veio o nenê! Báh, que alívio... Agora elas se aquietam.
Não; não se aquietaram! Essa gente não esquece. Elas sempre voltam:

– E o segundo? Filho único não é bom, a criança fica muito mimada e solitária, filhinha...

Veio o segundinho! Ahá... Agora sim, deu! – pensei eu.

Engano: hoje a pergunta é se meus filhos já casaram e se já tiveram filhos! 
Ando com medo de ficar meio pirada. Então me pergunto: por quê? Falta assunto? É mania? Ficou o ranço? Não sei por que, mas os adultos têm umas manias meio desagradáveis,   me cuido para não escorregar nas perguntas. 

Por exemplo: que coisa hilária é ver um adulto falar com uma  criança pequenina! A coisa  é meio retardada, imitando o tom e o jeito da criança. Por que não valorizar a criança e falar como adulto? Aí fica aquele pititi mastigado, amassado pra não dizer nada. E a criança deve achar o tanto de retardado é aquele adulto...

Não estou dizendo em ter um papo cabeça com o pobre do anjo, mas sim em ser natural, falar como adulto, e não mostrar à criança, um ser meio abobalhado. Criança entende: elas sabem quem é criança, quem é adulto, e percebem quem é idoso. E devem perceber quem é doido. Nunca entendi esse arremedo de retardo mental.

Querem ver outra mania?  A pobre da filha casa e a mãe fica se coçando esperando um netinho. E fala e fala no netinho que não existe... Isso não será a legítima invasão na vida privada do casal? Parece a síndrome do vazio atacando em larga escala.

Com uma medicina avançada, não há mais necessidade em ter filhos com urgência. Não digo em ter filhos com idade de avó – como aquela dona lá nos Estados Unidos que teve seu baby com sessenta anos, esquisito, aquilo. E fico a imaginar a criança entrando na adolescência... vai matar a velha de trabalho,  preocupação ou de susto.

Não acredito em alguém que se diz imune às opiniões. Não existe isso, todos somos um pouco influenciáveis, ainda mais num mundo que já está acostumado a compartilhar tudo, mesmo o que não se deve. Dizem que compartilhar alivia tensões. Não gosto disso.

Se existir esse compartilhar sem efeitos colaterais, me passem a fórmula - pelo amor de Deus. Também quero essa imunidade. 
Quero abrir  minha boca aos quatro cantos do mundo e ciente de que ficarei com uma nova cabeça  - moldada como  Freud  sempre sonhou.




16 comentários:

  1. Sensacional seu texto para despertar 'uns e outros' para que cuidem de sua própria vida e não 'perturbem' o bem estar, o ser de cada um! Respeitar individualidades sempre.
    Abraço, Célia.

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  2. São hábitos que passaram através das gerações e que persistem, um pouco mais atualizados, mas ainda existem.
    Um abraço

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  3. Gostei muito de ler este texto porque retrata uma realidade.
    Agora imagine um casal que não consegue ter filhos. As perguntas
    são constantes, e "quando se está a viver o problema de não
    conseguir engravidar, e depois quando sabe que não pode" e as
    perguntas que nunca acabam.
    Beijinhos
    E gosto muito das suas visitas.
    Irene Alves

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  4. Jair16:52

    Limerique

    Não importa, sempre estará a mercê
    Eles olham sua vida sem mais oquê
    Então calma, relaxe
    E observada se ache
    Eles cuidam da sua vida por você.

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  5. Ah! Tais,conseguistes tratar este assunto num texto com uma pitada de humor!E isto foi possível pois és uma cronista excepcional e depois convenhamos é um assunto deveras intrigante.Todos passamos por isto e mesmo assim vamos levando em frente, para as gerações que nos sucedem.Parabéns pelo texto.Bjs Eloah

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  6. Adorei! Sabes, Tais? Uma coisa é certa!

    Nuuuuuuuuuunca vamos agradar a todos. Sempre acham algo pra nos apurrinhar o saco.

    Lembrei que quando eu estava na faculdade e tinha os 4 pequenos e não tinha empregada, as pessoas faziam mil e 500 perguntas.

    _VCOmo fazes/ Como consegues? Eu queria ser uma mosca pra ver tua casa e coisas desse tipo.

    Nunca fui de muita paciência e então a cada pergunta eu era GROSSA e respondia:

    5ªas feiras, das 09 às 10 horas, minha casa pode estar aberta à visitação pública, aí poderão ver.

    Foi um santo remédio... Ninguém mais daquelas que falavam perguntou. Grosseria minha? Não, saco cheio mesmo!rs.


    E pela vida afora sempre essas cobranças continuam comigo e com todos! Um porre! beijos,chica

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    1. Tais, aqui em seu blog eu sempre encontro ideias mirabolantes como aquela da louça molhada no armário, e agora esta sugestão da Chica de casa aberta para visitação! rsrsrsrs Adorei!

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  7. Taís! Muito obrigada, senti um alívio ao ler esta crônica porque certas cobranças nos matam, e tem coisas que não podemos responder porque não depende de nós,...

    Como seria bom se as pessoas respeitassem a privacidade nossa de cada dia.

    Bjs

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  8. Tais, essa do "filhinha" foi ótima! rsrsrs
    Você parece que lê meus pensamentos, pois nesta semana andei "desabafando", porém a pergunta pra mim é outra: encerrou, né?! Afinal, o povo anda com medo de eu querer povoar a terra sozinha... rsrsrs
    Também é invasão de privacidade, pois a pessoa não sabe nada daquilo em que acreditamos, dos princípios nos quais fundamentamos nossa vida, e se dá ao direito de dar conselhos e pitacos?!

    Sobre essa chateação que você mencionou, cresci ouvindo o mesmo. E como casei "tarde" (para os padrões antigos), aos 26 anos, a pergunta era insistente, acho que tinham medo de que eu ficasse pra titia... kkkkk

    Outra coisa que me incomoda é a perguntinha pronta: o que você vai ser quando crescer? Meu filho diz que vai ser baterista, algum tempo atrás iria ser skatista e antes disso também já foi jogador de futebol em potencial. O que uma criança vai saber de profissão para o futuro, me diz?! Mas o povo tem um interesse desmedido no assunto, e ainda tenta convencer meus filhos a serem isso ou aquilo... Por favor, deixa a criançada ser o que quiser! Tão bom sonhar e acreditar que algo é possível, pelo menos na infância qualquer coisa digna tá valendo!

    Bah, dá pano pra manga mesmo... Me empolguei! rsrsrs Como sempre, ADOREI!!! Beijos e mais beijos.

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  9. Passei por toda essa chatura, é mesmo um saco! Agora estão me cobrando netos...não para nunca, a intromissão! Eu acho falta de educação, porque eu que acho educada, não ajo assim. Muito oportuno, o tema...ah! se toda a gente inconveniente lesse!

    Um beijo, Taís!

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  10. Querida amiga
    Depois de muito silencio, eu vim me fazer presente, trazendo a certeza que me recordo de você com carinho e amizade.
    Sinto muita saudade de não vir aqui mais vezes, mas fiquei presa no caminho, tentando resolver algumas coisas pendentes.
    Pedras aparecem pelo caminho, e delas precisamos fazer renascer lindas flores, para que nossa vida se torne um lindo jardim.
    Abraço amigo.
    Maria Alice
    Meu facebook é http://www.facebook.com/mariaalicefcerqueira

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  11. Hehe! É exatamente o que acontece na vida de todos nós, esta inoportuna, chata e infeliz intervenção. Bem observado, Tais.

    Abraço,
    Jorge

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  12. Todo mundo tem uma tia assim, incrível. No meu caso são umas cinco, né. Contando também as pessoas de fora que insistem em capitalizar a minha vida o tempo todo. Refiro-me ao capitalismo, pois ele é o principal impulsor do casamento e desse ciclo pelo qual grande maioria das pessoas passam... Não desmerecendo o amor. Mas há pessoas que casam por dinheiro e por desespero de ficarem sozinhas. Isso é o cúmulo.

    De qualquer forma, espero que com o passar do tempo esse tabu seja quebrado e finalmente exista uma certa liberdade para escolher qual o rumo a tomar. Uma mulher solteira e um homem solteiro são vistos com outros olhos.
    Acho que estamos muito cheios de padrões. Isso não é muito bom.

    Beijo, Tais.

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  13. Tô aqui às gargalhadas... esta tarde fiquei com meu neto de 3 meses, um fofo que está descobrindo os brinquedos, sorridente, uma simpatia... e ao que parece, saiu à avó, adora uma "cunversinha".... batemos altos papos, sabe, eu com aquela vozinha de retardada dizendo pra ele: voxê descobriu que tem duachs mãozinhas, e já tá pegando o binquedinho, pecioso da vó?...kkkkkkkkkkk

    Ai Tais, vc me mata...rsrs.. eu casei cedo, naquela época era na hora certa (19 anos), e optei por ter filhos logo, seis meses depois estava grávida de meu filho, o que foi uma festa.... até começar a torcida pela vinda da menina - eu queria muito, mas ficava surpresa pela torcida do povo que afinal, pouco ou nada tinham com isso...rsrs. E como passava o tempo e nada, a inevitável censura vinha: garanto que vc está evitando, vai se arrepender depois com uma diferença tão grande entre os irmãos...eu já nem respondia, mas ficava furiosa pq todo mês era uma tristeza ver que não tinha engravidado, de novo!! Depois de um tratamento relâmpago engravidamos, e foi uma euforia... a danadinha ficou sentada até o sétimo mês, então cadê que eu sabia o sexo, motivo de todas as comversas nas reuniões onde eu estava presente???? Essa fase foi a pior... até chegar a minha separação...aí sim foi enlouquecedor... até hj tem que me diga: não me conformo...bla, bla, bla... ô gente sem noção, que falta de ocupação com a própria vida... e era aí que eu queria chegar... enquanto cuidam da vida alheia, não sobra muito espaço pra ter a própria invadida, percebeu?? O foco talvez não seja a curiosidade e nem o interesse (salvo as poucas exceções) , mas uma manobra inteligente... essa teoria se reforça na medida em que tento inverter a mira do tiro...rs

    * É de 4 anos e meio a diferença entre meus filhos.
    ** Cada vez que eu estiver com meus netos, vou lembrar de vc...rsrrsrss

    Beijos, Tais, boa semana!

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  14. Olá Tais!
    Vim ler as suas crónicas com algum atraso. Falta de tempo. Esta achei o máximo!!! Não posso deixar de fazer um leve comentário muito pessoal.
    Você nem imagina o que eu tive que suportar até aos 40 anos, mais coisa menos coisa. Vivendo numa aldeia do Norte de Portugal, onde toda a gente se conhece, eu decidi ficar solteira e não me internar num convento! Ninguém entendia está opção de vida! Dá para acreditar?!
    Um abraço.
    M. Emília

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  15. Muito bom dia querida Tais..
    do jeito que a coisa anda hj em dia... temos de pensar muito na questão relacionamento..
    várias das pessoas que falo estão separadas, com filhos,,, tendo que ter forças para para seguir adiante.. eu com meus quase 31 ouço isso..
    quando tu vai ter uma namorada..
    to ainda pensando sabe...
    melhor, observando..
    pq vejo cada arranca rabo em volta rsrs
    é muito estress... claro que sonho e desejo uma pessoa tri querida, parceira, ter filhos e tudo mais.. mas há de se pensar muito..
    pq senão quem ganha é advogado com divórcios.. e estão ganhando muito ultimamente ...
    bjs e feliz sempre doce amiga

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Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís