18 de julho de 2006

DIÁRIO DE UMA EX - PETISTA

- por Tais Luso de Carvalho 

14 de Dezembro de 2002.

 Acabei de viver uma manhã única. Passei por várias emoções, mas uma delas será inesquecível: a Diplomação de Luis Inácio Lula da Silva. Mas confesso que pouco vi: coração apertado, os olhos marejados formando uma nuvem tênue. Diria que foram lágrimas de emoção - e uma ardência na garganta tentando sufocar 20 anos de esperança!

Quero apenas relatar o que senti vendo um torneiro mecânico chorar ao receber o seu primeiro diploma, um diploma legitimamente dado por milhões de brasileiros, diploma que lhe foi outorgado pelo voto da maioria dos brasileiros, dos mais humildes aos mais abastados; um diploma dado pelas elites diplomadas e por intelectuais ilustres. Um diploma que atingiu o consenso.

Vi um Presidente que, acredito, cumprirá todas as suas promessas; vi um Presidente que governará sem radicalismos; vi um Presidente que se cercará de ministros competentes, ajustados e comprometidos com a verdade, independentemente de partidarismos.

Oxalá que Lula seja um Presidente de visão, embora eu esteja consciente de que vivo numa nação debilitada, dirigida por gente irresponsável e incompetente. Que consiga ser um Presidente íntegro, humano, simples e com uma vontade de ferro. Quero viver num país decente!

-14 de Maio de 2003. (Um ano após a Diplomação)

Nada escrevi até agora; não achei lá grandes motivos; deixo este texto interrompido. Não estou numa posição muito confortável... Não sei o que anda acontecendo; sinto-me insegura...

- 18 de Maio de 2004. (dois anos após a Diplomação).

Estou acordando, ainda, no velho mundo; o mesmo mundo em que nasci. Mas vou aguardar mais um pouco. Não quero ser injusta ou precipitada... Deus queira que eu volte aqui, neste Diário, e possa escrever com otimismo, falando de saúde, de segurança, de emprego e de um salário que eleve a dignidade do nosso povo lhe assegurando todos os direitos; que eu venha a falar daquele Presidente que prometeu lutar cumprindo as promessas de campanha. Vou aguardar: não quero desistir; existe uma luta dentro de mim, afinal, há mais de vinte anos que estou esperando. Preciso ter calma; uf... Preciso acreditar!

-12 de Março de 2005:

Estou de volta, mas muito desanimada. Sou só lamentos... Agora, tenho outra idéia das coisas. Esperei tanto tempo e jamais imaginei ver coligações tão absurdas com gente e partidos que nada têm a ver com as ideologias petistas de outrora; com as ideologias que sempre me impulsionaram. Com ideologias que me faziam ter orgulho de minha militância. Relutei, e sei o quanto. Estou pensando seriamente...Não quero ser última a saltar do Titanic.

- 30 de Maio de 2005.

Acho que não estou sozinha: estamos todos vivendo, ainda, sob o velho e conhecido ranço. Está sendo difícil desacreditar. Mas são tantas as coisas, há tanto entulho! Há tanta gente falando a mesma coisa! Essas CPIs, as retaliações dirigidas aos que agem com coerência... “Olho o nosso Congresso como quem examinasse a anatomia de um corpo; há tanta coisa esquisita...”.

- 15 de Julho de 2005.

Hoje, resolvi encerrar minhas anotações: sinto pelo tempo que perdi; nada mais tenho a dizer. Saquearam nosso país e roubaram o que tínhamos de mais valioso: a confiança e o sentimento do nosso povo; e não há mais como resgatá-los. E sinto que mais coisas estão a caminho...Entramos no ‘Conto do Vigário’, mas isso só se aceita em literatura, nunca na vida real.

Mas agora escreverei sobre as flores: nelas, certamente encontrarei beleza. E voltarei a ler Mário Quintana: preciso um pouco de poesia após tanta desilusão.

Morremos na praia, e sinto uma vontade imensa de chorar! Mas nem isso consigo mais.
Foi triste ter tido um ídolo com os pés de barro.

Mas aprendi. 




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