- Tais Luso
Dois
artistas a falar: o artista plástico Iberê Camargo e o renomado
português Alvaro Siza Vieira, um dos três arquitetos mais importantes da
atualidade, doutor ‘honoris causa’ em seis universidades. O
edifício da Fundação Iberê Camargo está pronto para projetar
Porto Alegre no cenário internacional da arquitetura moderna. Com
9,5 mil metros de área construída, prédio de curvas suaves, mas
impactantes, construído num terreno doado pelo Estado, parceria
público-privado. O valor da obra foi de R$ 40 milhões.
Segundo
Jorge Gerdau Johannpeter, presidente da Fundação, e pelo engenheiro
que executou a obra, José Luiz Canal, professor da UFRGS, Alvaro
Siza projetou tudo com a obsessão ‘siziana’: desde os parafusos
sextavados em aço inoxidável, figuras de sinalização das portas
dos banheiros e saídas de emergência, porta-lápis, cabideiros e
lixeiras do setor administrativo como, também, de todo o mobiliário.
Como se vê, tudo nos mínimos detalhes.
No
fundo do terreno foi preservado o paredão de rocha coberto por uma
vegetação nativa. O aparelho
de ar condicionado
funciona reciclando a própria energia que produz; a água que
abastece os vasos sanitários vem da chuva, e sai já tratada. A
iluminação artificial reproduz o mesmo tom da claraboia;
camadas de lã de rocha isolam os ruídos externos e o mormaço do
verão de Porto Alegre; um fosso, inacessível ao olhar dos
visitantes, contorna todo o prédio de maneira que, se o Guaíba
transbordasse, haveria enorme espaço a preencher até chegar ao
estacionamento. Tudo perfeito para acolher parte das 7 mil obras
produzidas pelo artista, as quais estão protegidas por um
sofisticado sistema de segurança.
Marcado
por tragédias pessoais, a obra de Iberê mostra pinceladas
dramáticas e amargas nos últimos anos de sua vida. Iberê, nasceu
no ano de 1914, em Restinga Seca, distrito de Santa Maria/RS. Ainda
jovem, deixou Santa Maria rumo ao Rio de Janeiro, através de uma
bolsa de estudos. Visitando Portinari - o maior pintor da época -
Iberê não deixou nada passar em branco: disse a Portinari que não
gostava de sua pintura... Iberê foi aluno de Guignard, e após ter
conquistado um prêmio resolveu ir para Europa estudar com André
Lothe e De Chirico. Voltou ao Brasil, e não se filiou a nenhuma
escola, mantendo-se independente.
A
vida de Iberê foi, praticamente, transportada para as telas; tanto
em suas fases tumultuadas como nas mais calmas, suas pinceladas
deixaram uma história rica na trajetória das artes. Mas é assim: o
artista transmite suas emoções partindo de uma tela branca e fria;
acabada a obra, tudo vira história, emoção, beleza e riqueza de
detalhes.
Retratos,
paisagens, naturezas-mortas, carretéis, explosões abstratas, tudo
feito com paixão emergindo de uma força estranha. Tudo expressava
um momento, muito longe da inércia.
Em
1980, num incidente em uma das ruas do Rio de Janeiro, o artista
matou um homem. Esse
episódio deixou Iberê extremamente abalado e algum tempo depois
voltou para Porto Alegre. Anos depois, bem mais adiante, veio a
contrair um câncer de pulmão, levando-o a inúmeras sessões de
radioterapia. E essa dramaticidade, de sua luta contra a doença
ficou registrada em seus últimos trabalhos.
Essa
Fundação é a nova casa de Iberê, que abriga muitas de suas obras,
sua história e seu espírito lutador. E todos que a visitarem
sairão, sem dúvida, mais enriquecidos.
Frente
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