28 de setembro de 2010

AS DONAS-DE-CASA

- Tais Luso

Hoje vou escrever um pouquinho sobre as  donas-de-casa. Em certas classes, em alguns países, as mulheres já são vistas como profissionais bem sucedidas. Até aí Deus é pai, embora tenha custado um pouco a estender a sua mão amiga. A manobrar certos preconceitos contra as mulheres que ainda existem por esse mundo afora. O processo não precisaria ser tão longo, Senhor, vá mais rapidinho, pois a vida das mulheres é um parto sem fim. Mas ao mesmo tempo de curta duração.

O serviço doméstico é visto, ainda, como algo improdutivo, é um trabalho não valorizado. Como donas-de-casa, as mulheres são vistas como aquelas que dormem quando querem, sem horário por cumprir, folgadas, descansadas, fanáticas por limpeza ou relaxadas ao extremo. Sempre, por mais trabalho que houver, por mais desmilinguidas que possamos ficar, chegará uma alma amiga que em segundos colocará tudo pro ralo.

Mulher é valorizada quando trabalha fora, quando tem um pezinho na rua. Leva mais prestígio. E esse preconceito também parte da própria mulher. Então, no fundo, ninguém tem muito a reclamar. Estou aqui apenas constatando uma realidade.

O mundo tá cheio de gente que dá ouvidos para o que dizem algumas mulheres que vivem na mídia, e que muitas vezes não dizem coisa com coisa. Mas poucos param pra ouvir o que têm a dizer uma dona-de-casa que carrega uma família nas costas.

O engraçado da história é que esse cargo de dona-de-casa – sejam elas relaxadas ou não, é um cargo jamais remunerado. É sacrifício sem o mínimo reconhecimento, com raras exceções - e quem está preocupado com as exceções?

A chamada dona-de-casa cuida da sogra, do sogro, do pai, da mãe, da tia, do primo da tia... Mas continua o  feito pelo não feito; tudo parece que é obrigação, pois a dona-de-casa tem tempo pra tudo. Tempo é o que não lhe falta!

As tarefas de cozinhar, lavar, passar, enxugar, guardar, organizar, levar filho, buscar filho, fazer as compras e, finalmente, se arrumar na tentativa de ficar com cara de mulher que dormiu a tarde inteira, faz parte da rotina diária dessa legião sem fim. E ainda dizem que é pouco ser, apenas, uma dona-de-casa.

Pode uma dona-de-casa ficar doente? A família inteira dá a ordem: REPOUSO! Ao levantar, a louça já bateu no teto, as roupas sujas estão andando sozinhas, as panelas queimadas estão dentro do fogão, a comida velha na geladeira; não tem mais café, açúcar, pão... Tudo à espera. É maravilhoso. Estimulante.

É, por isso que ser dona-de-casa incomoda. O trabalho é visto como atividade secundária. É um trabalho estressante. É no lar onde se forma o núcleo familiar, é onde se forma a estrutura do ser humano; é o nosso primeiro contato com o mundo, com hábitos de higiene, de nutrição, de afetos e de responsabilidades.

Eu cresci numa casa cuidada com capricho, por uma dona-de-casa: com horário de banho, com comida quentinha, lençóis perfumados, com horário para deitar, para levantar, para fazer os temas da escola. E mais: um jardim  bem cuidado  que alegrou minhas brincadeiras de criança.

Que vivam essas mulheres que, como cantava o poeta-sambista Lupicínio Rodrigues, de dia lavam a roupa, de noite beijam a boca, e assim vão vivendo de amor...




20 comentários:

  1. Maravilhosa e bem verdadeira tua crônica!

    Muito bem escrita e inspirada!beijos,chica

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  2. "Mulheres são como a Lua: com suas fases, às vezes ficam escondidas, mas nunca
    perdem seu brilho encantador."


    Bjos

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  3. E que possamos reconhecer que o trabalho dela é muito importante para nós...

    Fique com Deus, menina Tais Luso.
    Um abraço.

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  4. Oi Tais, esse encargo exclusivo nos ombros da dona de casa existe muito em países latinos, machistas, no resto do mundo, pelo que sei, não tem essa história. Na minha casa sempre coloquei todo mundo para cooperar, pois sou advogada, blogueira, escritora, leitora e um tantão de coisas que se a galera não ajudar, não dá. Filho meu lava roupa, faz comida, se vira que é uma beleza. Maravilha de crônica.

    bjs.

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  5. querida tais ! grande mulher tu és.pois fisestes um retrato fiel das mulheres, lindamente retratadas, amei bejus terê.

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  6. Tais, bom tema! E ótima abordagem! Olha, particularmente acho que as pessoas, se puderem (não importa o sexo), devem "trabalhar fora". Por quê? Mil motivos, mas alguns deles são: ver gente, interagir com o mundo, produzir, cooperar mutuamente, criar círculos de amizades etc. Bom, aí alguém indaga: mas e a casa? Sim, vamos às soluções:

    Caso 1) família pobre ou remediada: marido, mulher e, quem sabe, filhos maiorzinhos, se dividem, genuinamente, nas tarefas à noite, quando chegam da rua. (é assim em casa!)

    Caso 2) família bem-de-vida ou rica: mantém uma diarista que resolve absolutamente tudo, inclusive dobra a roupa e põe no armário e lava toda-e-qualquer-louça.

    (uma diarista é nosso sonho de consumo lá em casa, que há muito já substituiu o Iate)

    Pronto, próximo problema!

    bjão, Tais
    Cesar

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  7. Tais, que precioso tema escolheu pra falar - e como o fez com propriedade!
    Me fez lembrar de uma ótima...rs
    Certa vez, há alguns anos, ouvi de minha mãe: - Preciso que vc me leve a tal lugar, neste horário...e eu disse que não poderia pq tinha, no mesmo dia, horário marcado em um médico. Sugeri que convidasse minha irmã. Ela encontrou rapidinho a solução: - veja se consegue remarcar para outro dia, tua irmã não pode, ela trabalha muito (empresária). - E eu?, perguntei. Sem piedade, veio isso: vc é mais desocupada.

    Hj rio disso, mas na época nem argumentei - acho que fiquei muda, de surpresa e indignação!

    Acho que vou ler pra ela tua crônica...rsrsrs
    Bjos, querida!

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  8. Oi, lindona!
    O serviço doméstico é assim: quando se faz tudinho, ninguém nota, mas se não fizer, sempre alguém observa e... comenta!
    Vim deixar um beijinho antes de ir para a minha caminha dormir.
    Saudades de você. Apareça para matar essa saudade!!!
    Beijinhos, muitos!

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  9. Oi, Tais. Não é à toa que espero ansioso o dia que vai ter uma crônica sua. Sempre um tema bem escolhido e bem tratado. Não sobra nem um resquiciozinho para gente completar. Perfeito. Agora que estou na vida doméstica entendo ainda mais tanta injustiça que já foi e ainda é cometida com estas guerreiras (estas, sim, são guerreiras). Meu abraço. Paz e bem.

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  10. Justa e oportuna lembrança registrada em tua crônica certeira.
    Vc abrangeu todas as situações reais pelas quais vivemos como filhas e atuamos como mães.
    Acho tbém um verdadeiro descaso geral com a dona-de-casa, esta mulher que se desdobra em mil trabalhando fora muitas das vezes e, dando conta de todos os afazeres domésticos.
    Seria justiça haver um dia ao menos, dedicado à essa profissional, não acha?
    Tenha um dia de paz e amor.
    Bjs,
    Calu

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  11. Olá Taís,
    Tem mais amiga, dona de casa no dia das mães, natal, no seu aniversário, ganham o que? ferro de passar, panela de pressão, liquidificador e por aí vai...
    Muitas vezes, trabalham fora durante dia, fazem os afazeres de casa a noite, e ainda tem a sessão coruja com o maridão, que eu chamo obrigações matrimoniais, porque a essas alturas, não venha me dizer que é fazer amor, é só fechar o dia com mais uma obrigação.
    Vou até parar por aqui!! fuui
    Dalinha

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  12. A mulher de agora prefere mesmo é ocupar seu tempo com coisas bem mais agradáveis do que encarar uma pia entupida de louça, encostar o umbigo no fogão, ou passar boa parte do seu tempo varrendo, limpando; ou lavando e passando roupa.

    Sempre penso que minha mãe e minha avó eram umas santinhas; deveriam ser canonizadas. rsrs Estavam sempre esmerando-se para manter a casa limpa e em ordem, - sem o auxílio dos recursos que a tecnologia coloca hoje à disposição da dona-de-casa -, e acabavam esquecendo-se de si mesmas. Eu confesso, e aliás você já sabe, tenho horror a tarefas domésticas!

    Realmente, eu nunca tive vocação para isso, (meus ex-maridos que o digam rsrs), e acho que se a mulher pudesse escolher, com a devida licença do Lupicínio, viver só de amor... Nem pensar! Porque a mulher de hoje não quer saber se é dia ou noite; ela quer beijar na boca quando bem entende e, para tanto, é preciso mais que amor, independência, inclusive financeira.

    Lógico, estou falando de um contexto onde há certos privilégios, pois a gente sabe que a maioria das mulheres do nosso país machista têm que, além de sair para trabalhar, voltar esbudegada para o lar e ainda ter energia para cuidar de casa, marido, filhos; não há escolha. O quadro é mesmo cruel, estressante.

    Adorei a crônica, Taís! Bjs, amiga. E inté!

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  13. Boa tarde, Taís.

    Estamos com os opostos em nosso espaço, mulheres diferentes, contudo, com a mesma necessidade de reconhecimento. Estou lendo "Uma História Universal da Fêmea - Márcia Lôbo" daí comecei a pensar no quanto a mulher se transformou, algumas para o lado positivo, outras se perderam na modernidade promíscua, enfim minha opinião.
    Fico feliz quando me visita, tenha um ótimo fim de semana.

    Renata nada moderna, rsrsrsrsr.

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  14. Adorei seu blog!!Excelentes crônicas!!!sou sua parceira(macgoes520).Parabéns.Se puderes visite meu blog:
    vivian-floreselivros.blogspot.com

    Sucesso!!
    Atenciosamente
    Vivian

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  15. Oi Tais. Como sempre, me encantou ler a tua crônica. Realmente, donas de casa não são valorizadas...infelizmente! Lá em casa, temos o prazer de contar com uma dona de casa prestativa, organizada, comprometida e atenciosa. Somos bem tratados e até mimados vez em quando. Eu a valorizo e a tenho em meu coração. Ótima crônica! Parabéns!

    beijo

    'Glenda

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  16. Tais,

    Nem tenho palavras para comentar este texto! PERFEITO! Finalmente alguém entende e escreve com justiça sobre as mulheres que ESCOLHEM ficar no lar e cuidar de seus filhos, de sua casa, como prioridade máxima na vida!

    Infelizmente, essas sábias mulheres são desvalorizadas, muitas vezes, por seus próprios companheiros... O tal do prestígio vai para a que trabalha fora, que comanda empresas, a que tomou o espaço que antes era apenas dos homens... Não devemos desmerecer essas, obviamente, mas por que deixar de valorizar a que fica em casa se sacrificando para que tudo funcione, tudo ande nos conformes?!

    Elogio a mulher que sabe amar, cuidar, servir, zelar. Se trabalha fora e faz tudo isso em casa também, parabéns. Se optou por ficar em casa, mais guerreira ainda pois provavelmente abdicou de uma carreira de sucesso naquele momento para garantir que os filhos sejam felizes e seguros na vida, ao invés de terem enorme patrimônio e serem desequilibrados e carentes.

    Acredito que temos direito a nossa escolha e que não existe uma coisa certa e outra errada, mas por favor: paremos de criticar a mulher que opta pelo lar em tempo integral! Ela não precisa desesperadamente de reconhecimentos, certamente, ou teria atirado tudo para o alto e ido pro mundo ao invés de ficar cozinhando, lavando e passando... Mas MERECE nosso reconhecimento, nosso respeito e nossa gratidão.

    Texto lindo, maravilhosamente bem escrito e delicioso de ser lido. Parabéns, amiga!!!

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  17. Eu não teria falado melhor, realmente um desabafo de muitas, que são criticadas pelas próprias mulheres, não consigo entender porque o ser humano tende a forçar os outros a agir da mesma forma, respeitemo as escolhas de cada um.

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  18. Thaís, você disse tudo sobre o assunto. Também fui criada por uma dona de casa, uma grande administradora do lar, que soube cuidar, muito bem, de cinco filhos, e até hoje fico imaginando como ela conseguiu dar conta de cinco pequeninos, pois, a diferenças entre nós, sempre foi de menos de dois anos, de um para o outro. É uma tarefa árdua e que exige muito amor. Realmente a maioria não valoriza. E a mídia tende a comparar a dona de casa com uma dondoca. A minha 'velha' fez de tudo, e até não abre mão de cozinhar e se preocupa com os filhos como se fôssemos crianças, coisas de mãe, né? Eu sou mãe e sei que para as mães os filhos nunca deixam de ser crianças. E o mais curioso em seu belíssimo texto, é que a minha mãe cuidou a vida toda da sogra, aquela minha 'vozinha' do texto que está em meu blog, que padeceu de Alzheimer por anos e a minha mãe deu banho nela e cuidou como se fosse a sua própria mãe. Linda dissertação, amiga. Ser dona de casa é uma missão. E já ouvi uma certa vez, o grande e saudoso ator Mário Lago elogiando de maneira poética o trabalho da dona de casa. Perfeito o seu texto, querida Thaís. Beijos e obrigada, mais uma vez, pela visita ao meu blog. Fica com Deus!!!!

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Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís