__ Fabrício Carpinejar___
Não
fui pai observando o meu pai (que hoje é um grande amigo). Aprendi a
ser pai observando a minha mãe. Quando garoto de sete anos e memória
de sonho, meus pais se separaram, e a vida não foi fácil.
Minha
mãe cuidava de dois empregos, trabalhava de manhã, fazia o almoço,
voltava ao trabalho, pagava as contas, encaminhava os quatro filhos à
escola, limpava a casa, e ainda escrevia, e ainda se arrumava toda
bonita com seus lenços no pescoço, e ainda corrigia os deveres, e
ainda arranjava tempo para rir no sofá entre a gente, como se fosse
um feriado o fato de estar em família.
Nunca
a vi xingando. Praguejando. Cobrando. Pressionando. Transferindo
culpas. A fatia do queijo era rala, mas o doce de goiaba sobrava e
nos fazia esquecer a escassez.
Lá
em casa cada um cumpria uma tarefa: eu era o lavador de pratos;
Miguel, o varredor; Rodrigo, o arrumador de camas; e a Carla, a
responsável pelas saídas em equipe, de mãos dadas.
Dentro
de mim, nunca fui sozinho. Se não havia um pai por perto para me
ensinar a ser homem, havia um irmão, havia uma mãe, havia uma irmã,
havia a telepatia do afeto.
Ser
pai é não instruir o filho a lavar o carro, a mijar de pé, a fazer
churrasco, a falar palavrão, a desenhar a letra, a namorar, a perder
a virgindade, a sair de uma desilusão. Não, não é isso.
Ser
pai é somente compreender. Ao compreender meus filhos (Vicente e
Mariana), estou sendo eles mais do que poderia chegar a me cumprir.
Ao ouvi-los, estou sendo eles mais do que seria capaz de escutar a
minha própria voz.
Eu
imito as minhas crianças, sou um mímico de seus traços. A cada
dia, não são eles que se parecem mais comigo, sou eu que me esforço
em me parecer com eles. Sou eu que me esforço para merecer seus
rostos, que ficam sobrepostos ao meu.
Tem
horas que me pego cantarolando canções deles no trabalho e me dá
uma vontade de começar tudo de novo pelo prazer de assisti-los. No
filme de meus filhos não quero perder nem os trailers.
A
maternidade é inata, a paternidade é adquirida. Eu escolhi ser pai
para cuidar do filho que fui, e acabei sendo filho dos meus filhos.
Converso,
brinco, ponho eles no degrau de meu ombro, encontro uma liberdade que
só existia antes em minha solidão, que está ensolarada com os
filhos.
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Fabrício
Carpinejar é gaúcho, nasceu em 1972, na cidade de Caxias do Sul (RS). Poeta,
cronista, jornalista e professor, palestrante e autor de 43 livros, entre poesias, crônicas, infanto juvenis. Foi escolhido pela
revista Época como uma das 27 personalidades mais influentes na
internet. Detentor de mais de 20 prêmios, como Jabuti 2009, APCA 2011
(Associação Paulista dos Críticos de Arte; Érico Veríssimo 2006
– pelo conjunto da obra; da Câmara Municipal dos Vereadores de
Porto Alegre; Olavo Bilac 2003, da Academia Brasileira de Letras;
Cecília Meireles 2002; da União Brasileira de Escritores (UBE);
três vezes o Açorianos de Literatura, edições 2001, 2002 e 2010 entre outros. Trabalhou na TV Gazeta, colunista da Zero Hora, comentarista da
Radio Gaúcha, do programa Encontro com Fátima Bernardes. Seus poemas aparecem como questão de grande parte
dos vestibulares do Brasil, como na UFRJ, UFRGS e Universidade
Católica de Goiás. Integra coletâneas no México, Colômbia,
Índia, Estados Unidos, Itália, Austrália e Espanha. Em Lisboa, a
Quasi editou sua antologia Caixa de Sapatos - 2005. Também
em Portugal a editora Quatro Estações lançou o livro Ajuda-me
a chorar, em 2014.
Nesse blog:
Poema / Todas as Mulheres
Boa noite de muita paz, querida amiga Taís!
ResponderExcluirSempre leio crônicas dele, pois meu padrinho me repassa quando por lá vou.
" acabei sendo filho dos meus filhos. "
Hoje, vou ficar com o que recortei do escritor.
Assim estou nessa fase também alegre e recompensadora da missão cumprida.
Tenha um ótimo final de semana abençoado!
Ótimo feriadão, amiga!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
Tais, tenho grande admiração por ele. Suas palavras fluem com grande naturalidade. O ideal seria, para os filhos, ter o pai como exemplo. A figura masculina tem grande força na formação dos meninos. Não se pode, contudo, generalizar. Nas camadas mais pobres da população, as mães, quase sempre, são as alimentadoras e as educadoras. A figura forte que serve de exemplo e de amparo. Nota-se que a mãe do escritor dividia tarefas e exercia uma brilhante função educadora. Não creio que ser pai seja apenas compreender, embora a confiança e a amizade tenham papéis fundamentais na relação. É belo ler que ele aprende com os filhos. Acredito nisso. É o que vemos em nossas famílias quando o tempo passa, o novo chega, a necessidade de acompanhamento se impõe. Sua escolha merece aplausos. Um lindo final de semana para você. Bjs.
ResponderExcluirQue bom ver o nosso Fabricio aqui! Gosto muito de seus escritos... Ele é demais e seja qual for o tema da vez, ele desempenha muito bem! beijos, lindo feriadão bem em casa mesmo, com a chuvarada aqui! chica
ResponderExcluirTexto emocionante que muito gostei de ler. O meu pai dizia-me: " Eu não sou um exemplo para ti. Tu sim, serás o teu próprio exemplo"
ResponderExcluirQue saudades tenho do meu querido pai. Ele estará olhando por mim.
.
Votos de um doce fim de semana
Olá Taís,
ResponderExcluirgostei muito do texto, cariciou-me a alma, deixou-me sorriso nos lábios:)
obrigada por ter dado a conhecer Fabrício Carpinejar
beijinhos, bom fim de semana
Angela
Olhe aí que curriculum e eu sequer ouvira falar dele. Sou muito ignorante.
ResponderExcluirGostei imenso do texto. Obrigado pela partilha.
Abraço, saúde e bom fim de semana
Boa tarde Taís obrigado por nos apresentar esse brilhante poeta gaúcho.
ResponderExcluirEmocionante, como é a vida do nosso grande poeta, que tem uma história de superação desde cedo e é uma grande inspiração para nós seus fãs e leitores. Grato pela partilha Taís e um maravilhoso domingo, apesar de tudo que estamos vivendo com a pandemia. Cuide-se! Um abraço aqui da Região Norte!
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ExcluirOlá, Elias, Bem-vindo ao blog, satisfação em recebê-lo, você está na coluna lateral, saberei de suas postagens. Obrigada pelo seu ótimo e sensível comentário.
Grande abraço daqui do Sul.
Belíssimo, este texto de Fabrício Carpinejar, de quem tenho alguns livros de poemas que muito aprecio. Gostei da forma como falou da mãe. Gostei da forma como falou de ser pai na compreensão dos filhos. Magnífico escritor!
ResponderExcluirMuita saúde, minha Amiga Taís.
Um beijo.
"A maternidade é inata, a paternidade é adquirida..."
ResponderExcluirtotalmente de acordo com esta afirmação.
na realidades os "papéis sociais" de homem/mulher estão a esbater-se
cada vez mais. processo irreversível, diria...
tema grande, Tais. e de grande actualidade.
beijo, minha amiga
Olá Taís, amei o texto, não conhecia esse escritor não. Amei saber um pouco sobre ele.
ResponderExcluirRealmente a maternidade e a paternidade são muito importante na vida dos filhos.
Grande abraço!
Boa tarde Taís,
ResponderExcluirMuito obrigada por me dar a conhecer um personagem tão importante com valores e princípios que muito admiro.
«A maternidade é inata, a paternidade é adquirida. Eu escolhi ser pai para cuidar do filho que fui, e acabei sendo filho dos meus filhos.»
Espantosa a mentalidade de Fabrício Carpinejar nos dias em que o pai ainda gosta de incutir ideias machistas nos filhos.
Fiquei fã.
Um grande beijinho e obrigada por esta riquíssima partilha.
Ailime
Un texto el cual se debe leer con paciencia ya que nos deja una gran lección para la vida.
ResponderExcluirSaludos.
pasando para desejar um feliz domingo muito bonito post bjs
ResponderExcluirOi Tais, Fabricio C é ótimo, adorei este texto! A vida é um reinventar o tempo todo diante das surpresas que simplesmente se sucedem...os papéis podem sim se inverter, cedo ou tarde.
ResponderExcluirObrigada por compartilhar, abraço e bom feriado!
Uma bela escolha por isso obrigado pela partilha!!! Bj
ResponderExcluirGosto muito dos textos do Carpinejar.
ResponderExcluirUm escritor do cotidiano-suas crônicas dizem muito do que vivemos e é sempre prazerosa a leitura.Imagino-o _um exemplo de pai.
Parabéns pela escolha,Tais
meu abraço
Taís:
ResponderExcluirser padre es muy difícil.
Y no tenemos una segunda oportunidad para corregir los errores.
Abraçós.
Pois é Taís, a publicação desta crônica do Fabrício Carpinejar no teu blog, “Porto das Crônicas”, não me surpreendeu, não apenas por já ter publicado outras crônicas dele, mas também pelo reconhecimento de seu talento e pela já numerosa obra, embora tenha nascido em 1972; mais ainda, pela aceitação de sua obra (como disse, contos e poemas) não apenas nos quatro cantos do Brasil, mas também em muitos outros países.
ResponderExcluirComo também sou um admirador da obra do premiado Carpinejar, aplaudi esta edição com, com a crônica sobre a sua condição de filho e de pai. Parabéns!
Um beijinho daqui do escritório.
Tenho saudade do meu pai ,um amigo com muito ajuizado .
ResponderExcluirbjos
Gostei de ler Fabrício Carpinejar. Vamos lendo e a vontde é que o texro não termine.
ResponderExcluirMuito bom!...
Um abraço. ´
Élys.
Tão lindo! Amei ler tão maravilhoso texto!
ResponderExcluirBeijinho.
Bom dia feliz querida amiga! Este dispensa muito comentário. Aqui é aplaudir sua generosa partilha sobre ele. Quando nós nos esmeramos em querer definir uma mãe, ele com toda arte faz esta crônica prosa na mais linda definição da mãe e se espelha nela.
ResponderExcluirAmei em vê-lo mais uma vez aqui.
Beijo amiga.
Grato pela partilha.
Obrigada Taís por me dar a conhecer este autor brasileiro. Gostei muito de ler esta crónica. Beijos
ResponderExcluirBoa noite Tais. Parabéns por divulgar os escritores do nosso país. Fico feliz em ganhar uma amiga tão especial e generosa como você. Tens um amigo carioca. Espero um dia conhecer um pouco do RS. E não levarei uma coruja do Rio de Janeiro de presente para você. Fique despreocupada rsrsrs. Grande abraço.
ResponderExcluirTaís,
ResponderExcluirMais uma maravilhosa oportunidade
de repensar sobre questões
que vão mudando ao longo
da nossa vida. Digo mudando
porque os pais deixam de
ser apenas patriarcas
ou provedores para ser parceiro
de seus pares e de seus filhos
e filhas.
Bjins de quarta feira
CatiahoAlc.
Um felizardo o Fabrício Carpinejar pela espantosa mãe que teve.
ResponderExcluirUm abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Texto impecável de Fabrício Carpinejar.
ResponderExcluirBela postagem!
Um bom fim de semana para você. Bjs.
A crónica do Fabrício é muito interessante. E ele descreve muito do que já senti como filho e pai.
ResponderExcluirObrigado pela partilha.
Bom fim de semana, querida amiga Tais.
Beijo.
Bom dia, querida Taís
ResponderExcluirQue autor este! Escreve com o coração e como tal vem direito às vicissitudes e preocupações por que passam as mães, mormente quando são sozinhas a criar os filhos.
O texto é admirável e o seu currículo aponta-nos a vontade de ir à descoberta dele e da sua escrita e do que poderemos aprender.
Fui ver as publicações que já fez sobre Carpinejar e, realmente, falha minha não o conhecer a ele e à sua obra.
Fabrício Carpinejar, um nome que não vou esquecer.
Tenha um bom fim de semana, minha amiga, junto aos seus.
Com Saúde!
Beijinhos
Olinda
Querida Vizinha / Escritora, Taís Luso !
ResponderExcluirEste é um texto que deveria ser lido, e
absorvido, por todos os pais.
Boa parte das experiências, inseridas
pelo Autor, coincide com as que apliquei
na educação dos meus quatro filhos.
Deu muito certo !
Parabéns, Amiga, pela bela seleção e
grato por partilhar.
Feliz final de semana.
Sinval.
Linda crônica de copnstrução paterna pelo afeto exemplificado pela mãe e costurado através da relação pai/filhos. Ótima a frase " A maternidade é inata, a paternidade é adquirida." Amei bjs
ResponderExcluirQuerida, Taís!
ResponderExcluirQue linda crônica do Fabrício, eu ainda não tinha lido e olha que já li varias dele.
Obrigada pela partilha, amei.
Um abraço com carinho,
Sônia
Una delicada reflexión la de este periodista tan observador y poeta, Tais.
ResponderExcluirUn placer leer su texto. Saludos.
Querida Tais, mais uma surpreendente crônica, gosto do Fabrício Carpinejar, e com esta crônica você nos dá a oportunidade de muitas leituras e reflexões. Que exemplo de mãe, que com suas atitudes exemplares pode educar seus filhos e ainda deixar um futuro de reflexões quando seus netos estavam sendo educados. Maravilhosa escolha. Um presente de cultura, obrigada. Beijos!
ResponderExcluirA amostra é uma pérola, imagino as jóias que criou... Vou colocá-lo nos marcadores como escritor favorito.
ResponderExcluirMas que 'curriculum'!! Metade dos meus genes são açorianos, por isso fiquei curiosa quando vi o 'Prémio Açorianos' e fui pesquisar na Wiki... Não fazia ideia que Portalegre tinha sido colonizada inicialmente por gentes dos Açores. Sabia da colónia de Santa Catarina. Uma grande homenagem às nossas ilhas!
Vivendo e aprendendo...
Quanto à mãe de Fabrício, foi uma heroína com muitas anónimas o são, porém, neste momento triste, há muitas sem trabalho...
Ótima opção para a substituir neste porto, afinal dignificando as mulheres.
Abraço amigo.
~~~
Um autor que desconhecia... e que esta sua crónica, Tais, me despoletou uma imensa curiosidade em querer saber mais sobre a sua obra... Como perdi o meu pai bem cedo... senti alguns paralelismos com as emoções expressas no texto...
ResponderExcluirFormidável partilha, Tais! Beijinhos
Ana