27 de maio de 2023

POR QUE NÃO PENSAR NO FUTURO ?

 



- Taís Luso de Carvalho                                   


Viver o presente intensamente, sem dúvida, é tudo de bom, mas dependendo da idade que tivermos, pensar no futuro também é bem  importante. O passado passou, fomos felizes e guardamos belas lembranças, e outras, esquecemos. Porém, chega um momento que, além de vivermos com alegria, eu não abro mão de encarar as verdades que estão vindo, goste ou não delas. Não consigo ser uma pessoa do tipo “viva o agora e não pense no futuro”. Não, de jeito nenhum - eu penso porque não quero ser apanhada de surpresa.  E não temo o inevitável. Há muito tempo que penso num futuro leve e feliz, independente da idade. Todos pensam no seu futuro, mesmo os jovens. 

Tive um exemplo da vida consciente e feliz dos meus pais. E de tantas outras pessoas que foram amadurecendo com dignidade: desenvolveram-se intelectualmente, se ocuparam com as artes, escreviam, outras viajaram bastante. E falavam de todas as etapas de suas vidas, sem problemas. Quando programamos alguma coisa, a chance de dar certo é maior. 

Esse tempo tão curto na vida dos humanos não satisfaz ninguém, comparado com alguns animais. Um molusco bivalve viveu 507 anos; tartarugas  podem chegar a 300 anos; tubarões-da-Groenlândia - 400 anos. E por aí a bicharada vai vivendo um monte. E os humanos, as mentes pensantes e privilegiadas, quando atingem 100 anos ganham uma festa de arromba! É isso que temos.

Conheci muitas pessoas de mais idade que comandaram suas vidas até o final de seus dias. Foram precavidas e organizadas. E foram muito felizes enquanto viveram. Mantiveram suas opiniões, seus gostos e suas decisões sobre suas vidas. Não penso na "partida", penso no "caminho" que estou trilhando, e por ele sou eu a responsável. E depois? Depois não sei,  ninguém sabe, ninguém viu.

O bom é construir uma vida confortável e saudável. Doarmos o monte de bugigangas que acumulamos na trajetória, evitar de    entupir com as tralhas, já que não haverá muita  disposição para pôr fim a tantas coisas inúteis. 

Chega de estresse, de preocupação, de correr atrás de coisas materiais, atrás dos Bancos, das dívidas, dos boletos e coisas do gênero. Chega de comprar tantas coisas, parece que viveremos 300 anos. Estou adorando a limpeza por aqui, vi que tenho muita tralha - e essas já estão com os dias contados. Estou vivendo calmamente meu presente e planejando  meu futuro com alegria e determinação. 

Por tudo isso, embora com os pés no presente, não me omito de pensar num tempo mais à frente, sem ser obstinada, E sem medo.  

Essa  paz e tranquilidade é que desejo a todos os meus amigos. 








19 de maio de 2023

SENDO FELIZ NA ROTINA!

 

Viaduto dos Açorianos - Porto Alegre- RS / Brasil



SENDO  FELIZ  NA  ROTINA! 

                          - Taís Luso de Carvalho



Quem diz que rotina não é coisa boa? Seguir nossa vida bem regrada, andar na paz e saber onde dar o passo de cada dia e estar familiarizada com tudo, eu gosto muito. Aprendi a gostar da minha rotina, do meu cotidiano.

Lembro que há muitos anos eu também dizia: é ótimo  viajar, mudar a rotina, espraiar-se e escapar um pouco dos problemas. Só que, na verdade, não escapamos de nada, levamos todos os problemas para fazer turismo onde quer que seja. Uma companhia nada agradável.

Penso que viajar levando os problemas junto, é tiro no pé. O bom é viajar com a consciência em paz, com problemas resolvidos e com alegria, e não querer escapar de problemas. E, no finalzinho, ficar com vontade de voltar, com saudades de nosso país, de nossa cidade, da nossa casa, da nossa rotina.

Sair bem e voltar melhor ainda, cheia de planos, com saudades da nossa gente, dos abraços dos amigos, da nossa rua, do bairro, do comércio e dar um Alô a todos os nossos conhecidos por onde vamos passando. Sentir que estamos de volta ao que é nosso, é muita felicidade. Sair, mas voltar!

Quero ter a minha rotina, estar em dia com as notícias do mundo, ouvir que aqui, ali e acolá está melhorando. Ir aos shoppings, sentar numa cafeteria e jogar conversa fora, rindo como gente feliz. Uma tarde tri de legal, como dizemos aqui no Rio Grande do Sul.

Não, não quero fugir do meu cotidiano; quero almoçar nos domingos em família, com Pedro e meus filhos, passear no parque, no Brique da Redenção e ver a vida linda. Caminhar pelos lugares que há décadas percorro. Nada me é tão familiar. Sentir amor pela minha cidade, mesmo com seus problemas, mas é a cidade que me acolhe, o porto do meu sossego e da minha alegria. É a minha Porto Alegre.

Há muitos anos sonhei em morar em outros lugares, em outra cidade, mas foi ótimo não termos ido. Nem daria, tudo bobagem minha. De vez em quando eu tinha umas ideias meio esdrúxulas, mas depois percebi que o caminho para mudanças seria outro, insistir em procurar as mudanças em mim, e não mudar de casa, de cidade, de país. Não; mudo eu, onde estiver! Quando a gente amadurece, fica mais seletiva e deixa de lado certos sonhos meio mirabolantes, embora esses sonhos também façam parte da vida. Prefiro dar voos mais baixos.  Na verdade, eu já aprendi a lidar  com a realidade, embora tenha lá suas alterações, mas coisa pra lá de normal .


                   Um pedacinho de Porto Alegre - RS - Brasil


Orla do rio Guaíba -  Pôr do Sol


         Orla junto ao Guaíba - espaço para vários esportes


 Restaurante na Orla do rio Guaíba -  no pôr do sol

Antiga Usina do Gasômetro - ao fundo


 


       



10 de maio de 2023

FALAR DE AMOR NUNCA É DEMAIS

 




                  - Tais Luso de Carvalho



Hoje estou a fim de falar de uma amiga: falar de sua posição corajosa diante da vida. Perdeu marido, mãe e filho em dois anos. E é incrível sua força, seu equilíbrio. 

Os humanos, quando bastante espiritualizados aceitam melhor as perdas. Porém, disse-me ela, que se seus familiares pudessem retornar à vida, certamente o convívio com eles seria muito diferente. E fiquei pensando nas suas palavras. Em repetidas atitudes só enxergamos os erros dos outros; o que fizeram e o que deixaram de fazer.

Quando brigamos com amigos ou parentes mais próximos, seja por fanatismo político, por vaidade  ou orgulho,  nada mais resta a fazer, apenas sentir uma grande dor por não termos modificado a situação ainda em vida. Por que será que nossa mente se fecha enquanto estamos todos juntos e ainda vivos?

Perguntei à minha amiga o porquê de tantas orações, lembranças e cuidados agora? Viver a rezar pra modificar o quê? Qualquer resposta se torna difícil.

A conversa foi tomando rumos diferentes, foi entrando para o caminho da saudade, das lembranças e das culpas. E fiquei a ouvi-la com muita pena dela. 

Claro que a vida não é um paraíso. É difícil convivermos com o diferente que o outro carrega. Em vida é aquela neurose coletiva; vamos indo aos trancos, e quando nossos entes queridos morrem, tentamos por todos os meios uma comunicação através de orações, visões, cartas psicografadas. Interessante como procuramos alguma aproximação, algum contato. Contudo, dá para concluir algo de suma importância: precisamos cuidar de nossas emoções, fazer coisas boas, rever situações ainda em vida. Diminuir o sofrimento. Cuidar do nosso emocional,  certas manifestações chegam para preencher as lacunas de nossas carências afetivas. E afetos a gente lapida em vida. 

Eu gostaria de ter dito aos meus pais, antes deles partirem naqueles dias, o tanto que os amei. Mas não falei o suficiente. Disse em pensamento, com nossas mãos entrelaçadas, e na maior tristeza, mas eu gostaria que tivesse sido várias vezes em vida e não no fim da vida. Mas demoramos além da hora: eu deveria ter percebido que falar de amor nunca é demais: é a maior dádiva. Repetir  mais vezes essa palavrinha sempre será pouco. É lindo escutar dos filhos: eu amo vocês! Mas em palavras!

E minha amiga concordou: descobrir a hora certa depende do nosso grau de humildade e da nossa grandeza de espírito. Depois fica apenas o nada. E viramos um lamento só. 

Falamos tantas palavras sem sentido e esquecemos que falar de amor é dar asas, é libertar o nosso coração. E poder alcançar aos nossos queridos a felicidade merecida. Não há maior valor na vida.




(1º ed. junho 2010)

                      





1 de maio de 2023

PARA ONDE IREMOS ?

 





                       - Taís Luso de Carvalho


Não levará muito tempo para mudarmos nossos conceitos, nossos medos, nossa visão do mundo, nosso viver.  Minha geração nasceu agarrada em ursinhos, bonecas, carrinhos. Hoje, um bebê de 8 meses já pega o seu Smartfone - que não é de pelúcia. 

Teremos um outro convívio com as crianças que  já  gostam da solidão dos Smartfones. E assim seguirão as futuras geraçõesum para-te quieto com carinho! Crianças com seu novo brinquedo, ficam quietinhas. Porém, não é o normal.

Mas a vida é rápida,  na medida em que vamos pegando idade e experiência,  uma nova história vai se formando.

Os séculos mostram uma história rica em descobertas científicas, em tecnologia, transformações culturais e artísticas e mais tantas coisas maravilhosas. Mas o que foi, não será mais, nossas vidas serão muito diferentes.

Uma coisa da qual nunca fui apaixonada, foi por avião! A primeira vez que entrei numa maravilha destas, sentei e a comissária, mal fechou a porta, começou a falar com muita naturalidade, como usar os equipamentos de segurança, caso acontecesse algum acidente no percurso. Mostrou a porta de urgência, o salva-vidas e muita conversa visando a calma dos passageiros. E pensei: caramba! O que estou fazendo aqui? Já estava lá dentro, sentada, apavorada, e com vontade de fugir. Mas fugir é desistir. Logo depois me acalmei, e tudo correu bem. Isso já está no passado, um pouco mais faremos turismo em Marte. E estou pensando... apesar de estar rindo aqui.

Então, mesmo sem querer, pensei sobre certos medos e sua lógica, como ter mais domínio das situações. 

Domínio? Mas para que me servirá esse magistral domínio,  se no futuro teremos carros voadores e tantas coisas que não dominaremos tão fácil? Pensar em domínio, se atualmente somos assaltados  todos os dias e levam  nossos celulares! Cadê o domínio da situação?  Cheguei à conclusão que avião é bem mais seguro! 

Pois é, nesses novos tempos, sem percebermos, teremos avanços muito significativos. Só não teremos o tempo necessário para acostumar com esse imediatismo assustador. Mas vamos acreditar que podemos, antes que a coisa fique mais difícil. A vida não pode ser tão pesada, tem de ser leve para mantermos o equilíbrio e não enlouquecermos. E por falar em medo, estou assustada com a tal 'Inteligência artificial', estamos escutando muitas coisas. 

Na verdade, meu medo de avião perdeu o seu lugar de honra. E assim seguiremos até o ponto final, pois a vida seguirá seu belo curso,  é  ela, de fato, quem tem o grande domínio.  

Mas uma pergunta continua sem resposta:

Para onde iremos? 

Não se aflijam, a resposta dependerá da fé de cada um. As  experiências vividas acomodarão algumas perguntas. Quem sabe não  sobrará a esperança de que nosso espírito continue numa outra dimensão?  Seria bom demais poder crer. Mas, ninguém sabe.










20 de abril de 2023

SAUDADES DE MIM

 

Duas meninas ao piano - 1892 / Renoir



- Taís Luso de Carvalho


Não é muito comum, mas hoje acordei com saudades de mim. Levantei mais cedo do que de costume, coberta de saudades da minha infância e adolescência. Saudades de tempos mais calmos, sem discursos de ódio, como anda no meu país atualmente. Um tempo que as pessoas não se agrediam por causas políticas. Uma vida  longe da conjuntura atual.

Saudades do colégio das freiras, o Sevigné, e das Missas das 6:30 hs na bela capela, que eu adorava ir com meu pai, e depois eu já  ficava para as aulas.

Lembro que eu levava o terço e o missal, embrulhados em saquinhos de celofane, junto com meus livros e cadernos. O bom era fazer barulho quando pegava aquelas tralhas todas. Até hoje não sei a razão daquela minha atitude. Penso que foi por imitação das velhinhas, que faziam um mexe-mexe terrível dentro de suas bolsas, e eu adorava. Coisa de criança.

Tínhamos uma vizinha que era professora de piano. Meu pai falava muito que gostaria que eu aprendesse a tocar piano. Comprou um piano e contratou essa professora, a Dona Júlia, que dava aula nas casas dos alunos. O sonho de meu pai era que sua filha (no caso eu) tocasse piano na sua velhice! Sim, mas eu não assimilava bem isso e comecei a ficar com medo que meu pai ficasse velhinho e morresse. Aquilo era uma sombra na minha vida. Assim, eu não quis aprender coisa nenhuma! Foi um drama, mas não quis decepcioná-lo, e aceitei as aulas de piano. Mas não estudava muito os ensinamentos da dona Júlia. Eu compunha minhas músicas!! Bem alegres.

- Estás estudando bem, minha filha? Tocarás para teu velho pai!

- Claro, pai, pode deixar, tudo direitinho...

Mas, o caos foi numa Festa Paroquial da Igreja, num almoço festivo. O padre teve a triste ideia de me chamar no palco, para tocar piano!! E meus pais orgulhosos, me empurrando: vai minha filha!

E lá fui eu, num misto caótico de medo e coragem, sentei ao piano, puxei uma daquelas minhas invenções malucas, toquei com desenvoltura, e ainda saí aplaudida. Como consegui aquilo? Hoje não faria tão bem.

Passados 4 anos, já tocava alguma coisa, mas gostava era das minhas composições. Num certo dia, disse aos meus pais que não queria mais saber do piano, meu negócio era cantar ao violão! E consegui!

Chamaram em casa, um conhecido professor de violão. Em pouco tempo senti que meu talento para o violão era zero. E para cantar, era a menina mais desafinada do mundo! Que coisa horrorosa.

Então, com pouco tempo de violão, e em favor do mundo artístico, desisti da minha já fracassada carreira musical.

De lá pra cá, ainda muito jovem optei por ser feliz: passei a fazer minhas escolhas, sem rebeldia. Não precisava ser rebelde.

E hoje, lembrando de tudo com alegria, digo que a gente só tem saudades do que foi bom! E nessas lembranças, muitas vezes, sinto saudades de mim. De minhas decisões mais rápidas. Hoje, pelo amadurecimento e pelas minhas responsabilidades, demoro mais, talvez pense demais. Mas faz parte da vida.








11 de abril de 2023

A TERRA FERIDA

 




                     A  TERRA FERIDA

                     Pedro Luso de Carvalho


 

Caminho por esta pobre terra

seca, carente de cuidado,

de amor carente.



Pisaram-te, pobre terra, pés

que te feriram a alma,

interminável dor.



Meus olhos tuas seivas veem

o alimento que guardas

para matas e rios.



As tuas fontes, pobre terra,

teus riachos e cascatas

haverás de cuidar.



Tenhas cuidado com o homem,

predador de mórbida avidez

(dele sejas a sepultura).



Verás crescer tuas florestas,

os rios refletirem do céu

o azul, rumo ao mar.




                            ________________________________________                       

Pedro Luso de Carvalho - Blog Veredas






2 de abril de 2023

ESSAS COISAS ANTIGAS...

 



Hoje postarei mais uma parte do "Essas coisas antigas", anos 50 - 60 - 70 e 80.
 Um tema divertido, curioso e agradável de relembrar. Muitas coisas  vivenciamos.

Então, divirtam-se! Deixarei o outro link, muito interessante,  mostro mais desse tema apaixonante. Podem passar por lá, irão gostar bastante. 

          Mais curiosidades de outros tempos: Aqui.


A marca Filizola foi a primeira fabricante brasileira de balanças.
A empresa foi fundada em 1886 pelo imigrante italiano Vicente Filizola. 

Os famosos  'Armazéns Secos e Molhados' havia de tudo, 
muito populares. Ainda havia venda fiada, anotado na caderneta.

Abridor acoplado na lata


Tampinhas que vinham nos refrigerantes, as crianças  queriam 
eram as tampinhas  com os bichinhos...

   Descongestionante                             Para  a barba masculina
 


Despertador de cabeceira
        
View Master - 3 D / anos 80

Malas Vintage - couro
 
Espremedor de laranja e limão

     
Cigarrinhos de chocolate para as crianças... 
Pois é,  um  exemplo nada bom...
                
Pulseiras com mil penduricalhos - moda masculina 

Difícil usar, nunca consegui apagar nada...

Celular, o 1º famoso tijolão brasileiro     
                                                     
prato toca-discos com vários LPs de vinil 

Assim aprendíamos a tabuada - sem celular. E como!

Brincadeira de criança: passa-anel


Cama antiga - com estrado de madeira e  ' molas '


Vejam esse vídeo, maravilha!!









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24 de março de 2023

O DIA EM QUE CHOREI EM AMSTERDAM

 

Amsterdã 



         - Tais Luso de Carvalho   


   Foi um dos dias mais tristes de minha vida: dia chuvoso em Amsterdã, capital da bela Holanda (países Baixos). Um país lindo, cheio de tulipas, diques, moinhos, bicicletas e com uma arquitetura belíssima. Terra de Rembrandt, Vermeer, Van Gogh… Ah, Holanda!! Poderia ter sido lindo, mas não foi.

    Uma família sem muitos recursos, morava num barco: pai, mãe e um filhinho de 3 anos. Apesar de viverem com muita dificuldade, pareciam felizes. Tinham sonhos. Acreditavam em dias melhores. Eram brasileiros que foram viajando sem rumo certo, tentando um caminho mais feliz para viverem. Com as economias, que levaram do Brasil, compraram um pequeno barco. E aportavam um dia aqui, outro ali, sempre à procura de emprego.

    O barco tinha um fogãozinho, pequena cama, mesa, tudo organizado para dar a ilusão de um lar, o sonho do casal. Até guardanapos de croché tinha. Todos os dias, em meu caminho, eu parava e falava com Jane, dava uma olhada na criança, levava algumas coisas para eles. Sentia lá, minhas raízes de brasileira.

   Porém, um dia receberam uma notificação de que não poderiam continuar onde estavam: lá - onde ancoraram -, não era lugar para residência. Sei lá, eu não estava a par das leis, do permitido naqueles canais de Amsterdã. Mas senti o desespero do casal.

   No dia posterior à notificação, Nando, o marido de Jane, saiu para ver como faria, para onde iria com a família. À tardinha passei para ver o que Nando tinha conseguido, como tinham ficado as coisas por lá. Jane, sem parentes, sem amigos, abraçou-me e desabou num choro compulsivo. Afeiçoei-me muito àquela família, Jane era como uma irmã. Trocávamos experiências, conselhos e afetos. Difícil lidar com a saudade. Apesar dos pesares, somos um povo sentimental, coração mole e solidário. Somos latinos. Quando consegui falar, perguntei à Jane o que tinha acontecido para aquele desespero. Estranho aquilo, nunca a vi assim!

   Deu-me para ler uma carta de Nando; uma carta de despedida; não voltaria mais para o barco e nem para a família. Tentaria sobreviver noutras bandas. Cada um que seguisse sua vida. Simples assim, uma carta pesada, cruel e sem muitas delongas.

   Mas então? O que seria de Jane, sem o marido, com filhinho pequeno, sem dinheiro, sem emprego, sem lugar para o barco, e num país que não era o seu? Como eu poderia  ajudar Jane e Ricardinho? Ficamos abraçadas chorando; chorando pela falta de tudo, pelo futuro impreciso e solitário, pelo desconhecido e talvez pela nossa separação. Não estava achando solução, eu morava na Casa do Estudante.

  Que destino estaria reservado para minha amiga, que apesar de pobre não tinha mágoas da vida, me confortava quando batia a saudade do Brasil. Aquela amiga que me convidava para o almoço, comer o pouco que tinham nos finais de semana. Eu precisava fazer algo! Debatia-me entre tristeza e ódio.

   O relógio despertou às 7h  e acordei! Uff... que noite de cão! Meu maxilar parecia de um cão Pitbull! Acordei tensa e com uma incrível enxaqueca. Qual a razão desse meu estúpido pesadelo? Não quero nem saber.

   Mas,  quero contar  que eu nunca estive em Amsterdã; nunca morei na Casa do Estudante, nunca tive uma amiga chamada Jane, e jamais vi um barco vagueando pelos inúmeros canais de Amsterdã!

   E muito menos conheci um cretino chamado Nando.




     Imagem: daqui.











12 de março de 2023

POR QUE NÃO TE CALAS ?

 

 Em atividade  desde 1221, mas aberta ao público desde 1612.



                   - Tais Luso de Carvalho

Quantas vezes na vida a gente escuta: Mas tu estás vivo, criatura!? Estava acostumada a escutar isso carinhosamente, em tom de brincadeira - uma alegria pelo reencontro saudável. Mas hoje escutei de outra maneira, e me deixou um pouco indignada.

Numa das farmácias do meu bairro trabalha um atendente que conheço há anos, homem de meia idade, educado no seu ofício, atencioso, mas que esteve afastado 4 meses por motivo de doença.

Todos gostam de comprar com ele: não enrola, não empurra remédios similares no lugar dos genéricos e nem genéricos no lugar dos de referência. E não vende gato por lebre. Procura dar o que se pede.

Estava eu lá, quando, de repente, passa na porta da farmácia uma lambisgoia destrambelhada, daquelas que precisam falar qualquer coisa, desde que falem. Precisam articular a arcada e soltar um grunhido. Lá da porta, colocou a mão no quadril e gritou para esse atendente:

E daí, Nereu, tu ainda não morreu, homem?

E seguiu andando sem ter dado um tchau para a criatura, na sua primeira semana de retorno ao trabalho, ainda fragilizado. O coitado ficou lá, olhando para porta, perplexo. O que ele esperava eram palavras de boas-vindas. De carinho.

Pois é, e eu ali, o que dizer  numa hora dessas? Falar mal da mulher já não se fazia necessário. E nem dar força para ele, num ato de compaixão. Mas, o mundo está cheio de gente desse tipo e as situações ficam desastrosas. E só devemos colocar isso no balaio das perdas. E assim ficou o homem lá, meio carente de afetos e com suas cicatrizes. Só consegui dizer a ele…

Não ligue, não leve a maluca a sério…

Concordou com um sorriso tímido. Quando ficamos doentes e frágeis por longo tempo, quando emergimos das profundezas  é que aprendemos melhor a separar o joio do trigo e a descartar as ervas daninhas. Mas acredito que ele deverá se refazer da grossura, já deve ter um certo traquejo com essa gente rude, sem neurônios e sem afetos.