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- Taís Luso de Carvalho
Ao sair pela manhã, passo por uma calçada e vejo a mesma senhora trabalhando defronte a loja, vendendo planos da Funerária, ali situada. Cada vez que passo nessa calçada a mulher me oferece dois planos: Sepultura ou Cremação. Nesse último dia chegou mais perto para me falar das vantagens de um e outro. Acelero o passo e faço um sinal que não quero saber! Coitada, vender planos funerários diariamente é dose pra Mamute. É insistente, mas escapo dela.
Mais adiante, defronte a uma casa de chocolates, de ótima marca, uma moça fica oferecendo um mimo aos que passam, uma caixinha, toda enfeitada, com 6 bombons - estão inaugurando a nova loja. De um lado, a Funerária, do outro bombons!
Sim, tudo muito louco, dois polos opostos: um rechaça, o outro atrai. Assim é esse mundinho que não nos acostumamos, parece que vivemos ora no céu, ora no inferno.
Chego em casa, ligo a televisão e notícias das mais variadas e para todos os gostos. A televisão é a maior vitrine de variedades do mundo: viagens maravilhosas pelo mundo inteiro, namorados que se amam, mas também se matam. Cruzeiros em navios fantásticos visitando as mais belas cidades do mundo. Milhões de pessoas imbuídas da mais bela solidariedade que existe, que se entregam para ajudar os outros, em atos maravilhosos como aconteceu aqui no Rio Grande do Sul devido a trágica enchente no mês de maio, nunca vista no Brasil. Virei só emoção com tal gesto humano do povo Brasileiro, de norte a sul, e muitos outros povos, nada tão lindo, tão comovente. Porém, em outros momentos vejo o horror das Guerras da Rússia e Ucrânia, de Israel e o Hamas, também referido como conflito Israel-Gaza. Que ser humano é esse que não reconheço? Quanta brutalidade. Serão, mesmo, seres humanos?
Mudei de canal para descansar! No jornal da noite a repórter da TV faz sua matéria em uma loja de Departamentos, abordou uma senhora humilde chorando com uma bonequinha nas mãos. A repórter perguntou-lhe por que aquelas lágrimas e a bonequinha nas suas mãos...Dos altos dos seus 70 anos ela contou que nunca havia ganhado uma bonequinha na sua vida, e ela estava fazendo 70 anos! A repórter ficou muito comovida, saiu um pouco dali e voltou com uma boneca de presente para a senhora. A emoção, as lágrimas alcançaram a produção do Jornal que estava junto e a todos que viram aquele momento pela televisão. Não esquecerei a emoção vista numa senhora tão humilde, e que não sabemos como foi sua vida. Lógico, minhas lágrimas também apareceram.
E assim vamos vivendo muitas emoções entre tantas brutalidades, disputas por poder, por terras, tantas guerras estúpidas que nos aterrorizam diariamente, que matam inocentes, mulheres e crianças, tantas maldades, e que fazem frente a um outro mundo: mundo de amor, de doação, de solidariedade intensa.
E fica a perplexidade de não termos a compreensão, de não entendermos esse ser humano tão igual na sua criação, em sua matéria, e tão diferente na sua essência; tão carrasco, tão criminoso... mas também, tão maravilhoso. É muito difícil viver assim. São muitos altos e baixos. Muitos contrastes a vivenciarmos.
Sem dúvida, vivemos num Mundo muito louco e confuso.
Ora nos aterroriza e nos desilude ao extremo; ora nos emociona tanto que nos faz acreditar, que um dia teremos um Mundo maravilhoso.
Mas não, jamais teremos! Tenho idade para não me iludir mais.