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por Tais Luso de Carvalho
Meus
álbuns poderão fazer parte de museus. Hoje é um cerimonial folhar
um álbum, ver fotos da juventude, formaturas, casamentos da família,
festas... Mas a luta é inglória, o pessoal só quer saber de fotos
clicadas pelo Smartphone; dos últimos acontecimentos sociais em "Selfie". Nunca vi tanto autorretrato. Tantas caras e bocas. Eles e elas nas fotos!
Minha
geração (longe de ser do período paleolítico) ainda teve o
privilégio de tirar fotografia. De manusear uma máquina
profissional. De tentar fazer Arte fotográfica. Ao ler uma
entrevista na revista ISTOÉ, com o genial mineiro Sebastião
Salgado, me bateu a nostalgia de um adeus. Cedo
ou tarde teremos a despedida - segundo ele.
A fotografia está no seu final. Ele fala em fotografia profissional
que passa por uma técnica própria, por processo especial de
impressão, edição, um manuseio especial em laboratório. E uma
técnica aprimorada. Já tive o prazer de entrar num estúdio de
revelação e ver o processo, a elaboração de uma fotografia.
Em
seu último trabalho, o fotógrafo coloca o planeta à nossa
disposição; os lugares mais fascinantes da Terra, difícil de
chegar, difícil de fotografar, emocionante de ver. Oito anos de
trabalho intenso para compor a obra Gênesis.
“Descobri
que 46% do planeta ainda está como no dia do
Gênesis”
- relatou Sebastião Salgado.
Interagiu
ao longo de 40 anos com culturas fantásticas, registrando
pessoas,
fauna, flora e contribuindo para preservação do planeta. Pelo menos
tentando. Seus trabalhos são, também, sobre as tribos indígenas
brasileiras – grupos antigos, remotos e intocados
pela civilização – ainda.
Mas,
para não dizer que só falei de flores e não coloquei uma
pimentinha no texto, pergunto se algo bem contemporâneo não ficará
registrado nos Anais da História da Fotografia - dita imagem:
falo do horroroso, deselegante e cafona "pau de selfie para celular". É
uma invenção sui generis. Até em casamento já foi usado, e pelo
padre! Não há dúvida que ficou exótico.
Porém,
está com seu uso proibido em vários parques temáticos dos Estados
Unidos, da França e Hong Kong, o que alegam representar um perigo
para a segurança de seus visitantes e empregados. Essa medida se
estende, também, a vários museus. O que é óbvio.
Li
um artigo (14/6/2015 ZH), escrito por um especialista em ciência de
computação, o qual percebe-se a despreocupação das pessoas a
respeito do seu resguardo. Não há dúvidas que não se dão conta
do grande risco que correm com a exposição de tantas fotos nas
redes sociais. Pela facilidade de uma selfie, o ato se torna
inconsequente. E como já virou uma paranoia, ninguém pesa as
consequências. Mas pode virar um incômodo tamanho
família.
A vaidade humana não tem limites, está por demais escrachada.
Também
já existem, nos Estados Unidos, estudos com jovens que já se
encontram doentes e insatisfeitos porque a tal selfie não lhes
agrada nunca! E tais fotinhos precisam ser aprovadas nas redes
sociais. Esses estudos mostram que pessoas entre 16 e 25 anos
dedicam 16 minutos e sete tentativas, em média, para fazer o selfie
perfeito. É um dilema que virou obsessão. Enfim, os tempos são
outros.
Mas
a arte, a criação e a emoção são coisas diferentes. Ficarão
para sempre como relato da história da humanidade.
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Protesto na Praça da Paz Celestial |
Um
jovem durante o protesto na Praça da Paz Celestial, na China, que
fez parar uma fileira de tanques de guerra. A identidade do jovem é
desconhecida até hoje. Caso fosse hoje daria uma ótima selfie, a
criatura em frente aos tanques, mas seu rosto em primeiro plano. Em
2000, o mesmo jovem foi eleito pela revista Time uma das pessoas
mais influentes do século XX.
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Solidariedade
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A
foto revela um gesto de solidariedade de um missionário em Uganda -
1980. A foto ficou registrada como a melhor foto daquele ano, sem que o fotógrafo soubesse.
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A menina e o abutre |
Essa
foto emocionou o mundo, pois retrata a calamidade da fome na África,
causada pela guerra civil. A tomada da foto foi feita em uma aldeia
no Sudão (1993) e mostra um abutre observando uma criança
desnutrida que aparentava esperar a morte e viraria alimento da ave.
A foto rendeu ao fotógrafo o Prêmio
Pulitzer.
Contudo
foi muito criticado por não ter ajudado a criança. Pressionado pelo
sentimento de culpa, Carter suicidou-se em 1994, aos 33 anos.
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Sebastião Salgado
Autor de livros antológicos, como Trabalhadores (1996), Outras Américas (1999), Êxodos (2000) ou Gênesis (2013), Salgado acredita que a fotografia tem que passar pelo papel. A fotografia precisa se materializar, precisa ser impressa, vista, tocada, como quando os pais faziam antes com os álbuns de fotos de seus filhos”, afirma.
Ref: GLOBO.COM - ESTADO DE MINAS / CULTURA
Um dos mais importantes fotógrafos do mundo.
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