16 de julho de 2024

VIVEMOS NUM MUNDO LOUCO

 



                        - Taís Luso de Carvalho


         Ao sair pela manhã, passo por uma calçada e vejo a mesma senhora trabalhando defronte a loja, vendendo planos da Funerária, ali situada. Cada vez que passo nessa calçada a mulher me oferece dois planos: Sepultura ou Cremação. Nesse último dia chegou mais perto para me falar das vantagens de um e outro. Acelero o passo e faço um sinal que não quero saber! Coitada, vender planos funerários diariamente é dose pra Mamute. É insistente, mas escapo dela.

Mais adiante, defronte a uma casa de chocolates, de ótima marca, uma moça fica oferecendo um mimo aos que passam, uma caixinha, toda enfeitada, com 6 bombons - estão inaugurando a nova loja. De um lado, a Funerária, do outro bombons!

Sim, tudo muito louco, dois polos opostos: um rechaça, o outro atrai. Assim é esse mundinho que não nos acostumamos, parece que vivemos ora no céu, ora no inferno.

Chego em casa, ligo a televisão e notícias das mais variadas e para todos os gostos. A televisão é a maior vitrine de variedades do mundo: viagens maravilhosas pelo mundo inteiro, namorados que se amam, mas também se matam. Cruzeiros em navios fantásticos visitando as mais belas cidades do mundo. Milhões de pessoas imbuídas da mais bela solidariedade que existe, que se entregam para ajudar os outros, em atos maravilhosos como aconteceu aqui no Rio Grande do Sul devido a trágica enchente no mês de maio, nunca vista no Brasil. Virei só emoção com tal gesto humano do povo Brasileiro, de norte a sul, e muitos outros povos, nada tão lindo, tão comovente. Porém, em outros momentos vejo o horror das Guerras da Rússia e Ucrânia, de Israel e o Hamas, também referido como conflito Israel-Gaza. Que ser humano é esse que não reconheço? Quanta brutalidade. Serão, mesmo, seres humanos?

Mudei de canal para descansar! No jornal da noite a repórter da TV faz sua matéria em uma loja de Departamentos, abordou uma senhora humilde chorando com uma bonequinha nas mãos. A repórter perguntou-lhe por que aquelas lágrimas e a bonequinha nas suas mãos...Dos altos dos seus 70 anos ela contou que nunca havia ganhado uma bonequinha na sua vida, e ela estava fazendo 70 anos! A repórter ficou muito comovida, saiu um pouco dali e voltou com uma boneca de presente para a senhora. A emoção, as lágrimas alcançaram a produção do Jornal que estava junto e a todos que viram aquele momento pela televisão. Não esquecerei a emoção vista numa senhora tão humilde, e que não sabemos como foi sua vida. Lógico, minhas lágrimas também apareceram.

E assim vamos vivendo muitas emoções entre tantas brutalidades, disputas por poder, por terras, tantas guerras estúpidas que nos aterrorizam diariamente, que matam inocentes, mulheres e crianças, tantas maldades, e que fazem frente a um outro mundo: mundo de amor, de doação, de solidariedade intensa.

E fica a perplexidade de não termos a compreensão, de não entendermos esse ser humano tão igual na sua criação, em sua matéria, e tão diferente na sua essência; tão carrasco, tão criminoso... mas também, tão maravilhoso. É muito difícil viver assim. São muitos altos e baixos. Muitos contrastes a vivenciarmos.

Sem dúvida, vivemos num Mundo muito louco e confuso.

Ora nos aterroriza e nos desilude ao extremo; ora nos emociona tanto que nos faz acreditar, que um dia teremos um Mundo maravilhoso.

Mas não, jamais teremos! Tenho idade para não me iludir mais.







9 de julho de 2024

PEDIDO DE ADOÇÃO / Adélia Prado

Adélia Prado - Prêmio Camões 2024


PEDIDO DE ADOÇÃO / Adélia Prado


Estou com muita saudade

de ter mãe,

pele vincada,

cabelos para trás,

os dedos cheios de nós,

tão velha,

quase podendo ser a mãe de Deus

— não fosse tão pecadora.

Mas esta velha sou eu,

minha mãe morreu moça,

os olhos cheios de brilho,

a cara cheia de susto.

Ó meu Deus, pensava

que só de crianças se falava:

as órfãs.

________________________________________

Prado, Adélia

Oráculos de Maio / Adélia Prado – São Paulo

Siciliano, 1999 – pág 59 / 4ª edição


Nascida em 1935, cidade mineira de Divinópolis / Minas Gerais, Adélia é formada em  Filosofia.

O estilo original e tocante da poesia de Adélia Prado está mais uma vez presente nessa sua obra Oráculos de Maio que privilegia a religiosidade, a reflexão e a memória. A forma com que ela consegue dar valor às coisas simples, comove o amante da poesia e o presenteia com a força da comunhão de suas palavras.

A poesia de Adélia evidencia o tom coloquial e o registro oral, sua linguagem desprendida transfigura o uso vulgar da língua numa manifestação verbal fecunda e única. Obras da autora:

Poesia Reunida 1990

Solte os Cachorros 1991

Cacos para um Vitral 1991

Os Componentes da Banda 1991

O Homem da Mão Seca  1994

Oráculos de Maio 1999

Manuscritos de Felipa 1999

                                                                          Pedido de Adoção - pág. 59


_____________________//_____________________




28 de junho de 2024

BLOGS, SEGUIDORES E COMENTÁRIOS

 



 BLOGS, SEGUIDORES E COMENTÁRIOS

                                                            - Tais Luso de Carvalho


Os blogs se popularizaram no início dos anos 2000, e desde então milhões de blogs já foram criados se espalhando por esse mundo afora,  com ferramentas mais modernas para uma completa interação entre pessoas que gostam de escrever e de ler os mais diversos assuntos: Crônicas, Contos, Poemas, Arte, Filosofia, Direito, Política, Jornalismo, Moda, Culinária e sobre tantos outros assuntos. Um fenômeno democratizando a comunicação. Maravilha isso!

Milhares de blogs são criados diariamente por gente apaixonada por escrever, com vontade de se expressar, de dizer do que gosta, do que não gosta, contar o que viu, mas tudo com respeito. Na verdade, somos milhões de editores e distribuidores próprios. E muitas pessoas escrevem hoje em blogs pela mesma razão que sempre gostaram de escrever, é apenas uma outra maneira de transmitir a ideia através da Internet.

SEGUIDORES DOS  BLOGS

Tudo que uma pessoa almeja é que seu blog tenha credibilidade e um número expressivo de leituras. No mundo dos Blogs, todos conhecem as palavras postar, interagir e moderar.

Na plataforma Blogger há uma ferramenta chamada “Seguir” - um quadro para o perfil daqueles que fazem parte do Blogger / Google. Esta ferramenta tem como objetivo divulgar nossos blogs levando o que escrevemos para milhares de pessoas, mundo afora. 

Nos primeiros blogs criados, que funcionavam ainda com 'Tags', a maneira de divulgarmos nossos blogs era mandar e-mail ao blogueiro solicitando permuta: o toma lá dá cá. Era desconfortável. Isso foi em 2006. Funcionava assim. Mas, anos depois, essa permuta se tornou mais chique – dispensa pedidos e evita constrangimentos, pois quando não queremos seguir um blog, não seguimos e pronto, caso contrário é só clicar no botão azul - seguir/acompanhar.

Penso que divulgar nosso blog é tão necessário quanto um escritor precisa divulgar seu livro através da mídia. Não havendo divulgação, os livros empacam e morre-se na praia. Na verdade, levamos boas horas do nosso tempo pesquisando, escrevendo e nos dedicando a um texto para apresentar algo de bom. E isso é apaixonante! Acho que é a parte melhor desse exercício.

COMENTÁRIOS - Agora quero falar de algo meio polêmico.

Comentar é deixar uma opinião do que se leu num blog, do que pensamos.  Tudo o que se quer é qualidade nos textos e qualidade nos comentários - e não quantidade!

Moderar” é uma ferramenta que existe dentro do blog para lermos os comentários antes de postá-los. Caso um comentário seja inconveniente,  será dispensado. Comentários são importantes, nos estimulam a cada dia escrever melhor, todos gostam, mas desde que não vire uma obrigação, que seja algo espontâneo e sincero; que não funcione como obrigação e sim como gentileza, em querer deixar uma palavra amiga numa "comunidade" que convivemos diariamente porque gostamos muito - a Blogosfera.

O número de comentários não expressa o número de nossas leituras, basta olhar o gráfico de visualizações de suas visitas por dia, semana e mês no interior do blog. Veja, também, uma setinha, acima dos comentários, é o spam, frequentemente há comentários nesse lugar . Clique diariamente e solte o comentário que ali estiver.

Alguns confundem “Seguir um Blog, e comentar num blog”. São duas coisas distintas. Nada é obrigatório, comente se quiser, dê sua opinião espontânea,  honesta e cordial.  Sermos educados e amáveis é muito bom, quanto menos encrencas na vida, melhor! 

É muito saudável viver com mais leveza, principalmente onde temos muitos amigos que se identificam, e como é bom!

Meu abraço a todos.







14 de junho de 2024

MADRASTAS E ENTEADOS

 

Mary Cassatt 1844 - 1926 / Pensilvânia


MADRASTAS E ENTEADOS

                            - Tais Luso de Carvalho

  

      Coisa rara de se ver é um bom relacionamento entre madrastas e enteados. Não que ambos não queiram, mas porque existe uma mãe e um pai biológicos, e que nenhuma criança abre mão. Se, entre parentes que são sangue do mesmo sangue, já é difícil uma harmonia em tempo integral, fico a imaginar alguém ser obrigada a conviver com os filhos da outra, ou do outro. E uma criança aceitar conselhos da madrasta.

Na teoria parece que tudo será resolvido no novo lar, que haverá harmonia, carinho e compreensão. Mas não é o que acontece na prática. Na prática, é encrenca! É desafio. Quando tudo parece andar mais ou menos bem, o relacionamento degringola entre a mãe biológica, a madrasta e o ex-marido, ou seja, o pai da criança. E a festa de antes, já não parece mais tão alegre. Existe sempre, por parte da ex-mulher, um amor-próprio ferido. Uma cicatriz que não fecha. Não importa quem saiu do relacionamento, mulher não perdoa.

Não estou dizendo nada que não se saiba, o dito popular já inventou a dura palavra para uma das partes: (ma)drasta! É uma palavrinha chula e horrorosa. Significa inclemente, pouco carinhosa. Quem vai mudar isso se até Manuel Bandeira, num de seus belos poemas, chora dizendo que até a vida lhe é madrasta! Difícil, não?

E a palavra enteado(a)? É difícil, é como se a criaturinha levasse um néon na testa mostrando que não é a filha do novo casal, e sim a intrometida, a sombra da "Ex" fiscalizando a vida do pai e levando histórias mal contadas para fora de casa. Leva e traz sentimentos feridos. Porém há exceções: deve haver muitas enteadas e enteados amadíssimos, e muitas madrastas diferenciadas, carinhosas. A enteada já tem na ponta da língua o que está em seu inconsciente: "você não manda em mim, você não é minha mãe, é a intrusa; quem manda em mim é o meu pai e a minha mãe!"

Isso, enquanto é ainda criança; na adolescência o relacionamento já fica mais pesado. Mais punk! E depois da troca de amáveis palavras, o barraco pega fogo. O que prometia ser um relacionamento "mais ou menos", ficou no menos. Mas cada caso é um caso. No geral é uma mixórdia nos sentimentos de todos. É difícil haver um certo equilíbrio nesse convívio nada natural. Nada é natural diante de uma família que não é a de origem.

A madrasta, por si, não terá muita paciência com os enteados que já vêm de cabeça feita; que estão mais pra bagunçar, pra peitar a atual mulher do pai.

A princípio, a madrasta entra numa relação cheia de amor pra dar, com o objetivo de conquistar a família, a empregada, o cachorro, o periquito e tudo que circunda a vida do atual companheiro; esmera-se em quitutes, passeios e sorrisos. Mas, ao mesmo tempo passa a apitar e a mostrar que, quem manda no pedaço é ela. Pode dar certo? E se a enteada morar junto? Só muito equilíbrio e paz familiar para superar inúmeros problemas.

A madrasta tem uma obsessão: reeducar os enteados. Por outro lado, os enteados acham que tudo o que vier da madrasta, será para o mal deles, para implicar, cutucar com vara curta. É uma das relações mais difíceis de contornar, pois envolve carências, frustrações, sentimento de traição, abandono, culpas, perdas e desamor de várias pessoas problemáticas, e na qual cada um quer resolver o seu problema. Envolve uma família desfeita, que foi pro brejo, que infelizmente não deu certo. E, quando não dá, talvez a separação seja o melhor, algo menos sofrido do que ver agressões entre os pais, onde as atitudes destemperadas e violentas certamente respingarão na formação dos filhos.

Ao meu ver, para tantos problemas entre madrastas e enteados só resta uma conversa franca e sem agressões no novo núcleo familiar. Ou uma terapia de apoio com um profissional da área. Cada caso é um caso. Talvez dê para apagar o fogo do barraco e salvar alguma coisa. Reconstruir algo melhor, uma convivência mais pacífica, deixar o coração falar. Deixar que a alma se vista de ternura, de tolerância, de compreensão e de amor, pois afinal, de que vale levar uma vida nessa amargura?

Quando se ama, vale tentar. Acredito que o amor supere todas as barreiras; uma incrível superação! Mas que valerá muito!



     - Editado:

4 de junho de 2024

OS NOSSOS HÓSPEDES !



    OS NOSSOS HÓSPEDES

                                                                          - Taís Luso de Carvalho

 

Ops... me perdoem, mas esse é um assunto que dá pano pra manga, pois hospedar alguém que não seja bem próximo, é uma tarefa árdua, se não fosse não haveriam tantas regras de etiqueta para  os hóspedes e também para os anfitriões - para não entrarem em colapso.  Se você é quem convida é outra situação. Falo daqueles que se convidam, dos encostos... É dureza. Porém, há gente que gosta de hospedar, sim. Conheço uma.

Não gosto de incomodar, mas infelizmente também já fiz essa bobagem há muitos anos - algo que me arrependo - mesmo a convite.  Gosto da minha liberdade e me constrange tirar a liberdade de alguém, ainda mais dentro de sua  casa. Mas  têm  pessoas que gostam de ir chegando, assim, meio à vontade... Quando nos damos conta, a mala já está dentro da sala, parece que só veio passear. Mas a noite vai chegando...  

Conheço várias pessoas que estremecem em época de férias, com suas casas de praia que mais parecem pensões ou pousadas, com amigos ou parentes mais distantes, chegando cheios de amor pra dar. Fora algum amigo do parente que cola junto pra aproveitar a boquinha.

Lembro de ter escutado de uma pessoa  que hóspede é como peixe, no terceiro dia começa a cheirar mal...  É duro, irmão, mas que hóspede nos traria tanta alegria se a empregada se manda e sobra pra nós um trabalho de cão? A empregada inventa que a mãe está morrendo justamente quando o hóspede vai chegar! A minha sempre foi muito criativa.  

Recentemente perguntaram a uma pessoa muito conhecida e badalada no Brasil, e que ri feito louca, se ela preferia ser anfitriã ou hóspede. 

- Hóspede, sem dúvida! 

E ela, com duas empregadas e com a grana do Tio Patinhas.

Minha  preocupação com os meus hóspedes foi sempre recebê-los com simpatia e mostrar uma alegria de Rei Momo, para dar prosseguimento ao clima festivo da chegada. Lógico que após a partida das criaturas, eu pensava numa clínica de repouso e uns 'Rivotril'. 

Mas, se você está a fim  de receber, mude seus hábitos por um período e deixe o samba tocar... Não dê bola para as escovas de cabelo espalhadas, roupas na poltrona do quarto, o banheiro anarquizado, sacolas pela casa, vários copos na pia.  Feche os olhos para não entrar em crise e bola pra frente - não tem outra solução. Depois você coloca ordem na casa.

No final da história, hóspede e anfitrião soltarão a língua afiada.  O que foi feito com carinho será esquecido, mas não aquele  olhar  atravessado porque alguém fez 'xixi'  e esqueceu de dar a descarga no vaso... Cruzes, mas pode acontecer, ora. 

Mas ao querido hóspede é bom lembrar algumas regrinhas: leve um presentinho para os anfitriões, é algo muito simpático, como se você dissesse: 

'Hei, lhe trouxe uma lembrancinha porque vim  sujar sua casa,  fazer você trabalhar,  tirar seu sono e acabar com seu descanso'. 

E por falar em comida, cuide para não se apossar da geladeira da casa! Ela já tem dono. Não esqueça de arrumar um pouquinho o seu quarto, afinal você não está na casa da mãe Joana; nada é seu.

Mas é isso aí, gente; se tudo estiver bom para ambas as partes, então é só deixar rolar e curtir essa verdadeira amizade.

E 5 estrelas com louvor para esse anfitrião que é amigão! É gente pra guardar do lado esquerdo do peito!!!

Mas, eu fora.

 

 

                               

______________________///______________________ 





25 de maio de 2024

NÃO SOU AMIGA DE PANELA DE PRESSÃO

 



- Tais Luso de Carvalho


     Não acredito em alguém que diz não ter uma fobia, um medo exagerado de alguma coisa; por ex., dentista!! Uma baratinha!? Ah, só uma coisinha, vá lá… sejam companheiros! Não gosto de bicho que se esconde.

Tenho alguns medos bem pronunciados: baratas, dentistas, alto-mar, mata fechada, panela de pressão, pitbull e mais algumas coisas. O coração faz um tuc-tuc descompassado. Naturalmente algumas histórias traumáticas aconteceram por trás dessas fobias.

Fobia por baratas é o clássico entre as mulheres, e me encontro no rol, sou companheira. Navio, em alto-mar, além de enjoar muito, pensaria no troço afundando e eu sem chão, tipo morrer raciocinando, consciente. Não me atrai sentir a morte por etapas. Não quero morrer a prazo, ir descendo, descendo e me deparar com tubarões - outra de minhas fobias.

Panela de pressão me traz lembranças de infância, e com infância a gente não brinca, a coisa cala fundo, pior do que chiclete grudado em pata de pit-bull.

Lembro a vez que nossa empregadinha voou! Vi só o resultado, cheguei tarde: a criatura sentada no degrau da porta da cozinha, com os cabelos chamuscados. Apavorada! E minha mãe ali não entendendo a coisa, mas atendendo a mocinha. Como foi acontecer aquilo, a panela com válvulas de segurança? Pois é, aconteceu, mãe!

O fogão retorcido, os armários despencando e a tampa da panela lá na copa, ao lado.

Naturalmente eu tenho panela de pressão, mas quando ela começa com aquele Fuzzzzzzzz inicial, saio da cozinha em disparada e volto 35 minutos depois, meio agachada (como se adiantasse…), lembrando daquela criança de 8 anos. Desligo e saio correndo. Coisa de maluca? Tanto faz, o pinhão já está pronto.

Já me viram regressar à cozinha meio agachada, e ninguém entendeu. Ficaram me olhando... perguntaram se eu estava com cólicas. Não… é espírito de sobrevivência, aprende-se nas guerrilhas urbanas, aprendi na televisão. Vivenciar o estouro de uma panela é terrível: pensaria sei lá o quê, diante dessa tragédia doméstica. Era só pavor diante daquela cena terrível que até as vizinhas mais próximas apareceram.

Ah, esqueci de dizer, a minha panela de hoje tem nome... é Rosinha, a vermelha abaixo. Coisa mimosa para amenizar meus medos e acalmar aquele trauma, aquela criança que ainda existe. São métodos que encontro para tentar a cura, mas a Rosinha parece não entender: o milagre não aconteceu; e nem vai acontecer. Não fico muito à vontade quando começa com o seu Fuzzzzzzzz... Fuzzzzzzzz!! Estou seriamente pensando em doar a panela!



Rosinha



__________________________//________________________





13 de maio de 2024

ENCHENTE - A TRAGÉDIA NO RIO GRANDE DO SUL

Centro de Porto Alegre  - invadido  pelas águas do rio Guaíba

 


            - Taís Luso de Carvalho

    É sempre muito difícil escrever sobre as tragédias que rondam a humanidade, nosso emocional junta-se às vítimas das guerras, dos terremotos, enchentes, ciclones que destroçam tudo, e acabam com milhões de vidas, sem compaixão.

Meu Estado, Rio Grande do Sul, localizado ao sul do Brasil, cuja capital é Porto Alegre, está atravessando a pior enchente de todos os tempos, tragédia nunca vista nesse imenso país tropical. Mas não escreverei a tragédia em si, esse relato está nas excelentes coberturas da mídia. Essa cobertura acontece ao longo dos dias, desde o início da enchente, por todo o Brasil  e pelo mundo afora.

Sentimento de muito medo, sem dúvida nos acompanha, mas também bravura e gratidão, sentimentos difíceis de descrever numa peleia desse porte. Quero falar é sobre o ser humano, quando dotado dos mais nobres  sentimentos, quando abraça, quando está presente nos momentos difíceis de nossas vidas. Isso comove  e não é hora para discussões, críticas, políticas e ideologias, o que seria massacrante num momento destes. Agora é tempo de trabalho, de união e de gratidão. 

Muita emoção ao ver, pela televisão, os aviões da Força Aérea Brasileira descendo dos céus no Aeroporto Militar da cidade de Canoas, para entregar toneladas de mantimentos ao RS, e  trazendo seus soldados para a nobre e difícil missão de salvar vidas, juntamente com nossa valorosa Brigada Militar  e voluntários.  Meu coração não se contém! Não esquecerei destas emoções e de tanto apoio do Corpo de Bombeiros  e também do apoio e solidariedade dos  países amigos.

Equipes especializadas em resgates difíceis, idosos em cadeira de rodas, todos resgatados com cuidados e bravura, choram agradecidos. E falo aqui, também, do resgate do cavalo Caramelo, ilhado sobre um telhado por alguns dias, no município de Canoas, (vídeo abaixo) e que emocionou todos que viram as imagens.

Milhares de famílias  sem água, sem luz, sem teto, sem  nada mais. Pais de família choram pelos seus filhos, e desolados olham para suas casas, no chão: só escombros! É o que  resta.

Muitos perderam seus entes queridos. Muitas lágrimas que brotam dos corações gaúchos, são acompanhadas de imensa tristeza. Por onde andará a alegria?

Contudo, haveremos de erguer o Rio Grande do Sul! Difícil de ver tantas cenas chocantes  e não chorar junto.

Fica aqui, então, nosso carinho, nosso abraço a todos os bravos heróis e  ao povo brasileiro com grande solidariedade e bravura.  O Rio Grande do Sul  jamais esquecerá tanta solidariedade e apoio.

Nossa Gratidão!


Mercado público / Porto Alegre (centro)

Bairro Mathias Velho / Canoas - RS - 

Centro Histórico - Porto Alegre / RGS

 Caramelo, símbolo da tragédia Gaúcha - 

Veja o emocionante vídeo da enchente e 'resgate do cavalo'.



Um abraço do Rio Grande do Sul! 🙏  

Veja vídeo, mais paz e leveza...



__________________________//_________________________







26 de abril de 2024

APROVEITE A SUA VIDA!

 

Imagem da Internet


                   - Taís Luso de Carvalho


       Basta a gente se indignar com certas coisas para ouvir a famosa frase:  "Não ligue,  aproveite a sua vida!"

Mas como assim, como será esse aproveitar a vida? É muito relativo, tem gente que aproveita a vida viajando até se estafar; outros aproveitam se empanturrando de churrasco e cerveja até enfartarem; e outros, correm atrás de superação se atirando de paraquedas, escalando o Everest etc. e tal. Mil coisas para se alegrar. Aproveitarem a vida!

Mas juro que vou ficar no aguardo, um dia descobrirei o que é esse aproveitar. Talvez eu esteja fora do contexto, vivendo ainda no séc. 18. Mas por falar em viver bem, em aproveitar a vida, penso que a melhor maneira de aproveitar a vida é pensar antes de pular em campo minado, ou arranjar uma enorme confusão. Calcular o que se faz...

Tenho aversão à brigas; sei que certas coisas até pedem um barraco de tanto que nos enlouquecem, mas não é o ideal, não deixará ninguém mais leve. Há muito que constato que paz por longo tempo é algo muito difícil uma vez que dependemos uns dos outros. E principalmente na dor. Na fragilidade. É difícil  viver, mas conviver não é moleza.

Como espero que meu espírito vá para uma dimensão mais evoluída, depois do apagão, então o que me resta por aqui é escolher caminhos mais floridos. O saudável é entrar pra turma do Não Discuto. Não tenho dúvidas dos benefícios e da qualidade de vida que se ganha. Mas não é coisa fácil, é um exercício diário, porque tem o outro lado da moeda: as pessoas  que destrambelham, contagiam outros.

Ter qualidade de vida não é só fazer exercícios, moderar na comida, comer grãos e frutas.  Ter qualidade de vida é ter a liberdade de escolher e tomar decisões, sem culpas. E decidir é sempre difícil. Pode-se levar anos numa indecisão ou decidir em 10 minutos algo que não se quer. Depende da cabeça do freguês.

O que acontece é que vivemos numa sociedade que cobra demais, mas cada um tem sua maneira de resolver as coisas, de ser feliz. Sofremos cobranças diariamente: a luta por status econômico, status cultural, e a poderosa indústria da beleza - para mantermos uma juventude eterna - mesmo que toda deformada – essa pressão é terrível. Outras gerações envelheciam com paz e dignidade. Hoje...é uma tortura envelhecer. Que mundo louco!

É fácil ver pessoas se retraírem, não por serem antissociais, mas por não terem mais fôlego para encarar inúmeras cobranças e julgamentos. Você é puxado para ser outra pessoa, embora lute para ser você mesma.

Se cada um cuidasse de si, mais felicidade sobraria para dividir, e menor seria o fardo dos infelizes. Não estou me referindo a movimentos sociais, políticos ou reivindicatórios em defesa de direitos coletivos. Isso é outro departamento. Parto do individual: mais autonomia, mais paz, mais calma, menos cobranças e mais simplicidade não estariam dentro desse conceito de aproveitar a vida ? Para que tanto ódio?

Antes rever rever meus atos  do que me atirar das alturas à procura de total liberdade.

Atirar-se das alturas é ato de coragem, mas deve dar uma sensação enorme de liberdade, ah dá!!  E pensando bem, deve ser isso que muitos querem sentir: um alívio de tudo, e quem sabe lá, aproveitar alguns minutos dessa liberdade... Voando!

 

                                   





14 de abril de 2024

O SILÊNCIO QUE INCOMODA


   

                      -Tais Luso de Carvalho


     Não faz muito que escrevi uma crônica sobre as pessoas que não escutam, que só querem falar, falar... É difícil encarar esse tipo de coisa, mas também existe um tipo de silêncio que é devastador, terrível!  Achar o meio-termo numa conversa é uma arte.

Geralmente as pessoas falam coisa com coisa, mas outras soltam o verbo aos trambolhões e não dizem nada. Mas cheguei à conclusão de que na maioria das vezes o melhor são os que falam, seja de uma maneira ou de outra. E nestas circunstâncias, a gente acaba dando o desconto para certos exageros.

Existe um certo silêncio que é dureza, constrange. Pessoas trancadas, que não falam, desprovidas de sociabilidade nos deixam  numa saia justa.  Nada pior do que um silêncio inquietante entre vivos.

Deparar-nos com alguém que mora num casulo é pesado. Desconcertante. O  sacrifício é muito grande pra morrer na praia. Não houve empatia? Nunca haverá. Não há mais paciência para ser condescendente com alguns problemas que me rodeiam. É ótimo interagir, sermos agradáveis e educados. 

Não é raro, encontrarmos pessoas que falam com eloquência, que o assunto flui fácil, com entusiasmo, com ideias, com simpatia. Achamos que a pessoa é estupenda, o rei da oratória. Sentimos na hora uma pontinha de inveja, mas uma inveja boa, agradável; aquela inveja que nos leva a querer falar igual e não em exterminar a criatura. Essas pessoas são abençoadas por terem esse dom, são agradáveis de conviver.

Já ficou lá atrás, nossa fase de apenas grunhir. De lá pra cá começamos a articular outros sons, formar palavras,  transmitir ideias e sentimentos: falar  de nossas coisas, de nosso trabalho, de nossa família, de nossas férias, de cultura, de nossas necessidades. Falar, trocar ideias e se interessar em ouvir os outros, também. Uma troca.

Dentre tantos motivos das pessoas escreverem na Internet, um é esse: você diz tudo que quer sem ser interrompido. Aí tá bom. Você escreve sobre tudo, expõe suas ideias,  diz o que gostaria de ver ou de não ver; fala de política, de esporte, de religião, da vida. Acho delicioso poder dizer o que se pensa - sem ofender -, seja da forma escrita ou falada. Mas sem dúvida que a forma escrita nos traz paz.

Mas, ao vivo a coisa é diferente: tem de haver interesse e sintonia.  Conversar é uma troca. 

Porém, hoje mudei de lado: por que aguentar uma situação desconfortável por muito tempo?  Acho que pessoas  antissociais não  precisariam passar por tais sacrifícios. Quem sai de casa tem de ser um pouco sociável. Ou não vá em certos ambientes.

Então, dado a muitos episódios desagradáveis que já passei, creio que mudei de opinião: se não houver o meio-termo, prefiro alguém que matraqueie!

Juro que terão meu perdão! 

E minha simpatia.











4 de abril de 2024

APENAS UM AMIGO...



APENAS UM AMIGO...

                 -  Taís Luso de Carvalho


       Mais uma madrugada e mais outro amanhecer, sempre o mesmo ritual: a noite despedia-se enquanto surgia a tímida luminosidade do amanhecer.

Mariana permanecia no sótão da casa, entre telas e pincéis. Ali em seu atelier, ela dava vazão às suas emoções, colocando em cada pincelada um pouco de seu espírito, por vezes melancólico e solitário. Os suaves e disciplinados acordes uniam-se em melodias que lhe tocavam o coração: as Ave-Marias de Gounod, de Shubert, de Donati...

Não demorou muito para que ela largasse as telas e desse descanso aos pincéis. Já cansada, debruçou sua cabeça sobre a mesa e passou a refletir sobre sua vida, seus encantos, desencantos, seus afetos, seus amigos, sua família.

Simpatizante da filosofia Budista questionava-se, também, sobre a Reencarnação e outros tantos caminhos que levam a Deus. Mas até aquele momento não chegara a um consenso. Ao mesmo tempo em que estava sintonizada com a sua estética, estava em dissonância com  sua espiritualidade. E ali viu-se só.

A música inundava o atelier amenizando sua solidão. As tintas e os pincéis, antes deixados de lado, agora testemunhavam os abafados soluços de Mariana. O tempo foi cumprindo o seu percurso até que Mariana levantou a cabeça como se estivesse emergindo de profundezas. E fixou, ao acaso, seu olhar num quadro esquecido, dependurado e coberto por um pano,  quase diante de sua mesa, ao lado de objetos insignificantes.

Com curiosidade, levantou-se e removeu o pano que encobria um quadro que havia pintado há muitos anos. Um pouco surpreendida, ficou a olhar aquele rosto de expressão suave, olhos cheios de ternura e os cabelos castanhos caindo sobre o belo rosto, numa suave harmonia.

Voltou à mesa e dali ficou a observar aquela expressão tão singular: um olhar que não recriminava e lábios que não acusavam. Talvez ela tivesse descoberto, em algum recanto de sua alma, sentimentos de generosidade. E pintara um retrato comprometido com esse sentimento e com suas carências.

Já menos amargurada, levantou-se e substituiu a música: colocou Chanson d’enfance e enterneceu-se como se buscasse um afago; queria sentir apenas a alegria do momento, e ter uma paz que não oscilasse. E assim ficou por bom tempo, recostada no sofá, deixando-se conduzir pelos suaves acordes.

Mais tarde aproximou-se do quadro e fixou seus olhos na pintura:

- E agora Amigo? Estamos aqui sozinhos, frente a frente... Mas nada ouso Lhe pedir; retenho em minha memória a Sua Jornada... Mas procuro apenas alguém que me escute, que retorne comigo à infância, e que compartilhe de meus projetos; ainda que pequenos projetos, mas que na solidão de minhas madrugadas esteja presente...

Sinuoso, o sol invadiu o atelier deixando uma sensação de conforto. Mariana caminhou em direção ao quadro, beijou o meigo rosto e encostou a porta...

- Até amanhã, meu Amigo!

 


O   ' Amigo ' 

Aqui no meu   DAS ARTES

_______________________________________________