ENTRE DUAS SOLIDÕES
- Pontes de Miranda
Eu quero ir só,
Tão só que eu não sinta o ritmo de meu alento,
nem ver a sombra de meus cílios,
nem o ruído dos meus pés.
Eu quero passar por uma porta por onde, sozinho, eu passei.
A porta onde somente um passe
a cada vez.
Eu quero chegar só
e levar comigo somente a mim,
a mim, com meus segredos, com minha vontade,
com o que aprendi.
Eu quero florescer eu só,
com as raízes de minha vida,
a autenticidade de mim mesmo,
- o sorriso da velhice no frescor da alma
do recém - nascido,
amassar meu pão, a água na boca
daquele que tem fome,
esvaziar meu corpo
com a secura ávida de um sedento.
Eu quero morrer só, num soluço daquele que acaba
de nascer…
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Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, mais conhecido como Pontes de Miranda, nasceu em Maceió, no Estado de Alagoas / Brasil em 1892 e faleceu no Rio de Janeiro em 1979, aos 87 anos.
Foi um dos maiores Juristas do Brasil. Foi advogado, jurista, professor, filósofo, matemático, sociólogo, escritor, magistrado e diplomata. Também desembargador do Tribunal da Justiça do Distrito Federal até 1939. Recebeu prêmios da Academia Brasileira de Letras, em 1921 com o livro A Sabedoria dos Instintos e, em 1925 com o livro Introdução à Sociologia Geral.
Seu Tratado de Direito Privado é composto por 60 volumes e mais de 30 mil páginas. É responsável por introduzir inúmeros métodos e concepções novas em diversos ramos da Ciência Jurídica. Tornou-se Membro da Academia Brasileira de Letras em 1979, pouco antes de seu falecimento.
Pontes de Miranda era um intelectual típico do século XX, que entendia o mundo através dos olhos de uma cultura múltipla, integral e de largo espectro, tanto clássica como contemporânea. É um nome mítico das Letras Jurídicas, uma geração inteira aprendeu a admirá-lo, e seu imenso Tratado do Direito Privado permanece um marco da doutrina internacional.
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Poema: ENTRE DUAS SOLIDÕES pág. 199
Livro: A Flor de Ouro do Poeta
Publicação original em francês: Poémes et Chansons
Tradução: Betty Yelda Brognoli Borges Fortes 2009
Dom Quixote - editora
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La soledad puede ser muy dura. Te mando un beso.
ResponderExcluirUm poema extraordinário!
ResponderExcluirGostei muito de ler e também de conhecer melhor o poeta, pois só tinha lido alguns poemas dispersos,
Beijo
Há muito, muito tempo
ResponderExcluirainda que sem tanta inspiração
podia escrever um poema assim
Hoje, jamais o faria
por essa porta onde passa um só
teriam de passar
esse Eu
essa Minha Alma
e o Meu Contrário
E quero morrer acompanhado
por quem sempre me acompanhou
Beijo poético