26 de outubro de 2024

ENTRE DUAS SOLIDÕES - Pontes de Miranda


 

ENTRE DUAS SOLIDÕES

             - Pontes de Miranda



Eu quero ir só,

Tão só que eu não sinta o ritmo de meu alento,

nem ver a sombra de meus cílios,

nem o ruído dos meus pés.

Eu quero passar por uma porta por onde, sozinho, eu passei.

A porta onde somente um passe

a cada vez.

Eu quero chegar só

e levar comigo somente a mim,

a mim, com meus segredos, com minha vontade,

com o que aprendi.

Eu quero florescer eu só,

com as raízes de minha vida,

a autenticidade de mim mesmo,

- o sorriso da velhice no frescor da alma

do recém - nascido,

amassar meu pão, a água na boca

daquele que tem fome,

esvaziar meu corpo

com a secura ávida de um sedento.

Eu quero morrer só, num soluço daquele que acaba

de nascer…

________________________________________


Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, mais conhecido como Pontes de Miranda, nasceu em Maceió, no Estado de Alagoas / Brasil em 1892 e faleceu no Rio de Janeiro em 1979, aos 87 anos.

Foi um dos maiores Juristas do Brasil. Foi advogado, jurista, professor, filósofo, matemático, sociólogo, escritor, magistrado e diplomata. Também desembargador do Tribunal da Justiça do Distrito Federal até 1939. Recebeu prêmios da Academia Brasileira de Letras, em 1921 com o livro A Sabedoria dos Instintos e, em 1925 com o livro Introdução à Sociologia Geral.

Seu Tratado de Direito Privado é composto por 60 volumes e mais de 30 mil páginas. É responsável por introduzir inúmeros métodos e concepções novas em diversos ramos da Ciência Jurídica. Tornou-se Membro da Academia Brasileira de Letras em 1979, pouco antes de seu falecimento.

Pontes de Miranda era um intelectual típico do século XX, que entendia o mundo através dos olhos de uma cultura múltipla, integral e de largo espectro, tanto clássica como contemporânea. É um nome mítico das Letras Jurídicas, uma geração inteira aprendeu a admirá-lo, e seu imenso Tratado do Direito Privado permanece um marco da doutrina internacional.

___________________________

 

                            Poema: ENTRE DUAS SOLIDÕES  pág. 199

         Livro: A Flor de Ouro do Poeta

         Publicação original em francês: Poémes et Chansons

         Tradução: Betty Yelda Brognoli Borges Fortes 2009

         Dom Quixote - editora

 



_________________________//____________________




3 comentários:

  1. La soledad puede ser muy dura. Te mando un beso.

    ResponderExcluir
  2. Um poema extraordinário!
    Gostei muito de ler e também de conhecer melhor o poeta, pois só tinha lido alguns poemas dispersos,
    Beijo

    ResponderExcluir
  3. Rogério V. Pereira26/10/2024, 18:30

    Há muito, muito tempo
    ainda que sem tanta inspiração
    podia escrever um poema assim

    Hoje, jamais o faria
    por essa porta onde passa um só
    teriam de passar
    esse Eu
    essa Minha Alma
    e o Meu Contrário

    E quero morrer acompanhado
    por quem sempre me acompanhou

    Beijo poético

    ResponderExcluir


Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís