28 de novembro de 2011

NOTÍCIAS INÚTEIS




- Tais Luso de Carvalho


Tenho uma mania - horrorosa - de guardar recortes, notícias dos jornais, revistas... Acredito que é uma papelada inútil, e acabo de jogar tudo fora. Mas guardei uma, e desenrolo aqui, contando outras coisinhas...

Já faz algum tempo que comecei meu dia lendo uma notícia que só serviu para me deixar impressionada e acho que fiquei tatofóbica (medo de ser enterrada viva) .

Esta notícia inútil, aconteceu em Johanesburgo, o qual o presumido defunto acordou dentro da geladeira do necrotério, 21 horas após seu 'óbito' – vitimado por um ataque de asma. 

Mas pensando bem... o que interessa isso pra mim? Contudo, não fiquei com medo de morrer; fiquei com medo de não corresponder ao laudo médico, de pensarem que fui e na verdade não fui. Fiquei. Portanto uma notícia que já criou um problema.

Caramba!! Não quis pensar, mas pensei; não quis escrever, mas estou escrevendo. Você já pensou numa coisa destas? Eu quero que meu apagão fique bem registrado, e que ninguém se preocupe com velas e flores, com gente contando piadas pelos cantos e tomando cafezinho, enquanto outros ficariam olhando pra mim, balançando a cabeça e cochichando com a 'viva' do lado: coitada, foi-se para uma melhor! Poxa, essa frase é super conhecida! Nada mais criativo?

Constatei em muitas conversas, regada a bons quaraquaquássss, que todos temos este medo, mas poucos falam; parecem avestruz; acham que não falando da coisa  o medo desaparece. E dizem que o que interessa é a vida. Mas é exatamente isso que estou falando: em vida. Ficar por aqui, falando da vida alheia, dos políticos, do trio saúde-segurança-educação, de tudo e de todos. Azucrinando e vendo tudo se repetir.

Pensando bem, constato que ainda tenho algumas coisas pra fazer nesse mundinho: museus pra visitar, coisas pra escrever, outras pra pintar... Aliás, lembrei daqueles compêndios que trazem Os 1000 livros para ler antes de morrer; Os 1000 lugares para conhecer, Os 1000 Vinhos para beber; As 1000 cervejas... Tudo antes de morrer! Estão aí pelas livrarias. São bonitos, grossos. Lindo presente para o Natal... Só não sei se conseguirei fazer tudo isso. Tudo mil!
Só não mandam 1000 anos pra viver.

Ainda ontem escutei, pelo Fantástico, sobre todas estas coisas inúteis que nos passam pelos já existentes 325 milhões de sites, jornais, noticiosos e revistas; precisaríamos de 6 anos para ver todos os vídeos postados em apenas 1 dia. Resumindo: há tanta informação que uma pessoa precisaria ler 12 mil livros num dia para absorver tanta notícia. E quanto de notícias inúteis teria isso?

Bem, mas voltando à notícia que comecei, os corajosos dizem – de boca cheia – que morrer é natural! Mas quem disse o contrário? Acho tudo ótimo, nada a contestar, mas falo numa morte constatada, pra lá de morrida: ficar dura, branca e bem apagada. E conforme, até bonita. E por falar em bonita, não faz muito que vi um defunto bonito; em vida era esquizofrênico, seus traços eram doentios, pesados e agressivos. Jamais imaginei que a criatura pudesse ficar bonita e serena. Mas ficou. Foi a primeira vez que fiquei encarando um defuntinho.

Mas, pesquisando um pouco sobre as culturas...

Na Tailândia, muitas pessoas pagam uma pequena taxa para poder deitar várias vezes em caixões - no templo budista de Wat Prommanee, na província de Nakhon Nayok, na Tailândia. Eles acreditam que o exercício diário da ressurreição ajuda a afastar o azar e a prolongar a vida. Não é uma má ideia, se funcionar, realmente. Pra nós, brasileiros, vendo algo assim...


 

No México, a coisa é com muita festa, todos festejam a lembrança do falecido que deve estar numa boa. E a comemoração deles é bem melhor, não duvido. Acho que podíamos importar esta ideia e começarmos o exercício de ver a coisa por outro ângulo.

Em Moscou, o funeral é feito com uma reunião muito alegre, numa igreja Ortodoxa, com pessoas vestindo roupas coloridas e entoando cânticos de alegria. O uso da cor preta é proibido.

Os budistas entregam à família do falecido um envelope com uma quantia de dinheiro - no momento do funeral -, e celebram missas ao longo do tempo, após a morte, para lembrarem do falecido e reunir amigos e parentes.

Na India a população opta pela cremação, às margens do rio Ganges, segundo eles é a maneira mais rápida de chegar ao paraíso.

No Brasil, o negócio é mais comedido, algumas funerárias mandam uma cesta com lanches para os parentes que pernoitam. Muitos brasileiros têm o costume de beijar  ou tocar nas mãos do defunto, aliás coisa que jamais esquecerei... Não tenho a mínima ideia como nasceu isso. E outra coisa muito curiosa: pode acontecer de, após anos do falecimento, os defuntos brasileiros receberem correspondências de cursos, ofertas, viagens e parabéns pelo aniversário... E até renovação do Seguro Saúde! Coisas nossas. 

Pois bem,  ver várias culturas neste 'quesito', pode ajudar a tirar certas coisas da cabeça. Ver o negócio com menos dramaticidade.  E no final, todos nós ficamos felizes - até que a morte nos separe!
Mas cabe, também, ver se isso é útil ou inútil.


17 comentários:

  1. Oi...*
    Celebrar a morte*, acho bom*, sem velas e flores, nada disso, mais criatividade; é melhor mesmo uma comemoração, pois, pra mim inicia-se outro ciclo*( pois é, mas tem o lado dos que aqui ficam ...não dá para festejar, é cruel!
    Que reflexão!
    E essa de ficar 21 horas na geladeira, me arrepiou!
    Ótima semana pra ti, eta assunto legal, né rsrs
    Beijos;
    sério...eu gostei do post, me fez pensar*!!

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  2. Não gostaria também de pensarem que FUI ,me enterrarem, sem que eu tenha ido...

    Ui!!! Credo!!!


    Tua crônica ótima, isso nem precisamos repetir...beijos,chica

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  3. Tais,
    Muito boa esse teu desabafo sobre a morte e o medo de ser enterrada viva. Minha opinião sobre a morte que já publiquei em tempos passados:
    "A morte é o único evento absolutamente inevitável e que alcança a totalidade dos seres vivos, mas nós, ocidentais de cultura judaico-cristã, não temos familiaridade com ela; não consta no curso do dia-a-dia de nossas vidas quaisquer práticas, cultos ou ritos que visem enquadrá-la num entendimento racional. Temos pavor dela e tentamos ignorá-la como se não existisse, como se fôssemos viver para sempre. Claro que essa atitude pode ser explicada pelo terror que alguma coisa tão definitiva e irrefragável causa a mentes pensantes, cujo funcionamento só é possível enquanto vida houver".

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  4. Achei ótima a crônica, como sempre.
    Quero ser cremada.
    Acho bem mais prático.
    Uma abençoada semana para você
    Beijinhos de
    Verena e Bichinhos

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  5. Olá Taís,
    eu também já fiquei pensando na possibilidade de acordar de pois de "morto" e me ver enterrado, sem ar etc. Assim como você eu gostaria de uma morte bem morridinha e sem presepadas no enterro. Evito pensar nisso, pois se mal temos tempo para viver, porque dedicar tempo para especulações móbidas. Mas o fato é que não se passa nem um dia no qual não falemos ou pensemos na dona morte, aquela caveira com aquela foice meio enferrujada de tão velha e usada, doida para nos pegar...
    Um abraço cheio de vida para você

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  6. Ah! querida amiga, falar sobre a morte nem sempre é animador, mas quanto mais falarmos torna-se aceitável.
    Festa seria ótimo, mas deveríamos participar, senão a graça acaba antes da festa começar.
    Guardar notícias,pesquisas, artigos, confesso que já fiz muito disto, mas agora já me desfiz de tudo.Realmente é uma papelada inútil, ainda mais com a internet fornecendo todas as informações que precisamos.
    Tua crônica, como sempre nos leva a refletir sobre o assunto de forma mais natural e pés no chão.Escreves lindamente.Adoro!
    Bjs no coração Eloah

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  7. Querida amiga.
    Texto interessante. Nada melhor que falar da morte. É sinal que estamos vivos e a mexer rsrsrsrs... Por acaso não tenho esse costume. Feitios! Mas não sei porquê, faço sempre uma coisa quando compro o jornal da minha terra: não passo sem abrir a página da necrologia. E não sou o único. Sei de pessoas que a primeira página que abrem é essa que estou falando. Porque será? Não sei bem. Mas por um lado, ver se tem alguém conhecido. Penso que não será propriamente para ver se a fotografia deles já lá se encontra né? Rsrsrsrs.....
    Meu beijo e meu carinho de sempre
    Victor Gil

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  8. Longa jornada tem pela frente, para ver
    o fundo a esse arquivo..
    Mas isto de acordar geladinho....isso
    é que me arrepia....não há como ir direto para a 'torradeira'....
    Como diz o Gil...eu também é primeira
    coisa que faço ao abrir o jornal....Ver
    quem 'deixou de fumar', ver se são mais novos que eu.... Que maldade....
    Beijo

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  9. A gente se prepara (mesmo??) para a despedida de quem está muito doente, se consola pensando que a pessoa em questão descansou...
    Dia desses ouvi uma ótima: - se do outro lado é tão melhor, o que ainda fazemos aqui??!! Por qual razão não providenciamos essa passagem de uma vez??
    Pois é...a morte e suas inconcebíveis aceitações, embora haja compreensão dela...

    A notícia a que vc se refere trás a lembrança de alguma história que alguém sempre tem pra contar sobre uma morte não morrida...e isso causa um reboliço natural nas entranhas da gente, né Tais?

    Te desejo muita saúde e uma longa vida, ainda que não cumpra os mil afazeres, que sejas bem feliz pelo tempo que tens...e que seja looongo!!
    Bjos

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  10. Bem amiga qualquer um terá medo de ser dado como clinicamente morto e na realidade não estar. Pelo que li os costumes brasileiros são idênticos aos portugueses. Também em Portugal existe principalmente nas pessoas mais idosas, o hábito de beijar as mãos e o rosto do defunto. Cestas com lanches aqui nunca presenciei, só tenho visto oferecer cafézinhos.
    Excelente crónica!
    Beijinhos
    Maria

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  11. Tais, adorei a ideia de importar os rituais dos funerais mexicanos! Que bom se fosse assim, cada um pudesse escolher e registrar em testamento sua opção... Mas a questão é cultural, não muda com as vontades individuais. E, sinceramente, isso nem importa se formos nós o defunto né... Não participaremos mesmo!
    Mas, falando sério, esses assuntos são sempre delicados. Mesmo os mais bem-resolvidos e com crenças estabelecidas a respeito do 'depois' evitam focar o pensamento no dia fatídico. Meu caso. Prefiro viver da melhor maneira que posso o tempo presente e fugir das notícias inúteis que facilmente criam raízes em minha mente fértil. Acredito na vida eterna, sim, e em coisas maravilhosas que virão depois... Mas como já li em outra crônica sua, não tenho pressa nenhuma para chegar lá!

    Beijos.

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  12. Oi, Tais
    é muito bom começar a semana cheia de ideias para pensar depois de ler a crônica. Tenho a mania de recortar noticias e textos e guardo, guardo ... e não tenho coragem de jogar fora. Também tenhp medo se ser enterrada viva. E quem não tem ?? Por isso quero ser cremada, assim, morro de qualquer jeito ...
    Abraço

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  13. Tais você é 10.
    Li tudinho, degustei, analisei as fotos mas como o assunto é inutilidade vamos lá:
    _ Renovar seguro saúde depois de morto é dose.

    Mas tem uma coisa pior que já passei, uma pessoa próxima aguardando consulta de urgência para realizar cirurgia. Depois de 02 anos passados e cirurgia realizada particular, começamos a receber papelada da saúde com propaganda de atendimento. Neste Período outra pessoa que aguardava na fila da saúde faleceu é passado exatamente dois anos recebemos uma carta com a marcação da primeira consulta.

    Resumo: Papelada inútil até para os carteiros carregar.

    bjsssssssss

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  14. Taisamiga

    Há quanto tempo não comento aqui… Culpa minha, reconheço, sou um desavergonhado… Não bato com o punho no peito, em jeito de contrição, porque… me dói. No entanto, mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa. Mas vou passando – o que não é a mesma coisa.

    Mas, hoje, tenho mesmo de contar uma estorinha, mais ou menos a propósito.

    Três amigos, tomando o seu uísque velho e fumando charuto no distinto Clube da alta sociedade a que pertencem.
    O primeiro, médico:
    - Gostava de saber o que de mi vão dizer no meu velório…
    Responde o segundo, advogado:
    - Estou certo que dirão, aquele Senhor era um grande operador, um extraordinário professor universitário e um bom coração operava muitos pobres, de graça, sem lhes levar um tostão que fosse.
    O causídico:
    - E de mim?
    O operador:
    - Tenho a certeza que dirão, aquele grande Senhor foi um jurista emérito, incorrupto, defensor de causas justas, sabedor profundo das leis, dos regulamentos, até da própria Constituição.
    O terceiro, multimilionário e snob, adiantando-se à pergunta:
    - Pois eu o que realmente queria era que uma senhora dissesse: olha, parece que o gajo está a abrir os olhos…


    Qjs saudosos

    PS – Tenho recebido devolvidos os imeiles que envio para o Pedro. Que se passa? Oxalá esteja tudo bem com ele, para quem mando um grande abç

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  15. Concordo contigo que todo mundo tem medo de ser enterrado vivo. Em vários filmes há essa cena. Chega a dar uma angústia, mesmo sabendo que é um filme.
    Em relação aos funerais, mesmo entendendo que cada povo tem as suas tradições, sou a favor de silêncio e oração nessas horas. No máximo, água e/ou café. Não concordo com comilança, não!
    E sou a favor da cremação. É ecologicamente correta e, dependendo da forma e do lugar em que o pó for descartado, chega a ser emocionante.
    Já avisei ao marido! rs
    Beijocas, amiga!

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  16. Oi Tais!
    Culturas a parte, cada uma com sua peculiaridade mórbida, eu também tenho este pânico. Ser enterrada viva não me sai da cabeça, tenho horror aoa assunto.rsss
    Ótima crônica!
    Beijinhos!

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  17. Anônimo18:23

    Eu vi um filme em que um psicopata interrava pessoas vivas, ainda bem que fazem poucos filmes sobre o assunto, se a moda pega... Eu creio que são poucos esses casos de erros medicos, esse tipo de fobia atormenta as mentes de pessoas que não acreditam no inferno, pois se acredita-se veriam que existe coisas bem piores do que isto.

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Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís