28 de setembro de 2024

CRÔNICA PARA MINHA AVÓ - Tais Luso de Carvalho


CRÔNICA  PARA  MINHA  AVÓ

             - Tais Luso de Carvalho


      Com frequência sinto perfumes que lembram minha infância. Essas lembranças me transportam para uma deliciosa viagem a um tempo que não volta.

Minha avó adorava o perfume das violetas. E volta e meia eu sinto esse cheirinho gostoso, mas sem nenhuma violeta por perto. Tenho saudades do seu meigo olhar, e que aos 89 anos ainda sentia prazer em brincar.

Chamava-se Estrela: vó Estrela! Até esqueci que seu nome era meio diferente. Acostumei. Seus pais eram portugueses. Minha última lembrança são de seus cabelos branquinhos como flocos de algodão e que brilhavam como raios de luar. Não sei a magia das avós, mas sempre são queridas. Deve ser porque não querem ser mais mães, não querem educar e nem repreender; querem apenas ser amiga, bagunçar, serem queridas e esperadas.

Não esqueço de minha avó: era carinhosa e sempre com um sorriso maroto como se tivesse compartilhando travessuras. As avós podem se dar a esse luxo. Dizem que elas deseducam os netos; tudo bobagem! Elas nos cobrem de amor. Um amor que hoje, já adulta, sinto saudades. Muitas vezes precisamos desse aconchego sem fronteiras e sem limites.

Lembro, quando eu ficava doente, de cama, pedia à minha mãe para avisar a minha avó. Claro que isso gerava ciúmes por parte de minha mãe. Mas eu queria a minha avó para brincar. Jogávamos cartas; fazia umas jogadas marotas e dava gargalhada... Eu esquecia que estava doente e com febre.

Lembro-me de uma viagem de meus pais para o Rio de Janeiro: minha vó foi de mala e cuia para nossa casa, cuidar de mim e de meu irmão, por uns quinze dias. Que maravilha! Porém, tinha um defeito, vivia dormindo pelos cantos. Numa destas “dormidas”, meu irmão e eu pegamos as tripas de uma galinha que a empregada comprou no açougue e enrolamos no pescoço de nossa avó. Ficou um lindo colar. Mas aquilo quase a matou de susto, ficamos arrependidos, afinal não é moleza acordar com um colar de tripas no pescoço. Foi a primeira vez que levamos uma bronca dela.

Porém, no dia seguinte ao chegar da escola, meu grande urso preto estava todo vestido com minhas roupas, sentado em minha cama! E ela sorrindo, como se quisesse se desculpar pelo desentendimento do dia anterior. E assim, fazia todos os dias, vestia aquele enorme urso, o Jeremias, com minhas roupas e louca pra brincar, talvez voltar à sua infância. Bons tempos!

Beijos, minha Estrelinha, quem sabe um dia a gente se encontra num lugar bem mais bonito, onde você deve estar brilhando. Então poderemos brincar sem medo e sem contar mais o tempo; pedirei ajuda aos anjos para que me guiem por essa imensidão, e perguntarei, em cada canto, se eles não viram uma “Estrela” sapeca, com uma cabecinha branca brilhando como raios de luar.

Saudades, minha avó.

                 




Um comentário:

  1. Boa noite de sábado, querida amiga Taís!
    Hoje estou com meu padrinho e ele falou para a prima que eu tenho a aura da mãe dele, minha vó Celina, por sinal, minha madrinha de batismo. Sou muito abençoada de padrinho e madrinha.
    Minha avó era uma santa mulher, que frkicadeza ela tinha na alma, sensível imensamente... meu pai, seu genro, a tinha por mãe.
    Enfim, seu post me fez lembrar de novo hoje da minha estimada avó.
    Nunca fiz uma estrepulia do tipo da sua com ela... (contei para meu padrinho aqui e ele riu muito.
    Também, ao ler sua crônica, lembrei do meu tempo de vó dos pequeninos que, agora, são adolescnte para cima (os meninos).
    Gostei muito de como descreveu sua condição de neta. Muito carinhosa.
    Tenha um domingo abençoado!
    Beijinhos

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Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís