Gustave Coubert / Le Désespéré, Musée d’Orsay, Paris |
- Taís Luso de Carvalho
(David Kundtz - A Essencial Arte de Parar)
“Tenho medo do mundo inteiro”, disse o poeta Pablo Neruda. O medo da vida é a doença favorita do século vinte acrescenta o autor William Lyon Phelps. De modo que quando deslocamos nossa energia e nosso foco para nossas raízes, é provável que o primeiro sentimento que venha à tona seja o medo.
Todos os sistemas de sabedoria, religião e filosofia concordam em constatar que o maior desafio de nossas vidas somos nós próprios. Se temos medo? É claro que sim. De novo é um poeta que enxerga o que todos nós precisamos ver.
O que é que Neruda nos diz sobre o medo? Eis como interpreto esse poema: (Dr. David Kundtz)
“Todo o mundo está tentando me dar conselhos”. Faça isso, faça aquilo! Não faça isso, não faça aquilo! Sei que estou doente, mas ainda estou aqui e ainda estou no comando! De modo que vou ignorar todos vocês e fazer o que é mais importante num momento como esse: encarar os meus medos e encarar o que sempre foi o meu desafio mais sério – eu mesmo.”
MEDO
Ficam todos atrás de mim para eu me exercitar,
entrar em forma, jogar futebol,
me apressar, até ir nadar e voar.
Bastante razoável.
Ficam todos atrás de mim para eu me acalmar.
Todos marcam consultas médicas para mim,
me olhando daquele jeito inquiridor.
O que é isso?
Ficam todos atrás de mim para eu fazer uma viagem,
entrar, partir, não viajar,
morrer, e de forma alternativa, não morrer.
Não importa.
Ficam todos vendo coisas esquisitas
nas minhas entranhas, subitamente chocados
com os radiopavorosos diagramas.
Não concordo com eles.
Ficam todos escarafunchando a minha poesia
com seus garfos e facas incansáveis,
tentando, sem dúvida, encontrar uma mosca.
Tenho medo.
Eu tenho medo do mundo inteiro,
medo da água fria, medo da morte
sou como todos os mortais,
incapaz de ser paciente.
E assim nesses dias breves e fugazes,
vou tirá-los da cabeça.
Vou me abrir e me encarcerar
com meu inimigo mais traiçoeiro,
Pablo Neruda.
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Referência:
A Essencial Arte de Parar – Dr David Kundtz
ed. Sextante – 2ª edição brasileira 1999 – pg 147- 148 - 149
Bah! A começar pela tela, escancarado o medo... Lindo e intenso o poema e Neruda soube expressar maravilhosamente o medo... Lindo fds! beijos,tudo de bom,chica
ResponderExcluirAmei, amei, amei!!!
ResponderExcluirE com estas três palavrinhas eu digo TUDO!
Neruda, sempre!
Beijo, querida amiga. Bom fim-de-semana (hoje sem quaisquer conselhos...).
Um poeta que tem fama no inteiro mundo
ResponderExcluirAbraços
temos medo de muitas coisas. Do frio da fome, da guerras, das catástrofes da natureza, da nossa morte, e da morte dos que amamos. É humano! Só os loucos não sentirão alguma forma de medo. Mas o medo mata mais do que muitas doenças? Então que fazer? O segredo será aprender a viver com ele, com naturalidade, como vivemos com o dia ou a noite. Uns conseguirão, outros não, mas penso que será a única forma de nos salvar dele e das suas consequências.
ResponderExcluirGostei muito do poema.
Abraço, saúde e bom fim de semana
Poema lindíssimo. O meu aplauso.
ResponderExcluir.
Feliz fim de semana
Um poema interessante. Bom dia!
ResponderExcluirAcho que já não me sobraram muitos medos...
In https://acordarsonhando.blogspot.com/ de hoje...
ResponderExcluir"[...] O que mais grassa entre toda a gente,
É o medo, o terror, a insegurança... [...]".
Parece começar a ser normal ter-se medo e não o inverso.
Pablo Neruda, com a sua mestria e saber, antecipou o que ora se vive.
Gostei deste magnífico Post.
Obrigado Taís.
Beijo
SOL
Gostei muito do poema! <3
ResponderExcluirwww.pimentamaisdoce.blogspot.com
Ter medo é um claro sinal de que está vivo, de que sobreviveu. Porque ele teve medo, sobreviveu. Não é sempre assim. Mas, na vida, tudo é transição. Em qualquer passo que se dê na vida há um limiar e o medo é um deles. Saber é enfrentá-lo é um ato de coragem para avida. Sigamos, minha amiga Taís, há muito para fazer para ultrapassarmos o limiar... E Neruda sempre mexendo com as nossas emoções...
ResponderExcluirUm beijo, minha amiga, e o meu carinho para a toda a família!
Tais embora seja grande apreciador da poesia de Neruda, pessoalmente julgo não saber a cor do medo, tanto mais que estado mobilizado na Guerra Colonial em Angola, 1962 / 1964, na zona de intervenção, por duas vezes fui chamado à presença do comandante de companhia, porque achava o meu comportamento de herói. Disse: "verdade que gosto de heróis, mas os quero cá em cima, porque lá em baixo, deixam de ter valor". Aqui em Lisboa, alguém de pistola em punho, ma apontou a me querer assaltar, resposta: com a mão no bolso, agitava este, como se tivesse nervoso, vociferando: Ah ladrão que te mato já!...Ah mata? E cresceu mais e perante um maior berro meu, desatou a fugir, e eu sem pedala nem interesse em perseguir... rsrsrsrs. Bjs
ResponderExcluirGosto muito deste poeta e medo, quem não os tem? Penso que hoje ele nos está a nos perseguir e assombrar... Bom tema para afungentá-lo um pouco de nós... bjs
ResponderExcluirAdoro as suas escolhas!!! 💖
ResponderExcluirO medo faz parte de nossas vidas, desde sempre. Em muitas situações, fomos compelidos a enfrentá-lo, para ultrapassar caminhos inóspitos. Por vezes, vencemos. Em outras, não. Neruda foi muito feliz em suas colocações, porque abordou os chamados que lhe faziam, como se isso fosse apagar o medo, que também conhecia. Conselhos não nos tiram a insegurança, principalmente na atualidade. Eu também "tenho medo do mundo inteiro" já que, de qualquer lugar pode nos chegar a destruição, por mãos que abraçam o poder como conquista suprema. E acredito, Tais, que enquanto estivermos vivos conviveremos com esse sentimento, porque somos humanos e de grande fragilidade. Sua crnica, tão oportuna, ficou sensacional. Meus aplausos. Bjs.
ResponderExcluirO medo é o mais forte sentimento inerente ao instinto de conservação, faz parte do sistema emocional, logo psico-somático, de todos os seres racionais saudáveis.
ResponderExcluirAdmiro e gosto da obra do Nobel 1971 e lamento profundamente o golpe de estado, a sua doença e o seu fim.
Na altura, se não estivesse imprensa nórdica no país, tinham aniquilado totalmente o seu espólio e acervo literário...
Era um medo do terror, maior que o do seu mal «o inimigo mais triçoeiro»...
O medo de Neruda doente, era um medo saudável.
Aplaudo o tema, tão atual e oportuno pela voz de um dos maiores poetas de sempre, num tempo em que as diferenças de ideais não eram respeitadas.
Que venham dias de paz e serenidade. Beijinhos, Taís.
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Medo? Claro que tenho medo, embora não me considere uma pessoa medrosa e, por não o ser, acabo por me descuidar em determinadas situações que exigem cautelas. Confesso que no inicio da pandemia, tinha receio, algum, mas, agora tenho medo e , não me importando com as criticas daqueles que acham tudo uma brincadeira, volto a dizer, estou com muito medo.. e sabes, Taís o que me faz ter um medo enorme, daqueles que, só de pensar, são capazes de me tirar o sono? Medo que a morte me leve em grande sofrimento, medo de ver os meus filhos sofrerem, principalmente por doenças, ver os meus netos doentes, medo de que alguns destes queridos parta cedo demais, antes de mim. Há uns meses, soube de uma menininha de dois aninhos que tem um tumor maligno num braço; conheço-a e, ao pensar no sofrimento daquela mãe tive um medo, ou antes, tive um pavor de ser atingida por tamanho sofrimento, senti um medo terrivel de que os meus pequeninos possam sofrer com uma doença dessas.Ao ler a tua cronica ia pensando nestes e noutros casos e cheguei à conclusão que, perante estes medos, os outros que sinto não passam de pequenos receios. Também, como Neruda, quero que parem de me dar conselhos, que parem de me dizer para fazer isto e não aquilo, porque sou humana e terei de viver, um dia após o outro, com os meus receios e tentando não pensar nos meus pavores. Os receios fazem parte da vida, com facilidade se ultrpassam, mas tenho medo daquilo que me apavora e isso tenho de afastar da cabeça, pensando que, neste aqui e agora não tenho motivos para pavores; estamos todos bem, com SAÚDE e amanhã...bem...ninguém sabe como será. Aguardemos com serenidade, agradecendo o que de bom hoje temos. Uma crônica pertinente, querida Taís e desejo, sinceramente que consigas enfrentar os teus medos, sorrindo e agradecendo a cada dia que nasça. Obrigada pela reflexão que me levaste a fazer e SAÚDE para todos vós. A falta dela, sim, é um medo daqueles bem grandes. Beijinhoz, não esquecendo o Pedro, claro
ResponderExcluirEmilia
Querida Taís,
ResponderExcluir“Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto - Pablo Neruda”, nunca comeu manteiga ou requeijão... Ele passava suas belas palavras no pão para se alimentar.
“Pablo Neruda” achava - sem desmerecer os poetas, pois, ele foi (e ainda é), um dos melhores - que a poesia é o degrau mais baixo da cultura. Porém, ninguém chega ao topo da escada, sem antes subir o primeiro degrau, não é mesmo?
“É tão difícil as pessoas razoáveis se tornarem poetas, quanto os poetas se tornarem razoáveis!”
Com esta frase de “Neruda” concluo meu comentário e lhe deixo um carinhoso beijo!!!
Miedo hay que tener algo siempre ya que de ser temerario puede traer unas consecuencias terribles.
ResponderExcluirSaludos.
Adorei o poema de Neruda e também sua interpretação!
ResponderExcluirMedo faz parte da vida, vem de fora e principalmente de dentro, ou pelo menos deveria, é uma questão de sobrevivência, medo equilibrado.
Bom domingo, abração Tais!
Querida Taís,
ResponderExcluirNão podia ter escolhido melhor poema e melhor tela para expressar o medo.
Quem não tem medo, se ele nos é incutido logo na infância, o medo do velho do saco, medo da polícia, etc...
Sofri e sofro de ansiedade causadas pelos medos, das doenças, da morte, mas sem dúvida, que o nosso maior medo, é ter medo do medo.
Todos os peço peço a Deus, bom senso e coragem para os vencer.
Um beijinho e continuação de bom domingo.
Fê
muito bonito mas a vida é feita de medos bjs feliz domingo
ResponderExcluirTaís,
ResponderExcluirEu amo Neruda e
adoro tudo que que você
publica.
Sobre o medo, Drummond
diz que ele nos berça,
e nossa grande missão
é vencê-lo dia a dia.
Muito obrigada por nos
presentear
com sua maravilhosa escrita.
Desejo que você tenha
uma nova semana
com saúde e alegria.
Bjins
CatiahoAlc.
Oi Taís,
ResponderExcluirEu, às vezes, tenho medo de mim mesma.
Nós vamos acumulando livros e enciclopédias, que vagarosamente vamos nos adoecendo ao saber que vamos morrer e apenas como uma enciclopédia humana, que antes de partir vai se desfazendo dia após dia, assim como um pobre coitado analfabeto.
Já está na hora de partir, estou no lucro com meus 73 anos bem vividos e agora com muitos dodóis.
A única pessoa que conheci na vida que tinha a paciência de Jó, mas que aproveitou bem a vida fui EU, KKK.
Linda noite
Beijos
Lua Singular
Ter medo não é necessariamente mau.
ResponderExcluirO que é mau é ficar aprisionado no medo.
Bjs, boa semana
Pablo Neruda, sempre tão excelente. A sua interpretação do poema é muito boa. Claro que o medo faz parte do nosso instinto de sobrevivência, mas não podemos nem devemos deixar-nos dominar por ele. É preciso que nos reequilibremos até que a nossa vida retome a normalidade. Cultivemos a paciência precisa e a coragem legítima.
ResponderExcluirUma boa semana com muita saúde, minha Amiga Taís.
Um beijo.
Creo que al igual que Pablo Neruda, tenemos bastante miedo. El covid ha vuelto a despertar ese miedo que tenemos en nuestro interior. Esperemos que en el transcurso del 2021, las vacunes terminen por eliminarlos de nuestra vida y podamos salir a la calle, con más tranquilidad.
ResponderExcluirTe deseo todo lo mejor en le 2021.
Querida Vizinha / Escritora, Taís Luso !
ResponderExcluirQue bela matéria !
Só não sente medo, quem não ama a vida...
Portanto, o medo é o maior aliado da vida !
Parabéns, amiga !
Um fraternal abraço !
Sinval.
Cuanta razón tiene Neruda al comprobar que su mayor desafío es enfrentar sus miedos... El miedo, los miedos que cada cual lleva en la mochila de su vida, nos acosan siempre. Es todo un arte ir dejando de lado todo aquello que nos impide vivir libres.
ResponderExcluirUna tarea que dura toda la vida, pues cuando parece que ya lo hemos superado, aparecen en el horizonte la incertidumbre como compañera de viaje.
Un tema muy interesante.
Saludos.
Olá minha querida amiga Taís!
ResponderExcluirO medo é algo que pode ser contornado!
Através de palavras solidárias!
E acreditando num amanhã esperançoso recheado de amor!
Um beijinho de luz!
Megy Maia💛🌜💛
Olá , querida Tais! Penso que o medo é um estado de alerta extremamente importante para a sobrevivência humana. Uma pessoa sem medo nenhum pode se expor a situações extremamente perigosas, arriscando a própria vida, sem medir as possíveis consequências trágicas de seus atos, porém há aquela fobias que vão além do medo , ai num bom psicanalista sempre será bem vindo. Matéria espetacular, minha querida. Grande beijo.
ResponderExcluirO medo tolhe-nos os movimentos. Acho que, mais que enfrentá-lo, há que ignorá-lo.
ResponderExcluirE os nossos tempos só pioram os nossos medos, por isso não podemos tê-los na mente.
Beijinhos.
Gostei deste excelente poema do genial Pablo Neruda.
ResponderExcluirUm abraço e continuação de uma boa semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Dizem que as crianças não tem medo, isso até que os adultos os estragam.
ResponderExcluirVou contar-vos um segredo
ResponderExcluirDaqueles que a gente tem:
Um tempo, eu tive medo
Sem ter medo de ninguém.
Um belo texto, Taís.
Beijo
SOL
Que bonito Taís, sua postagem em torno deste medo, que tanto nos amedronta e que mora dentro de nós e muitas vezes somos pequenos demais, para lidar com eles, extirpa-los e vem os plantonistas na receita de como devemos nos comportar e viver, mas o medo é nosso e só nós o sabemos onde dói. Lendo sua crônica em se tratando de Neruda leva-me no contexto de quem viveu e conheceu um sistema ditador, pois que aqui alguns poetas compositores externaram este medo, como Belchior do Ceará, que dizia ter medo de tudo, medo de abrir a porta, medo de entrar no avião tudo naqueles anos plúmbeos de nosso pais até 1985. Eu tenho medo que se renova e que se transforma constantemente.
ResponderExcluirMas o medo que mais me apavora hoje é da ignorância que faz vitimas inocentes e estes se calam diante a injustiça, pois o medo os oprime.
Muito boa postagem Taís.
Beijo amiga e feliz fim de semana com mais cuidados ainda.
Da escalofríos el poema tan lúcido de alguien que sabe que va a morir y mira con curiosidad los desvelos e interés de quienes intentan aconsejarle para su bien (seguramente, sin él pedirlo). Hace pensar...
ResponderExcluirOlá Taís,
ResponderExcluirMedo? Claro que sim, afinal ele nos mantém alerta e nos previne de muitas coisas ruins.
Só não podemaos parar a vida por medo de viver!
Que belissimo tema e poema de Neruda! Parabéns!
Beijos!
Nestes tempos que correm... temos de transformar o medo em nosso aliado... que ele nos faça ver o bom senso, em tudo o que fazemos... e se transforme em teimosia, com que devemos ir perseverando diariamente, nesta realidade surreal...
ResponderExcluirNa natureza, muitas criaturas instintivamente se põem de pé rápido assim que nascem... para fugirem... o homem se despreparou, na sua cómoda evolução...
Adorei as suas escolhas, Tais, que nos vieram lembrar... que o medo, sempre esteve muito presente na classe artística, ao longo dos tempos... os artistas sempre souberem ler o mundo, como ninguém...
Beijinhos
Ana
Muito boa crônica Tais
ResponderExcluirAdoro vir ler e me atraso bastante ,mas o importante é estarmos aqui , publicando, comentando e aprendendo.
Gostei muito do poema .
beijinhs
O medo faz parte da nossa jornada terrena, em alguns casos nos protege, em outros, nos faz estagnar. Comi tudo na vida, é preciso equilíbrio.
ResponderExcluirPor conta da pandemia vivemos dias de insegurança e o medo vem de vez em quando. Resta trabalhar esse sentimento para que não tome proporções maiores e nos paralise.
Um abraço
Sônia
Olá, querida amiga Taís!
ResponderExcluirHoje no alvorecer, caminhava pela praia deserta meditando sobre o medo.
Sabe, todos da família me tem como corajosa, entretanto,tive que fazer um curso de autoconhecimento e ter a certeza de que o medo me move ou paralisa.
Aquela cotação de Clarice me vai direto ao ponto...
O medo me impede de algumas coisas, mas sou movida por uma força interior que me faz agir até me surpreendendo.
A fobia de um certo animal que você já postou, e horrivel para mim.
Mas o medo pior que tinha até não existe mais razão de ser.
Nem ouso falar alto meu medo pois as paredes têm ouvido, querida.
Vamos pela fé, tentando minimizar os efeitos dele nosso viver.
Fique bem, amiga!
Beijinhos