- Tais Luso de Carvalho
Tenho na agenda doméstica os telefones do eletricista, do encanador, pintor, médicos, dentistas... E o do colocador de papel de parede, o Adão. Muito bom colocador, mas quase me mata: não fala, não sorri, não escuta e não olha quando fala conosco. Seu olhar fica zanzando no espaço.
Meu marido diz que o coitado é tri de tímido; eu acho que ele é tri de doido. Mas são duas opiniões, e aqui em casa o negócio é democrático: então o doido e o tímido - dois em um - continua trabalhando por aqui, porque seu trabalho é nota 10.
Com este caso do Adão e sua personalidade sui generis , lembrei que há muitos anos andei lendo uns livros de auto-ajuda, estava na moda: fiquei fascinada com os assuntos: Como ficar rico sem fazer força; Como fazer centenas de amigos; Como ser a pessoa mais agradável do mundo; Como lidar com mentirosos; Como lidar com pessoas depressivas; Como curar sua timidez... E li alguns. Um deles até gostei: Como fazer amigos e influenciar pessoas, de Dale Carnegie.
Mas adorei o que aconteceu comigo: absolutamente nada! Continuei a mesma pessoa que sou hoje. Não aprendi a lidar com mentirosos e nem com depressivos; não aprendi a engolir presunçosos; não consegui fazer centenas de amigos e nem me tornei a pessoa mais agradável do mundo... E também não fiquei rica. Comigo tudo deu errado, o negócio não funcionou. Pelo contrário, acho que fiquei um tanto rebelde diante de certas coisas, e até hoje solto a língua...
Hoje, já bem mais madura, não teria saco nem curiosidade para ler um livro de auto-ajuda. E lá se foram bons anos de minha vida querendo mudar coisinhas num vapt-vupt. Não dá mais pra desfazer o que foi lido... Já prescreveu!
Ninguém muda de uma hora para outra folhando um livro desses: muda-se quando se tem a conscientização do problema e a vontade de mudar. Em certos casos podemos mudar com alguma ajuda química (se for o caso de depressivos, etc.) e uma terapia com profissional confiável.
Tenho na agenda doméstica os telefones do eletricista, do encanador, pintor, médicos, dentistas... E o do colocador de papel de parede, o Adão. Muito bom colocador, mas quase me mata: não fala, não sorri, não escuta e não olha quando fala conosco. Seu olhar fica zanzando no espaço.
Meu marido diz que o coitado é tri de tímido; eu acho que ele é tri de doido. Mas são duas opiniões, e aqui em casa o negócio é democrático: então o doido e o tímido - dois em um - continua trabalhando por aqui, porque seu trabalho é nota 10.
Com este caso do Adão e sua personalidade sui generis , lembrei que há muitos anos andei lendo uns livros de auto-ajuda, estava na moda: fiquei fascinada com os assuntos: Como ficar rico sem fazer força; Como fazer centenas de amigos; Como ser a pessoa mais agradável do mundo; Como lidar com mentirosos; Como lidar com pessoas depressivas; Como curar sua timidez... E li alguns. Um deles até gostei: Como fazer amigos e influenciar pessoas, de Dale Carnegie.
Mas adorei o que aconteceu comigo: absolutamente nada! Continuei a mesma pessoa que sou hoje. Não aprendi a lidar com mentirosos e nem com depressivos; não aprendi a engolir presunçosos; não consegui fazer centenas de amigos e nem me tornei a pessoa mais agradável do mundo... E também não fiquei rica. Comigo tudo deu errado, o negócio não funcionou. Pelo contrário, acho que fiquei um tanto rebelde diante de certas coisas, e até hoje solto a língua...
Hoje, já bem mais madura, não teria saco nem curiosidade para ler um livro de auto-ajuda. E lá se foram bons anos de minha vida querendo mudar coisinhas num vapt-vupt. Não dá mais pra desfazer o que foi lido... Já prescreveu!
Ninguém muda de uma hora para outra folhando um livro desses: muda-se quando se tem a conscientização do problema e a vontade de mudar. Em certos casos podemos mudar com alguma ajuda química (se for o caso de depressivos, etc.) e uma terapia com profissional confiável.
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Nossa carga genética já vem pronta; porém, nossa trajetória, nosso amadurecimento, nossas experiências, o meio em que vivemos e com quem vivemos é que poderão alterar alguma coisa em nosso comportamento. Mas tem coisas que não mudamos: quem tem um coração piedoso sempre o terá; quem tem um ótimo caráter sempre o terá; e quem é cafajeste, sempre será. E com a idade pioram, pois os cafajestes também envelhecem, ficam uns velhinhos tão coitadinhos né?! Aparecem uns por aí que dá vontade de mandar para o espaço...
Bem, mas voltando aos livros de auto-ajuda, ganhar dinheiro fácil é um engodo; lidar com pessoas falsas ou de difícil relacionamento é pegar sarna pra se coçar; depressão, timidez, bipolaridade são problemas para especialistas. Então não adiantam estas lindas mensagens por Internet ou livros que prometem uma vida melhor e tentam nos mostrar um campo fértil para ser feliz.
Bem, mas voltando aos livros de auto-ajuda, ganhar dinheiro fácil é um engodo; lidar com pessoas falsas ou de difícil relacionamento é pegar sarna pra se coçar; depressão, timidez, bipolaridade são problemas para especialistas. Então não adiantam estas lindas mensagens por Internet ou livros que prometem uma vida melhor e tentam nos mostrar um campo fértil para ser feliz.
Para certas situações de estresse contínuo, o negócio é se mandar antes que você tenha um AVC! Por que depois disso, amigo, o negócio muda completamente. Foi-se sua vida: você fica todo torto e a vida continua linda e bela – para os outros.
Pena que a gente leva a metade da vida para aprender que a felicidade está em nós, e não nos outros; pena que nos metemos na vida das pessoas sem elas pedirem, com a desculpa de ajudarmos, quando na verdade, queremos que o outro seja nossa imagem e semelhança.
No fundo, não temos nada de coelhinhos ou de beija-flores... Temos sim, unhas afiadas, uma língua comprida - boa pra fofoca -, uns olhos que vêem o que não acontece; uns orelhões que escutam o que nunca foi dito; um coração petrificado em relação aos outros; e uma idéia já formada para atingir nossas metas. Adiantam os auto-ajudas?
Enfim, somos o lobo-mau, mas com pele de cordeiro, com a intenção de enganar o chapeuzinho vermelho.
Pena que a gente leva a metade da vida para aprender que a felicidade está em nós, e não nos outros; pena que nos metemos na vida das pessoas sem elas pedirem, com a desculpa de ajudarmos, quando na verdade, queremos que o outro seja nossa imagem e semelhança.
No fundo, não temos nada de coelhinhos ou de beija-flores... Temos sim, unhas afiadas, uma língua comprida - boa pra fofoca -, uns olhos que vêem o que não acontece; uns orelhões que escutam o que nunca foi dito; um coração petrificado em relação aos outros; e uma idéia já formada para atingir nossas metas. Adiantam os auto-ajudas?
Enfim, somos o lobo-mau, mas com pele de cordeiro, com a intenção de enganar o chapeuzinho vermelho.
Mudar é suar a camiseta a vida inteira: suor e lágrimas!!
Tem toda razão. Assino embaixo.
ResponderExcluirBelo texto, bem desenvolvido e gostoso de ler.
beijos
Olá Tais!
ResponderExcluirMais uma crônica brilhante e realista!
Fui lendo e lembrando de todos os livros que você mencionou, conheço e reconheço o teu sentimento de inutilidade em relação aos mesmos.
Também não aprendi a lidar com mentirosos nem com gente safada!
Eu devo ter um defeito de fabrica, abomino pessoas falsas e mentirosas.
E não acredito em mudanças!!!!!!
Quem é assim, será assim sempre!
Não acredito em teorias nem em frases de efeito. Só acredito em fatos e atitudes!
Tenho visto cada coisa por aí... coisas que até Deus duvida! Misericórdia!
Como dizem os meus amados gaúchos.. "Barbaridadeeee tchê!"
Beijos
Lia♥
Blog Reticências...
Taís, vir aqui é sempre um prazer. Minha história com a auto-ajuda é engraçada. Quando eu vim morar em BH para estudar (há mais de 30 anos), foi morar um cara na nossa republica que não tirava das axilas o livro "Como fazer amigos e Influenciar Pessoas". Só que ele era de muito poucos amigos e influenciar, jamais! Tanto que o expulsamos de lá. Naquela época nem se chamavam de auto ajuda ainda esses livros. Então fiquei com trauma desde já. E por ironia, que mais parece um castigo, eu escrevi um livro A VIDA DO BEBÊ, um ensaio que trata da vida depois dos 40, uma crítica e uma reflexão sobre a maturidade e qual não foi a minha surpresa ao conferir no site da editora, ele está classificado como de auto-ajuda. ai, que raiva! Abraços.Paz e bem.
ResponderExcluirTentando disfarçar este 'lobo-mau',
ResponderExcluiraté deu para sorrir com essa bela descrição. Maravilha...adorei. Mas é
assim mesmo,já passámos por uma situação ou outra e não difere....nada de coelhinhos ou......
Beijo
Bom dia, Tais.
ResponderExcluirAdorei, concordo integralmente, só que nunca li nenhum, apesar de não ter preconceito com livro algum e leio até bula de remédio o tal minutos sabedoria que também foi moda me irritava. Muito boa a crônica como sempre divertida e um tantinho lobo mau.
Beijo
Rs.
ResponderExcluirSeu Adão deve ser uma figura.
Assim como você, não gosto de livros de auto-ajuda, mas no meu caso sempre tive repulsa.. Não gosto. Ainda assim, depois de torcer o nariz para todas as ajudas milagrosas que me relatavam, resolvi me render a dois: Quem Mexeu no Meu Queijo, clássico e Não Faça Tempestade em Copo D'água. De ambos, a única coisa que consegui extrair foi superficialidade. Acho muito ousado fazer um manual e tentar empregá-lo na vida das pessoas, sem ao menos levar em conta a vida delas. Como se a vida fosse exata, como se coisas profundas pudessem ser ensinadas em massa.
Num contrafluxo, extrair de obras avessas à auta-ajuda, lições maravilhosas, como Clarissa de Érico Veríssimo e O Caçador de Pipas de Kalhed Hosseini e por ai vai.
Um abraço pro "seu" Adão, rs.
Eu sempre achei interessante essa expressão, - auto-ajuda. Ela é correta se a analisamos do ponto de vista de que, como você diz em sua excelente crônica, só
ResponderExcluirquem pode nos ajudar é aquela pessoa cuja imagem vemos refletida no espelho.
Vejo uma certa distorção da expressão. Livros de auto-ajuda?... Um diário, talvez, seja um livro mais eficiente de auto-ajuda. Relendo-o, pode-se repensar desejos, frustrações, atitudes passadas e, refletindo, talvez se consiga chegar a alguma luz. Não é impossível, mas dificilmente vamos encontrar no pensamento alheio algo que tenha um impacto significativo em nossas dificuldades pessoais.
Para que a tal auto-ajuda se concretiza é preciso sobretudo muita fé em si mesmo, ou nada se resolverá.
Outra coisa: no Brasil, segundo uma pesquisa que anda rolando por aí, cerca de 35 milhoes de pessoas compram livros. E aí vem logo aquela frase: "Nossa! O brasileiro está lendo muito mais!" Entretanto, tem-se que lembrar que são os livros de auto-ajuda e os best-sellers que estão no topo da preferências desses compradores...
E é como você diz mesmo... No caminho da almejada solução há muito suor e lágrimas...
Agora, Taís,... adorei também o sêo Aão e sua "síndorme" dos macaquinhos! Especialmente a história do "olhar zanzando no espaço"... rsrsrs
Bjs, amiga, e inté!
Olá Tais! Eis que trazes mais uma bela e verdadeira crônica. Concordo plenamente com tudo o que abordaste. Afinal, pau que nasce torto, não tem jeito, morre torto.
ResponderExcluirBeijos e ótima semana pra ti e para os teus.
Furtado.
Gostei muito do blog, por isso que te indico ao Prêmio Dardos e ao prêmio Sunshine.
ResponderExcluirveja as regras no meu blog =)
http://ialydarc.blogspot.com/
Boa crônica, Taís! Ri aqui de imaginar o Seu Adão. Conheço alguns faz-tudo exatamente como ele... Pelo menos o seu Faz-Tudo é competente, conheço uns totalmente ineptos!
ResponderExcluirBem, quando comecei ler sua crônica, pensei: "depois que ler vou falar do livro do Dale Carnegie pra Taís". Não precisou, você o conhece. Sim, é o melhor de todos. Talvez o único bom. Escrito na década de 30, bem antes do termos auto-ajuda ser forjado.
Aliás, muitos desses livros copiam o Carnegie descaradamente. Bem, isto posto, devo admitir que, sim, livro de auto-ajuda é mesmo um saco. Quem leu um, leu todos e, como você disse, não aproveitou nada.
Lembrei-me de um adágio que vem bem a calhar:
"Quando precisar de uma maozinha na vida, procure, primeiro, na extremidade do seu braço"
bjão, Taís!
Olá Taís,
ResponderExcluirNunca li um livro de auto-ajuda.
Penso: se eu não tenho capacidade de resolver meus problemas, eu que sou dona deles, não seria um estranho ou um livro que iriam resolver.
Você sempre discorre com muita graça todo e qualquer assunto, adoro passar por aqui.
Beijos
Dalinha
De fato. Mudar o nosso comportamento é uma opnião subjetiva e ninguém de fora vai conseguir mudar, a menos que você esteja disposto a aceitar que o seu modo de vida é errado ou contraditório.
ResponderExcluirAceitar as imposições que complicam nossas vidas e as subjetividades errôneas que encarnecem o nosso ser é o primeiro passo para começar a mudar.
Pois se não aceitamos os nossos erros, então não há o que ser corrigido não é verdade?
Direto do Rio.
Beijão linda. Eu sou teu fã.
Gostei muito do seu texto, Tais.
ResponderExcluirParabéns.
Passe lá pelo meu espaço...
Andreia
Taisamiga
ResponderExcluirLivro de auto-ajuda? Tem de ser oferecido ao vosso Dunga e ao nosso Carlos Queiroz. E, depois, mandar fuzilar provisoriamente os dois. Este Mundial foi uma catástrofe em Português!!!!!!
Mas, afinal, o Pedrão chama-se Adão?
Abs ao Adão e qjs para tu
rsrs, HENRIQUE, o Adão é o colocador de papel de parede!!!
ResponderExcluirPelo amor de Deus, não faça confusão, não tem nada a ver com o Pedro Luso, rsrs.
Creio que esta 'Copa 2010' te deixou meio confuso! Mas creio que todos vamos voltar ao normal...
bjs.
Tais,
ResponderExcluireu acredito que todo esforço em busca de mudança é indesejável. Penso que se a mudança acontecer, acontecerá por si mesma: justamente naquele momento em que nos deixamos em paz. Não adianta apressar o rio. Ele corre sozinho. (li isso em algum lugar, mas não lembro onde. rs) Bjo e ótimo fim de semana.
Vejo em você tais o que falta em muitas pessoas, inclusive em mim. equilibro e sensatez. ótima crônica!!!
ResponderExcluirFica com Deus!!!
E depois ainda temos que lavar a camiseta! Oh, vida!
ResponderExcluirBjoo!!
Ler livros de auto-ajuda, Tais, é como cursar psicologia na tentativa de dar um jeito na própria cabeça - o que, aliás, é bastante comum.
ResponderExcluirMas devo confessar, hipocondríaco que sou, que leio compulsivamente a vertente mais pródiga em títulos da literatura de auto-ajuda: a das bulas de remédios. E tenho fé que hei de ler algum dia a obra-prima do gênero: a bula de um medicamento anti-hipocondria!
Abraços
É o problema de pensarmos que somos iguais aos outros, e por isso formula que funcionou para outro, vai funcionar para nós e depois para o próximo, mas não é bem assim, pois cada pessoa é um universo de diferenças, mas como você disse, só a nossa própria vontade que mudara algo...
ResponderExcluirFique com Deus, menina Tais Luso.
Um abraço.
nossa.... exatamente tudo que penso, incrivel,penso exatamente como vc mais nunca encontrei o conjunto de palavras que representa-se isso ...belo texto!
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