Machado de Assis em almoço no Hotel Rio Branco em 1901
-Tais Luso de Carvalho
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839 no Rio de Janeiro. Filho do operário José de Assis e de uma lavadeira açoriana de nome Maria Leopoldina. Machado de Assis era um garoto frágil e doente. Tinha epilepsia e era gago. Ainda cedo veio a perder a mãe, sendo criado, então, pela madrasta Maria Inês. Em 1851 perdeu o pai e para ajudar a madrasta vendia doces. Freqüentou muito pouco uma escola pública vindo a tornar-se um autodidata, aprendendo um pouco de francês com o funcionário de uma padaria. Aos 17 anos conseguiu um emprego, aprendiz de tipógrafo, na Imprensa Nacional onde conheceu Manoel Antonio de Almeida que o protegeu.
Estréia na imprensa em 1854, com o poema ‘Ela’ (neste blog) e, seus poemas se tornam constantes até 1906, encerrando-se com ‘A Carolina’, este, encontrando-se no livro ‘Relíquias da velha casa’.
Carolina Augusta Xavier de Novais, portuguesa, foi o grande amor de Machado de Assis. Chegou ao Brasil em 1866 e casaram-se em 12 de novembro de 1869. Viveram juntos por 35 anos. Faleceu em 1904 e, numa carta ao amigo Joaquim Nabuco, Machado deixou escrito: ‘ foi-se a melhor parte de minha vida, e aqui estou só no mundo’.
Segundo José Osório Oliveira, na ‘História breve da literatura brasileira:
‘Obrigado a trabalhar desde muito novo, tendo freqüentado, apenas a escola primária, esse homem excepcional tinha uma cultura literária completa, um perfeito conhecimento da língua, a ciência de todos os segredos da arte de escrever. A delicadeza e precisão do traço, a finura das notações psicológicas, a sutileza dos conceitos, o bom-gosto exemplar, a absoluta elegância de espírito e de forma, tudo quanto aristocratiza um escritor, possuía-o Machado de Assis’.
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-Tais Luso de Carvalho
Joaquim Maria Machado de Assis nasceu em 21 de junho de 1839 no Rio de Janeiro. Filho do operário José de Assis e de uma lavadeira açoriana de nome Maria Leopoldina. Machado de Assis era um garoto frágil e doente. Tinha epilepsia e era gago. Ainda cedo veio a perder a mãe, sendo criado, então, pela madrasta Maria Inês. Em 1851 perdeu o pai e para ajudar a madrasta vendia doces. Freqüentou muito pouco uma escola pública vindo a tornar-se um autodidata, aprendendo um pouco de francês com o funcionário de uma padaria. Aos 17 anos conseguiu um emprego, aprendiz de tipógrafo, na Imprensa Nacional onde conheceu Manoel Antonio de Almeida que o protegeu.
Estréia na imprensa em 1854, com o poema ‘Ela’ (neste blog) e, seus poemas se tornam constantes até 1906, encerrando-se com ‘A Carolina’, este, encontrando-se no livro ‘Relíquias da velha casa’.
Carolina Augusta Xavier de Novais, portuguesa, foi o grande amor de Machado de Assis. Chegou ao Brasil em 1866 e casaram-se em 12 de novembro de 1869. Viveram juntos por 35 anos. Faleceu em 1904 e, numa carta ao amigo Joaquim Nabuco, Machado deixou escrito: ‘ foi-se a melhor parte de minha vida, e aqui estou só no mundo’.
Segundo José Osório Oliveira, na ‘História breve da literatura brasileira:
‘Obrigado a trabalhar desde muito novo, tendo freqüentado, apenas a escola primária, esse homem excepcional tinha uma cultura literária completa, um perfeito conhecimento da língua, a ciência de todos os segredos da arte de escrever. A delicadeza e precisão do traço, a finura das notações psicológicas, a sutileza dos conceitos, o bom-gosto exemplar, a absoluta elegância de espírito e de forma, tudo quanto aristocratiza um escritor, possuía-o Machado de Assis’.
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Continuando...
‘Mas não se vá pensar que essa sobriedade de estilo e essa moderação, esse equilíbrio de pensamento, derivam de uma natureza pobre. Nenhum ficcionista teve, no Brasil como em Portugal, tão grande riqueza interior. Só assim se compreende a sua extraordinária capacidade de análise psicológica, e só assim se explica o seu gênio literário, que tem qualquer coisa de maravilhoso.
Autodidata, não há uma frase nem um pensamento, nas suas obras da maturidade, que denunciem a falta de disciplina da sua formação estética e cultural. Dir-se-ia, de fato, o descendente de uma família de aristocratas do espírito, o herdeiro de uma cultura de muitas gerações, o produto de uma longa e superior escolaridade ou o filho de um país com a civilização literária da França. E tudo esse homem aprendeu por si! Os seus livros estão cheios de conceitos e pensamentos, tão concisos e penetrantes que outros iguais não é possível colher em obra nenhuma de escritor brasileiro ou português.
Percebe-se facilmente, ao ler qualquer dos seus grandes livros, que ele sorri dos homens e da vida para não chorar. O protagonista do romance ‘Dom Casmurro’, narrando a sua vida, feita só de um amor e uma amizade, e a sua dupla e amarga desilusão, não grita, não invectiva; conta simplesmente, com melancólica ironia, a sua tragédia. Assim procedia o
próprio escritor, com a única diferença que, mais discreto que os seus personagens (confessando-se exclusivamente através deles), nunca revelou as íntimas razões da sua amargura’.
Muito se fala das várias fases, da evolução de seus textos, da obra deixada como uma preciosidade da literatura clássica brasileira, mas pouco se fala dos sentimentos de desencanto e amarguras de Machado.
‘Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria’. Só um pessimismo absoluto, um profundo desencanto, uma extrema amargura podiam ditar essas palavras. Mas como essas palavras demonstram, o pessimismo de Machado de Assis, que não tem limites subjetivos, exprime-se dentro das rigorosas medidas do seu gosto estético. Talvez, mesmo o seu humorismo não tenha sido mais que uma disciplina imposta pelo seu bom-gosto de escritor ao desespero do homem’.
Sobre a língua:
‘Apesar do seu respeito e da sua admiração pela literatura clássica portuguesa, Machado, lúcido como ninguém, viu perfeitamente o problema da diferenciação lingüística: ‘As línguas se aumentam e alteram com o tempo e as necessidades dos usos e costumes. Querer que a nossa parasse no século de quinhentos, é um erro igual ao de afirmar que a sua transplantação para a América não lhe inseriu riquezas novas. A este respeito a influência do povo é decisiva. Há, portanto, certos modos de dizer, locuções novas, que de força entram no domínio do estilo e ganham direito de cidade.’ E isto é, ao mesmo tempo que advogar o direito dos brasileiros à diferenciação lingüística, defender a liberdade de movimentos da própria língua portuguesa de Portugal, que, em vez de língua viva, em perpétua evolução, seria uma língua morta se a considerássemos definitivamente fixada em Camões’.
E mais:
‘Há quem considere esse escritor mais contista do que romancista, mas não há quem negue a primazia daqueles três romances, ‘Memórias póstumas de Braz Cubas’, ‘Quincas Borba’ e ‘Dom Casmurro’. É absurdo afirmar que Machado de Assis é mais contista do que romancista. As suas qualidades essenciais estão nos contos tão inteiramente como nos romances’.
Machado publicou, também, quatro livros de poesias: Crisálidas (1864), Falenas (1870), Americanas (1875) e Ocidentais (1901).
Entre outros poemas, cito ‘Ela’ – seu primeiro poema escrito e publicado aos 16 anos e, ao lado de ‘Círculo Vicioso’ e ‘A Mosca Azul’, ‘Carolina’ é considerado o soneto mais comovente, escrito em 1906, à sua amada. São preciosidades da literatura brasileira.
Há quem goste do romancista, contista, cronista e não goste do poeta Machado. Porém, deixarei, nesta página, a tristeza e emoção vivida por aquele que é considerado nosso maior clássico. Machado de Assis veio a falecer em 29 de setembro de 1908, no Rio de Janeiro, pouco depois de sua Carolina.
A crônica escrita por Euclides da Cunha para o Jornal do Comércio, em 30 de setembro de 1908, conta com emoção, os últimos momentos de vida de Machado de Assis, entre poucos amigos. Clique abaixo e leia a crônica A última visita:
CASA EUCLIDIANA / clique
‘Mas não se vá pensar que essa sobriedade de estilo e essa moderação, esse equilíbrio de pensamento, derivam de uma natureza pobre. Nenhum ficcionista teve, no Brasil como em Portugal, tão grande riqueza interior. Só assim se compreende a sua extraordinária capacidade de análise psicológica, e só assim se explica o seu gênio literário, que tem qualquer coisa de maravilhoso.
Autodidata, não há uma frase nem um pensamento, nas suas obras da maturidade, que denunciem a falta de disciplina da sua formação estética e cultural. Dir-se-ia, de fato, o descendente de uma família de aristocratas do espírito, o herdeiro de uma cultura de muitas gerações, o produto de uma longa e superior escolaridade ou o filho de um país com a civilização literária da França. E tudo esse homem aprendeu por si! Os seus livros estão cheios de conceitos e pensamentos, tão concisos e penetrantes que outros iguais não é possível colher em obra nenhuma de escritor brasileiro ou português.
Percebe-se facilmente, ao ler qualquer dos seus grandes livros, que ele sorri dos homens e da vida para não chorar. O protagonista do romance ‘Dom Casmurro’, narrando a sua vida, feita só de um amor e uma amizade, e a sua dupla e amarga desilusão, não grita, não invectiva; conta simplesmente, com melancólica ironia, a sua tragédia. Assim procedia o
próprio escritor, com a única diferença que, mais discreto que os seus personagens (confessando-se exclusivamente através deles), nunca revelou as íntimas razões da sua amargura’.
Muito se fala das várias fases, da evolução de seus textos, da obra deixada como uma preciosidade da literatura clássica brasileira, mas pouco se fala dos sentimentos de desencanto e amarguras de Machado.
‘Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria’. Só um pessimismo absoluto, um profundo desencanto, uma extrema amargura podiam ditar essas palavras. Mas como essas palavras demonstram, o pessimismo de Machado de Assis, que não tem limites subjetivos, exprime-se dentro das rigorosas medidas do seu gosto estético. Talvez, mesmo o seu humorismo não tenha sido mais que uma disciplina imposta pelo seu bom-gosto de escritor ao desespero do homem’.
Sobre a língua:
‘Apesar do seu respeito e da sua admiração pela literatura clássica portuguesa, Machado, lúcido como ninguém, viu perfeitamente o problema da diferenciação lingüística: ‘As línguas se aumentam e alteram com o tempo e as necessidades dos usos e costumes. Querer que a nossa parasse no século de quinhentos, é um erro igual ao de afirmar que a sua transplantação para a América não lhe inseriu riquezas novas. A este respeito a influência do povo é decisiva. Há, portanto, certos modos de dizer, locuções novas, que de força entram no domínio do estilo e ganham direito de cidade.’ E isto é, ao mesmo tempo que advogar o direito dos brasileiros à diferenciação lingüística, defender a liberdade de movimentos da própria língua portuguesa de Portugal, que, em vez de língua viva, em perpétua evolução, seria uma língua morta se a considerássemos definitivamente fixada em Camões’.
E mais:
‘Há quem considere esse escritor mais contista do que romancista, mas não há quem negue a primazia daqueles três romances, ‘Memórias póstumas de Braz Cubas’, ‘Quincas Borba’ e ‘Dom Casmurro’. É absurdo afirmar que Machado de Assis é mais contista do que romancista. As suas qualidades essenciais estão nos contos tão inteiramente como nos romances’.
Machado publicou, também, quatro livros de poesias: Crisálidas (1864), Falenas (1870), Americanas (1875) e Ocidentais (1901).
Entre outros poemas, cito ‘Ela’ – seu primeiro poema escrito e publicado aos 16 anos e, ao lado de ‘Círculo Vicioso’ e ‘A Mosca Azul’, ‘Carolina’ é considerado o soneto mais comovente, escrito em 1906, à sua amada. São preciosidades da literatura brasileira.
Há quem goste do romancista, contista, cronista e não goste do poeta Machado. Porém, deixarei, nesta página, a tristeza e emoção vivida por aquele que é considerado nosso maior clássico. Machado de Assis veio a falecer em 29 de setembro de 1908, no Rio de Janeiro, pouco depois de sua Carolina.
A crônica escrita por Euclides da Cunha para o Jornal do Comércio, em 30 de setembro de 1908, conta com emoção, os últimos momentos de vida de Machado de Assis, entre poucos amigos. Clique abaixo e leia a crônica A última visita:
CASA EUCLIDIANA / clique
Carolina Augusta
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A CAROLINA
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas dessa longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.
Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.
Trago-te flores, - restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.
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Referência:
Oliveira, José Osório. História breve da literatura brasileira,
2 ed. São Paulo: Livraria Martins editora, 1954.
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Referência:
Oliveira, José Osório. História breve da literatura brasileira,
2 ed. São Paulo: Livraria Martins editora, 1954.
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A maior importância dele foi iniciar uma literatura brasileira mas eu ainda prefiro José de Alencar.
ResponderExcluirGostei muito do Poema.
ResponderExcluirSó não li a biografia,porque já avia lido em outro site.Mas,muito bom o poema.
É IMPRESSIONANTE COMO O SER HUMANO GOSTA DE COMPARAR E HIERARQUIZAR. AMIGOS, MACHADO DE ASSIS É ÚNICO.EM SUA OBRA, EM SUA VIDA ELE SEMPRE SERÁ INIGUALÁVEL. COMO POETA, ROMANCISTA , CONTISTA , AMIGO, COMPANHEIRO, EU DEIXO AQUI A MINHA HOMENAGEM. EU DARIA MUITA COISA DE MIM PARA TER SIDO A CAROLINA DA VIDA DE ALGUÉM. MACHADO PREENCHEU COM MAESTRIA SEU ESPAÇO NESTA VIDA TERRENA E AINDA FEZ MAIS NOS DEIXOU UM LEGADO QUE ENRIQUECE AOS BRASILEIRINHOS DIA APÓS DIA. ALGUÉM AINDA QUER MAIS ?
ResponderExcluirBom dia, querida amiga Tais.
ResponderExcluirUm escritor tão completo, ter conseguido por si só, é louvável.
Foi muita sede do saber!
Considerando as suas limitações, que causariam desânimo na maioria das pessoas, ele foi um grande exemplo de superação.
Ainda mais nos tempos passados, quando as pessoas minavam o avanço das outras.
E foi o primeiro na Academia Brasileira de Letras!
Eu li HELENA e DOM CASMURRO, e gostei muito.
Talvez se a amada Carolina tivesse vivido mais, ele também viveria.
Tenha uma bela semana de paz.
Beijos.