Minha única coruja hoje - esculpida na cidade de Gramado - RS / Brasil |
- Tais Luso de Carvalho
Realmente, muitas coleções são belas, mas para muitos a alegria inicial transforma-se numa procura incessante, e depois num pesadelo – no meu caso. O bonito e o excêntrico viram obsessão! Caixinhas, corujas, antiguidades, latas de cervejas, moedas antigas, relógios, selos, chaveiros, porta-chaves, canecas de times de futebol, facas, canivetes… Até um colecionador de urinóis apareceu na televisão, há anos. E conforme o bolso e o gosto do freguês a brincadeira sai cara. A extravagância tem seu preço. É viciante. Lembro daqueles álbuns de figurinhas, lá da minha infância. Era divertido para as crianças, os futuros colecionadores de tudo.
O problema fica dramático quando algumas fulanas resolvem colecionar objetos de grifes. Enquanto a tal da coleção não extrapolar, só temos de enfrentar a chatice de receber, em todas as datas, aquilo que colecionamos. Acabei me irritando. A coisa mais fácil que existe é presentear um colecionador: não precisamos andar quilômetros e nem pensar muito, a criatura ficará feliz, nem que seja por pouco tempo.
Eu também colecionava. O meu negócio eram corujas! E o negócio foi crescendo, pesando... Certo dia, fiquei olhando para minhas 365 corujas, e todas com a mesma cara, é óbvio! Parei e pensei: quantos anos se passaram eu recebendo corujas nos natais, aniversários, páscoas? Não aguentei mais. Certo dia aproveitei para surtar: o que faria com todas aquelas peças? Comprar mais armários? Tirar o pó de toda a bicharada? Mais furos nas paredes? Parei minha coleção, doei aos interessados. Aos amantes de corujas. Fiquei, apenas, com a principal, uma esculpida em madeira.
Lembro, também, de minha mãe com seus quase 1000 chaveiros! Lembro de seu drama para conseguir se desfazer daquela tralha toda. Não conseguiu. Acho que era doença de família. Foram anos perdidos catando diferenciados chaveiros. Minha mãe faleceu e herdei os chaveiros! Enlouqueci. O que fazer? Eram dela, gostava tanto, era tão animada! Guardei por bom tempo. Depois doei para 3 colecionadores.
Então, também fico a pensar nos enfeites que guardamos: não deixa de ser outro amontoado de inutilidades. Compramos mais armários para guardar mais coisas. É um desatino.
Não suporto mais tantos enfeites, o melhor é enfeitar a vida, encher nossos corações de bons sentimentos, nossas prateleiras de livros, de filmes, de música. Encher nossos sofás de almofadas e descansar vendo um filme ou lendo um bom livro.
No fundo, tudo é pequeno demais: talvez, colecionar sentimentos, amizades e companheirismo seja um grande negócio, não ocupam nossas gavetas e não entulham os armários. E a casa fica limpinha e espaçosa. Direcionar nossa energia para algo que dê retorno, que preencha nossos corações de solidariedade e de amor.
A vida fica mais colorida, e nós muito mais felizes. Assim fiquei.
Já quis coleccionar notas de 500€. Como nem consegui começar com uma, desisti mesmo antes de começar. Elogio os colecionadores.
ResponderExcluirCumprimentos
Boa noite de domingo, querida amiga Taís!
ResponderExcluirNão sou de colecionar mais nada.
Mudei-me muito e, a cada mudança, vou me desfazendo de coisas.
Assim, a mudança derradeira ficará mais leve para quem seja.
"Coleciinar sentimentos, amizades e companheirismo seja um grande negócio."
Eu creio, amiga.
Só assim colecionaremos Amor fraterno.
Paga-se muito por inúmeras coleções até de futidades.
A de bons amigos, não se dá valor, muitas vezes.
Uma boa mensagem num mundo nada minimalista que vivemos e contribuímos para tal.
Tenha uma nova semana abençoada!
Beijinhos
Olá, amiga Tais,
ResponderExcluirNão sou muito dado a coleções. Mas sei que há muita gente que gosta de colecionar variadíssimas coisas. E sei também, que dá muito trabalho colecionar seja o que fôr.
Muito interessante esta crónica estimada amiga. Gostei de ler.
Deixo os meus votos de feliz semana, com muita saúde e paz.
Beijinhos, com carinho e amizade.
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
https://soltaastuaspalavras.blogspot.com
No soy de coleccionar. Solo pensar en lo que t oca limpiar. Te mando un beso.
ResponderExcluirPercebo o peso
ResponderExcluirPercebo o estorvo
Eu sou colecionador de tudo o que de imaterial me faz sonhar
Guardo no coração, todos os sorrisos recebidos
Guardo na memória, todos os caminhos percorridos
Guardo na alma, a alma dela por tanto me amar
Beijos de feliz colecionador
Prezada Taís,
ResponderExcluirÀ medida que envelhecemos, todos nós tendemos a simplificar nossa vida.
Nos últimos anos, já dei muito.
Quanto aos itens de colecionador, nós dois nunca caímos nisso, então estamos bem.
Anjos são minhas coisas e ter alguns esculpidos à mão e banhados a ouro do norte da Itália é ótimo. O triste é que não está mais sendo feito. Uma arte outrora passada de geração em geração e agora os mais novos não querem continuar.
Também à luz de coisas baratas sendo produzidas em massa na China.
Abraços,
Mariette
Uma reflexão interessante, Tais! Suas reflexões sobre o peso das coleções realmente ressoam. Eu mesmo tive uma dessas manias, facas. Bom, estou me desfazendo, mas ficando com algumas. Transformar a vida colecionando sentimentos e amizades parece uma abordagem muito mais leve e enriquecedora. Adorei sua perspectiva! Beijo!
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