8 de novembro de 2010

PARA UMA AMIGA...


-Tais Luso 

Sou um tipo da criatura que precisa se policiar pra não pisar na bola. Mas pior do que isso é enroscar terceiros nos meus equívocos. Esta semana, lendo religiosamente meus jornais, parei numa nota sobre o falecimento de uma amiga de juventude. Dos meus tempos de estudante. Era uma daquelas amigas pra tudo, pra rir e pra chorar juntas. Putz, logo ela?! A Maria José?! E nem me avisaram? Nem um emailzinho?

Éramos como irmãs, vivíamos todos os dias juntas: estudando, indo nas matinês de domingo e frequentando uma a casa da outra. Depois crescemos, casamos, tivemos nossos filhos e ela mudou-se para Recife. E a distância encarregou-se de nos separar. Mas fiquei chocada com o seu falecimento.

Hoje, quando eu estava voltando para casa cruzei com o irmão dela. Ele era pequenininho naquela época, o Zezinho. Mas que bom que se lembrou da minha cara, isso até que alegra!

E paramos pra conversar. Logicamente, dei meus pêsames e quis saber como foi o falecimento da minha amiga; contei a ele de nossa ligação no colégio, sobre as aulas que enforcávamos para dar uma respirada na rua... Contei-lhe sobre nossas bagunças, sobre nosso pacto de, semanalmente, visitarmos um museu, biblioteca e outras coisas para enriquecer nossa vida cultural. Éramos jovens; duas jovens românticas que sonhavam com casa, marido e filhos.

No entanto, percebi que algo estava errado com o tal do irmão: notei que não estávamos nos entendendo... Achei o cara tri de estranho. Tive a impressão que ele estava achando que eu não batia bem da cabeça... Parecia uma conversa de malucos tentando se entender.

- Escuta, você sabe realmente o meu nome, quem eu sou? – perguntei.

- Sim, Taís, como não? Só que não estou lhe entendendo...

- Eu é que estou lhe estranhando; estou chocada com a morte de sua irmã e você não me entende?

- Mas minha irmã morreu faz 15 anos!

- CUMÉ?? E aquela participação no jornal, que li ontem?

- Não foi participação de falecimento, foi uma nota pelos 15 anos de falecimento. Você não leu direito, Tais!

Ai, ‘jesuis’, me ajuda... Não sei dizer com que cara fiquei; não consegui explicar nada e nem sei o que disse. Sei lá como me saí, mas o importante pra mim foi ter sentido que a distância afasta amigos, afasta tudo. A distância é sorrateira, vai dando jeito de fazer com que esqueçamos fatos, lugares e amigos. E tudo acaba meio mal.

Aprendi que a distância não só separa amigos e parentes que tiveram ótimo convívio, mas separa pais e filhos. Aprendi que se não formarmos um elo forte, os afetos que construímos durante uma vida inteira ficam enfraquecidos pela distância. Somos feitos de sentimentos que devem ser alimentados, cuidados, regados como se fossem flores em crescimento. Uma união forte,  afetos construídos em moldes verdadeiros devem ser cuidados e trabalhados. Vistos e revisados.

Sinto pela minha amiga e sinto por mim: a distância separou o que a vida levou anos para construir. Afinal a juventude é uma das principais etapas da vida da gente.

Foi-se a Maria José e ficou apenas a lembrança. Uma lembrança dolorida.

17 comentários:

  1. Nooooooooossa,essa foi braba,mas acontece!!!rssssss...

    Um beijo,linda semana!chica

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  2. Sim Taís, temos que fortalecer laços. Algumas vezes o corre-corre da vida nos afasta das pessoas que amamos. Perdi uma amiga há duas semanas, ela se sucidou. Fiquei triste e com raiva. Várias vezes tentei falar com ela mas estava sempre envolvida na preparação de concursos públicos. Agora penso que nunca mais vou poder ficar brava com ela. O Estresse da vida bateu tão forte que ela não aguentou.

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  3. Grande verdade e grande crônica, Tais. Também não sei como lidar com a distância que acabamos tomando de bons amigos... Felizmente, conservo amigos ótimos de infância e de adolescência, mas a maioria de fato se perdeu.

    Há um poema do Vinicius de Moraes perfeito para ilustrar o tema. Se não me engano chama-se "Para meus amigos". Vale pegar na net. O começo é assim:

    "Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
    A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite rivalidade... eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos...


    bjo

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  4. "A saudade não está na distância das coisas, mas numa súbita fractura de nós, num quebrar de alma em que todas as coisas se afundam "

    Abraço.

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  5. O tempo acaba apagando um tempo precioso e nesta esteria, o que foi importante para nós...

    Fique com Deus, menina Tais Luso.
    Um abraço.

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  6. Que situção hein Taís...??
    Não é para rir...é para enfiar
    num buraco....,mas quem não teve já
    situação parecida..?
    Beijo

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  7. Dolorida, pra mim, Tais...foi a verdade da tua reflexão. A distância separa, inclusive o que lava uma vida para ser construído. Dolorosa constatarão que já conhecemos, mas esquecemos - assim como deixamos de manter vivos, vistos e revisados, os afetos, fatos e lugares...

    Tua experiência pode ter sido de "saia justa" - a mim, vc trouxe reflexão e emoções importantes.

    Um bjo, e ótima semana!

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  8. Que crônica triste Taís. É difícil perder alguém a quem amamos. Mas é triste perceber que a perdemos em vida. Como pessoas que foram tão importatntes em determinados períodos da nossa vida tomam caminhos diferentes dos nossos e perdemos contato. Uma lição para cultivarmos essas amizades enquanto temos oportunidade. Eu mesmo, tenho duas amigas de infância que não vejo a tempos, nem moramos tão longe uma da outra, mas a gente acaba se ocupando demais com a rotina, vai deixando para depois. Quando li sua crônica fiquei com saudades delas. Parabéns pela crônica. Apesar da distância, o carinho permanece. E isso permaneceu com sua amiga, o carinho e a alegria da amizade que vocês tiveram

    Beijos

    Deva

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  9. Amigaaaaaaaa que gafeee! kkkk Mas olhe, isso acontece! A distância é mesmo destruidora, se deixamos ela prevalecer ela engole tudo. As vezes nem é distância, é comodismo mesmo.

    Adorei o texto, até notícia ruim tu conta com uma pitada de graça!

    beijos amiga

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  10. Nem sei o que dói mais, Tais. A perda ou o desconhecimento da perda. Aconteceu comigo há pouco tempo. Fui à cidade onde morei e me mudei há dez anos. Cumprimentei a esposa de um grande amigo e mandei-lhe um abraço e ela me disse que o abraço não seria mais possível, ele falecera há 8 anos. Não sabia como sair do lugar onde estava pelo choque e pela vergonha, pela dor, tudo me atando ali. Abraços. Paz e bem.

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  11. Tais eu poderia chamar o acontecido de qalquer coisa -mas não é este o caso.

    Este texto não relata um equívoco diário sem importância; mas fiquei com um aperto no peito por imaginar o quanto o primeiro choque foi dolorido e o quanto o segundo ao saber da verdade foi anestésico.

    É triste! O tempo; as nossas mudanças; nosso amadurecimento nos leva por caminhos muitas vezes opostos ao das pessoas que amamos.

    Eu tenho muitas lembranças e vontade de rever algumas amigas da escola até ja procurei mas ainda não consegui reencontrar.

    Seu texto me deu uma visão renovada de que preciso achar uma maneira de tentar acha-las novamente antes que tudo se acabe e só fique nas lembranças.

    Felicidades,
    Com Carinho Miss. Bella Dourado

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  12. É assim, quando percebemos, passou anos... e aquela carta nunca foi escrita, aqule e-amil nunca foi enviado, o telefonem ficou para depois... A pesar de um quê cômico, sua crônica é triste... ((Ou quem sabe eu esteja apenas emocionado. Chorei lendo o blog do cruz hoje.))
    Mas, certo é que distância e as obrigações do dia-a-dia nos afastam das pessoas. e quando notamos elas se foram...

    Um grande beijo Taís!!

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  13. Quero agradecer sua visita e comentario em meu Blog, na verdade fiz um Blog para colecionar textos, crônicas e poesias que gosto, como fazíamos antigamente em ter um carderninho de recordações. Sem nenhuma pretensão.Tudo começou como uma brincadeira e me sinto privilegiada com a oportunidade que estou tendo de conhecer pessoas maravilhosas.
    Não tenho o Dom de escrever, ou pelo menos ainda não me propus a isso, mas tenho certeza que tenho o Dom de saber ler e valorizar a palavra bem escrita.
    Gostei muito do que vi em seus Blogs, virei leitora assidua. Admiro pessoas que têm o Dom de lapidar palavras e vc é uma delas.Parabéns

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  14. Oi Taís, como te entendo! Sou danada pra meter os pés pelas mãos. Mas a vida realmente, muitas vezes nos afasta de quem um dia amamos das maneiras mais diferentes. E a pressa às vezes, nos faz ler as notícias atabalhoadamente, mas não se culpe, acontece. Li tb seu outro post sobre blogs e comentários. Tb ando cansada desse tipo de gente que vem, dá duas palavras e vc percebe que nem leu o que escreveu.
    Outra coisa, e os sem noção que vem fazer propaganda de um sorteio ou blogagem coletiva no nosso blog e nem se dão ao trabalho de serem educados e deixarem uma palavrinha sobre o post? O mundo blogueiro é legal e eu o adoro, mas tem gente que vou te contar, me dá nos nervos! Beijos,

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  15. Tais, antes de comentar a sua crônica
    vou te agradecer pela visita em meu blog e pelos comentários tão edificantes, estimulantes...
    A sueli também fez comentários superlativos que me deixaram muito feliz.
    O melhor da crônica é a sua habilidade de transformar a situação embaraçosa em obra de arte, revertendo a adversidade em sucesso.
    Além do mais você sempre gostou da amiga!

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  16. Taís, contente-se comigo, que já fiz coisas muito parecidas diversas vezes. Meu beijo.

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  17. Anônimo17:46

    Taís, menina! Saia justíssima. Culpa de quem? Da dureza da vida, que leva tudo por diante, que nos sufoca, que não respeita nossa humanidade tão cármica. A plantinha deve ser regada, ok, mas como fazer isso se os caminhos da vida separam uns dos outros? Complicado. Algumas lembranças são realmente doloridas. Já passei por algo semelhante. É fogo!
    Bjsssss
    Adorei a crônica.

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Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís