LEITURA NATURAL
Tendo lido os jornais
- infectado a mente, enauseado
os olhos -
descubro, lá fora, o azul do
mar
e o verde repousante que
começa nas samambaias
da sala
e recrudesce nas montanhas.
Para que perco tantas horas do
dia
nessas leituras necessárias e
escarninhas?
Mais valeria, talvez, nas
verdes folhas, ler
o que a vida anuncia.
Mas vivo numa época informada
e pervertida.
Leio a vida que me imprimem
e só depois
o verde texto que me exprime.
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CILADA VERBAL
Há vários modos de matar um homem:
com o tiro, a fome, a espada
ou com a palavra
– envenenada
Não é preciso força.
Basta que a boca solte
a frase engatilhada
e o outro morre
– na sintaxe da emboscada.
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Affonso Romano de Sant1Anna
Poesia Reunida 1965 – LP&M 1999 / volume 2
Affonso Romano de Sant'Anna nasceu em Belo Horizonte MG/Brasil - 1937. Poeta, crítico e professor de literatura e jornalista. Ainda pequeno, muda-se com a família para a cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, onde inicia seus estudos e se aproxima da literatura ao frequentar as bibliotecas públicas. Começa a carreira jornalística em 1953, publicando críticas de cinema e teatro no Diário Comercial e na Gazeta Mercantil.
De família protestante, em 1954, viaja por diversas cidades mineiras pregando o Evangelho em favelas, hospitais e presídios. Em 1962 o bacharela-se em letras neolatinas na Universidade Federal de Minas de Minas Gerais e publica seu primeiro livro de ensaios, O Desemprego do Poeta. Organiza, com outros poetas mineiros, a Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, em Belo Horizonte, em 1963.
Em 1964 obtém o grau de doutor pela UFMG, com apresentação de tese sobre o poeta Carlos Drummond de Andrade (1902 - 1987). Casa-se com a escritora Marina Colasanti, e em 1970 vai residir no Rio de Janeiro. Ministra cursos na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - e na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Como professor convidado, dá aulas de literatura e cultura brasileiras em universidades da França, Alemanha e Estados Unidos.
Assume a presidência da Fundação Biblioteca Nacional em 1990. Um ano depois, cria a revista Poesia Sempre, importante veículo de divulgação da poesia nacional no exterior. É nomeado, em 1995, para o cargo de secretário-geral da Associação das Bibliotecas Nacionais Ibero-Americanas. Também colaborador assíduo da imprensa em toda sua carreira jornalística, escreve textos para os jornais O Globo, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil, Jornal da Tarde, Correio Brasiliense e O Estado de Minas. Tem poemas traduzidos para o espanhol, inglês, francês, alemão, polonês, chinês e italiano - escritor e poeta com 70 livros publicados.
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Buona domenica
ResponderExcluirNão conhecia e gostei de ler. Obrigada pela partilha.
ResponderExcluirAbraço e bom domingo
Obrigado por dar a conhecer!!! Bj
ResponderExcluirExtraordinário, este Affonso Romano de Sant'Anna. Pelos poemas em epígrafe, ficamos com uma nota pujante, esclarecedora, vibrante, não só do seu talento poético, mas também da destreza com que trata por tu o sintagma. É que este é arquitectado sobre uma ampla visão cosmopolita, reflectindo um saber adquirido, do qual transparece, com subtil leveza e encanto musical, verdades pungentes do quotidiano antropológico. Assinale-se ainda, a dotar a sua poesia de uma cotação, denotação e conotação sempre crescentes, a mais-valia de uma espécie de humor (negro?!), de cariz larvar, que se vela e desvela, num continuum magnético irresistível, no cômputo de cada estrofe.
ResponderExcluirMuito bom, mesmo.
Um abraço, Taís.
Bom Domingo
Muito lindo teu compartilhamento e mostra nele o perigo das palavras ,o quanto cuidado temos que com elas ter...beijos, ótimo domingo!chica
ResponderExcluirAinda não li obras do poeta, mas gostei bastante destes poemas, sempre atuais e pertinentes.
ResponderExcluirPalavras envenenadas, engatilhadas, emboscadas, disparadas, abundam na blogosfera, é por isso que eu seleciono a minha 'Lista de Afinidades' e só lá tenho gente que simpatiza comigo e gosta das minhas publicações.
De quem não gosta ou tem inveja, afasto-me silenciosa...
E com este desabafo, provei que mais uma vez gostei da sua crónica, desta vez, sobre assuntos sérios.
Um domingo muito agradável e excelente semana.
Beijos.
~~~
Olá,
ResponderExcluirEscolheu duas poesias bem pertinentes para os dias atuais.
Não tenho lido muitas notícias ultimamente, tenho procurado filtrar ao máximo o que leio.
Quanto a palavra, ela é dotada de energia, por isso precisamos tomar muito cuidado com o que dizemos. Bem melhor usar para bendizer do que maldizer, mas em alguns momentos o melhor mesmo é saber calar.
Um abraço,
Sônia
¡Grandes pensamientos, amiga Tais!
ResponderExcluirAgradezco por tu intermedio conocer a mi contemporáneo Affonso.Tenemos casi la misma edad.
Cariños.
Dois belos poemas, duas verdades bem reais.
ResponderExcluirApesar de agora, mais do que nunca, termos lindos e verdejantes Parques citadinos, embrenhamo-nos na leitura de quem nos apresenta já a opinião formada acerca das belezas que deveríamos descobrir por nós mesmos.
Poderá existir uma metáfora, velada, no poema, exortando, talvez, mais à vivência e menos à ficção.
Gostei especialmente da "Cilada Verbal"!
Já o 'nosso' Eugénio de Andrade dizia:
As palavras,
são como um cristal,
algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas…
Já não é a primeira vez que a Tais nos privilegia com os belos poemas de Affonso Romano de Sant'Anna. Muito grata por isso, Amiga!
Beijinhos e uma excelente semana.
Vizinha/Escritora, Taís Luso !
ResponderExcluirQue privilégio, a oportunidade de ler a biografia
de Afonso Romano de Sant'Antana !
Uma riqueza, no mundo das letras !
Obrigado por me oportunizar este momento.
Um feliz domingo e uma ótima semana !
Sinval.
Tais,
ResponderExcluirAdorei viajar nessa sua
publicação.
Bjins
CatiahoAlc.
Boa tarde dominical, querida amiga Tais!
ResponderExcluirTiago 3 ja bem discorre de tudo isso.
Estou agora desfrutando do que diz
aqui:
"Mais valeria, talvez, nas verdes folhas, ler
o que a vida anuncia."
Tao bonita sua cronica, querida!
Identifico-me muito com o que escreve.
E uma pessoa delicada.
Tenha uma nova semana feliz e abencoada!
Bjm carinhoso e fraterno de paz e bem
Olá amiga!
ResponderExcluirVim agradecer sua visita e matar saudade do seu cantinho lindo.
Amei a postagem,com o Afonso Romano, suas poesias, não conhecia. Obrigada por compartilhar querida.Bela homenagem.
Tenha um final de tarde abençoado e um início de semana feliz, com muita saúde e paz.
Abraços
Deste Affonso Romano de Sant1Anna não podemos distanciar-nos. Não há dúvida de que é um ser superior, alguém que defende a poesia como afirmação, como força de mudança:
ResponderExcluir" ... basta que a boca solte
a frase engatilhada
e o outro morre
– na sintaxe da emboscada."
Muito grata, querida Taís, por esta fantástica publicação.
Beijos.
Oi Tais, sensacional, obrigada por compartilhar!!
ResponderExcluirIncrível como isso é tão atual, as letras impressas somente foram substituídas pelas virtuais que andam o tempo todo a corroer nossa mente se não filtrarmos com bom senso.
Adorei ler, abração!
Oi Taís, duas belas partilhas das pérolas do Affonso.
ResponderExcluirO que se lê no que se expressa.
Muito bom amiga.
Grato e boa semana para você e Pedro.
Beijo amiga.
Belos poemas, não conhecia e aproveito para desejar uma boa semana.
ResponderExcluirAndarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
O prazer dos livros
Muito actuais os poemas de Affonso Romano de Sant'Anna. Gostei muito de o ler aqui, minha Amiga Taís.
ResponderExcluirUma boa semana.
Um beijo.
Tais,
ResponderExcluirAdorei os versos, a biografia e
a tela.
Me deu saudade de quando
eu lia jornal de papel...
Não é saudosismo.
Bjins
de boa nova semana.
CatiahoAlc.
Depende de el uso de las palabras pueden ser mas o menos peligrosas.
ResponderExcluirSaludos.
Interesting post, thanks for sharing.
ResponderExcluirGreetings.
Grande Affonso Sant'Anna! Belo compartilhamento Taís! No dia 13/03/2012 postei um belo poema de sua autoria, e diz o seguinte:
ResponderExcluirFASCÍNIO
Casado, continuo a achar as mulheres irresistíveis.
Não deveria, dizem.
Me esforço. Aliás,
já nem me esforço.
Abertamente me ponho a admirá-las.
Não estou traindo ninguém, advirto.
Como pode o amor trair o amor?
Amar o amor num outro amor
é um ritual que, amante, me permito.
Bela escolha amiga. Parabéns!
Beijos e uma ótima semana para ti e para os teus.
Furtado
Gostei de conhecer.
ResponderExcluirBjs, boa semana
Tais, minha amiga
ResponderExcluirconheço um pouco do grande Poeta, Affonso Sant´Anna, que há anos não lia
ainda bem que vc, minha amiga, falou . pretexto agora para ler novamente.
o segundo poema que transcreves é um "velho" conhecido... no entanto hoje levo comigo a segunda estrofe do primeiro poema:
"Para que perco tantas horas do dia
nessas leituras necessárias e escarninhas?
Mais valeria, talvez, nas verdes folhas, ler
o que a vida anuncia".
Beijo
Não caberiam melhores e nem mais apropriados versos neste cenário turbulento e nocivo que nos impacta a cada notícia e, veja vc, que eu fujo dos telejornais e dos impressos mas, vez ou outra, acabam me alcançado, arghf...
ResponderExcluirTenha uma boa continuação de semana, Tais, lendo o verde-vida.
Bjo,
Calu
La lengua puede herir mas que una espada afilada. Tan sólo que la espada puede matar el cuerpo y la lengua el alma.
ResponderExcluirBesos
Boa tarde Taís,
ResponderExcluirGrande Poeta e apreciei imenso os poemas que partilhou.
Não conhecia e agradeço muito a partilha.
Um beijinho.
Ailime
Tais,
ResponderExcluirAlém de ser casado com a minha muito querida amiga Marina Colasanti, Affonso Romano de Sant'Anna, é alguém de quem vou falar em seus próprios versos...
"O que não escrevi, calou-me.
O que não fiz, partiu-me.
O que não senti, doeu-se.
O que não vivi, morreu-se.
O que adiei, adeu-se!"
Nada mais precisa ser dito...
Um beijo para ti minha querida amiga!!!
Affonso foi muito audacioso, é característica sua, na poesia sobre a palavra.
ResponderExcluirAcredito, querida amiga Taís, que ela seja capaz de matar mesmo...
Beijo
Minas Gerais deu ao Brasil muitos poetas escritores e famosos, que exerceram e exercem forte influência na cultura brasileira. Quem não lembra de Fernando Sabino (romancista e cronista), Paulo Mendes Campos (poeta e cronista), Carlos Drummond de Andrade (um dos nossos poetas mais importantes; também cronista). Nessa plêiade de poetas e escritores talentosos Minas Gerais deu ao Brasil esse poeta admirável, de talento incontestável, sempre dedicado à Literatura como mestre e escritor, que é orgulho para nós brasileiros e também uma luz para os iniciantes da poesia e da crônica. Estou a falar, é claro, de Affonso Romano de Sant'Anna, cuja obra (pelo menos parte dela) pode ser encontrada em nossas livrarias, bibliotecas e também na na Internet, onde fala sobre sua obra e sobre outros poetas e escritores brasileiros. Não posso esquecer que Affonso Romano de Sant'Anna forma uma dupla de poetas e escritores com sua mulher, Marina Colasanti, com que está casado há algumas décadas. Os poemas que escolheste Taís, "Leitura Natural" e "Cilada Verbal" são excelentes. Parabéns pela maravilhosa postagem.
ResponderExcluirUm beijinho daqui do escritório
Boa tarde, querida Tais,
ResponderExcluirtenho tomado cuidado com as leituras e noticiários que me desconcertam a alma.
Há tanta coisa ruim acontecendo que não vencemos ficar atualizados em tais notícias. Sobre a palavra, sempre afirmei o poder que elas trazem em seu significado.
São mágicas e o escritor deve saber lidar com tal mágica. Obrigada por compartilhar conosco. Beijos!
Muito bom, gosto de poemas arrojados e sensível. Este escritor é excelente.
ResponderExcluir"Catar os cacos do caos
como quem cata no deserto
o cacto
- como se fosse flor."
bjs
Vaya dos alegorías de la vida.
ResponderExcluirUna, la de que quizá sería mejor dejar las lecturas y dedicarse a leer los mensajes de las hojas sabias. Otra, que hay muchas maneras de matar, algunas muy sutiles.
Un beso, Tais.
Olá, querida amiga!
ResponderExcluirObrigada pela partilha de dois belos poemas («Cilada verbal» é fenomenal!) do escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna, que gostei de conhecer aqui.
«Há vários modos de matar um homem:
com o tiro, a fome, a espada
ou com a palavra
– envenenada»
Magnífico!!!
Beijo, feliz fim-de-semana.
Tais Luso por mim valeu a a pena conhecer mais o literato brasileiro Affonso Romano de Sant'Anna. Na verdade maravilhado com o cheirinho da sua poesia. Depois o seu currículo, diria ser espectacular. Bjs
ResponderExcluirBom dia, Tais! Magnificos textos e repletos de sabedoria. A palavra envenenada, é sem duvida uma arma muitíssimo eficaz, sendo usada constantemente nos meios políticos. Confesso que não conhecia esse brilhante poeta e conterrâneo. Como sempre , você nos traz excelente postagem! Grande beijo. Feliz fim de semana.
ResponderExcluirOlá Tais, adorei os poemas e principalmente conhecer esse autor.
ResponderExcluirParabéns!
Um ótimo fim de semana! Bjs
Tais, boa noite, minha amiga.
ResponderExcluirAchei que já havia lido o segundo poema, que é belíssimo. Mas o primeiro, ainda não, é é esplendoroso! Dois poemas de antologia, para todas as antologias que se fizessem em nosso idioma. É extraordinário quando um autor é inspirado no mínimo detalhe, na mínima palavra, na estrutura, na ideia, na fluência, mas acima de tudo, nas verdades que calam tão fundo em quem ama ler. Poemas antológicos. Um raro momento, lê-los e relê-los compassadamente, no compasso da reflexão.
U abraço carinhoso
Dois lindos e profundos poemas. Ótimas escolhas.
ResponderExcluirBjs e boa terça-feira...
Adorei ler e conhecer, Taís.
ResponderExcluirTem um história bem vivida, interessante. A esposa, eu conhecia.