A FRANQUEZA QUE INCOMODA

 

Salon de la Rue des Moulins - 1894 / Das Artes -  Toulouse Lautrec

                         - Tais Luso de Carvalho

Lembro do dia que pensei em criar um blog: teria de ser algo que combinasse com minha maneira de pensar, que fosse do meu jeito. Queria poder dizer as coisas que penso de uma maneira solta, mas que não ofendesse ninguém. Beleza. Criei o Porto das Crônicas. Mais tarde veio o Blog Das Artes para dar uma aliviada. Esse introito acima é para poder dizer que nem sempre  podemos  dizer certas coisas ao vivo, olho no olho. Isso muitas vezes dá um rolo louco. Temos muitas maneiras de externar nossas inquietações, nossas opiniões. E escrever, para mim, é a maneira que mais gosto de  dizer. Não sai discussão.

Os poetas externam sentimentos com muita beleza e sutileza. Os artistas plásticos muitas vezes são dramáticos em suas pinceladas; em outras, são suaves e encantadores. Os jornalistas são mais agressivos, faz parte do contexto, a barra por lá é diferenciada. O cronista conta a vida à sua maneira. Mas o que todos querem é a verdade, sem dúvida. Mas, cá pra nós: quantas vezes não cometemos uma bobagem por querer parecer francos demais! Como é chato esbarrarmos com alguém que se diz sempre muito franco. O suprassumo do correto. 

Alguém pediu tanta franqueza? Alguém que se diz muito franco já me deixa cabreira, com um pé atrás. Como aquele que se diz muito honesto. Quem é honesto não precisa anunciar, isso é atitude de político. A coisa anda tão feia que muitos precisam berrar aos quatro ventos uma certa honestidade. Entendo, qualquer ponto fora do lugar, constrange. É o trauma nacional por essas paragens aqui. Mas isso é diferente, não há meio termo. Quanto mais esconde, pior fica.

Estou abordando este assunto porque passei por isso ontem, ao pedir a opinião de uma pessoa. Coisa boba. Mas, disse-me ela:

- Olha, me desculpe, mas costumo ser muito franca...

Ôh coisa horrorosa, e derramou-se numa franqueza exagerada.

Diga, caramba, mas não seja tão pernóstica, mais leveza! Confesso que diante de tamanha franqueza me senti uma bandida. Essa suposta franqueza, esse introito para dar um parecer,  é muito antipático. 

Se essa franqueza absoluta vier para intrigar, ofender, ou mesmo para dissolver uma amizade ou uma harmonia familiar, que se cale, que omita, não diga. Não seja tão franca! Certas coisas temos de omitir para não desmantelar o que está bem. O que não é da nossa conta. Foi apenas uma pergunta e que não merecia o tal grau de importância.

Não me orgulharia em dizer que sou muito franca, não é necessário. Prefiro usar de bom senso. Prefiro pensar antes de trazer meu balde de franqueza à tona. Jamais direi algo que poderá causar grande estrago em nome de tão "grandiosa" manifestação - a franqueza.