PURA MÁGOA
- Juremir Machado da Silva
Sempre houve ódio parado no ar
Um ódio contido, incontido, sem fim
Ódio amistoso por quem continuava no jogo
Enquanto os odiosos só contemplavam o fogo
O fogo que devorava os confins da ambição
Odiavam por reacionarismo ou ressentimento
Sempre que um caía, aplaudiam com o silêncio
Olhando para os prêmios que negaram
Os troféus e medalhas que não entregaram
Lembrando até das críticas que fizeram
A quem não seguiu a cartilha que indicar
Ao cronista disseram não vai dar certo
Aos que foram isto ou aquilo, repetiram: não tem como
Ao poeta jogaram rimas na cara
Ao romancista de perto não leram
Aos que fizeram a própria lenda, não creram.
As quedas que elevam, não viram,
Saudaram o pior como vitória
Nesse tempo todo, admiraram o sucesso lá fora
E reverenciaram os profetas do passado
Já morri muitas vezes nesta vida louca
Sempre que renasci, trincaram os dentes
Furiosos, me perguntavam: por onde andas?
Eu andava no centro do nosso pequeno mundo.
O centro é uma margem do outro lado do rio.
______________pág 254 - ed. Sulina 2022 - Porto Alegre______________
Juremir Machado da Silva (Santana do Livramento / RS, 1962) é escritor, tradutor, jornalista e professor Universitário. Graduado em história e em jornalismo pela PUCRS, fez doutorado e pós-doutorado em sociologia na Université Paris V – Sorbonne. Publicou mais de trinta livros, entre ficção, ensaio e tradução. Entre as diversas distinções recebidas constam a condecoração como Chevalier de l’Ordre des Palmes Académiques, pelo governo francês, em 2008; o Prêmio da Bienal do Livro de Brasília, em 2014, por Jango, a vida e a morte no exílio; o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), em 2018, por Raízes do conservadorismo no Brasil, seu primeiro livro pela Civilização Brasileira; e, em 2019, a Medalha do Mérito Farroupilha, maior distinção concedida pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
"A modernidade inventou o mito da obra única ou do gênero único. Ainda bem que muitos nunca respeitaram essa restrição.
Escrever é acordar romancista, dormir poeta, ensaiar, pesquisar, contar, minimizar, racionalizar, emocionar, buscar, compreender, explicar, recusar tudo isso, reinventar-se sempre." JMS
Que gran poema Nos has traído Taís, actual siempre, porque el odio es un mal que jamás se ha podido erradicar. El mundo nos da a diario pruebas del mismo. Una pena...Gracias por compartir! Eres esposa de Pedro Luso? Se ven tan bien juntos!! Saludos desde Uruguay.
ResponderExcluirOlá, Lyliam,, bem-vinda ao blog, uma nova amiga, fico muito contente!
ExcluirSim, Pedro Luso é meu marido.
Um ótimo fim de semana nesse teu lindo Uruguai que já conhecemos!
Um beijo.
Lindo demais esse poema do Juremir e nada pior que a mágoa e há quem a tenha de tudo e todos... Lindo fds! bjs, chica
ResponderExcluirNão conheço a obra de Juremir Machado da Silva, mas gostei deste poema "Pura mágoa". E digo com o Poeta: "Sempre houve ódio parado no ar. Um ódio contido, incontido, sem fim". A prova é que a humanidade parece que encontra sempre formas de ofender, torturar, guerrear os outros sem querer ouvir quem quer que seja. E só resta ao Poeta viver na "margem do outro lado do rio", onde poderá talvez morrer e renascer quantas vezes quiser.
ResponderExcluirUm bom fim de semana, minha Amiga Taís.
Muita saúde.
Um beijo.
Cuanta sabiduría hay en esas palabras que han centrado mi atención en la existencia de quien practica la crítica para decir a los demás que saben más que el autor de los ensayos, de poesía, o de cualquier tipo de materia. Se dicen doctores, pero solo de la teoría: a practicar la materia nunca entran. A mi me indignan pero, si lo pensamos bien, deberíamos compadecerles porque sus palabras es lo único que tienen para esconder su ignorancia.
ResponderExcluirMuy sugestivo e interesante tema. Ha sido un placer. Un abrazo.
Una valida condivisione poetica, che ho molto apprezzato
ResponderExcluirUn caro saluto,silvia
Muito obrigado por me dar a conhecer este excelente escritor.
ResponderExcluirGostei.
Um abraço e bom fim-de-semana.
Andarilhar
Dedais de Francisco e Idalisa
Livros-Autografados
Olá, amiga Tais,
ResponderExcluirNão conhecia este autor que aqui nos traz hoje.
Mas, pelas referências que aqui nos faz, é sem dúvida uma figura de relevo na arte da escrita e do jornalismo.
Excelente partilha aqui nos traz!
Votos de um excelente fim de semana, com muita saúde.
Beijinhos!
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
Ese odio se va alimentando cada ve más, hasta que se termina por cometer, atroces acciones.
ResponderExcluirBesos
El odio nos lleva a caminos no deseados, donde en el fango quedas anclado.
ResponderExcluirNo conocía a este poeta o escribiente, gracias por presentarlo.
Un abrazo Tais, que disfrutes del fin de semana.
No conocía a este autor. Me encanta conocerlo gracias a ti.
ResponderExcluirMuy interesante.
Sin duda, excelente.
Un beso.
Um livro, para ser lido, Taís
ResponderExcluirConfesso que antes eu anotava o nome de autores que não tivesse lido ainda, hoje já não consigo mais. Infelizmente, a internet roubou-nos o tempo da leitura dos livros de papel, e seria inútil aumentar a lista dos que não conseguirei ler.
Gosto do poema .É um reconhecimento da mágoa - essa nódoa triste que assola o mundo desencadeando o sofrimento .
Obrigada Tais, por compartilhar _ sempre bom conhecer e ler novos autores.
Um abraço , amiga e boa semana
" Já morri muitas vezes nesta vida louca
ResponderExcluirSempre que renasci, trincaram os dentes
Furiosos, me perguntavam: por onde andas?"
O poeta deu a resposta certa...
Mas se esse "por onde andas?" me fosse dirigido responderia que tento competir com Deus... de facto... ando em todo o lado.
Bom fim de sábado, querida amiga Taís!
ResponderExcluirUm poema instigante contendo um tema amargo que azeda a vida dos seres humanos não amados. Mágoa atrai coisas ruins, não vale a pena!
Não conhecia o autor, querida.
Sua terra tem excelentes escritores e cronistas chegando por você.
Tenha um domingo abençoado e uma nova semana de paz!
Beijinhos
Hola Tais, bonito el poema.El odio no es bueno para vivir .
ResponderExcluirNo conocía al autor. Gracias por darlo a conocer.
Feliz semana.
Un abrazo
Querida Taís, que bom foi ler as palavras do Poeta.
ResponderExcluirHá uma constatação de mágoa por tudo aquilo que acontece, connosco e com os demais e, quem nos rodeia, não vê nem repara quando de nós falam.
Tudo, porque neste jogo da Vida, vale tudo para não se sair perdendo.
Quntos tombam lutando por uma boa causa, ingloriamente?
Morremos todos os dias um bocadinho, com tudo o que de ruim vemos desfilar na frente dos nossos olhos.
E por aqui me fico, Amiga, a minha emoção é grande.
Grata por me dar a conhecer um poeta que desconhecia e fiquei a admirar pelo seu estilo poético tão realista.
Um grande abraço de Amizade.
Desta vez, substituiste a crónica pelo poema que não deixa de retratar também o quotidiano, como costumas fazer no teu tipo de escrita habitual. O " ódio " sempre esteve presente na vida do ser humano e, se não quisermos usar um termo tão forte, podemos dizer que a mágoa, a falsidade, as desavenças, a injveja e a falta de respeito pelo outro fazem parte do nosso dia a dia e é preciso uma grande coragem e muita experiência de vida para se conseguir lidar com todos esses " julgamentos " alheios. Chegamos a uma altura da nossa vida em que isso já não nos afecta e continuamos a ser e a fazer o que achamos melhor para nós e para os que nos rodeiam; claro que todas essas atitudes causam-nos uma grande mágoa, mas vamos aprendendendo que uma mágoa e até um desespero muitissimo maiores nos causa o terrivel sofrimento causado, por exemplo, por esta guerra; isto, sim, é o odio supremo, o desprezo maior pela dignidade humana. Parece não vir a propósito, Tais, mas acho que sim...penso que posso incluir aqui umas palavrinhas sobre o teu post anterior, , o nosso querido Brasil e o que ele tem de bom, pois o que de mau tem, é comum a todos os paises. O bem maior que o teu País tem, querida Amiga é o seu povo , maravilhoso, acolhedor, simpático e trabalhador. Sei por experiência própria e é com muito orgulho que digo que os meus filhos são brasileiros e que eu sou uma luso-brasileira, com muito gosto. E não será o povo a riqueza maior de qualquer pais do mundo? Claro que é! Quem não sabe reconhecer o valor desse povo é o governante que os dirige, mesmo quando é democraticamente, eleito, não porque as pessoas não o saibam escolher, mas sim, porque, depois, com o poder nas mãos, eles esquecem as promessas feitas e tratam da sua vida enriquecendo à custa dos trabalhadores tantas vezes mal pagos. E aqui começa a mágoa, a decepção, o ódio , a revolta e tantas vezes as guerras, querras que nenhum povo quer. Amiga, não te vou pedir desculpas pelo, " testamento ", pois já sabes que sai sempre um, mas vou agradecer-te e muito, este belo poema de um escritor que não conheço, mas que irei conhecer, pesquisando sobre ele. Obrigada, querida Amiga e espero que estejas bem, com saúde e a serenidade possivel nestes tempos tão preocupantes Beijinhos e boa noite
ResponderExcluirEmilia 🙏 🕊 🕊 🌻
Bem a propósito o que é o ódio, o que é sentir ódio.
ResponderExcluirOdeio Putin!!!
Beijo, boa semana
Olá, amiga Tais,
ResponderExcluirPassando por aqui, relendo esta bela postagem de homenagem a este homem bom, que a merece sem a menor dúvida.
E desejar uma excelente semana, com muita saúde.
Beijinhos.
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
Pertinentes palavras, que se encaixam perfeitamente neste contexto atual, onde reina tanto ódio.
ResponderExcluirObrigado por nos dar a conhecer este brilhante escritor.
Beijinhos
Mas é extamente isto, querida Taís! Escrevi no Pravda durante oito anos. Putin começou a dar as ordens. Peguei meu boné... Beijo!
ResponderExcluirGracias por traer a nuestra mirada al escritor y poeta..
ResponderExcluirY por deleitarnos con tan bello poema.
El odio aferrado a tantos corazones es el verdadero peligro para este viejo y cansado mundo y sus habitantes.
Besos.
Las personas que nos refleja el poema de este escritor por desgracia suelen marcarnos el camino a seguir.
ResponderExcluirSaludos.
Taís,
ResponderExcluirUm poema sentido
e uma maravilhosa indicação.
Muitas vezes nos sentimos
assim: magoados e fragilizados.
Bjins de boa semana.
CatiahoAlc.
Gracias por presentarnos a esta mente tan lúcida. No le conocía pero voy a intentar leerle y profundizar sobre él. El odio, la ira, el resentimiento, la envidia... todo fluye de un mismo ritmo y sentido. Hoy día es una de las peores patologías que existen.
ResponderExcluirUn gran abrazo amiga Taís y feliz día con Amor y Paz.
Bom dia Taís,
ResponderExcluirUm poema magnífico de Juremir Machado da Silva tão atual.
O mundo continua cheio de ódio e todos andamos tão magoados com os acontecimentos, principalmente com os que estão ocorrendo na Ucrânia com aquela guerra terrível!
Muito obrigada por nos ter dado a conhecer este excelente escritor tão reflexivo.
Beijinhos,
Ailime
Fiquei a conhecer essas belas frases de
ResponderExcluirJuremir Machado da Silva
que me parece, pelo texto acima, ter imenso talento:)
beijinho Tais
Pois é, Taís, felizmente temos em Porto Alegre esse jornalista gaúcho, nascido em Santana do Livramento em 1962, graduado em história e em jornalismo pela PUCRS, fez doutorado e pós-doutorado em sociologia na Université Paris V – Sorbonne.
ResponderExcluirNós, aqui do Rio Grande do Sul, principalmente em Porto Alegre, conhecemos de perto o trabalho de Juremir, em jornais da capital e de outras partes do Brasil. Como jornalista trabalhou alguns anos em emissoras de rádio e de televisão, como apresentador de programas culturais. Juremir publicou em torno de 30 livros, entre eles romance, ensaios, crônicas, contos além de ter traduzido Charles Baudelaire. Além disso Juremir surpreende seus leitores com a publicação do seu livro de poema intitulado “Quase toda Poesia”, que foi editado pela ed Sulina, Porto Alegre, 2022.
Na realidade, Taís, meu comentário quase que repete a biografia de Juremir Machado da Silva, feita por ti nessa tua excelente postagem. O poema escolhido por ti é uma boa amostra para quem não o conhece. Um ótimo poema, de um ótimo poeta.
Um beijinho daqui do escritório.
Querida Taís
ResponderExcluirEis um poema que retrata o percurso deste mundo, parece que desde
o principio. Quando pensamos que foi ultrapassado esse ódio que nos
envenena, ele reaparece e por vezes tomando formas ainda mais hediondas,
ou repetindo-se num movimento sem fim. Temo-lo aí afincadamente na
guerra da Ucrânia, como noutros lugares em guerras quase silenciosas,
mas também no nosso quotidiano, como bem refere esse grande poeta,
Juremir Machado da Silva.
Muito obrigada, minha amiga, por tê-lo trazido até nós.
Procurarei ler mais sobre a sua obra.
Beijinhos
Olinda
Expressiva poesia. Mas, sei lá é um gênero que vem morrendo. Ah,agora que notei que mudou o nome do blog. Boa noite, guria.
ResponderExcluirEssa troca foi há muitos anos, nasceu com esse nome, depois ficou com meu nome e há anos voltei às origens!!
ExcluirBeijo, Fábio, um ótimo fim de semana,
que bom rever você!
>Querida amiga, graças por me ter dado a conhecer este seu ilustre compatriota.
ResponderExcluirO poema diz tanto e de uma maneira tão funda, tão sentida...
Deixo o meu estreito abraço com voto de bom final de semana e de um Abril muito bonito !
Olá,amiga Tais,
ResponderExcluirPassando por aqui, relendo esta excelente crônica, que muito gostei, e desejar um feliz fim de semana.
Beijinhos!
Mário Margaride
http://poesiaaquiesta.blogspot.com
Magnifica partilha, Tais, que assenta que nem uma luva, nestes turbulentos dias de agora, que aqui pela Europa se respiram... ódio... mágoa... medo... andam todos interligados... neste conflito sem fim à vista... onde os ânimos exaltados, vão escalando um pouco mais, a cada dia... arriscando-nos a que tudo evolua para outro patamar...
ResponderExcluirUm beijinho! Bom fim de semana!
Ana
Amei, grata pela partilha. Levei compartilhar: "Escrever é acromancista, dormir poeta, ensaiar, pesquisar, contar, minimizar, racionalizar, emocionar, buscar, compreender, explicar, recusar tudo isso, reinventar-se sempre." referenciando ao seu blog.
ResponderExcluirBoa noite