5 de março de 2025

UM MUNDO MARAVILHOSO

 


UM MUNDO MARAVILHOSO

               -  Tais Luso de Carvalho

     Diria que a felicidade e a tristeza caminham de mãos dadas, se alternam no curso de nossas vidas. Então nada como evocar esse planeta maravilhoso a fim de recarregar minha tranquilidade nas minhas emoções.

Prefiro buscar essa natureza exuberante, de ver a pureza dos animais,  a grandeza das rochas, do mar, dos cânions. Sentir a grandeza do sol, da lua e o infinito céu – me fazem melhor.  Ver e sentir a maravilhosa Natureza e nada mais. As maldades do mundo, e com extrema força, tendem  a ir muito longe. E cansamos um pouco de esperar por soluções.

No Brasil, não tem quem não conheça a frase de um antigo malandro desprovido de neurônios: “O importante é levar vantagem em tudo, certo?”

Esta frase está numa seara infeliz e doentia. E perambula por esse mundo afora com muitos seguidores. Não há mais lugar para disparates. Espero, dentre tantas coisas, a moralização do meu país, mas não é coisa fácil. Reverter esse quadro de agonia não é para agora. Sentir medo é uma das piores sensações. Jamais encontraremos a paz duradoura fora dos padrões reais e verdadeiros da ética e da moral.

Mas quem sabe  para as  gerações futuras, bem  mais adiante...?

          



Mosteiro no Butão


Lago Annecy / leste da França

Planeta Maravilhoso, 
 mas a vida não basta para os poderosos!




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19 de fevereiro de 2025

O SEPARADOR DE AFETOS

 

Num Barzinho para  conversarem  e... os Smartphones  


                                               ___ Tais Luso de Carvalho___



Hoje quero falar daquele aparelho pequenino, que ninguém desgruda dele e conosco fica 24 horas - o separador de afetos.

Quanto mais ando nas ruas, nos shoppings, clínicas etc., mais me surpreendo com pessoas desligadas. Todas elas muito apressadas. Muitas atravessam as passarelas dos semáforos olhando para seus aparelhos, procurando algo importante nas suas redes sociais. A vida está cada vez mais acelerada, porém mais solitária. Mas esse “amigão’ está sempre presente.

Ontem vi uma jovem oferecer seu braço para uma moça cega atravessar a larga avenida e levá-la ao seu destino, aqui no bairro mesmo. Que lindo! É raro ver isso, não há mais tempo para gentilezas, até nas visitas para os parentes reinam os Smartphones. Esse pequenino objeto espalhou-se pelo mundo inteiro, e parece não haver vida sem ele.

Criancinhas, já com 1 ano, estão com Smartphones num tec, tec, tec, e são consideradas geniais pelos pais que dizem:

- Olhem como ela é inteligente!!

Crescem e manobram a informática com facilidade, sem dúvida, mas pouco acostumadas às gentilezas. Intoxicam-se com a vasta tecnologia e, enquanto crescem, seus celulares sabotam seus sonos e sonhos.

Há carência de afetos, e estou ciente que isso é irreversível. O mundo seguirá seu curso com as novas gerações, com novíssimas ofertas e com muito mais aplicativos. Teremos de nos adaptar a muitas coisas, inclusive à solidão.

Sentamos no computador, lemos, escrevemos, nos comunicamos, mas ao desligá-lo muitos sentem um grande vazio e pegam o Smartphone. Pronto! Vicio é isso. Não é assim no mundo inteiro? 

Estamos quase colonizando o planeta Marte, mas os humanos pouco sabem sobre ‘Felicidade’. Mas um dia, com muita ajuda, chegaremos lá. Ou não. Os excessos nunca deram certo.



Jovens descansando  e... os  Smartphones


Encontros de família e...  os Smartphones

                                            


 


7 de fevereiro de 2025

TEXTOS: CURTOS OU LONGOS?

 

                           Obra: Alice Williams - EUA / 1990


                       - Taís Luso de Carvalho


      Faz muito tempo que participei de concursos literários. Minha escolha caiu em crônicas. Mas uma das exigências dos concursos era o tamanho do texto. Foi nessa época que aprendi o tanto de laudas que eu teria de obedecer nas crônicas. Nada longo. Foi uma das observações que segui à risca. E hoje, em meus blogs, tenho mais ou menos um padrão certo. Sigo com naturalidade, mas sempre me policiando para conseguir dizer o que quero sem me estender muito, a enxugar o texto, isso significa tirar tudo que não interessa ao leitor, para que a leitura não fique dispersa e cansativa. E pensando bem, para que tantos adjetivos e penduricalhos? Vejam o exemplo deste meu texto abaixo:

"O cavalo era baio, de crinas compridas e desparelhas, uma cruza de um belo garanhão chamado Arcônios com uma égua branca chamada Cigana, animais que vieram da Argentina – país frio ao sul do Brasil -, celeiro de raças puras e fortes, dirigidas mais para o esporte hípico".

Viram que saco (rss) ? Que importância tem as crinas compridas e desparelhas, e a linhagem dos animais não tem importância, só enche linguiça! São detalhes que não interessam numa crônica. Essa descrição só pode interessar a quem pretende comprar um cavalo e uma égua. Ver sua genealogia, seu pedigree.

Procuro escrever crônicas com poucas palavras e trabalhar o principal. Encher linguiça é uma expressão usada que significa enrolar, no sentido de falar o que não tem importância. O que não for necessário.

Uma das coisas que mais aprecio é colocar a ideia no computador e depois dar forma e cortar os excessos. Cortar, cortar sem medo. Mas aprendi isso graças a inúmeros cronistas e contistas que sempre  li e continuo a ler. A poesia também me ensinou muito a sintetizar a ideia e a dar ritmo e harmonia ao texto.

Mario Quintana conta, no seu livro Caderno H, pg. 154, que seu professor, nos tempos de ginásio, disse aos alunos na aula de redação: "não adianta escrever muito, meninos, porque só leio a primeira página, o resto eu rasgo".

E foi dessa maneira, não muito delicada, que Quintana ficou eternamente grato ao professor Major Leonardo Ribeiro:Foi a melhor lição de estilo, obrigando-nos a reter as rédeas de Pégaso e a dizer tudo nas trinta linhas do papel almaço”.

Também eu, fico grata ao nosso querido poeta Mario Quintana!




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26 de janeiro de 2025

TRAPALHADAS NO TEMPO

 



                - Tais Luso de Carvalho


        Pois é, a gente vai vivendo, a vida vai passando, e sempre aparecem pessoas que não reconhecemos mais. E os constrangimentos acontecem com mais frequência: de onde conheço esta criatura?

A pessoa sorri, vem falar… Que situação! E o clima do encontro, inevitavelmente cai. Minha tática é ficar enrolando até dar o clique na minha memória.

Pergunto o que ela tem feito, onde está residindo, como estão os filhos (que filhos?), perguntas rápidas à procura de um indício.

Quem é ela, pelo amor de Deus? - pergunto ao meu inconsciente.

Não poderia lhe dizer que o tempo passou e que não a reconheço. O tempo nos transforma, mas  seria indelicadeza.

Existem pessoas que ao envelhecer conservam os mesmos traços; a mesma fisionomia, às vezes mais bonita, como foi o caso de Caetano Veloso. 

Tenho uma tia incrível, a tia Isolda. Estávamos num supermercado, no recanto dos vinhos. Estava um pouco afastada dela, mas vi um senhor lhe fazendo uma consulta sobre os vinhos e me aproximei um pouquinho. Esse senhor lhe estendeu a mão para agradecer a dica, e perguntou:

- Dona Isolda, a senhora não está me reconhecendo?

Tia Isolda, mais do que depressa:

- Tais, olha só quem está aqui!! hahaha...

Assim mesmo, bem fingida e desnorteada, transferiu o drama para mim.

Consegui reconhecer a criatura, era o seu antigo vizinho! Reconheci o homem pela boca - tinha uma boca de peixe Baiacu! Não tinha como esquecê-lo. Não sei o que acontece, mas quando reconheço alguém é pela boca ou pelos dentes! Acho que me daria bem se trabalhasse num necrotério. Sou atenta a muitos detalhes, então salvei a titia da enrascada.

Porém, maior vergonha passei com minha melhor amiga de colégio que há muitos anos foi morar em Belo Horizonte. Casou-se e ficou por lá. E, com os filhos já adultos e formados, a família resolveu voltar para Porto Alegre. E certo dia, numa confeitaria...

- Oie, Taiiiis!!! Como estás amiga? Não estás me reconhecendo?

Meu Deus do Céu,  fiquei olhando para ela,  meio desnorteada.

- Pois  é  né...

- Sou a Claudinha!

- Báh, trocaste a cor dos cabelos, ficou difícil !

Nossa Senhora!! Piorou, foi um desastre.  A amiga engordou uns 30 quilos, as feições já não eram as mesmas e dei a desculpa dos cabelos? Foi trágico, embora minha intenção fosse boa.

Muito difícil esses encontros... a vida vai passando e a memória pouco ajuda.  Nem a boca, desta vez, reconheci!



Peixe Baiacu -  vizinho da tia Isolda...



 


14 de janeiro de 2025

O CONSELHO DO MENDIGO

 



       

                     - Tais Luso de Carvalho

 

       Há certos momentos, em nossas vidas, que não esquecemos. Muitas vezes relembro coisas maravilhosas, outras nem tanto, mas que tocaram meu coração de modo diferente.

Tempos atrás, ao levarmos nosso cachorro para seu passeio, passamos por um mendigo que ficou olhando, sorrindo para nosso cão, dando-lhe um Buenos dias, amigo! Foi um bom dia pra lá de gauchesco, lá da fronteira:  firme e forte.

Mas no início senti algo de estranho naquela atitude, uma postura um pouco diferenciada de mendigos. Senti, de imediato, a sensação de que o homem era diferente, mas ainda não sabia bem definir. Tinha algo de estranho ali. E comentei com Pedro. Não apresentava a humildade dos desprovidos nem a arrogância dos abastados. Mas algo ficou no ar. E fui caminhar pensando.

Cabelo e barba já revelavam certa idade, embora se mostrasse um mendigo desempenado. Com uma voz forte, deitado sobre um cobertor, trazia entre seus pertences uma cuia e bomba de chimarrão, a tradição gaúcha. E ainda o bom humor para dar um Buenos dias personalizado.

Continuamos o passeio, mas com o mendigo na cabeça. Na nossa volta, ele sorriu novamente para nosso cachorro, de corpo grande, baixinho, peludo, bem tratado e com uma capa de chuva!

Realmente, o quadro era engraçado (ou desgraçado?). Estava chovendo e o mendigo sem proteção, deitado debaixo da marquise, enquanto um cachorro passava com capa de chuva... Na hora senti o desconforto da situação. Um pouco de constrangimento.

Num dado momento, o mendigo gaúcho levantou-se para pegar uma mochila, mas não conseguiu caminhar sem a ajuda de uma velha bengala. Custou a dar 5 passos...  Pedro o ajudou a pegar a mochila que estava mais longe.

Com seu sotaque forte e bonito, o mendigo agradeceu e falou para Pedro:

- Olha, amigo, vou lhe dar um conselho: nunca beba... Fuja disso, fuja!

Nada perguntamos, nenhum dos "porquês" foi acionado. Mas lá no começo eu tinha sentido que havia algo bem diferente com esse mendigo.

Talvez um dia a gente venha a saber da sua história. Por enquanto conhecemos apenas o seu bom dia (Buenos dias), acompanhado de um sorriso diferente. Tão guapo quanto sua saudação.

Tomara que a vida dê voltas e que eu não o encontre mais assim como o encontrei naquele dia, não era um mendigo, ele estava na solidão dos abandonados.

E lutar sozinho é muito difícil.





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3 de janeiro de 2025

ESQUECER PARA RECOMEÇAR

 


 

       - Tais Luso de Carvalho


     Li, certa vez, uma matéria  na Revista Scientific American Brasil, que tratava de um estudo realizado por neurocientistas sobre o processo de formação de memórias. Consistia em alterar, substituir e até mesmo apagar lembranças traumáticas, projetos para que o ser humano fosse mais feliz. 

Pois então, mais um ano, e mais um recomeço. Muitas coisas boas aconteceram, outras nem tanto. É normal, faz parte do nosso aprendizado quando buscamos um melhor viver. A vida não é um oba-oba,  nem tudo é cor-de-rosa. É pé no chão. O resto é bazófia. 

Crescemos, amadurecemos, perdemos, ganhamos, mas continuamos grudados em fatos acontecidos que nunca tiveram a dimensão que um dia lhes foram atribuídos. Na verdade, penso eu, poucas coisas na vida têm grande importância, a maioria é firula, é descartável. Mas estão presentes, e ficam ali  à espreita, para um dia virarem mágoas que com o tempo petrificam e nos fazem vítimas de nós mesmos.

Seria ótimo esquecer de certas coisas que impedem que uma felicidade mais duradoura se aproxime. Esquecer doenças do passado, agressões, mentiras, mágoas etc. É difícil de passar uma borracha? Sem dúvida. Mas não é impossível.

Muitas vezes criamos raízes enormes que se vincularam a um passado remoto que já prescreveu seu tempo de validade.  Não podem pesar mais ao ponto de abrir brecha para a infelicidade.

Antigas mágoas, ingratidão, injustiças… Sim, machucam, mas é preciso uma intervenção para extirpar tal "infecção" e curá-la dentro da gente. É como se tivéssemos um enorme furúnculo, se deixá-lo por muito tempo, a intervenção será cada vez mais invasiva. As sequelas, maiores.

E pensando bem… o que há de tão importante a não ser o fato de levarmos a vida numa boa e com mais leveza? Existem caminhos que dão menos trabalho, honestidade e respeito com nossos semelhantes e com nossos sentimentos. Sermos mais leves conosco é a melhor maneira para vivermos uma vida sem sustos, sem arrependimentos. 

Uma das melhores coisas é quando a gente se conscientiza que precisa mudar, seja aos 40, 60, 80... E melhor ainda é quando conseguimos mudar.

E, enquanto eu tiver consciência, quero sentir o saldo positivo da renovação.