23 de agosto de 2025

SOLIDÃO - Tais Luso de Carvalho


SOLIDÃO

- Taís Luso de Carvalho


        Gosto de crônicas do cotidiano por poder narrar fatos que influenciam nossas vidas; falar de coisas, pessoas, sentimentos, alegrias, tristezas e que de uma forma ou outra nos fazem refletir. Os fatos escritos aqui podem ser apenas hilários, mas outros podem mexer com nossas emoções. E hoje não tem nada de hilário por aqui, e sim de triste.

Há uns dez dias, estávamos eu e Pedro vindo do almoço, quando um táxi estacionou no fio da calçada em que vínhamos. Uma senhora, já com bastante idade, não conseguia sair do carro. O taxista ficou na dele, sentado, sem prestar um mínimo de solidariedade.

Ao chegarmos perto dela, olhamos para aquela dificuldade e fomos ajudá-la. Estava ali para ir ao consultório médico, pois tinha passado por uma cirurgia do colo do fêmur e fraturado a bacia, também. Lembrei de minha mãe que há muitos anos passara pela mesma situação, e o tanto que foi traumático.

Levamos a senhora até a sala de recepção, e lá lhe perguntei por que ela estava sozinha… Disse-me que sua cuidadora não viera porque estava doente, mas ela não poderia perder a consulta. Não quis constrangê-la, não perguntei pelos seus filhos, netos, vizinhos e parentes. Não era hora.

Acomodou-se na cadeira e agradeceu muito. Perguntei-lhe como iria embora...nos oferecemos para esperá-la, mas ela não quis.

- Uma das serventes pedirá um táxi pra mim, filha, muito obrigada, que Deus proteja vocês.

Apesar de doente, percebi nela muita determinação. Mas seu corpo não acompanhava mais sua mente.

E desde aquele episódio - triste de ver - ainda lembro daquela senhora. São os caminhos tristes da vida que não têm como esquecer, não tem como varrer pra baixo do tapete e esconder essa sensação de vazio, de indiferença que se chama solidão - pelo motivo que for.

Várias situações me fazem lembrar do poeta Mário Quintana quando disse:

"Com o tempo não vamos ficando sozinhos apenas pelos que faleceram, vamos ficando sozinhos uns dos outros!"

           É isso. Triste assim.




 



6 comentários:

  1. Taís querida,

    sua crônica toca fundo porque revela uma realidade silenciosa e dolorosa: a solidão que se infiltra na velhice, muitas vezes invisível aos olhos apressados do mundo. A cena da senhora sozinha, tão determinada mas limitada pelo corpo fragilizado, grita em nós lembranças, medos e compaixões. É belo e humano o gesto de vocês, pequeno na aparência, mas imenso na delicadeza de amparar quem precisava. Suas palavras me lembram que o cotidiano, mesmo em sua simplicidade, guarda encontros que nos transformam e revelam o que realmente importa: a presença, o cuidado, a solidariedade. E a lembrança de Quintana fecha a crônica com chave de verdade e melancolia. É triste, sim, mas também profundamente humano.
    Né?

    Beijinho linda
    Fernanda!

    ResponderExcluir
  2. Olá, amiga Tais,
    Uma crónica muito pertinente que aqui nos trás. A solidão é um sentimento inquietante e perturbador quando é imposto. Seja porque razões forem. É uma triste realidade que nos cerca. Muitas vezes silenciosa.

    Gostei de ler esta sua crónica, estimada amiga.

    Beijinhos e bom fim de semana, com muita saúde e paz.

    Mário Margaride.

    ResponderExcluir
  3. É mesmo triaste demais tal situação e tantas outras que nem vemos, mas acontecem com os idosos. Chega a doer quando vemos e que bom essa senhora encontrou dois anjos para dar uma mão carinhosa!
    beijos praianos, chica

    ResponderExcluir
  4. Es muy triste la soledad en si . te mando un beso.

    ResponderExcluir
  5. Taís, uma crônica assim, crua e cruel, é necessária. Somos inundados com toda sorte de "juventudes" - os cremes, o preenchimento labial, o suplemento milagroso, os corpos jovens, as academias, a ausência de rugas, a primeira maratona aos 85 e assim não há espaço para um envelhecer que segue acontecendo...
    Que a gente não perca essa capacidade de olhar, perceber, sentir e agir, como vocês fizeram.
    Beijos!

    ResponderExcluir
  6. Boa noite de sábado, querida amiga Taís!
    É muito triste a velhice. Onde morava no RJ, eu via ao.vivo a solidão das idosas que tinham filhos, mas estavam sós, tinham dinheiro, mas não tinham companhia...
    Eu ia com elas ao médico até.
    Teve uma vez que cheguei numa e ela estava chorando, deprimida, eu a levei para passear, morava em frente à orla, animei-a, tirei fotos dela para alegrar o coração.
    Tinha vez que fazia um cafezinho para ela olhar o mar da minha janela. Viktaca para casa maia animada..
    Temos que nos cercar de amigas, as que moramos sozinhas
    Eu saio com elas para não acostumar com a tristeza. Inventamos modos de distrairmos também.
    Como gosto da minha solitude, procuro me esforçar para .não me isolar e ficar doente.
    Os filhos têm família e nem sempre eles podem dar atenção e você fez muito bem em ser discreta
    Eu também não sou de fazer perguntas para.não melindrar às amigas idosas tantas que tenho aqui.
    Procuro passear alegria a todas.
    Fico impressionada com quem tem marido e ainda reclama de tudo.
    Um casal de idoso tem a companhia um do outro.
    Os que moram sozinhos precisam de apoio.
    Gostei do tema da vez, querida.
    Tenha um final de semana abençoado!
    Beijinhos fraternos de paz

    ResponderExcluir

Muito obrigada pelo seu comentário, é muito valioso para mim.
Meu abraço, saúde e paz a todos!
Taís