SOLIDÃO
Gosto de crônicas do cotidiano por poder narrar fatos que influenciam nossas vidas; falar de coisas, pessoas, sentimentos, alegrias, tristezas e que de uma forma ou outra nos fazem refletir. Os fatos escritos aqui podem ser apenas hilários, mas outros podem mexer com nossas emoções. E hoje não tem nada de hilário por aqui, e sim de triste.
Há uns dez dias, estávamos eu e Pedro vindo do almoço, quando um táxi estacionou no fio da calçada em que vínhamos. Uma senhora, já com bastante idade, não conseguia sair do carro. O taxista ficou na dele, sentado, sem prestar um mínimo de solidariedade.
Ao chegarmos perto dela, olhamos para aquela dificuldade e fomos ajudá-la. Estava ali para ir ao consultório médico, pois tinha passado por uma cirurgia do colo do fêmur e fraturado a bacia, também. Lembrei de minha mãe que há muitos anos passara pela mesma situação, e o tanto que foi traumático.
Levamos a senhora até a sala de recepção, e lá lhe perguntei por que ela estava sozinha… Disse-me que sua cuidadora não viera porque estava doente, mas ela não poderia perder a consulta. Não quis constrangê-la, não perguntei pelos seus filhos, netos, vizinhos e parentes. Não era hora.
Acomodou-se na cadeira e agradeceu muito. Perguntei-lhe como iria embora...nos oferecemos para esperá-la, mas ela não quis.
- Uma das serventes pedirá um táxi pra mim, filha, muito obrigada, que Deus proteja vocês.
Apesar de doente, percebi nela muita determinação. Mas seu corpo não acompanhava mais sua mente.
E desde aquele episódio - triste de ver - ainda lembro daquela senhora. São os caminhos tristes da vida que não têm como esquecer, não tem como varrer pra baixo do tapete e esconder essa sensação de vazio, de indiferença que se chama solidão - pelo motivo que for.
Várias situações me fazem lembrar do poeta Mário Quintana quando disse:
"Com o tempo não vamos ficando sozinhos apenas pelos que faleceram, vamos ficando sozinhos uns dos outros!"
É isso. Triste assim.
Taís querida,
ResponderExcluirsua crônica toca fundo porque revela uma realidade silenciosa e dolorosa: a solidão que se infiltra na velhice, muitas vezes invisível aos olhos apressados do mundo. A cena da senhora sozinha, tão determinada mas limitada pelo corpo fragilizado, grita em nós lembranças, medos e compaixões. É belo e humano o gesto de vocês, pequeno na aparência, mas imenso na delicadeza de amparar quem precisava. Suas palavras me lembram que o cotidiano, mesmo em sua simplicidade, guarda encontros que nos transformam e revelam o que realmente importa: a presença, o cuidado, a solidariedade. E a lembrança de Quintana fecha a crônica com chave de verdade e melancolia. É triste, sim, mas também profundamente humano.
Né?
Beijinho linda
Fernanda!
Olá, amiga Tais,
ResponderExcluirUma crónica muito pertinente que aqui nos trás. A solidão é um sentimento inquietante e perturbador quando é imposto. Seja porque razões forem. É uma triste realidade que nos cerca. Muitas vezes silenciosa.
Gostei de ler esta sua crónica, estimada amiga.
Beijinhos e bom fim de semana, com muita saúde e paz.
Mário Margaride.
É mesmo triaste demais tal situação e tantas outras que nem vemos, mas acontecem com os idosos. Chega a doer quando vemos e que bom essa senhora encontrou dois anjos para dar uma mão carinhosa!
ResponderExcluirbeijos praianos, chica
Es muy triste la soledad en si . te mando un beso.
ResponderExcluirTaís, uma crônica assim, crua e cruel, é necessária. Somos inundados com toda sorte de "juventudes" - os cremes, o preenchimento labial, o suplemento milagroso, os corpos jovens, as academias, a ausência de rugas, a primeira maratona aos 85 e assim não há espaço para um envelhecer que segue acontecendo...
ResponderExcluirQue a gente não perca essa capacidade de olhar, perceber, sentir e agir, como vocês fizeram.
Beijos!
Boa noite de sábado, querida amiga Taís!
ResponderExcluirÉ muito triste a velhice. Onde morava no RJ, eu via ao.vivo a solidão das idosas que tinham filhos, mas estavam sós, tinham dinheiro, mas não tinham companhia...
Eu ia com elas ao médico até.
Teve uma vez que cheguei numa e ela estava chorando, deprimida, eu a levei para passear, morava em frente à orla, animei-a, tirei fotos dela para alegrar o coração.
Tinha vez que fazia um cafezinho para ela olhar o mar da minha janela. Viktaca para casa maia animada..
Temos que nos cercar de amigas, as que moramos sozinhas
Eu saio com elas para não acostumar com a tristeza. Inventamos modos de distrairmos também.
Como gosto da minha solitude, procuro me esforçar para .não me isolar e ficar doente.
Os filhos têm família e nem sempre eles podem dar atenção e você fez muito bem em ser discreta
Eu também não sou de fazer perguntas para.não melindrar às amigas idosas tantas que tenho aqui.
Procuro passear alegria a todas.
Fico impressionada com quem tem marido e ainda reclama de tudo.
Um casal de idoso tem a companhia um do outro.
Os que moram sozinhos precisam de apoio.
Gostei do tema da vez, querida.
Tenha um final de semana abençoado!
Beijinhos fraternos de paz