30 de março de 2025

PESSOAS DE DIFÍCIL RELACIONAMENTO

 

Tarcila do Amaral - Operários            Das Artes


          - Tais Luso de Carvalho

 

      Existem pessoas que deveriam fazer uma psicoterapia para serem mais felizes. Falo daquelas pessoas que têm opinião imediata e soluções para tudo. Tumultuam muito o meio em que vivem, ocasionando afastamentos facilmente. Você diz  A, elas dizem B - sem saberem o porquê, o negócio é contestar. É quase automático. Muito dramático esse convívio.

Tenho visto que depois de acirradas discussões, cada lado defendendo o seu ponto de vista, está feito o barraco. E isso se dá entre amigos, nos esportes, nas famílias, com os colegas de trabalho, nas reuniões de condomínio, nas Instituições. Muito desgaste emocional, os extremos se chocam, se matam e penso: por que esse desgaste monstruoso? Mas discutir virou vício. Muito ódio, principalmente nas discussões políticas.

Onde existe gente existe a tentativa de dominar, de fazer prevalecer as suas ideias, como se tudo na vida girasse em torno dessas "poderosas" ideias alheias.

Quando o papo se encaminha para temas como política, religião, futebol, educação, a agressão está instalada. Tudo começa sutilmente. O que antes era saudável, passou a ser suplício.

Uma conversa civilizada é o que todos os normais desejam, pois é perigoso polemizar por qualquer coisa. Uma conversa, em que as opiniões divergem, deveria ser encarado como algo democrático, mas a democracia só fica maravilhosa no papel e nos discursos de campanha política. Já senti que não polemizar me dá uma sensação de alívio e de paz. É ótimo podermos bancar uma atitude de desinteresse e não tentar impor nada, coisa nenhum a ninguém. Felizmente senti isso. Para quem quer paz, não tem coisa melhor.

Existem algumas coisas que são imutáveis no ser humano. Uma criatura que nasceu desagradável, arrogante e agressiva, jamais será alguém agradável, gentil e dócil. E isso não se consegue facilmente. Uma pessoa equilibrada,  facilitaria muito o convívio com os demais.

Talvez não adiante terapia para esse tipo de gente, se não houver força de vontade e consciência dessa compulsão para dirigir a vida de outras pessoas.

Gostaria de estar enganada, mas sei que a necessidade que essa gente tem de incomodar faz parte do seu caráter. Para lidar com esse tipo de gente o melhor é a indiferença e o afastamento.

Contudo, medida tão drástica é sempre triste. Posso estar errada, mas é o que sinto. Afinal, não temos todo o tempo do mundo para termos uma vida de boa qualidade.








22 de março de 2025

VOCÊ SE SENTE INFELIZ ?




                              - Tais Luso de Carvalho



As histórias que vejo todos os dias, da minha janela, são verdadeiras, não são ficção. Escrevo o que vejo e o que vivencio. Por morar, há muitos anos, perto de um hospital, já deu para constatar que entre as lindas rosas de seus jardins, também há muitos espinhos. Vejo o belo das flores e o belo do ser humano. E também vejo o lado hipócrita das pessoas.

Não preciso dizer que existem milhões de pessoas que cuidam de seus velhos com amor e carinho, como existem, também, os que são deixados ao abandono. E é desses que quero falar; dos abandonados.

De minha janela avisto uma bela natureza, mas a vida humana sem fricotes e sem encenações. É da minha janela que vejo o ser humano na sua arrogância e também na sua fragilidade.

Hoje meu olhar bateu num casal que subia pela calçada arborizada. Ele, deficiente, seu andar era inseguro e dependente. Ela, meio altiva, e alienada do pobre homem. Notei a desatenção e fiquei observando aquela cena até que entraram no hospital.

Isso que vi, me fez lembrar das cenas que vi dentro de um asilo, pela televisão. Deprimente. Um depósito de idosos, sofridos e abandonados.

Não falo da parte física da instituição, falo dos parcos sentimentos de compaixão, de amor e de carinho. Falo do descaso e do abandono. Gente que se sente só. São pessoas que demonstram um pouquinho de alegria com qualquer visita. Com qualquer estranho.

Não estou falando de Casas de Repouso, com ótima infraestrutura, fisioterapeutas, médicos, dentistas e onde se paga muito bem. Isso é outra coisa. Entendo que em muitos casos, essas casas de saúde são necessárias. Reconheço que muitas vezes não há outra coisa a fazer, pelas doenças estarem já muito avançadas.

Envelhecer e ficar doente é difícil, é sentir-se um peso para a família, alguém inútil, e isso dói demais. Impossível não ver tristeza no olhar de um velhinho. Tenho muita pena dos velhinhos: bato direto meu olhar em seus olhos e vejo aquele brilho revelador...

Muitas pessoas fogem de certos assuntos, mas pensar só nas alegrias da vida? Não consigo, nosso mundinho não é tão feliz.

Chocou-me, um dia, quando ouvi alguém dizer: 'Eu trato bem os meus filhos porque um dia vou precisar deles! Não aceito esse tipo de atitude. Amor não se comercializa, não é um “toma lá dá cá!” Amor é único, verdadeiro e incondicional. Podemos ser alegres como tristes, mas nunca alimentar algo que possa servir, apenas, para uma troca futura. Uma negociata. Amar é outra coisa.

Muitos esquecem que a vida não é condescendente com nossos erros; mais tarde ela cobrará nossos atos e perguntará o porquê de certos erros. E teremos a cota-parte que merecemos.








 

12 de março de 2025

FESTA: A ESCOLHA DOS CONVIDADOS

Obra de Juarez Machado / Brasil


                     
                          - Tais Luso de Carvalho

                   

      Sabem vocês, daquela situação desagradável quando idealizamos um jantar em nossa casa e ficamos surpresos quando um dos convidados chega com cara de cachorrão extraviado? Falo daquelas pessoas que estão sempre de mal com a vida. Nada está bom. Nunca!

Nessas ocasiões, por certo, arrumamos a casa, tudo nos devidos lugares, e a janta no capricho. Conseguimos, por algum tempo, que marido, filhos, cachorro e tartaruga não se saracoteiam muito, que mantenham a casa em ordem.

Então chega a turminha na hora combinada. Também chega junto um dos convidados vestido de infelicidade, aquele que chega sempre contrariado, emburrado.

A noite que prometia ser ótima, passa a ser pesada. Mas uns anfitriões lidam bem com essa paranoia alheia; outros não conseguem lidar com a situação e se estressam. 

E nesses dissabores reflito que nossa festa não pode ter um divã, não pode ser um laboratório de pesquisas, consultório sentimental ou ter a sombra da Madre Tereza de Calcutá, em que as atenções se viram para um único convidado: o extraviado. Não é sempre que estamos dispostos a ser um voluntário das causas difíceis.

É difícil lidar com pessoas complicadas, que murcham a festa. E isso que não sou muito amiga de festas em casa! Depende das circunstâncias.

Lembro de um jantar em que sentei ao lado de uma pessoa que só falava de suas cirurgias, filosofava sobre a morte e eu ali, tentando engolir a gororoba. Passaram-se 10 anos e ainda lembro da criatura. Acho que ela me achou com cara de enfermeira ou terapeuta de emergência.

Por isso é tão importante a escolha do grupo a ser convidado para uma reunião alegre, leve e solta. Uma reunião perfeita não depende apenas das comidas, depende das pessoas que convidamos, além do humor e delicadeza dos donos da festa, é claro. Caso contrário, tudo vai pro brejo.

Já pensaram como é triste dizermos, no final,  que não valeu a pena?




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5 de março de 2025

UM MUNDO MARAVILHOSO

 


UM MUNDO MARAVILHOSO

               -  Tais Luso de Carvalho

     Diria que a felicidade e a tristeza caminham de mãos dadas, se alternam no curso de nossas vidas. Então nada como evocar esse planeta maravilhoso a fim de recarregar minha tranquilidade em minhas emoções.

Prefiro buscar essa natureza exuberante, de ver a pureza dos animais,  a grandeza das rochas, do mar, dos cânions. Sentir a grandeza do sol, da lua e o infinito céu – me fazem melhor.  Ver e sentir a maravilhosa Natureza e nada mais. As maldades do mundo, e com extrema força, tendem  a ir muito longe. E cansamos um pouco de esperar por soluções.

No Brasil, não tem quem não conheça a frase de um antigo malandro desprovido de neurônios: “O importante é levar vantagem em tudo, certo?”

Esta frase está numa seara infeliz e doentia. E perambula por esse mundo afora com muitos seguidores. Não há mais lugar para disparates. Espero, dentre tantas coisas, a moralização do meu país, mas não é coisa fácil. Reverter esse quadro de agonia não é para agora. Sentir medo é uma das piores sensações. Jamais encontraremos a paz duradoura fora dos padrões reais e verdadeiros da ética e da moral.

Mas quem sabe  para as  gerações futuras, bem  mais adiante...?

          



Mosteiro no Butão


Lago Annecy / leste da França

Planeta Maravilhoso, 
 mas a vida não basta para os poderosos!




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19 de fevereiro de 2025

O SEPARADOR DE AFETOS

 

Num Barzinho para  conversarem  e... os Smartphones  


                                               ___ Tais Luso de Carvalho___



Hoje quero falar daquele aparelho pequenino, que ninguém desgruda dele e conosco fica 24 horas - o separador de afetos.

Quanto mais ando nas ruas, nos shoppings, clínicas etc., mais me surpreendo com pessoas desligadas. Todas elas muito apressadas. Muitas atravessam as passarelas dos semáforos olhando para seus aparelhos, procurando algo importante nas suas redes sociais. A vida está cada vez mais acelerada, porém mais solitária. Mas esse “amigão’ está sempre presente.

Ontem vi uma jovem oferecer seu braço para uma moça cega atravessar a larga avenida e levá-la ao seu destino, aqui no bairro mesmo. Que lindo! É raro ver isso, não há mais tempo para gentilezas, até nas visitas para os parentes reinam os Smartphones. Esse pequenino objeto espalhou-se pelo mundo inteiro, e parece não haver vida sem ele.

Criancinhas, já com 1 ano, estão com Smartphones num tec, tec, tec, e são consideradas geniais pelos pais que dizem:

- Olhem como ela é inteligente!!

Crescem e manobram a informática com facilidade, sem dúvida, mas pouco acostumadas às gentilezas. Intoxicam-se com a vasta tecnologia e, enquanto crescem, seus celulares sabotam seus sonos e sonhos.

Há carência de afetos, e estou ciente que isso é irreversível. O mundo seguirá seu curso com as novas gerações, com novíssimas ofertas e com muito mais aplicativos. Teremos de nos adaptar a muitas coisas, inclusive à solidão.

Sentamos no computador, lemos, escrevemos, nos comunicamos, mas ao desligá-lo muitos sentem um grande vazio e pegam o Smartphone. Pronto! Vicio é isso. Não é assim no mundo inteiro? 

Estamos quase colonizando o planeta Marte, mas os humanos pouco sabem sobre ‘Felicidade’. Mas um dia, com muita ajuda, chegaremos lá. Ou não. Os excessos nunca deram certo.



Jovens descansando  e... os  Smartphones


Encontros de família e...  os Smartphones

                                            


 


7 de fevereiro de 2025

TEXTOS: CURTOS OU LONGOS?

 

                           Obra: Alice Williams - EUA / 1990


                       - Taís Luso de Carvalho


      Faz muito tempo que participei de concursos literários. Minha escolha caiu em crônicas. Mas uma das exigências dos concursos era o tamanho do texto. Foi nessa época que aprendi o tanto de laudas que eu teria de obedecer nas crônicas. Nada longo. Foi uma das observações que segui à risca. E hoje, em meus blogs, tenho mais ou menos um padrão certo. Sigo com naturalidade, mas sempre me policiando para conseguir dizer o que quero sem me estender muito, a enxugar o texto, isso significa tirar tudo que não interessa ao leitor, para que a leitura não fique dispersa e cansativa. E pensando bem, para que tantos adjetivos e penduricalhos? Vejam o exemplo deste meu texto abaixo:

"O cavalo era baio, de crinas compridas e desparelhas, uma cruza de um belo garanhão chamado Arcônios com uma égua branca chamada Cigana, animais que vieram da Argentina – país frio ao sul do Brasil -, celeiro de raças puras e fortes, dirigidas mais para o esporte hípico".

Viram que saco (rss) ? Que importância tem as crinas compridas e desparelhas, e a linhagem dos animais não tem importância, só enche linguiça! São detalhes que não interessam numa crônica. Essa descrição só pode interessar a quem pretende comprar um cavalo e uma égua. Ver sua genealogia, seu pedigree.

Procuro escrever crônicas com poucas palavras e trabalhar o principal. Encher linguiça é uma expressão usada que significa enrolar, no sentido de falar o que não tem importância. O que não for necessário.

Uma das coisas que mais aprecio é colocar a ideia no computador e depois dar forma e cortar os excessos. Cortar, cortar sem medo. Mas aprendi isso graças a inúmeros cronistas e contistas que sempre  li e continuo a ler. A poesia também me ensinou muito a sintetizar a ideia e a dar ritmo e harmonia ao texto.

Mario Quintana conta, no seu livro Caderno H, pg. 154, que seu professor, nos tempos de ginásio, disse aos alunos na aula de redação: "não adianta escrever muito, meninos, porque só leio a primeira página, o resto eu rasgo".

E foi dessa maneira, não muito delicada, que Quintana ficou eternamente grato ao professor Major Leonardo Ribeiro:Foi a melhor lição de estilo, obrigando-nos a reter as rédeas de Pégaso e a dizer tudo nas trinta linhas do papel almaço”.

Também eu, fico grata ao nosso querido poeta Mario Quintana!




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26 de janeiro de 2025

TRAPALHADAS NO TEMPO

 



                - Tais Luso de Carvalho


        Pois é, a gente vai vivendo, a vida vai passando, e sempre aparecem pessoas que não reconhecemos mais. E os constrangimentos acontecem com mais frequência: de onde conheço esta criatura?

A pessoa sorri, vem falar… Que situação! E o clima do encontro, inevitavelmente cai. Minha tática é ficar enrolando até dar o clique na minha memória.

Pergunto o que ela tem feito, onde está residindo, como estão os filhos (que filhos?), perguntas rápidas à procura de um indício.

Quem é ela, pelo amor de Deus? - pergunto ao meu inconsciente.

Não poderia lhe dizer que o tempo passou e que não a reconheço. O tempo nos transforma, mas  seria indelicadeza.

Existem pessoas que ao envelhecer conservam os mesmos traços; a mesma fisionomia, às vezes mais bonita, como foi o caso de Caetano Veloso. 

Tenho uma tia incrível, a tia Isolda. Estávamos num supermercado, no recanto dos vinhos. Estava um pouco afastada dela, mas vi um senhor lhe fazendo uma consulta sobre os vinhos e me aproximei um pouquinho. Esse senhor lhe estendeu a mão para agradecer a dica, e perguntou:

- Dona Isolda, a senhora não está me reconhecendo?

Tia Isolda, mais do que depressa:

- Tais, olha só quem está aqui!! hahaha...

Assim mesmo, bem fingida e desnorteada, transferiu o drama para mim.

Consegui reconhecer a criatura, era o seu antigo vizinho! Reconheci o homem pela boca - tinha uma boca de peixe Baiacu! Não tinha como esquecê-lo. Não sei o que acontece, mas quando reconheço alguém é pela boca ou pelos dentes! Acho que me daria bem se trabalhasse num necrotério. Sou atenta a muitos detalhes, então salvei a titia da enrascada.

Porém, maior vergonha passei com minha melhor amiga de colégio que há muitos anos foi morar em Belo Horizonte. Casou-se e ficou por lá. E, com os filhos já adultos e formados, a família resolveu voltar para Porto Alegre. E certo dia, numa confeitaria...

- Oie, Taiiiis!!! Como estás amiga? Não estás me reconhecendo?

Meu Deus do Céu,  fiquei olhando para ela,  meio desnorteada.

- Pois  é  né...

- Sou a Claudinha!

- Báh, trocaste a cor dos cabelos, ficou difícil !

Nossa Senhora!! Piorou, foi um desastre.  A amiga engordou uns 30 quilos, as feições já não eram as mesmas e dei a desculpa dos cabelos? Foi trágico, embora minha intenção fosse boa.

Muito difícil esses encontros... a vida vai passando e a memória pouco ajuda.  Nem a boca, desta vez, reconheci!



Peixe Baiacu -  vizinho da tia Isolda...



 


14 de janeiro de 2025

O CONSELHO DO MENDIGO

 



       

                     - Tais Luso de Carvalho

 

       Há certos momentos, em nossas vidas, que não esquecemos. Muitas vezes relembro coisas maravilhosas, outras nem tanto, mas que tocaram meu coração de modo diferente.

Tempos atrás, ao levarmos nosso cachorro para seu passeio, passamos por um mendigo que ficou olhando, sorrindo para nosso cão, dando-lhe um Buenos dias, amigo! Foi um bom dia pra lá de gauchesco, lá da fronteira:  firme e forte.

Mas no início senti algo de estranho naquela atitude, uma postura um pouco diferenciada de mendigos. Senti, de imediato, a sensação de que o homem era diferente, mas ainda não sabia bem definir. Tinha algo de estranho ali. E comentei com Pedro. Não apresentava a humildade dos desprovidos nem a arrogância dos abastados. Mas algo ficou no ar. E fui caminhar pensando.

Cabelo e barba já revelavam certa idade, embora se mostrasse um mendigo desempenado. Com uma voz forte, deitado sobre um cobertor, trazia entre seus pertences uma cuia e bomba de chimarrão, a tradição gaúcha. E ainda o bom humor para dar um Buenos dias personalizado.

Continuamos o passeio, mas com o mendigo na cabeça. Na nossa volta, ele sorriu novamente para nosso cachorro, de corpo grande, baixinho, peludo, bem tratado e com uma capa de chuva!

Realmente, o quadro era engraçado (ou desgraçado?). Estava chovendo e o mendigo sem proteção, deitado debaixo da marquise, enquanto um cachorro passava com capa de chuva... Na hora senti o desconforto da situação. Um pouco de constrangimento.

Num dado momento, o mendigo gaúcho levantou-se para pegar uma mochila, mas não conseguiu caminhar sem a ajuda de uma velha bengala. Custou a dar 5 passos...  Pedro o ajudou a pegar a mochila que estava mais longe.

Com seu sotaque forte e bonito, o mendigo agradeceu e falou para Pedro:

- Olha, amigo, vou lhe dar um conselho: nunca beba... Fuja disso, fuja!

Nada perguntamos, nenhum dos "porquês" foi acionado. Mas lá no começo eu tinha sentido que havia algo bem diferente com esse mendigo.

Talvez um dia a gente venha a saber da sua história. Por enquanto conhecemos apenas o seu bom dia (Buenos dias), acompanhado de um sorriso diferente. Tão guapo quanto sua saudação.

Tomara que a vida dê voltas e que eu não o encontre mais assim como o encontrei naquele dia, não era um mendigo, ele estava na solidão dos abandonados.

E lutar sozinho é muito difícil.





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3 de janeiro de 2025

ESQUECER PARA RECOMEÇAR

 


 

       - Tais Luso de Carvalho


     Li, certa vez, uma matéria  na Revista Scientific American Brasil, que tratava de um estudo realizado por neurocientistas sobre o processo de formação de memórias. Consistia em alterar, substituir e até mesmo apagar lembranças traumáticas, projetos para que o ser humano fosse mais feliz. 

Pois então, mais um ano, e mais um recomeço. Muitas coisas boas aconteceram, outras nem tanto. É normal, faz parte do nosso aprendizado quando buscamos um melhor viver. A vida não é um oba-oba,  nem tudo é cor-de-rosa. É pé no chão. O resto é bazófia. 

Crescemos, amadurecemos, perdemos, ganhamos, mas continuamos grudados em fatos acontecidos que nunca tiveram a dimensão que um dia lhes foram atribuídos. Na verdade, penso eu, poucas coisas na vida têm grande importância, a maioria é firula, é descartável. Mas estão presentes, e ficam ali  à espreita, para um dia virarem mágoas que com o tempo petrificam e nos fazem vítimas de nós mesmos.

Seria ótimo esquecer de certas coisas que impedem que uma felicidade mais duradoura se aproxime. Esquecer doenças do passado, agressões, mentiras, mágoas etc. É difícil de passar uma borracha? Sem dúvida. Mas não é impossível.

Muitas vezes criamos raízes enormes que se vincularam a um passado remoto que já prescreveu seu tempo de validade.  Não podem pesar mais ao ponto de abrir brecha para a infelicidade.

Antigas mágoas, ingratidão, injustiças… Sim, machucam, mas é preciso uma intervenção para extirpar tal "infecção" e curá-la dentro da gente. É como se tivéssemos um enorme furúnculo, se deixá-lo por muito tempo, a intervenção será cada vez mais invasiva. As sequelas, maiores.

E pensando bem… o que há de tão importante a não ser o fato de levarmos a vida numa boa e com mais leveza? Existem caminhos que dão menos trabalho, honestidade e respeito com nossos semelhantes e com nossos sentimentos. Sermos mais leves conosco é a melhor maneira para vivermos uma vida sem sustos, sem arrependimentos. 

Uma das melhores coisas é quando a gente se conscientiza que precisa mudar, seja aos 40, 60, 80... E melhor ainda é quando conseguimos mudar.

E, enquanto eu tiver consciência, quero sentir o saldo positivo da renovação.







9 de dezembro de 2024

QUE NÃO SE PERCA A ESPERANÇA

 

Parque Keunkenhof - Amsterdã


                      - Taís Luso de Carvalho


        Sem dúvida alguma, nossos sentimentos se diferenciam muito nas festas de Final de Ano. Não vejo sentimento igual em outras datas. No Natal a reciprocidade dos nossos votos de felicidade e de solidariedade é muito expressiva. Os corações ficam tomados por afetos e delicadeza. Há uma magia diferente em torno dessas duas datas de final de ano. Uma avalanche de coisas boas que desejamos aos amigos, e com absoluta sinceridade.

Lembro de outras datas, como a Páscoa e o Carnaval, datas também  importantes. No Carnaval nos desnudamos e nos vestimos de alegria: de reis, rainhas, palhaços e muito samba no pé! Na verdade o que muitos buscam é esquecer um pouco das tristezas e carências existentes em vários seguimentos de nossa sociedade, para viverem alguns dias de felicidade. E assim somos nós, seres humanos muito complexos, por vezes sentimentais e humanos, outras vezes apáticos, indiferentes.

Não gosto muito da passagem do Ano Novo, sei que é apenas um momento de ilusão, dias depois tudo seguirá seu curso, como tem sido. As bombas e mísseis continuarão a cortar os céus desse sofrido planeta, escasso de paz, de amor e de perdão.

Difícil pensar assim após a beleza do Natal, onde nossos corações se enchem de emoção com as belas imagens do Menino Jesus e a canção de Natal!

Gostaria de acreditar na evolução da nossa espécie. Somos mais de 8 bilhões de humanos rogando por um milagre. Merecemos sair do eterno “faz de conta”.

Lembro do nosso grande Ariano Suassuna quando disse:

“Não sou nem otimista, nem pessimista. Os otimistas são ingênuos, e os pessimistas amargos. Sou um realista esperançoso!”


 

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Boas Festas e meu carinho aos amigos 

do Porto das Crônicas!

 

  




26 de novembro de 2024

MUDAR DE CASA, MUDAR A CASA, MUDAR...


 

                              - Tais Luso de Carvalho


          Há muitos anos eu adorava mudar os móveis e os objetos de lugar. Mudar a cara da casa; criar, inventar – estilo professor Pardal, o pato desastroso.

Algumas coisas foram ótimas, outras um desastre anunciado, como um jardim suspenso que tentei fazer com pedras de mármore - a sétima maravilha do mundo - dentro de um apartamento!

Eu dizia à minha família que seria ótimo, uma questão de adaptação. Assim, com o tempo, ninguém mais se esborracharia pelo chão batendo nas coisas. Na verdade, eu enrolava a turma...Mas de vez em quando não dava certo. E um dia parei com essa neura.

Mas, na medida que mudar a casa é prazer; mudar de casa é estressante, um suplício:

- Não encosta aqui, coloca lá, cuida o chão moço!! Olha a mão na parede pintada !

Não existe mudança em que as criaturas não se escorem nas paredes para descansar. E depois de tudo, começa a segunda etapa da tragédia: chamar o eletricista, o encanador, o pessoal especializado, que marcam uma hora e aparecem antes.

Mas o ponto máximo dessas loucuras de mudanças é o que ainda encontro de bugigangas, de lembrancinhas (sem mais sentido), de canetas pré-históricas, agendas obsoletas, roupas das cavernas, sapatos, louças duplas e quatrocentas inutilidades que atravancam a vida. Faço doações, mas quando vejo a montanha de inutilidades cresceu! Hoje, prefiro que minhas recordações permaneçam mais no coração. Nele há espaço. Mas é um exercício diário. Difícil.

Cria-se, assim, uma área mais livre em casa. Espaço é luxo. Luxo no sentido de amplidão, o luxo em si não faz minha cabeça.

Mas mudanças se farão sempre em nossas vidas, mesmo contra nossa vontade: mudamos os cabelos, os dentes, a fisionomia, a pele; trocamos os sonhos, mudamos as prioridades. Experiências são inevitáveis; umas ótimas, outras nem tanto, mas tudo é um aprendizado e enriquecimento.

E tudo é válido, até o dia em que esbarrarmos com a nossa última morada:

Aquela… Sem decoração, sem enfeites, talvez deixando saudades do que fomos.

          É o que fica.




 


17 de novembro de 2024

SOBRE OS AMIGOS – Allan Percy

 



SOBRE OS AMIGOS

           - Allan Percy

                 

Amigos deveriam ser mestres em adivinhar e calar: não se deve querer saber tudo.

Como a verdadeira amizade se fundamenta na admiração e no respeito mútuos, as palavras de Nietzsche destacam a descrição como uma característica necessária entre amigos.

Grandes vínculos se quebraram pela insistência de uma das partes em fiscalizar a outra. No momento em que deixamos de ser companheiros para assumir um papel paternalista, algo se rompe na amizade. A naturalidade dá lugar à dominação e se estabelece um jogo de poder que não beneficia em nada a relação.

No âmbito das confidências, é importante que cada indivíduo tenha a liberdade de decidir quanta intimidade quer compartir com os demais. Ultrapassar esse limite nos transforma em invasores e pode acabar causando desentendimentos.

Um pensamento do escritor e filósofo Albert Camus, que curiosamente também é atribuído a Maimônides, reflete muito bem sobre o segredo da amizade:

Não caminhar na minha frente, porque talvez eu não possa segui-lo. Não caminhe atrás de mim, porque talvez eu não possa guiá-lo. Caminha ao meu lado e seremos amigos.

 

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 Referência:

Allan Percy – 1968

Nietzsche para estressados

Ed. Sextante pag 54 – 2011

Nietzsche, Friedrich Wilhelm, 1844 – 1900

Aconselhamento filosófico. 

          Tradução Rodrigo Peixoto.

         

            





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4 de novembro de 2024

O PLANETA PEDE SOCORRO!

 



O PLANETA PEDE SOCORRO!

                                 - Taís Luso de Carvalho


Não sei até quando nosso mundo aguentará o peso de tanto ódio entre os humanos e o enorme descaso com a natureza. O pacote já está pronto para o desespero e agonia. Enchentes e Queimadas terríveis em diversos pontos do planeta, já é um pedido de socorro. Mas, não há socorro suficiente. Apaga aqui, aparece ali… É da mão humana, sem dúvida.

Com tanto ódio, com tantas guerras, com tantos horrores circulando pelo mundo afora, ando com a sensação de que estamos nos acostumando com muitas coisas.

Inocentes chorando, sofrendo, morrendo nessas guerras miseráveis e nada do que se faz por aqui surte efeito! O mesmo mal se repete por anos. E claro, isso tudo nos torna frágeis, carentes, infelizes e descrentes.

A vida, está muito dura, pessoas com psicopatias, desorientadas e desassistidas vivendo no planeta como birutas, malucas destruindo outras vidas. As guerras ideológicas que se instalaram no Brasil, e não só nele, são extremadas e desanimadoras. É ódio puro. Parece que o fim do mundo está se aproximando.

O que esses poderosos desorientados lucrarão ao enviarem centenas de misseis cobrindo esses espaços entre seus países em guerra? Mais poder, mais conquistas, mais inimigos, milhares de mortos inocentes! Mais poderio bélico rasgando os céus com rastros de ódio. Somos nós os pobres coitados. Logicamente tais criaturas não têm noção do verdadeiro valor da vida. Ignoram o que seja amor e paz.

De um lado esse ranço horroroso e doentio; e do outro lado vemos o contrário. Sim, existe um lado lindo que torna as pessoas mais felizes por se sentirem úteis e amadas. Por terem a capacidade de amar. Mas outros ficam felizes com a desgraça, com a morte.

Senhores, afoguem as suas Guerras, sejam mais humanos, mais inteligentes! Soltem as armas e lutem pelo amor. Não nascemos para o ódio. O amor quando se instala nos corações humanos, deixa tudo mais lindo e feliz. E nada tão bom como os sentimentos de compaixão e de gratidão!

Um dia seremos pó e lembranças, nada além disso. Não esqueçamos, então, o bem que podemos fazer em vida! Seremos lembrados com carinho e gratidão. E muitos serão lembrados como Heróis.

Mudem o rumo da História para o bem da humanidade, Senhores, o planeta clama por socorro, e os humanos, querem acreditar num futuro mais belo e de paz. 

É  isso o que eu quero também, mas me parece apenas um sonho.