14 de junho de 2025

MORRER COM DIGNIDADE

 

Ciência e caridade 1897 / Picasso


MORRER COM DIGNIDADE

   - Tais Luso de Carvalho



      Moro perto de um hospital e também de um parque. Duas realidades que me mostram o ser humano num momento feliz, e no outro momento a luta pela sobrevivência. De um lado a exuberância da natureza; do outro lado, longe dos Jacarandás e dos Ipês se vê o setor de emergência: sofrimento, desgraça, súplica e a certeza de que não se tem mais muito tempo pra sonhar.

Não tenho nenhum problema com a morte, mas não diria o mesmo se sofresse dor física: sofrer para depois morrer! Não dá para entender que com tanta tecnologia descoberta e aprimorada, quando em segundos nos comunicamos com o mundo inteiro, quando satélites nos enviam fotos e dados com precisão, há pessoas, ainda, que morrem com muito sofrimento.

Não dá pra admitir que se espere por um milagre quando não há a mínima chance de cura, e que se aplique ao paciente um sofrimento adicional; que se atrase o seu último suspiro pelo fato de seu médico achar que deva prolongar ao máximo sua vida, mesmo levando o paciente a um sofrimento físico e psíquico. Penso que esta é a hora de humanizar a morte, de não tê-la tão pesada, se assim posso dizer.

Estamos no século XXI e temos o direito de saber de nossa saúde, das nossas possibilidades de cura, dos efeitos de um tratamento, enfim.

O que todos nós queremos e procuramos é um profissional ético e humano; não cabe mais ao médico decidir sozinho o caminho a ser trilhado pelo paciente.

Existe certa polêmica em torno de três fatos bem conhecidos:

Um é sobre a Eutanásia - prática pelo qual se abrevia a vida de um paciente, de maneira assistida e o induzem ao estado de coma para que não sofra.

Existe a Eutanásia ativa e passiva; na primeira hipótese é vista como um suicídio assistido – uma pessoa que executa, e a passiva é o próprio paciente que provoca seu fim, apesar de ter ajuda de terceiros.

A terceira forma é a Distanásia, que consiste em atrasar o momento da morte, usando de todos os meios, mesmo não havendo esperança, apenas para manter o paciente vivo o maior tempo possível. A literatura norte-americana utiliza esse termo Distanásia como tratamento fútil.

Já os franceses consideram tal conduta como sendo “encarniçamento terapêutico”, ou seja, a utilização de medidas desproporcionais que postergam a morte, sem que se ofereça ao paciente qualquer qualidade de vida.

A Ortotanásia – significa ‘morte correta’. Seria não usar de aparelhos ou de meios para prolongar a vida, Já não nenhuma chance, mas paliativos para evitar sofrimentos, para que o paciente morra sem dor,

Morrer já é um fato desesperador, por que não dar ao ser humano condições de paz e de escolha? Morrer com dignidade é um ato de compaixão e de humanidade, uma demonstração máxima de amor por aqueles que amamos a vida inteira.

O escritor, poeta, compositor e filósofo Antônio Cícero, que ocupava a cadeira número 27 da Academia Brasileira de Letras, irmão da conhecida cantora Marina Lima, foi à Suíça morrer com dignidade – segundo suas palavras. Sofria do Mal de Alzheimer, e morreu com o suicídio assistido em 2024, aos 79 anos – procedimento legalizado naquele país.








8 de junho de 2025

CONHEÇA A SUA INIMIGA: A BARATA

 


- Tais Luso de Carvalho


      Não entendo porquê esses insetos me causam tanto pavor. É uma fobia diferente: busco a guerra. Como sempre, é melhor conhecer os nossos inimigos e seu modo de agir. E fui buscar conhecimentos. Baratas se alimentam de lixo e restos orgânicos. As baratas existem há 350 milhões de anos! São 3.500 espécies conhecidas, mas somente 35 vivem em ambiente doméstico – o que já leva muitas mulheres à loucura. No Brasil as baratas mais comuns são a Blatella Germânica e a Periplaneta Americana. Pra mim tanto faz seus nomes e suas classificações. Barata é barata.

As baratas comem de tudo, mas adoram gordura. Uma boa panela suja, esquecida à noite, é um prato cheio. Como andam e fazem cocô sobre os alimentos, carregam germes por onde passam e transmitem muitas doenças como a cólera, herpes, hepatite B, alergias, diarreia, febre tifoide entre outras tantas. Penso que já está de bom tamanho essas consequências por vivermos no mesmo mundo. Ou no mundo delas, já que estão aqui há mais tempo.

Podem viver até 4 anos. Não gostam do cheiro de lavanda, louro e cravo. As fêmeas põem 50 Ootecas (saquinhos que protegem os ovos). Cada um dos saquinhos tem 16 embriões que nascem em 45 dias para o tormento do mundo.

Eu não sobreviveria 45 dias sem comida, 15 dias sem água e 3 dias sem cabeça, mas as baratas conseguem: elas resistem porque seu sistema nervoso é difuso e não depende da cabeça para funcionar. Nós, sem cabeça, não servimos pra nada.

Quase sempre vi baratas morrerem de costas, algo que me intrigava. Isso acontece porque seu casco é mais pesado que o corpo e, quando elas ficam tontas, perdem o equilíbrio e viram de barriga pra cima. Esse é o motivo.

Muitos pensam que numa guerra nuclear, as chances de sobrevivência das baratas seria de 100%. Um pouco de exagero, mas que suportariam mais do que nós e outras espécies, não há dúvidas. Isso aconteceria devido aos lugares subterrâneos que habitam, portanto estariam protegidas das radiações, como também se alimentariam de qualquer matéria orgânica. O que não faltaria, naturalmente.

Os predadores das baratas são as lagartixas, formigas, aranhas, escorpiões, fungos, ácaros…

Mas o que me deixa muito incomodada não é por elas conseguirem viver 3 dias sem cabeça e eu ter de topar com uma delas. O que me incomoda é quando vejo uma mostrenga dessas na porta do meu prédio e meu marido clama por sua vida:

Não mata, deixa o bichinho seguir…

Mas se ela aportar lá em casa?

E não matei, eu devia estar doente da cabeça...

Existem certas coisas que preciso renascer para acreditar - fraquejei! 

        




 


1 de junho de 2025

O DIA ESPECIAL - Tais Luso de Carvalho

 

Juarez Machado / SC - Brasil



O DIA ESPECIAL

       - Tais Luso de Carvalho



Hoje abordo um assunto que sempre chamou minha atenção. Ter mais idade tem lá algumas vantagens, ficamos mais acesos para muitas coisas, mais seletivos.

As bobagens, certas futilidades tendem a desaparecer. Mas outras coisas permanecem para uma vida inteira, resultado de nossa educação. Mesmo assim a vida dá uma mãozinha: "cuide ali, vá por aqui, não entre em frias ".

Lembro de um amigo nosso que possuía uma excelente adega, por onde viajava comprava excelentes vinhos. Mas guardava os da melhor safra para beber numa Data Especial. Uma data que merecesse aquela bebida dos deuses.

Um dia esse amigo faleceu e os seus melhores vinhos ficaram para serem tomados pelos parentes. Mas não mais por ele, naqueles  esperados Dias Especiais. E os parentes dividiram os tantos vinhos que ficaram.

Da mesma forma, há muitas pessoas que compram as coisas para usarem num futuro, como roupas, sapatos, bolsas, perfumes... Também esperam as Datas Especiais para usá-las.

Um dia, olhando meu roupeiro, vi que eu estava, sem querer, imitando minha mãe: tinha lá roupas de 2 anos, ainda com etiqueta, sem uso. Roupas para serem usadas num Dia Especial. E pensei: por que isso?

Passou um tempo, minha mãe faleceu e fui à sua casa arrumar e dar jeito em tudo. Ao abrir seu roupeiro senti tanta pena, fiquei tão machucada... Tantas coisas compramos juntas nas nossas idas aos shoppings. Quantos momentos de alegria passamos escolhendo tudo aquilo! Mas estavam lá guardadas, intocáveis, e até laços cor-de-rosa enfeitavam as bonitas blusas dobradas com capricho. Mas faltou-lhe tempo!

Por que guardar as coisas para um futuro incerto? Por que não beber o melhor vinho no dia que desejamos?

A partir desse fato, mudei meu modo de pensar. Hoje uso a bolsa que mais gosto nos dias mais comuns; coloco as roupas que  gosto nos dias que quero. Temos de comer e beber o que mais gostamos, porque o Dia Especial é aquele que estamos vivendo.   A vida fica com mais encanto.

          Amanhã, não tenho certeza de nada.

          

 

  





25 de maio de 2025

A VIDA, UM TEMPO PRECIOSO



A VIDA, UM TEMPO PRECIOSO

           - Tais Luso de Carvalho



        Foi num dia de grande temporal em que boa parte de Porto Alegre ficou no caos. A luz levou dias para normalizar em todos os bairros. Sem dúvida que meu bairro ficou, também, na base de lanternas, velas e geradores de eletricidade nos hospitais e alguns prédios. Num certo momento notei que uma de minhas velas estava no seu final, e não tirei os olhos dela, ainda estava viva e forte.

Logicamente pensei numa metáfora, lembrei daquela velha '‘chama’' que no final vai se extinguindo, enfraquecendo até chegar ao último sopro. Só que não, não foi isso que vi ao acompanhar a chama da minha vela. A chama manteve-se forte e brilhante até o final, quando de repente se apagou numa fração de segundos.

Naquele instante lembrei da linha tênue que separa as duas pontas da nossa existência. E quando pensei numa das pontas, não tive como não pensar no meu tempo. 

Comecei a pensar o tanto que temos pressa que chegue o fim de semana e esquecemos de viver os dias úteis. Lembrei como ficamos ansiosos pelos feriados, pelas férias  e esquecemos de usufruir o dia de trabalho, o ano letivo e as riquezas do cotidiano. Ficamos ansiosos no final do ano pela  troca de calendário, coisa que não curto. Uma ansiedade para ir em algum lugar - onde não sei. Um período de tempo que sou envolvida, mas que não domino.

A minha vela se apagou, estava forte, viva, iluminada, e me deixou pensando. Naquela noite decidi que não quero mais pressa na minha vida. Quero que esse tempo não me cobre mudanças bruscas, não me imponha uma agenda tumultuada. Que seja um tempo de calmaria, sem ansiedade. Não quero perder meu tempo com discussões, um tempo que não se recupera.

Portanto, peço a esse Tempo que me seja leve, e se possível que passe  lentamente.









18 de maio de 2025

MEU ULTIMO ALMOÇO FOI UM PESADELO

 



           - Taís Luso de Carvalho


       Aproveito para dizer que não é trauma de infância, não é frescura e nem transtorno obsessivo-compulsivo: o meu problema é hereditário. Trago comigo uma difícil herança que recebi de minha mãe: a mania de programar  almoços ou jantares com organização britânica. Será defeito? Sim. Minha mãe era muito exagerada no capricho e nos horários, o que não deixou de ser um pesadelo para mim. Tentei imitá-la, mas não consegui. Ela conseguiu; eu enlouqueci. 

Lembro que meus pais davam seus jantares com todo esmero.  Minha mãe conseguia ficar feliz. Tudo era perfeito. A empregada – dona Clara – era uma cozinheira de origem alemã. Caprichosa e minuciosa, cumpria todos os pedidos de minha mãe. E assim fui vendo as coisas acontecerem em perfeita sintonia. Achava fácil.

Meu ilustre marido acha que me estresso demais quando me proponho a fazer um jantar ou almoço. É mais um problema para administrar: o marido! Tenho de provar, em plena loucura, que estou ótima! E o tempo passando... Mas os homens são todos iguais, não notam o desenrolar do nosso processo criativo. Mas até entendo, eles são direcionados para coisas mais práticas. Na verdade, eles estão cobertos de razão. As mulheres se desgastam muito  nesses festerês  da vida.

Lembro de um dos meus almoços: foi num inesquecível sábado, há muitos anos. Éramos 14 pessoas e inventei de fazer um Strogonoff e outras gororobas afrescalhadas para compor o almoço, pois dariam um toque chique nos pratos. Além de uma ótima salada, sobremesa, vinhos etc. 

Um dia antes, a empregada deixou tudo cortadinho, adiantado. Mas quem disse que ela apareceu no sábado para trabalhar? A mulher sumiu! Arregacei as mangas e fui à luta com as armas que Deus me deu, ou seja, com uma alta dose de neurose.

Lembro que Pedro ficou penteando nosso cachorro; minha filha não sabia que a empregada faltaria e foi fazer as unhas; meu filho tinha um campeonato de tênis. Os banheiros já estavam brilhando, mas isso até meu filho chegar com seus tênis com saibro vermelho. E o nosso cachorro resolveu endoidecer, corria se sacudindo de faceiro. Ele adorava visita, era  carente.

Fui com bastante tempo à cozinha terminar os pratos. E o tempo passando... Quando faltavam 60 minutos para o batalhão chegar, entrei em crise: a carne estava demorando a cozinhar. Só lembro que eu tentava me acalmar. Apelei para a filosofia budista! Altos papos com Buda. Aos 30 minutos do combinado terminei de lavar a pilha de louça e soquei toda a louça meio molhada dentro do armário. Nunca imaginei que teria tanto estresse. Havia muito tempo que eu não fazia tais almoços.

A mesa estava decorada com flores, a cozinha limpa e eu com cara de defunto fui tomar banho. Entrei no chuveiro e os convidados tocaram a campainha! Não sei porque lembrei da Clínica Pinel para doentes mentais. Só lembro que saí arrumadinha, perfumada e com cara de que tudo estava tranquilo demais. Tudo muito ajustado na minha cabeça. Tão ajustado que fiquei com medo de mim!

Mas foi o último dia que recebi um batalhão pra almoçar. Naquele mesmo dia jurei, sobre os 7 túmulos da família, que nunca mais me reportaria àquilo. Nesse dia acabou a Festa de Babette: Independência ou Morte!! Foi meu último grito de desespero! Mas lá já vão anos.

Hoje, está tudo muito tranquilo, as comemorações se passam nos restaurantes! E as cafeterias me amam!



 

11 de maio de 2025

O VELHO NA IGREJA

 

Igreja Santa Teresinha / Porto Alegre - RS/ Brasil



O VELHO NA IGREJA

          - Tais Luso de Carvalho

 


        Hoje trago aqui mais um pouco de minhas reflexões.

Volta e meia vou à igreja em que me casei, Igreja Santa Teresinha, a mesma que eu e meus pais frequentávamos quando eu era solteira.

Meu pai era um homem de muita Fé. Sentei no mesmo banco onde sentávamos, na ânsia de conversar com eles e refletir sobre nossas vidas. Fico na esperança de haver outra vida, e nos encontrarmos novamente. Oxalá! Porém, nada sei.

Intriga-me o fato de me tornar apenas uma memória. Mas fé é um dogma da Igreja, certo e indiscutível. É acreditar no que não vemos e no que não entendemos. Fiquei num silêncio respeitoso que só encontramos num templo religioso, com seus mistérios e seus dogmas. Gosto imensamente do ambiente de um  templo cristão e da sua arquitetura. Da sua fantástica arte. Contudo, respeito todas as religiões porque respeito as escolhas do ser humano.

Havia pouca gente na Igreja, meia hora faltava para a missa das 18:00 horas. Olhei para o lado e vi um dos “confessionários” – lugar onde os Cristãos confessam seus pecados e recebem o perdão Divino.

Chamou minha atenção um velhinho que mal conseguiu chegar ao confessionário. Arrastava-se com sua bengala e com enorme dificuldade de andar. Fiquei olhando e pensando na tristeza daquele ato, e por quê? Que pecado teria cometido o velhinho solitário, no crepúsculo de sua vida, e na ânsia por perdão. Que pecado teria ele a confessar? Senti piedade das suas amarras. Sou difícil de entender certas coisas. E um dia meu pai me falou:

- Filha, não podes mudar os dogmas da igreja, Fé é acreditar em Cristo!

- Não pai, eu não quero mudar nada, eu quero entender o porquê de certas coisas.

Sim, eu era assim. Eu sou assim. Preciso entender para firmar minha posição. O pobre velhinho poderia conversar com Deus, sozinho, na sua intimidade. Naquela altura da vida só caberia compaixão, não acusações. Por que não deixar que pessoas, já bem vulneráveis, alcancem seu último voo sem muitas culpas? Se tivesse cometido um crime,  já teria cumprido sua pena.

Não existe pecado maior do que a morosidade ou a ineficiência da Justiça dos Homens, nas quais as penas são amenizadas ou nunca aplicadas, devido a muitos fatores. Quantos crimes terríveis não são desvendados! Quantos inocentes estão morrendo covardemente nessas Guerras infames, absurdas e cruéis!

Pois é, como tudo continua igual, a humanidade continua a mesma, também eu continuo com as mesmas indagações. E mudo as coisas dentro de mim. E cada vez com menos esperança no ser humano, esse mesmo ser cruel que faz as guerras, que odeia, que rouba, que mata sem um pingo de piedade.










2 de maio de 2025

ENVELHECER SIM, MAS FELIZ

 

Obra Abstrata 2010 - Taís Luso de Carvalho



ENVELHECER SIM, MAS FELIZ 

- Taís Luso de Carvalho



Já escutei muito a frase “ao nascermos, já vamos envelhecendo”. Envelhecer é palavra forte e incompreensível para crianças e jovens. E o meu assunto de hoje é envelhecer com felicidade e dignidade na idade certa.

Tudo nesse mundo envelhece: árvores, pedras, rochas, plantas, animais. O Planeta envelhece. Mas um espírito alegre e jovial dos humanos não precisa envelhecer no mesmo tempo do seu corpo. Que nosso espírito seja eterno enquanto dure - lembrando do nosso poeta Vinícius de Morais.

Feliz quando se aceita bem o processo do envelhecimento, tornando mais fácil o caminho a percorrer. Faz parte da vida ver as ruguinhas se formando, cabelos brancos nascendo, gordurinhas já se expondo etc. e tal. Mas isso não precisa virar tragédia.

Crescemos numa sociedade que nos passa a imagem de que o novo tem outro valor. Outro sim, mas não maior valor.

Mas, há lugares diferentes nesse mundinho de Deus, principalmente nas grandes cidades, que nos levam a um certo desconforto, a uma sensação desagradável de que é proibido envelhecer! Temos muitos e belos recursos, sem dúvida, mas até um certo ponto, pois a longevidade faz o milagre da vida, não da beleza. Mesmo assim poderemos ter um caminho feliz, se quisermos ou se pudermos.

Viver com uma boa paz interior, sem ansiedade, usufruir a vida com as experiências adquiridas, podemos dizer que estamos com uma boa dose de felicidade. A vida foi Mãe!

Quando aceitarmos que a beleza física é passageira, que há caminhos diferentes a percorrer, a vida fica mais agradável. Há na vida  uma experiência e uma leveza que nos dá felicidade. Ver pessoas com espírito jovial e alegre é contagiante. É a força que vem de dentro.

Nem tudo na vida depende da aparência. A mente tem sua força própria, o espírito pode encantar uma vida inteira. O passado, já vivemos com belezas e glórias, em que pesem momentos aflitivos, também.

E será nesse novo percurso, cuidando mais da saúde e do espírito que chegaremos no momento de poder dizer que tudo valeu a pena!






 

21 de abril de 2025

UM DIA A CASA CAI...

... conversa na cafeteria

 


 UM  DIA  A  CASA  CAI...

                     - Tais Luso de Carvalho


      Muitas crônicas nascem de caminhadas, de notícias e de inúmeras observações sobre relacionamentos.

Desta vez a crônica nasceu das minhas andanças pelo bairro, num encontro com antiga vizinha. Encontramo-nos várias vezes em outros passeios com nossos cãezinhos. Nesse encontro senti que não era uma simples palavra de saudação, senti que havia uma outra intenção. Convidou-me para um cafezinho, estávamos quase defronte a uma cafeteria. Entramos, sentamos numa mesa meio afastada. E assim nascem os papos menos esperados. Senti que ela não estava bem. Pouco tempo levou para contar-me de sua separação do marido. Qualquer separação é traumática, então me fiz “toda ouvidos”.

Mas lá pelas tantas me disse:

- Agora vou aproveitar a vida, e tirar os atrasados.

Pessoas feridas, na sua essência, procuram alguém para aliviar suas dores. Todos nós procuramos aliviar a alma quando estamos sob mágoas ou outros sentimentos. Situações assim nos mostram como somos frágeis ante a dor mais profunda: a dor que não é física. Seu rosto estampava o retrato de sua alma. Sua fisionomia era outra.

Mas, a certa altura me disse que iria aproveitaria a vida! E perguntei a ela o que significa aproveitar a vida? Será que eu não estou aproveitando a minha?

Hum... a coisa está complicada - pensei eu. Mas começamos a conversar sobre isso e confesso que fiquei um pouco perdida com alguns disparates: uma hora sua fala era regada a lágrimas, outra hora, pura raiva.

Num dado momento eu estava ficando um pouco surpresa com algumas contradições. Era uma metralhadora disparando contra uma vida de frustrações. Contou-me que passou a vida enrolada com filhos, com casa, marido, trabalho e esqueceu de viver. Mas como esqueceu de viver? A vida de todos os mortais é essa. A exceção é que está fora do padrão.

A gente nasce, cresce, estuda, trabalha, cria os filhos, envelhece e     Adeus... até a volta!  Se volta houver.

Será que este aproveitar a vida é se divertir até minguar? Não dá pra ser  feliz, enfrentando também os dissabores da vida? É difícil entender o ser humano. Muitas vezes nossa mente está ligada no futuro, sabemos que o desconhecido é supervalorizado. O ser humano é, por natureza, um pouco insatisfeito. Sonhar é preciso, mas tem hora para sonhar.

Ela se queixava que se doou muito. Estava magoada de tanto fazer pelos outros e não ter tido o reconhecimento e o carinho que gostaria. Os filhos cresceram, casaram e o ninho ficou vazio. E veio a carência à procura de afetos.

Infelizmente, muitas pessoas se anulam. Passam a vida se preocupando com os outros, fazendo muito por todos e pouco por si.

Muitas pessoas dizem deixa que eu resolvo, sou o quebra-galho oficial! Orgulham-se disso! Resolvem tudo, desde o namorico da sobrinha até o velório do avô.

Disse-lhe o que penso me referindo à sua busca por aprovação e reconhecimento. Essa busca é muito cansativa num convívio.

Despedimo-nos, mas notei que ela saiu séria e pensativa, menos estabanada. Se nosso papo serviu para alguma coisa, foi ótimo. Ouvi mais do que falei e tirei minhas conclusões: se não cuidarmos de nós, do nosso emocional... 

Um dia a casa cai.






 


14 de abril de 2025

COISAS DO COTIDIANO

 

Juarez Machado / Brasil


                     

            -  Tais Luso de Carvalho

      Gosto de escrever sobre as coisas simples do nosso cotidiano, de alguma maneira todos nós passamos por situações semelhantes, umas tristes e outras de tão tolas, chegam a ser hilárias. Mesmo assim prefiro rir de besteiras do que chorar de indignação. Já basta esse mundo mergulhado num mar de lágrimas.

Pois ontem fui às compras. Foi-se o tempo em que eu zanzava de salto alto dentro de um shopping. Fui à procura de sapato baixo.

Já um tanto decepcionada, entrei na quinta loja onde vi um sapatinho vermelho, enfim meu estilo, daqueles tipo Néon, que se enxerga a 200 metros no escuro. Discreto, rss. Sim, tem de haver uma compensação: baixo sim, discreto nunca! Mas lá veio a vendedora de nome Rosa, com uma cara meio estranha, boa coisa não era:

Mas Rosa, eu pedi o 35, esse é número 34!

Não temos 35, mas o 34 vai ceder, o couro é muito macio, pode levar!

Por opção, fiquei calada, mas louca para destrambelhar...

Segui meu caminho. Entrei em outra loja para escolher umas músicas Instrumentais. A vendedora olhou para um canto, pegou a dupla Chitãozinho e Xororó e disse:

Adoro essa dupla, senhora, chegou hoje!

– Olha... eu não tenho delírios por música Sertaneja, eu falei Instrumental.

Desanimada por estar andando há horas, veio a última esperança quando vi numa vitrina, uma blusa do meu estilo! Enfim, feliz da vida! E lá veio a vendedora com várias blusas... Fiquei tão contente, mostrei todos os dentes, até pensei em comprar uma de cada cor! Porém...

Mas espera... tamanho G (grande)?

Mas encolhe, senhora. Tenho uma igual! Na primeira lavagem já encolhe.

          Comecei a rir… não era o meu dia! Fiquei pra mim o que pensei.

Ter um ataque num momento desses seria uma terapia, mas falei com meu emocional e escolhi o melhor - sair da loja.

Voltei para casa. Coloquei a chave na porta e ouvi uma voz que me esperava para curtirmos nosso cafezinho com bolo...

Você deve estar cansada, querida!! Comprou o shopping?

Por hoje nada, deu muita zebra!

Mas você é muito exigente!

Ai, meu Deus!!! Maldito dia! 

               Esse é o nosso cotidiano... nem tudo dá certo.






30 de março de 2025

PESSOAS DE DIFÍCIL RELACIONAMENTO

 

Tarcila do Amaral - Operários            Das Artes


          - Tais Luso de Carvalho

 

      Existem pessoas que deveriam fazer uma psicoterapia para serem mais felizes. Falo daquelas pessoas que têm opinião imediata e soluções para tudo. Tumultuam muito o meio em que vivem, ocasionando afastamentos facilmente. Você diz  A, elas dizem B - sem saberem o porquê, o negócio é contestar. É quase automático. Muito dramático esse convívio.

Tenho visto que depois de acirradas discussões, cada lado defendendo o seu ponto de vista, está feito o barraco. E isso se dá entre amigos, nos esportes, nas famílias, com os colegas de trabalho, nas reuniões de condomínio, nas Instituições. Muito desgaste emocional, os extremos se chocam, se matam e penso: por que esse desgaste monstruoso? Mas discutir virou vício. Muito ódio, principalmente nas discussões políticas.

Onde existe gente existe a tentativa de dominar, de fazer prevalecer as suas ideias, como se tudo na vida girasse em torno dessas "poderosas" ideias alheias.

Quando o papo se encaminha para temas como política, religião, futebol, educação, a agressão está instalada. Tudo começa sutilmente. O que antes era saudável, passou a ser suplício.

Uma conversa civilizada é o que todos os normais desejam, pois é perigoso polemizar por qualquer coisa. Uma conversa, em que as opiniões divergem, deveria ser encarado como algo democrático, mas a democracia só fica maravilhosa no papel e nos discursos de campanha política. Já senti que não polemizar me dá uma sensação de alívio e de paz. É ótimo podermos bancar uma atitude de desinteresse e não tentar impor nada, coisa nenhum a ninguém. Felizmente senti isso. Para quem quer paz, não tem coisa melhor.

Existem algumas coisas que são imutáveis no ser humano. Uma criatura que nasceu desagradável, arrogante e agressiva, jamais será alguém agradável, gentil e dócil. E isso não se consegue facilmente. Uma pessoa equilibrada,  facilitaria muito o convívio com os demais.

Talvez não adiante terapia para esse tipo de gente, se não houver força de vontade e consciência dessa compulsão para dirigir a vida de outras pessoas.

Gostaria de estar enganada, mas sei que a necessidade que essa gente tem de incomodar faz parte do seu caráter. Para lidar com esse tipo de gente o melhor é a indiferença e o afastamento.

Contudo, medida tão drástica é sempre triste. Posso estar errada, mas é o que sinto. Afinal, não temos todo o tempo do mundo para termos uma vida de boa qualidade.








22 de março de 2025

VOCÊ SE SENTE INFELIZ ?




                              - Tais Luso de Carvalho



As histórias que vejo todos os dias, da minha janela, são verdadeiras, não são ficção. Escrevo o que vejo e o que vivencio. Por morar, há muitos anos, perto de um hospital, já deu para constatar que entre as lindas rosas de seus jardins, também há muitos espinhos. Vejo o belo das flores e o belo do ser humano. E também vejo o lado hipócrita das pessoas.

Não preciso dizer que existem milhões de pessoas que cuidam de seus velhos com amor e carinho, como existem, também, os que são deixados ao abandono. E é desses que quero falar; dos abandonados.

De minha janela avisto uma bela natureza, mas a vida humana sem fricotes e sem encenações. É da minha janela que vejo o ser humano na sua arrogância e também na sua fragilidade.

Hoje meu olhar bateu num casal que subia pela calçada arborizada. Ele, deficiente, seu andar era inseguro e dependente. Ela, meio altiva, e alienada do pobre homem. Notei a desatenção e fiquei observando aquela cena até que entraram no hospital.

Isso que vi, me fez lembrar das cenas que vi dentro de um asilo, pela televisão. Deprimente. Um depósito de idosos, sofridos e abandonados.

Não falo da parte física da instituição, falo dos parcos sentimentos de compaixão, de amor e de carinho. Falo do descaso e do abandono. Gente que se sente só. São pessoas que demonstram um pouquinho de alegria com qualquer visita. Com qualquer estranho.

Não estou falando de Casas de Repouso, com ótima infraestrutura, fisioterapeutas, médicos, dentistas e onde se paga muito bem. Isso é outra coisa. Entendo que em muitos casos, essas casas de saúde são necessárias. Reconheço que muitas vezes não há outra coisa a fazer, pelas doenças estarem já muito avançadas.

Envelhecer e ficar doente é difícil, é sentir-se um peso para a família, alguém inútil, e isso dói demais. Impossível não ver tristeza no olhar de um velhinho. Tenho muita pena dos velhinhos: bato direto meu olhar em seus olhos e vejo aquele brilho revelador...

Muitas pessoas fogem de certos assuntos, mas pensar só nas alegrias da vida? Não consigo, nosso mundinho não é tão feliz.

Chocou-me, um dia, quando ouvi alguém dizer: 'Eu trato bem os meus filhos porque um dia vou precisar deles! Não aceito esse tipo de atitude. Amor não se comercializa, não é um “toma lá dá cá!” Amor é único, verdadeiro e incondicional. Podemos ser alegres como tristes, mas nunca alimentar algo que possa servir, apenas, para uma troca futura. Uma negociata. Amar é outra coisa.

Muitos esquecem que a vida não é condescendente com nossos erros; mais tarde ela cobrará nossos atos e perguntará o porquê de certos erros. E teremos a cota-parte que merecemos.