11 de maio de 2025

O VELHO NA IGREJA

 

Igreja Santa Teresinha / Porto Alegre - RS/ Brasil



O VELHO NA IGREJA

          - Tais Luso de Carvalho

 


        Hoje trago aqui mais um pouco de minhas reflexões.

Volta e meia vou à igreja em que me casei, Igreja Santa Teresinha, a mesma que eu e meus pais frequentávamos quando eu era solteira.

Meu pai era um homem de muita Fé. Sentei no mesmo banco onde sentávamos, na ânsia de conversar com eles e refletir sobre nossas vidas. Fico na esperança de haver outra vida, e nos encontrarmos novamente. Oxalá! Porém, nada sei.

Intriga-me o fato de me tornar apenas uma memória. Mas fé é um dogma da Igreja, certo e indiscutível. É acreditar no que não vemos e no que não entendemos. Fiquei num silêncio respeitoso que só encontramos num templo religioso, com seus mistérios e seus dogmas. Gosto imensamente do ambiente de um  templo cristão e da sua arquitetura. Da sua fantástica arte. Contudo, respeito todas as religiões porque respeito as escolhas do ser humano.

Havia pouca gente na Igreja, meia hora faltava para a missa das 18:00 horas. Olhei para o lado e vi um dos “confessionários” – lugar onde os Cristãos confessam seus pecados e recebem o perdão Divino.

Chamou minha atenção um velhinho que mal conseguiu chegar ao confessionário. Arrastava-se com sua bengala e com enorme dificuldade de andar. Fiquei olhando e pensando na tristeza daquele ato, e por quê? Que pecado teria cometido o velhinho solitário, no crepúsculo de sua vida, e na ânsia por perdão. Que pecado teria ele a confessar? Senti piedade das suas amarras. Sou difícil de entender certas coisas. E um dia meu pai me falou:

- Filha, não podes mudar os dogmas da igreja, Fé é acreditar em Cristo!

- Não pai, eu não quero mudar nada, eu quero entender o porquê de certas coisas.

Sim, eu era assim. Eu sou assim. Preciso entender para firmar minha posição. O pobre velhinho poderia conversar com Deus, sozinho, na sua intimidade. Naquela altura da vida só caberia compaixão, não acusações. Por que não deixar que pessoas, já bem vulneráveis, alcancem seu último voo sem muitas culpas? Se tivesse cometido um crime,  já teria cumprido sua pena.

Não existe pecado maior do que a morosidade ou a ineficiência da Justiça dos Homens, nas quais as penas são amenizadas ou nunca aplicadas, devido a muitos fatores. Quantos crimes terríveis não são desvendados! Quantos inocentes estão morrendo covardemente nessas Guerras infames, absurdas e cruéis!

Pois é, como tudo continua igual, a humanidade continua a mesma, também eu continuo com as mesmas indagações. E mudo as coisas dentro de mim. E cada vez com menos esperança no ser humano, esse mesmo ser cruel que faz as guerras, que odeia, que rouba, que mata sem um pingo de piedade.










2 de maio de 2025

ENVELHECER SIM, MAS FELIZ

 

Obra Abstrata 2010 - Taís Luso de Carvalho



ENVELHECER SIM, MAS FELIZ 

- Taís Luso de Carvalho



Já escutei muito a frase “ao nascermos, já vamos envelhecendo”. Envelhecer é palavra forte e incompreensível para crianças e jovens. E o meu assunto de hoje é envelhecer com felicidade e dignidade na idade certa.

Tudo nesse mundo envelhece: árvores, pedras, rochas, plantas, animais. O Planeta envelhece. Mas um espírito alegre e jovial dos humanos não precisa envelhecer no mesmo tempo do seu corpo. Que nosso espírito seja eterno enquanto dure - lembrando do nosso poeta Vinícius de Morais.

Feliz quando se aceita bem o processo do envelhecimento, tornando mais fácil o caminho a percorrer. Faz parte da vida ver as ruguinhas se formando, cabelos brancos nascendo, gordurinhas já se expondo etc. e tal. Mas isso não precisa virar tragédia.

Crescemos numa sociedade que nos passa a imagem de que o novo tem outro valor. Outro sim, mas não maior valor.

Mas, há lugares diferentes nesse mundinho de Deus, principalmente nas grandes cidades, que nos levam a um certo desconforto, a uma sensação desagradável de que é proibido envelhecer! Temos muitos e belos recursos, sem dúvida, mas até um certo ponto, pois a longevidade faz o milagre da vida, não da beleza. Mesmo assim poderemos ter um caminho feliz, se quisermos ou se pudermos.

Viver com uma boa paz interior, sem ansiedade, usufruir a vida com as experiências adquiridas, podemos dizer que estamos com uma boa dose de felicidade. A vida foi Mãe!

Quando aceitarmos que a beleza física é passageira, que há caminhos diferentes a percorrer, a vida fica mais agradável. Há na vida  uma experiência e uma leveza que nos dá felicidade. Ver pessoas com espírito jovial e alegre é contagiante. É a força que vem de dentro.

Nem tudo na vida depende da aparência. A mente tem sua força própria, o espírito pode encantar uma vida inteira. O passado, já vivemos com belezas e glórias, em que pesem momentos aflitivos, também.

E será nesse novo percurso, cuidando mais da saúde e do espírito que chegaremos no momento de poder dizer que tudo valeu a pena!






 

21 de abril de 2025

UM DIA A CASA CAI...

... conversa na cafeteria

 


 UM  DIA  A  CASA  CAI...

                     - Tais Luso de Carvalho


      Muitas crônicas nascem de caminhadas, de notícias e de inúmeras observações sobre relacionamentos.

Desta vez a crônica nasceu das minhas andanças pelo bairro, num encontro com antiga vizinha. Encontramo-nos várias vezes em outros passeios com nossos cãezinhos. Nesse encontro senti que não era uma simples palavra de saudação, senti que havia uma outra intenção. Convidou-me para um cafezinho, estávamos quase defronte a uma cafeteria. Entramos, sentamos numa mesa meio afastada. E assim nascem os papos menos esperados. Senti que ela não estava bem. Pouco tempo levou para contar-me de sua separação do marido. Qualquer separação é traumática, então me fiz “toda ouvidos”.

Mas lá pelas tantas me disse:

- Agora vou aproveitar a vida, e tirar os atrasados.

Pessoas feridas, na sua essência, procuram alguém para aliviar suas dores. Todos nós procuramos aliviar a alma quando estamos sob mágoas ou outros sentimentos. Situações assim nos mostram como somos frágeis ante a dor mais profunda: a dor que não é física. Seu rosto estampava o retrato de sua alma. Sua fisionomia era outra.

Mas, a certa altura me disse que iria aproveitaria a vida! E perguntei a ela o que significa aproveitar a vida? Será que eu não estou aproveitando a minha?

Hum... a coisa está complicada - pensei eu. Mas começamos a conversar sobre isso e confesso que fiquei um pouco perdida com alguns disparates: uma hora sua fala era regada a lágrimas, outra hora, pura raiva.

Num dado momento eu estava ficando um pouco surpresa com algumas contradições. Era uma metralhadora disparando contra uma vida de frustrações. Contou-me que passou a vida enrolada com filhos, com casa, marido, trabalho e esqueceu de viver. Mas como esqueceu de viver? A vida de todos os mortais é essa. A exceção é que está fora do padrão.

A gente nasce, cresce, estuda, trabalha, cria os filhos, envelhece e     Adeus... até a volta!  Se volta houver.

Será que este aproveitar a vida é se divertir até minguar? Não dá pra ser  feliz, enfrentando também os dissabores da vida? É difícil entender o ser humano. Muitas vezes nossa mente está ligada no futuro, sabemos que o desconhecido é supervalorizado. O ser humano é, por natureza, um pouco insatisfeito. Sonhar é preciso, mas tem hora para sonhar.

Ela se queixava que se doou muito. Estava magoada de tanto fazer pelos outros e não ter tido o reconhecimento e o carinho que gostaria. Os filhos cresceram, casaram e o ninho ficou vazio. E veio a carência à procura de afetos.

Infelizmente, muitas pessoas se anulam. Passam a vida se preocupando com os outros, fazendo muito por todos e pouco por si.

Muitas pessoas dizem deixa que eu resolvo, sou o quebra-galho oficial! Orgulham-se disso! Resolvem tudo, desde o namorico da sobrinha até o velório do avô.

Disse-lhe o que penso me referindo à sua busca por aprovação e reconhecimento. Essa busca é muito cansativa num convívio.

Despedimo-nos, mas notei que ela saiu séria e pensativa, menos estabanada. Se nosso papo serviu para alguma coisa, foi ótimo. Ouvi mais do que falei e tirei minhas conclusões: se não cuidarmos de nós, do nosso emocional... 

Um dia a casa cai.






 


14 de abril de 2025

COISAS DO COTIDIANO

 

Juarez Machado / Brasil


                     

            -  Tais Luso de Carvalho

      Gosto de escrever sobre as coisas simples do nosso cotidiano, de alguma maneira todos nós passamos por situações semelhantes, umas tristes e outras de tão tolas, chegam a ser hilárias. Mesmo assim prefiro rir de besteiras do que chorar de indignação. Já basta esse mundo mergulhado num mar de lágrimas.

Pois ontem fui às compras. Foi-se o tempo em que eu zanzava de salto alto dentro de um shopping. Fui à procura de sapato baixo.

Já um tanto decepcionada, entrei na quinta loja onde vi um sapatinho vermelho, enfim meu estilo, daqueles tipo Néon, que se enxerga a 200 metros no escuro. Discreto, rss. Sim, tem de haver uma compensação: baixo sim, discreto nunca! Mas lá veio a vendedora de nome Rosa, com uma cara meio estranha, boa coisa não era:

Mas Rosa, eu pedi o 35, esse é número 34!

Não temos 35, mas o 34 vai ceder, o couro é muito macio, pode levar!

Por opção, fiquei calada, mas louca para destrambelhar...

Segui meu caminho. Entrei em outra loja para escolher umas músicas Instrumentais. A vendedora olhou para um canto, pegou a dupla Chitãozinho e Xororó e disse:

Adoro essa dupla, senhora, chegou hoje!

– Olha... eu não tenho delírios por música Sertaneja, eu falei Instrumental.

Desanimada por estar andando há horas, veio a última esperança quando vi numa vitrina, uma blusa do meu estilo! Enfim, feliz da vida! E lá veio a vendedora com várias blusas... Fiquei tão contente, mostrei todos os dentes, até pensei em comprar uma de cada cor! Porém...

Mas espera... tamanho G (grande)?

Mas encolhe, senhora. Tenho uma igual! Na primeira lavagem já encolhe.

          Comecei a rir… não era o meu dia! Fiquei pra mim o que pensei.

Ter um ataque num momento desses seria uma terapia, mas falei com meu emocional e escolhi o melhor - sair da loja.

Voltei para casa. Coloquei a chave na porta e ouvi uma voz que me esperava para curtirmos nosso cafezinho com bolo...

Você deve estar cansada, querida!! Comprou o shopping?

Por hoje nada, deu muita zebra!

Mas você é muito exigente!

Ai, meu Deus!!! Maldito dia! 

               Esse é o nosso cotidiano... nem tudo dá certo.






30 de março de 2025

PESSOAS DE DIFÍCIL RELACIONAMENTO

 

Tarcila do Amaral - Operários            Das Artes


          - Tais Luso de Carvalho

 

      Existem pessoas que deveriam fazer uma psicoterapia para serem mais felizes. Falo daquelas pessoas que têm opinião imediata e soluções para tudo. Tumultuam muito o meio em que vivem, ocasionando afastamentos facilmente. Você diz  A, elas dizem B - sem saberem o porquê, o negócio é contestar. É quase automático. Muito dramático esse convívio.

Tenho visto que depois de acirradas discussões, cada lado defendendo o seu ponto de vista, está feito o barraco. E isso se dá entre amigos, nos esportes, nas famílias, com os colegas de trabalho, nas reuniões de condomínio, nas Instituições. Muito desgaste emocional, os extremos se chocam, se matam e penso: por que esse desgaste monstruoso? Mas discutir virou vício. Muito ódio, principalmente nas discussões políticas.

Onde existe gente existe a tentativa de dominar, de fazer prevalecer as suas ideias, como se tudo na vida girasse em torno dessas "poderosas" ideias alheias.

Quando o papo se encaminha para temas como política, religião, futebol, educação, a agressão está instalada. Tudo começa sutilmente. O que antes era saudável, passou a ser suplício.

Uma conversa civilizada é o que todos os normais desejam, pois é perigoso polemizar por qualquer coisa. Uma conversa, em que as opiniões divergem, deveria ser encarado como algo democrático, mas a democracia só fica maravilhosa no papel e nos discursos de campanha política. Já senti que não polemizar me dá uma sensação de alívio e de paz. É ótimo podermos bancar uma atitude de desinteresse e não tentar impor nada, coisa nenhum a ninguém. Felizmente senti isso. Para quem quer paz, não tem coisa melhor.

Existem algumas coisas que são imutáveis no ser humano. Uma criatura que nasceu desagradável, arrogante e agressiva, jamais será alguém agradável, gentil e dócil. E isso não se consegue facilmente. Uma pessoa equilibrada,  facilitaria muito o convívio com os demais.

Talvez não adiante terapia para esse tipo de gente, se não houver força de vontade e consciência dessa compulsão para dirigir a vida de outras pessoas.

Gostaria de estar enganada, mas sei que a necessidade que essa gente tem de incomodar faz parte do seu caráter. Para lidar com esse tipo de gente o melhor é a indiferença e o afastamento.

Contudo, medida tão drástica é sempre triste. Posso estar errada, mas é o que sinto. Afinal, não temos todo o tempo do mundo para termos uma vida de boa qualidade.








22 de março de 2025

VOCÊ SE SENTE INFELIZ ?




                              - Tais Luso de Carvalho



As histórias que vejo todos os dias, da minha janela, são verdadeiras, não são ficção. Escrevo o que vejo e o que vivencio. Por morar, há muitos anos, perto de um hospital, já deu para constatar que entre as lindas rosas de seus jardins, também há muitos espinhos. Vejo o belo das flores e o belo do ser humano. E também vejo o lado hipócrita das pessoas.

Não preciso dizer que existem milhões de pessoas que cuidam de seus velhos com amor e carinho, como existem, também, os que são deixados ao abandono. E é desses que quero falar; dos abandonados.

De minha janela avisto uma bela natureza, mas a vida humana sem fricotes e sem encenações. É da minha janela que vejo o ser humano na sua arrogância e também na sua fragilidade.

Hoje meu olhar bateu num casal que subia pela calçada arborizada. Ele, deficiente, seu andar era inseguro e dependente. Ela, meio altiva, e alienada do pobre homem. Notei a desatenção e fiquei observando aquela cena até que entraram no hospital.

Isso que vi, me fez lembrar das cenas que vi dentro de um asilo, pela televisão. Deprimente. Um depósito de idosos, sofridos e abandonados.

Não falo da parte física da instituição, falo dos parcos sentimentos de compaixão, de amor e de carinho. Falo do descaso e do abandono. Gente que se sente só. São pessoas que demonstram um pouquinho de alegria com qualquer visita. Com qualquer estranho.

Não estou falando de Casas de Repouso, com ótima infraestrutura, fisioterapeutas, médicos, dentistas e onde se paga muito bem. Isso é outra coisa. Entendo que em muitos casos, essas casas de saúde são necessárias. Reconheço que muitas vezes não há outra coisa a fazer, pelas doenças estarem já muito avançadas.

Envelhecer e ficar doente é difícil, é sentir-se um peso para a família, alguém inútil, e isso dói demais. Impossível não ver tristeza no olhar de um velhinho. Tenho muita pena dos velhinhos: bato direto meu olhar em seus olhos e vejo aquele brilho revelador...

Muitas pessoas fogem de certos assuntos, mas pensar só nas alegrias da vida? Não consigo, nosso mundinho não é tão feliz.

Chocou-me, um dia, quando ouvi alguém dizer: 'Eu trato bem os meus filhos porque um dia vou precisar deles! Não aceito esse tipo de atitude. Amor não se comercializa, não é um “toma lá dá cá!” Amor é único, verdadeiro e incondicional. Podemos ser alegres como tristes, mas nunca alimentar algo que possa servir, apenas, para uma troca futura. Uma negociata. Amar é outra coisa.

Muitos esquecem que a vida não é condescendente com nossos erros; mais tarde ela cobrará nossos atos e perguntará o porquê de certos erros. E teremos a cota-parte que merecemos.








 

12 de março de 2025

FESTA: A ESCOLHA DOS CONVIDADOS

Obra de Juarez Machado / Brasil


                     
                          - Tais Luso de Carvalho

                   

      Sabem vocês, daquela situação desagradável quando idealizamos um jantar em nossa casa e ficamos surpresos quando um dos convidados chega com cara de cachorrão extraviado? Falo daquelas pessoas que estão sempre de mal com a vida. Nada está bom. Nunca!

Nessas ocasiões, por certo, arrumamos a casa, tudo nos devidos lugares, e a janta no capricho. Conseguimos, por algum tempo, que marido, filhos, cachorro e tartaruga não se saracoteiam muito, que mantenham a casa em ordem.

Então chega a turminha na hora combinada. Também chega junto um dos convidados vestido de infelicidade, aquele que chega sempre contrariado, emburrado.

A noite que prometia ser ótima, passa a ser pesada. Mas uns anfitriões lidam bem com essa paranoia alheia; outros não conseguem lidar com a situação e se estressam. 

E nesses dissabores reflito que nossa festa não pode ter um divã, não pode ser um laboratório de pesquisas, consultório sentimental ou ter a sombra da Madre Tereza de Calcutá, em que as atenções se viram para um único convidado: o extraviado. Não é sempre que estamos dispostos a ser um voluntário das causas difíceis.

É difícil lidar com pessoas complicadas, que murcham a festa. E isso que não sou muito amiga de festas em casa! Depende das circunstâncias.

Lembro de um jantar em que sentei ao lado de uma pessoa que só falava de suas cirurgias, filosofava sobre a morte e eu ali, tentando engolir a gororoba. Passaram-se 10 anos e ainda lembro da criatura. Acho que ela me achou com cara de enfermeira ou terapeuta de emergência.

Por isso é tão importante a escolha do grupo a ser convidado para uma reunião alegre, leve e solta. Uma reunião perfeita não depende apenas das comidas, depende das pessoas que convidamos, além do humor e delicadeza dos donos da festa, é claro. Caso contrário, tudo vai pro brejo.

Já pensaram como é triste dizermos, no final,  que não valeu a pena?




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5 de março de 2025

UM MUNDO MARAVILHOSO

 


UM MUNDO MARAVILHOSO

               -  Tais Luso de Carvalho

     Diria que a felicidade e a tristeza caminham de mãos dadas, se alternam no curso de nossas vidas. Então nada como evocar esse planeta maravilhoso a fim de recarregar minha tranquilidade em minhas emoções.

Prefiro buscar essa natureza exuberante, de ver a pureza dos animais,  a grandeza das rochas, do mar, dos cânions. Sentir a grandeza do sol, da lua e o infinito céu – me fazem melhor.  Ver e sentir a maravilhosa Natureza e nada mais. As maldades do mundo, e com extrema força, tendem  a ir muito longe. E cansamos um pouco de esperar por soluções.

No Brasil, não tem quem não conheça a frase de um antigo malandro desprovido de neurônios: “O importante é levar vantagem em tudo, certo?”

Esta frase está numa seara infeliz e doentia. E perambula por esse mundo afora com muitos seguidores. Não há mais lugar para disparates. Espero, dentre tantas coisas, a moralização do meu país, mas não é coisa fácil. Reverter esse quadro de agonia não é para agora. Sentir medo é uma das piores sensações. Jamais encontraremos a paz duradoura fora dos padrões reais e verdadeiros da ética e da moral.

Mas quem sabe  para as  gerações futuras, bem  mais adiante...?

          



Mosteiro no Butão


Lago Annecy / leste da França

Planeta Maravilhoso, 
 mas a vida não basta para os poderosos!




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19 de fevereiro de 2025

O SEPARADOR DE AFETOS

 

Num Barzinho para  conversarem  e... os Smartphones  


                                               ___ Tais Luso de Carvalho___



Hoje quero falar daquele aparelho pequenino, que ninguém desgruda dele e conosco fica 24 horas - o separador de afetos.

Quanto mais ando nas ruas, nos shoppings, clínicas etc., mais me surpreendo com pessoas desligadas. Todas elas muito apressadas. Muitas atravessam as passarelas dos semáforos olhando para seus aparelhos, procurando algo importante nas suas redes sociais. A vida está cada vez mais acelerada, porém mais solitária. Mas esse “amigão’ está sempre presente.

Ontem vi uma jovem oferecer seu braço para uma moça cega atravessar a larga avenida e levá-la ao seu destino, aqui no bairro mesmo. Que lindo! É raro ver isso, não há mais tempo para gentilezas, até nas visitas para os parentes reinam os Smartphones. Esse pequenino objeto espalhou-se pelo mundo inteiro, e parece não haver vida sem ele.

Criancinhas, já com 1 ano, estão com Smartphones num tec, tec, tec, e são consideradas geniais pelos pais que dizem:

- Olhem como ela é inteligente!!

Crescem e manobram a informática com facilidade, sem dúvida, mas pouco acostumadas às gentilezas. Intoxicam-se com a vasta tecnologia e, enquanto crescem, seus celulares sabotam seus sonos e sonhos.

Há carência de afetos, e estou ciente que isso é irreversível. O mundo seguirá seu curso com as novas gerações, com novíssimas ofertas e com muito mais aplicativos. Teremos de nos adaptar a muitas coisas, inclusive à solidão.

Sentamos no computador, lemos, escrevemos, nos comunicamos, mas ao desligá-lo muitos sentem um grande vazio e pegam o Smartphone. Pronto! Vicio é isso. Não é assim no mundo inteiro? 

Estamos quase colonizando o planeta Marte, mas os humanos pouco sabem sobre ‘Felicidade’. Mas um dia, com muita ajuda, chegaremos lá. Ou não. Os excessos nunca deram certo.



Jovens descansando  e... os  Smartphones


Encontros de família e...  os Smartphones

                                            


 


7 de fevereiro de 2025

TEXTOS: CURTOS OU LONGOS?

 

                           Obra: Alice Williams - EUA / 1990


                       - Taís Luso de Carvalho


      Faz muito tempo que participei de concursos literários. Minha escolha caiu em crônicas. Mas uma das exigências dos concursos era o tamanho do texto. Foi nessa época que aprendi o tanto de laudas que eu teria de obedecer nas crônicas. Nada longo. Foi uma das observações que segui à risca. E hoje, em meus blogs, tenho mais ou menos um padrão certo. Sigo com naturalidade, mas sempre me policiando para conseguir dizer o que quero sem me estender muito, a enxugar o texto, isso significa tirar tudo que não interessa ao leitor, para que a leitura não fique dispersa e cansativa. E pensando bem, para que tantos adjetivos e penduricalhos? Vejam o exemplo deste meu texto abaixo:

"O cavalo era baio, de crinas compridas e desparelhas, uma cruza de um belo garanhão chamado Arcônios com uma égua branca chamada Cigana, animais que vieram da Argentina – país frio ao sul do Brasil -, celeiro de raças puras e fortes, dirigidas mais para o esporte hípico".

Viram que saco (rss) ? Que importância tem as crinas compridas e desparelhas, e a linhagem dos animais não tem importância, só enche linguiça! São detalhes que não interessam numa crônica. Essa descrição só pode interessar a quem pretende comprar um cavalo e uma égua. Ver sua genealogia, seu pedigree.

Procuro escrever crônicas com poucas palavras e trabalhar o principal. Encher linguiça é uma expressão usada que significa enrolar, no sentido de falar o que não tem importância. O que não for necessário.

Uma das coisas que mais aprecio é colocar a ideia no computador e depois dar forma e cortar os excessos. Cortar, cortar sem medo. Mas aprendi isso graças a inúmeros cronistas e contistas que sempre  li e continuo a ler. A poesia também me ensinou muito a sintetizar a ideia e a dar ritmo e harmonia ao texto.

Mario Quintana conta, no seu livro Caderno H, pg. 154, que seu professor, nos tempos de ginásio, disse aos alunos na aula de redação: "não adianta escrever muito, meninos, porque só leio a primeira página, o resto eu rasgo".

E foi dessa maneira, não muito delicada, que Quintana ficou eternamente grato ao professor Major Leonardo Ribeiro:Foi a melhor lição de estilo, obrigando-nos a reter as rédeas de Pégaso e a dizer tudo nas trinta linhas do papel almaço”.

Também eu, fico grata ao nosso querido poeta Mario Quintana!




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26 de janeiro de 2025

TRAPALHADAS NO TEMPO

 



                - Tais Luso de Carvalho


        Pois é, a gente vai vivendo, a vida vai passando, e sempre aparecem pessoas que não reconhecemos mais. E os constrangimentos acontecem com mais frequência: de onde conheço esta criatura?

A pessoa sorri, vem falar… Que situação! E o clima do encontro, inevitavelmente cai. Minha tática é ficar enrolando até dar o clique na minha memória.

Pergunto o que ela tem feito, onde está residindo, como estão os filhos (que filhos?), perguntas rápidas à procura de um indício.

Quem é ela, pelo amor de Deus? - pergunto ao meu inconsciente.

Não poderia lhe dizer que o tempo passou e que não a reconheço. O tempo nos transforma, mas  seria indelicadeza.

Existem pessoas que ao envelhecer conservam os mesmos traços; a mesma fisionomia, às vezes mais bonita, como foi o caso de Caetano Veloso. 

Tenho uma tia incrível, a tia Isolda. Estávamos num supermercado, no recanto dos vinhos. Estava um pouco afastada dela, mas vi um senhor lhe fazendo uma consulta sobre os vinhos e me aproximei um pouquinho. Esse senhor lhe estendeu a mão para agradecer a dica, e perguntou:

- Dona Isolda, a senhora não está me reconhecendo?

Tia Isolda, mais do que depressa:

- Tais, olha só quem está aqui!! hahaha...

Assim mesmo, bem fingida e desnorteada, transferiu o drama para mim.

Consegui reconhecer a criatura, era o seu antigo vizinho! Reconheci o homem pela boca - tinha uma boca de peixe Baiacu! Não tinha como esquecê-lo. Não sei o que acontece, mas quando reconheço alguém é pela boca ou pelos dentes! Acho que me daria bem se trabalhasse num necrotério. Sou atenta a muitos detalhes, então salvei a titia da enrascada.

Porém, maior vergonha passei com minha melhor amiga de colégio que há muitos anos foi morar em Belo Horizonte. Casou-se e ficou por lá. E, com os filhos já adultos e formados, a família resolveu voltar para Porto Alegre. E certo dia, numa confeitaria...

- Oie, Taiiiis!!! Como estás amiga? Não estás me reconhecendo?

Meu Deus do Céu,  fiquei olhando para ela,  meio desnorteada.

- Pois  é  né...

- Sou a Claudinha!

- Báh, trocaste a cor dos cabelos, ficou difícil !

Nossa Senhora!! Piorou, foi um desastre.  A amiga engordou uns 30 quilos, as feições já não eram as mesmas e dei a desculpa dos cabelos? Foi trágico, embora minha intenção fosse boa.

Muito difícil esses encontros... a vida vai passando e a memória pouco ajuda.  Nem a boca, desta vez, reconheci!



Peixe Baiacu -  vizinho da tia Isolda...