17 de novembro de 2011

OS VIZINHOS E SUAS GRANDES IDÉIAS






- Tais Luso de Carvalho

Tudo bem que cada louco tenha suas manias; até aí nada de anormal; é pra lá de normal desde que o mundo existe. O ser humano é assim, tem lá seus altos e baixos, seus desprendimentos, seus altruísmos; mas êta povoação que nasceu complicada!  

A nossa espécie sabe ser encrenqueira, o troço tá no sangue. Olhou torto? Já é motivo para alguém tirar satisfações. Mas onde se vê a essência dos humanos é quando moramos próximos ou em condomínios. E aqui, quero falar da síndrome das reformas em apartamentos. A síndrome de Dubai – que no momento é onde existe o que há de mais moderno em moradia. 

O terror de um condomínio é quando alguém vende seu apartamento. Quem comprou? Que ideias extravagantes terão os novos moradores? Esta é a pergunta que não cala. E a resposta é secreta, parece uma senha; mas chega o dia que a bomba explode: Reformar!!

Uma das piores coisas que existe, para o vizinho que mora embaixo, é alguém comprar um apartamento antigo e  transformá-lo em  moderno. É difícil de entender tal compra.  Penso que no ímpeto do entusiasmo alguns não pensam o quanto gastarão numa reforma total. Digo total. 

Uma reforma no banheiro ou cozinha, muitas vezes precisa  ser feita, mesmo porque o vizinho debaixo já está espumando  com as marcas que apareceram  no teto de seu apartamento. E este estrago não tem jeito,  aparece para todos. Como a vizinhança precisa ficar tranquila, mãos à obra, precisamos alimentar um  bom relacionamento: um Bom Dia, uma Boa Tarde... pelo menos.

Mas isso também aconteceu conosco. Resolvemos o impasse reformando dois banheiros, deixamos tudo novo. Tudo rápido para deixar a vizinha  alegrinha. Colocamos os melhores canos, fizemos dois banheiros totalmente novos. E tudo feito dentro dos horários permitidos para não levantar a cólera nos outros – que nada tinham a ver com o nosso problema. Todo vazamento - 99% - que aparece no teto vem do apartamento de cima. E com água não se brinca. Então fomos à luta.

Mas o problema maior é quando alguém compra um apartamento num prédio antigo, sólido, com paredes largas e com pé direito bastante alto - o que na Europa é valorizado - e aqui as pessoas resolvem fazer  em cima de nossas cabeças, um apartamento totalmente novo. E pelam o apartamento antigo em nome da modernidade. Isso é um horror, o infeliz que mora embaixo transforma-se na mais neurótica das criaturas. 

É uma demolição total, marretadas nas paredes internas, aberturas substituídas, pisos de granito removidos, remoção das tubulações ocultas de calefação, novos banheiros, fiação, encanamento total, rebaixamento do teto e aquecimento sob o piso da cozinha - como se morássemos no Alasca e não num país tropical. Faz parte de nossos dias ouvir uma britadeira que por pouco  não nos levou para o hospício. Nosso cachorro é o mais calminho; não pensei que fosse tão equilibrado. Subiu no meu conceito, é um herói.

Quando a razão está do nosso lado, os argumentos jorram com muita facilidade. Reformar é um direito de todos, mas estas pessoas precisam ter bom senso e respeito: não passar do horário permitido por lei; não trabalhar nos finais de semana e feriados. Não fazer coisas 'desnecessárias', abusando da paciência dos outros. E existem muitos que não estão nem aí para os outros, não sabem morar em condomínio. Certas atitudes fazem que o 'campo' fique fértil para os atritos, justamente por causa de vizinhos insanos. E a tolerância vai pro brejo.

É incompreensível que alguém faça uma reforma dessas, partindo do zero. Mais tarde viajam para a Europa e se extasiam com a arquitetura antiga, com o pé direito alto, com as paredes largas, com salas enormes...

Mas é isso aí, o egoísmo é como uma nuvem sobre a terra: elas apenas se deslocam, mas depois voltam. E assim acontece com as pessoas: na medida em que uns pensam só em si, a ira dos outros se multiplica. E no final uns acabam sendo o inferninho dos outros. Instala-se uma loucura coletiva e tudo fica como o diabo gosta.

Leia aqui sobre a Jurisprudência: REFORMAS EM APARTAMENTOS.



18 comentários:

  1. Isso é fogo mesmo...No meu prédio parece que todos tem muita grana pra jogar fora e estão sempre, SEMPRE em constantes reformas. Quando não é um, outro inicia!

    Fooooooooogo!!! beijos,chica

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  2. Nossa, Tais, sua crônica foi tão verdadeira que deu para ouvir o ruído - ensurdecedor - da britadeira daqui!Que coisa desagradável para ouvidos sensíveis, sinceramente. Especialmente para quem trabalha com a arte ou com a escrita e preza tanto os momentos oportunos de silêncio. Particularmente não sofro desse mal, já que morei minha vida toda em cidades menores, onde uma casa é a melhor opção. Mas nessa situação não teria o equilíbrio de seu cachorro, com toda certeza!

    Boa sorte aí, que as obras andem depressa! Um beijo.

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  3. Como será depois..... viver em comunidade, com uma vizinhança destas??????Vai demorar a passar a dor de cabeça....
    Ufff....como estou aliviado...
    Beijo

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  4. lindo texto, inteligente! então, venha ver sua fotinha, bju tere.

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  5. Minha amiga, Tais Luso. Sou síndico onde moro. Até aqui não tivemos problemas com isso, talvez,porque tenhamos poucos moradores. E, também, porque o prédio é novo e não há nada o que fazer a não ser conservar. Problemas, apenas, com devedores. No entanto, penso que comparado ao seu sigo pensando que moro no céu. Muito bom teu texto. Acabei de lê-lo ao lado da minha noiva e ficamo maravilhados. Confesso que imaginar tudo o que você falou é engraçado e ao mesmo tempo tétrico. Excelente, parabéns... Um abraço...

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  6. Taís, a sua intenção foi a de nos enlouquecer também, é isso? rsrs, tão bem descrevestes essa situação incômoda que pude sentir na própria pele ou seria nos nervos? Ai, ai, ainda bem que aqui no interior tudo é bem mais calmo e diferente.

    Beijos

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  7. Taís,
    Sabe o que falta a essa gente? Uma palavrinha simples de oito letras apenas: EDUCAÇÃO. Aquela educação que se traz do berço, aquela que nos ensinaram que nossa liberdade acaba exatamente onde começa a do próximo. Sem as famílias estruturadas que tornavam seus filhos pessoas aptas a viver num mundo civilizado, sobram sociopatas, excedem os adeptos da "Lei de Gérson", e o mundo que se exploda. Infelizmente é essa a sociedade na qual vivemos e não dá nem para culpar os políticos de Brasília, porque o problema está no próprio tecido social esgarçado por falta de limites. Abraços, JAIR.

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  8. O nosso apartamento está precisando de uma boa pintura.
    Estou fugindo de reformas...afff
    Me divirto com a forma que você escreve, Taís
    Parabéns!!
    Beijinhos de
    Verena e Bichinhos

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  9. kkkkkkkkkkkkkk
    Que verdade! Às vezes, nem consigo descobrir se a reforma está sendo feita em apartamento superior ou inferior. O barulho se espalha de tal forma que, para ter certeza, só perguntando na portaria. Ou para quem nos presta serviços.
    Durante o dia, até passa. Mas aos domingos, dá vontade de ir lá e rodar a baiana, como dizem.

    Bjs.

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  10. Taís - obrigada pela visita e pelas palavras. Todas as vezes que penso em desistir - lembro-me de você, dos nossos e-mails, dou risada sozinha e espanto a idéia. Acho que é a época das cinza: quando renascer retomo o fôlego.
    Adoro quando você e o Pedro me visitam porque sempre levantam questões importantes - sim, você tem razão. Neste caso, o amigo acostumado ao sucesso da Estação Nascente (jovem e bonitão) não percebe que chega à Poente e que não pode mais viver o mesmo mundo descartável e fugidio. Se antes a solidão não lhe batia à porta, agora ela o espreita. Sua insistência em não reconhecer que foi e não é, pode lhe render uma vida sem compartilhamentos, cumplicidades, essas coisas que só se faz com quem se ama e confia... e confiança se conquista com o tempo. Ele se condenou aos confins da solidão que reclama. Ele que por mais acompanhado estará sempre condenado à ela - por sua própria escolha!
    Quanto aos vizinhos - a semana passada o vizinho que tem uma espécie de cortiço perguntou se poderia fazer uma janela voltada para dentro da garagem da minha casa... dá para acreditar que alguém tenha coragem de pedir isso?

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  11. O ponto chave dessa questão é o respeito. Existem leis, existe o bom senso, existe o só fazer com os outros aquilo que gostaríamos que fizessem conosco, etc.
    Pois é Taís, talvez essa impetuosidade irracional, desrespeitosa, iconoclástica, seja apenas fruto do vazio existencial e do novo riquismo!
    Um grande abraço

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  12. Verdade Taís, essa situação é terrível. Eu adoro o silêncio.Você conseguiu tocar na ferida de muita gente que vive esta situação,e com toda a elegância de sempre.Mas sinceramente, por tanto barulho que nos cerca tem horas que da vontade de cantar "PARE O MUNDO QUE EU QUERO DESCER".

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  13. Ah! quanta verdade.Aqui no meu prédio o vizinho de cima acaba de reformar o seu.Esta semana chegou o caminhão trazendo móveis novos. Respirei aliviada.Mas fazer o quê? Esta é a sinfonia da vida moderna!
    Parabéns minha querida amiga pela bela crônica, como sempre.
    Bom domingo! Bjs Eloah

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  14. Eu sei muito bem o que é isso! Moro no térreo, a criançada é um terror! O barulho fora é uma coisa, dentro do apartamento é outra!
    Você já tentou passar o problema para o síndico? Sei que não vai resolver porque a reforma não terminou, mas pelo menos respeitar as regras do condomínio.

    Um forte abraço, uma semana maravilhosa pra você. bjs

    Obs.: sou síndica do meu prédio, rssss

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  15. http://cronicando-cronicas.blogspot.com/

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  16. Cadê o respeito pelos que estão no andar debaixo, pelos que estão de cima, pelos que estão do lado, do outro lado da rua, em algum lado...
    Cadê o respeito!

    Beijos para você e uma ótima semana!

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  17. Sei bem do que estás falando. Essa síndrome já chegou aqui. Meu condomínio tem 24 anos e as reformas estão a mil. Só aqui no meu prédio... perdi a conta! rs
    Beijos!

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  18. Thais adorei suas crônicas e seu blog. Você é demais.
    Me visite e dê sua sugestão nos meus escritos e no me Blog.
    abraços e beijocas
    Ivany

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Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís