- Tais Luso de Carvalho
Após ter lido uma correspondência do poeta Luiz de Miranda enviada ao jornalista Paulo Sant'Ana - e que esse a postou na sua coluna de Zero Hora -, fiquei solidária com a causa. Comoveu-me. Um poeta da envergadura de Luiz de Miranda, que foi indicado e aceito a concorrer ao prêmio Nobel de Literatura, vir a público e despir-se de qualquer vaidade, faz a gente pensar. Pensar com humanidade, pensar mais com o coração e deixar a razão um pouco de lado.
O que representa para o Estado do Rio Grande do Sul ou para Porto Alegre, olhar por esse seu nobre filho que tanto deu e pouco recebeu? O que perderiam os cofres do Estado ou do Município em arcarem com as despesas de um poeta convidado a concorrer tal prêmio? O prefeito José Fortunati lhe prometeu ajuda há dois anos. E daí, nada?
A mim não interessa os porquês, as razões disso ou daquilo. O que está em voga é a súplica que li, a humildade que vi. A grandeza que apareceu. Se fosse dita em formato de poesia acharíamos maravilhoso. Mas foi escrita em formato de angústia, de penúria, de descaso. Foi escrita, quem sabe lá, regada a lágrimas escondidas, amor ferido. Veio-me uma imagem de mão estendida.
Uno-me ao jornalista Paulo Sant'Ana na esperança de ver um gesto grandioso de nossas autoridades, mas sem esperar por trâmites burocráticos vergonhosos. Quem sabe lá não está na hora de o Estado do Rio Grande do Sul bancar essa causa rapidamente antes de que outro Estado se comova e que estenda a mão para esse gaúcho que é coisa nossa, responsabilidade nossa, orgulho nosso.
E que lástima o poeta ter sua vida privada tão exposta, mas foi grandeza, usou o coração de poeta: um coração que pede de cabeça erguida, que conta seu sofrimento na esperança de não ser esquecido.
Um gesto de carinho e agradecimento está mais do que na hora.
Porto Alegre, Rio Grande do Sul, mostrem um gesto de carinho, de gratidão e de reconhecimento.
CARTA DE LUIZ DE MIRANDA À PAULO SANT'ANA
Querido Paulo Sant’Ana. Estou vivendo em completa miséria. Vivo há vários anos fazendo uma refeição por dia. Escolhi jantar. Não tenho nenhuma fonte de renda, pois poesia não dá dinheiro. Agora, sou candidato ao Nobel de Literatura 2013, o primeiro gaúcho num Nobel. Estou sofrendo há algum tempo uma ação de despejo, a qualquer momento posso ser colocado na rua.
O prefeito Fortunati ficou de me dar uma pensão mensal, mas se passaram mais de dois anos e nada aconteceu. O governo do Estado nada fez. Tenho problema de saúde: diabetes, pressão alta, insônia crônica. A cada mês, tenho que arrumar dinheiro com meus amigos. Devo ser o único candidato a um Nobel que não tem onde comer e morar. Mando-te o abraço amigo do sul do mundo.
(ass.) Luiz de Miranda.
URUGUAIANA, PONTO FINAL
Luiz de Miranda
Leia mais sobre Luiz de Miranda nos Blogs:
Minha cidade, minha cidademeu pedaço distante de eternidadecada vez mais longe e mortoa rua Aquibadanfaleceu na minha infânciatomada por um generalo bairro do Riachomudou de nomepor decreto municipalNão digo mais o teu nomeque o meu coração dispara e morreprefiro a distância milagrosada memóriao enigma carregado de medoprefiro não ver-te, não falar-tejogar fora as chaves dessa paixãoe caminhar para sempre a tua ausência-------fonte: Estado de Alerta, ed. Movimento pág 71
Veredas
Naco de Prosa
Limerique
ResponderExcluirLuiz de Miranda vítima da sordidez
Do poder público, da mesquinhez
Condenado a inania
Pobre, pena em agonia
Pois seguidores de Érato não tem vez.
Um pais, um município , um estado que cuida de seus poetas está abrindo portas para a vida. Uma pena que valorizemos tão pouco esses "donos" da escrita.
ResponderExcluirLindo post Tais!
Pois é minha amiga!
ResponderExcluirTrazer um prêmio Nobel de Literatura,não é tão importante quanto marcar um goal.
Sabe aquela antiga frase?"Poeta bom meu bem,poeta morto"
Lamentável minha amiga!
Um grande abraço!
Izildinha
Lamento por isso minha amiga,lamento pelo descaso com a Educação, o descaso com as pessoas que transitam pelas ruas acuadas, e com medo,trabalham parte do ano só para pagar impostos e como proteção temos a célebre frase"Não reaja"
ResponderExcluirQuanto ao poeta trazer um prêmio Nobel para seu povo...Será que as autoridades sabem o que significa isso? Não devem saber minha amiga.Eles não leem poemas,só contam cédulas.
Lindo!
Amei!
Tais,
ResponderExcluirSeu texto emociona, pois traz à tona as injustiças - não da vida - mas dos homens, que quando governam, parecem fazê-lo para si mesmos! Esperamos que, com o clamor da carta do poeta, algo urgente, imediato, possa ser feito, afinal que paradoxo: conquistar um Nobel (refiro-me à condição de candidato do gaúcho), mas não ter sequer a dignidade de fazer no mínimo duas refeições por dia?! Está aí o reflexo do valor que se dá a educação e a cultura... Muito triste, realmente de cortar o coração!
Assim como você, fico com a esperança de que alguém por aqui se levante para preencher com dignidade a mão humildemente estendida em busca de auxílio. Que algo seja feito, e depressa!
Um abraço e meu carinho por ti!
Dá que pensar, parece que os grandes tem de morrer na miséria para no futuro serem imortalizados
ResponderExcluirbeijinho
Taís, infelizmente os grandes artistas, em todas as áreas, só costumam receber homenagens póstumas. Tantos outros cidadãos, sem qualquer mérito, encontram patrocínios com facilidade. Fico sensibilizada com a situação do poeta e espero que seu lamento seja ouvido por quem o possa ajudar. Bjs.
ResponderExcluir
ResponderExcluirOlá Taís,
Fiquei sensibilizada com a situação do poeta. Infelizmente, independente de ser ele uma pessoa ilustre e destacada na arte, a humanidade ainda não aprendeu a dar valor ao que tem valor, inclusive a dignidade humana. Tenho visto artistas serem resgatados das ruas graças a reportagens jornalísticas. Espero, sinceramente, que através desse jornalista, o poeta receba o apoio que precisa e o reconhecimento que merece.
Parabéns pela crônica.
Beijo.
Tais querida, usando uma metáfora, seu texto me cortou o coração em pedacinhos e sangrou muito, após ter feito a leitura do mesmo.Que paradoxo " candidato ao Nobel de Literatura", e não tem comida nem teto e nem......Quem sabe com tantas pessoas citando o problema do grande poeta, que deu fama ao lugar onde vive e, é esquecido,Tais, tenho a certeza de que o problema será solucionado o mais rápido possível.Gostaria dentro do possível ficar informada. Obrigada! Grande abraço!
ResponderExcluirPensar com o coração e um dia morrer na miséria! Depois transformam-nos em estátuas de bronze. Deviam governar com poesia para reconhecerem a cultura.
ResponderExcluirBj
Que coisa, que país é este? Depois querem incentivar as crianças no mundo da leitura... Sabe o que podemos fazer? Vou começar comprando livros dele!
ResponderExcluirOi Tais,
ResponderExcluirComovente esta crônica. Que pena que o nosso país não se preocupe um pouco mais com a cultura.Que pena que muitos de seus filhos que possuem dons maravilhosos, no caso, como o de ser um poeta e ainda por cima ter a honra de ser indicado ao premio Nobel de literatura , chegue à este ponto de tamanha desolação. Como ele mesmo citou em sua carta ao jornalista, (Poesia não dá dinheiro.) e ao meu ver os interesses aqui são outros. Veja no caso do Futebol, o quanto se tem aplicado em verbas.Não desmerecendo o valor dos nossos craques.
Que bom que você tenha levantado esta bandeira e tomara que o jornalista Paulo Sant'ana possa escutar o grito silencioso e triste deste poeta.
Grande abraço Taís,
Sempre ligada aos temas e fatos de extrema importância para a nossa sociedade.
Bjs. Bom final de semana.
...Mas, a poesia alcança as fadas
ResponderExcluirAtravessa os pântanos,
Encanta a chuva na madrugada
Acompanha os ébrios nos dormentes,
e se mistura à solidão das calçadas.
Bjs. Taís, parabéns pela crônica.
De fato Tais, um apelo emocionante, despido de tudo, mas não da dignidade de quem espera reconhecimento - maior e mais "substancioso"do que título, troféu ou fama.
ResponderExcluirFalar me País, em Pátria, no meu tempo de menina, era motivo de estufar o peito, cantar Hino com a mão no peito... o que vejo hoje é o descaso de quem bate nas costas, que vira as costas, de quem esconde os olhos e as mãos, enfia a cabeça em buracos enquanto sangram tantos corações aflitos.
O povo gaúcho tem no sangue uma centelha diferente, que ela seja a nova semente no nascer urgente de uma solução decente!!
Um enorme abraço, solidário ao teu inconformismo cívico, humano!!!
Desejo-lhe um lindo domingo, Taís. Bjs.
ResponderExcluirOi Taís! Saudades de te ler!
ResponderExcluirUma vergonha e um descaso que é regra com os escritores atuais no Brasil. Poema não paga conta, livro só é sustento quando vira best-seller e muitos bons escritores são perdidos no meio do caminho por terem que ganhar a vida. As próprias carreiras das ciências humanas são desvalorizadas, letras, história, filosofia, artes, praticamente impossíveis de ganharem o mesmo respaldo e apoio financeiro que nossas engenharias.
Não conhecia Luiz de Miranda...Ah, corri pra ver né
Adorei esse poema aqui
O Mundo É Pequeno
O mundo é pequeno,
não vai além de nossa casa.
A estrada e o aramado
vizinham mas não se amam.
O silêncio morre
neste tapete de ausências
onde procuro o sono e a manhã.
O vinho é a esperança
onde escrevo e permaneço.
Beijos Taís!
Olá Tais!
ResponderExcluirÉ uma vergonha. O seu país e o meu também, tratam muito mal os poetas e os artistas. A não ser aqueles que andam a lamber as botas dos políticos para obter dividendos.
O poeta deve sentir-se muito mal, para chegar a esse ponto e ter que pedir!!!Que sofrimento, minha amiga.
Um abraço
M. Emília
Tais, é para não acreditar. A carta de Miranda é um libelo forte contra os responsáveis pela cultura brasileira! Humilhante.
ResponderExcluirMeu abraço, e que sua divulgação ajude o poeta.
Jorge
Olá Taís, não tenho outra palavra senão Vergonha de um Pais como o nosso que usufrui dos feitos intelectuais de um poeta e o indica para um Premio Nobel e não lhe dá assistência para viver com dignidade!!
ResponderExcluirO descaso é revoltante! Que os governantes tomem as devidas providências a favor de Luiz de Miranda!!
Beijos, Vilma
Taisamiga
ResponderExcluirClaro que conheço a obra de Luís de Miranda, apenas em parte (o todo é impossível, pois de acordo com a Wikipédia é o poeta com maior número de versos em todo o Mundo) e fico dorido ao ver como sobrevive. Não posso deixar de transcrever um passo da carta que escreveu ao jornalista Paulo Sant'Ana que, por acaso, tenho o prazer de conhecer. Assim, sublinho: ...estou vivendo em completa miséria. Vivo há vários anos fazendo uma refeição por dia. Escolhi jantar. Não tenho nenhuma fonte de renda, pois poesia não dá dinheiro.... Um espantooo!!!!
Como é possível que um candidato ao Nobel da Literatura escreva isso? Estamos mesmo muitíssimo mal em Portugal, a atravessar quiçá a maior crise desde o regicídio que originou a I República, 5 de Outubro de 1910 até ao presente. Mas, ao que julgo conhecer nunca tal se passou por cá!
Estou solidário com as diligências que permitam ao Poeta viver decentemente - pelo menos com a minha solidariedade; o resto, ver-se-á...
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Entretanto...
Na nossa Travessa há um artigo de um tal Vicente Antunes Ferreira (meu neto, 14 anos) sobre o tema candente – pelo menos para os amantes do futebol – que é a telenovela do jogador-maravilha, o Bruma, cujas andanças entre o Sporting e os pontos de ??? tem posto ao rubro o período de férias do chamado desporto-rei e não só… Se quiseres lá dar um saltinho, verás das habilidades do moço, muito melhores do que as do avô babado…
Qjs e abç ao Pedro
Henrique
Quantos de nossos artistas passam por essas situações. É de causar muita dó. É também de causar revolta o poder público não tomar a frente e ajudar a quem honra o seu estado. A Secretaria de Cultura tanto da prefeitura como do estado poderiam "comprar" essa causa. Grupos de intelectuais devem fazer campanha para ajudar ao poeta Luis de Miranda. Este é um momento muito oportuno. Obrigada, Taís, pela solidária divulgação. Que tudo se resolva a contento!
ResponderExcluirBeijos,
da Lúcia
Situação triste, mas vamos por partes: Ele não tem empresário?
ResponderExcluirEle pode solicitar a Lei Rouanet para publicar livros.
Acima de 65 anos qualquer cidadão brasileiro tem direito a uma aposentadoria de um salário mínimo ou seja, 678 reais por mês. É pouco, mas milhões de brasileiros vivem com este salário.
Ele pode se inscrever no programa Minha Casa, Minha vida.
Outra dúvida: Ele não tem parentes, irmãos, filhos..., alguém com quem possa morar?
O mau dos brasileiros é esperar tudo do governo, ficar de braços cruzados a vida inteira e depois se dizerem abandonados e vítimas do sistema.
Longe de mim, desmerecer o Poeta, pois eu também sou poeta, porém, trabalhei e construí meu pezinho de meia pra sustentar minha velhice.
Outro mal de muitos artistas ( não sei se é o caso dele) é gastar tudo que ganham e quando chega a velhice vão pra TV choramingar e dizer que ninguém lhe dá emprego. Muitos acabam na sarjeta porquê não sabem administrar a vida. Não se preocupam em economizar como qualquer mortal, não pagam a previdência e depois caem no alcoolismo e nas drogas. Não estou dizendo que é o caso do Poeta acima, mesmo porque não conheço a vida dele.
Mas, não podemos esperar tudo do governo, temos que ser responsáveis pela nossa sobrevivência.
Tem a Lei Rouanet que enriqueceu milhares de artistas inclusive aqueles que não precisam como Caetano Veloso e Gilberto Gil entre outros.
Olá, Marta:
ExcluirLuiz de Miranda recebe um salário-mínimo por mês, mas pela sua carta, ao P. Santana, dá para ver que não consegue se manter. Como eu disse no texto, a mim não interessa os porquês, as razões de isso ou daquilo. O que está em voga é a súplica que li, a humildade que vi. Quanto a ele ter parentes, não sei lhe responder. Pelo visto acho que não, pois vive da ajuda de amigos.
Não sei dizer se o problema dele está ligado com a publicação de mais livros (Lei Rouanet), pois ele já publicou mais de 40 livros. Como você deve saber, livro de poesia vende pouco nesse país. De qualquer forma torço para que a Prefeitura ou o Estado Gaúcho ampare definitivamente o nosso poeta que está indicado para o Prêmio Nobel de Literatura. Afinal, o nosso Estado já amparou o nosso saudoso Mário Quintana, o que fez muito bem. Quintana também merecia esse amparo. Olhe a obra que nos deixou...
Atualmente, já está morando num hotel (amparado por um empresário), pois foi despejado do apartamento em que vivia. Acredito, sim, que os gaúchos vão lhe acudir...
Agradeço sua visita e seu comentário.
Um abraço.
Destas pessoas que comentaram,quantas deram algum tipo de ajuda?em certos momentos as palavras são dispensáveis e as atitudes são mias importantes.
ResponderExcluirAngel: as pessoas que estão procurando ajudar o poeta querem fazê-lo de forma que ele não se sinta humilhado ao receber uma ajuda aqui, outra ali, sempre na dependência de mais um favor desta ou daquela pessoa. O que ele necessita é de uma contribuição fixa e mensal que tanto pode vir do Estado como do Município.
ExcluirUm abraço.