29 de maio de 2014

ENVELHECER COM DIGNIDADE



               - Tais Luso de Carvalho

Ontem tive meu dia um pouco estragado. Mas a vida é assim, ora rosa, ora um cinza sujo. Nauseante. Infelizmente não sou lá muito otimista para achar que o ser humano é virtuosíssimo, maravilhoso. Há um ponto de oscilação, muitas vezes ficando um pouco abaixo do esperado. E tal decepção deve acontecer aos montes.

Segundo Darwin, embora tenhamos a capacidade de amar, também somos selvagens. Basta ver o que acontece no nosso país, na nossa cidade, no prédio onde moramos, nas famílias e no mundo virtual – onde a exposição é grande. Atrocidades por minuto. Todos os humanos se matando.

E para se viver num clima desses, oscilando entre alegrias e tristezas, amores e ódios, mesquinhez e calúnias é preciso ter sangue de barata, pois o contraste entre o bem e o mal é alucinante, faz perder o ânimo e a crença nos homens de boa vontade.

Minha náusea se deu quando saí para comprar um presente. Entrei numa loja, e a filha dos proprietários, já idosos, veio ao meu encontro. Conversa vai, conversa vem, acabou contando-me que há dois meses seus  pais estão numa casa geriátrica, tipo meia-boca, sem jardim, sem médicos, sem fisioterapeutas. O quartinho mal cabe a cama do casal, que até então moravam no seu apartamento de um andar inteiro. A filha, que me recebeu, descreveu a tal casa de idosos como muito precária. E falou da vida triste dos pais, inclusive sem plano de saúde, que os próprios filhos suspenderam. Pois é...

O casal passa o dia inteiro no quarto, já que não podem mais andar sozinhos. Os velhinhos, até há pouco, viviam andando pelo bairro, acompanhados pela cuidadora. Paravam sempre para conversarmos.

Lá pelas tantas perguntei como estava o pai, com toda essa situação, já que a mãe está mais debilitada.

Olha… o pai usa de um mecanismo para fugir da realidade, não quer sofrer mais com a situação atual. Ele se nega a falar.

Juro que custei a entender aquele horror. Os filhos, todos com curso superior, bem de vida, suspenderam o plano de saúde que o casal pagou a vida inteira para ter uma velhice digna. Tiraram os pais do apartamento alegando que não podiam cuidar deles; que os remédios custavam muito caro, o plano de saúde, a faxineira, a cuidadora... Mas caramba, o casal tem vários apartamentos, tem bens, tem dinheiro! A velhinha sentia-se feliz rodeada dos bisnetos.

Como os conheço  há muitos anos, o coração apertou; meus olhos revelaram o que eu senti. E até hoje não consegui entender as explicações. Ou melhor, entendi tudo. Com certo esforço, entendi.

Os velhinhos choram. Mas não há mais forças para tocarem o coração dos filhos. Eles já deram o que tinham de dar, agora estaria na hora da colheita, não por obrigação, mas por amor.

Essa é uma das tantas histórias tristes da vida, cujos personagens pertencem a uma classe social privilegiada. Eu tenho pena de velhinhos. Eles sentem, pressentem, choram. E tentam esconder... Mas quem de nós está preparado para lidar com tanta decepção e mágoas?

Acho que fui uma testemunha ocular... Nem o mordomo faz falta nessa história, já que ingratidão, desamor e mesquinhez não tem mordomo que supere.

Mas os humanos são assim, uns com suas virtudes e outros canalhas, cheios de tampas e esquemas. E desses, esperar o quê? Sou mais uma a aumentar a fila dos descrentes.
Mas todos envelhecem… É só esperar.




35 comentários:

  1. Amiga Tais, apesar da revolução tecnológica atual, de todo avanço científico, ainda precisamos de outra revolução para melhorar o mundo, ou seja, necessário a revolução do amor. O apóstolo Paulo (Saulo) já dizia há dois mil anos, que em não havendo amor (em contraponto ao ego exacerbado), tudo era inútil. Cito o apóstolo, não por fanatismo religioso, mas por uma questão racional e lógica, pois parece-me óbvio que o mal do mundo é o egoísmo e enquanto não abrirmos o coração e ouvirmos a voz da consciência não avançaremos moralmente.
    Um abração. Tenhas uma boa tarde/noite.

    ResponderExcluir
  2. Que triste isso,Tais!
    Na pior hora da vida suspendem o plano de saúde? Que barbárie!!!

    Incrível isso!Mas, infelizmente acontece e a vida dará o troco aos filhos, certamente.basta o tempo passar!! beijos,chica

    ResponderExcluir
  3. Taís Lindo texto adorei ler a vom pensar no envelhecimento com dignidade aindo hoje acompanhei os idosos do Centro Social daqui da paroquia a Fatima fomos rezar a virgem Maria eles vão todos felizes apesar de alguns a gente ter de lhes dar a mão.
    Beijos
    Santa Cruz

    ResponderExcluir
  4. Essa situação é bem comum e muito triste.
    Aposentadorias

    ResponderExcluir
  5. Infelizmente esta é uma história bem comum entre nós, os "humanos" (com o perdão da palavra...). Mas como você disse, todos nós envelhecemos...

    ResponderExcluir
  6. Olá, boa noite, para você.

    Viver, e seguir desafiando a felicidade.

    Abraços.

    ResponderExcluir
  7. Minha querida amiga Tais, quando aprenderemos a respeitar nossos velhos, nem falo no respeito oriental, mas um respeito pelo que passaram, pelo que fizeram inclusive seus filhos...existe muito filho ingrato, e este é um exemplo, mas será que eles não percebem que estão dando carta branca aos seus filhos para fazerem o mesmo com eles ? Eu lamento tanto...Querida Tais, sempre um exercício de sentimentos ao ler teus posts, obrigado.
    ps. Meu carinho meu respeito e meu abraço.

    ResponderExcluir
  8. É isso aí.....Esperar para ver....se o esperado se
    confirma....
    Estou a ler aqui ao lado, nas reflexões, que.....
    "Família só é bonita no porta-retrato?"
    É.... o retrato mostra-se a toda a gente, mas a
    vida real se esconde....
    Triste realidade....esta sua crónica de hoje....
    Beijo grande...Abraço

    ResponderExcluir
  9. Pois é, Taís
    Esta situação é revoltante mas infelizmente muito comum nos dias de hoje.
    Os jovens se esquecem que um dia também vão envelhecer...

    Te desejo um ótimo final de semana
    Beijinhos afetuosos de
    Verena e Bichinhos

    ResponderExcluir
  10. "Todos envelhecem", você termina assim, Taís. Se não morrerem antes, é realmente o que acontece. Dizem que não se deseja mal a ninguém. Sabe, estes que abandonam seus pais, velhinhos, indefesos. Que tal acabarem de forma um pouquinho pior? Vingança, praga? Não... Tem outro nome. Justiça!

    ResponderExcluir
  11. Que triste Tais, mas esta é a realidade infelizmente.
    Um abraço querida amiga pela doce visita.

    ResponderExcluir
  12. Uma realidade social meio controversa, porque na maioria das famílias, apenas um dos irmãos costuma ficar responsável de cuidar dos pais idosos. Os mais "abastados" não têm tempo, apenas ajudam financeiramente, e fazem uma visita no "natal"... pra tirar aquela foto,... de família feliz!!!
    - Bom envelhecimento à todos!

    ResponderExcluir
  13. Taisinha:
    Como esse pai não iria querer “fugir da realidade”, depois que, com mais de noventa anos, pai e mãe foram jogados numa espelunca que recebe pessoas idosas para serem “cuidados”?
    Esse casal de idosos, que conhecemos a muitos anos, tem muitos bens. E como disse a filha, se vendessem apenas um dos apartamentos dos velhinhos eles poderiam ter velhice decente, mas, disse ela, que seus outros irmãos não querem se desfazer de nenhum dos imóveis. Essa indignidade mostra-se maior quando pelo fato de que as pessoas só podem herdar depois da morte dos pais.
    Amanhã, quando esses filhos crápulas estiverem também velhinhos, haverão de pagar, com juros, o preço por esse aviltamento.
    Beijinho.

    ResponderExcluir
  14. E pensar que, ao longo dos anos, com esses filhos, perderam noites de sonos, amamentaram, trocaram suas fraudas imundas, levaram ao médico, se preocupavam quando esses chegavam tarde da rua, de suas noitadas. E também estavam, na formatura, orgulhosos, deixaram de comer, vestir, pra priorizar seus pimpolhos, desejaram, por fim, na morte, ir antes, supondo não suportar o desgosto... Pra que? Agora são jogados como pacotes de lixo, abandonados como fardos, empecilhos, como coisas descartáveis, fora da validade, da vida útil.

    ResponderExcluir
  15. Isso não tem nome... muito menos sobrenome de uma família constituída pelo casal que se dedicou e, hoje vive à beira da marginalidade humana. Uma vergonha familiar daquelas que não consigo conceituar!
    Abraço.

    ResponderExcluir
  16. Oi Tais,

    nesta hora a gente pensa o que será de nós amanhã??? Um pai cria seis filhos, seis filhos não criam seus pais!!! Triste realidade!!!
    E ainda nos dizemos evoluídos!!!! Olha aí o lado "selvagem" mostrando suas garras!
    Fico indignada.

    Bjs Tais, boa semana

    Leila

    ResponderExcluir
  17. Tais, esse texto é real, aconteceu mesmo? Foram excluídos até do plano de saúde? Onde estamos, que seres são esses ?
    Sem mais comentários...
    Um beijo e boa noite!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Shirley, difícil de acreditar, não? Mas nada é tão real. No fundo eu não queria entender e nem acreditar. Conheço os velhinhos desde o tempo em que eles não eram velhinhos. Faziam tudo por aquela família. O pior de tudo foi o plano de saúde... Sei lá, na verdade não consigo ver o que realmente foi pior!
      Beijo!

      Excluir
  18. Taís, que triste essa história! Tanta gente que não tem nada e cuida dos pais idosos aos trancos e barrancos e esses filhos ingratos nem pra pagar um lugar decente para os pais! É mesmo de deixar descrente! Os homens podem ser muito crueis tb...bjs e boa semana,

    ResponderExcluir
  19. Oi Tais vim agradecer sua visita ao meu blog FILOSOFANDO NA VIDA, Já estou seguindo o seu com este perfil, logo voltarei com o mais antigo PROFESSORA LOURDES DUARTE, porque amei o seu. Ficarei grata com sua visita e participação nos mesmo.
    Grata pela visita, volte sempre aquele cantinho é nosso.
    Uma noite abençoada, e um inicio de semana na paz de Deus.
    Lourdes Duarte
    http://filosofandonavidaproflourdes.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  20. Olá, Taís, fiquei feliz com a sua visita. Continua lindo o seu espaço.
    É revoltante essa história. Esses pais se desdobram uma vida inteira e quando mais precisam dos filhos são descartados como roupa velha. Isso não é atitude de filho, não merece ser chamado de filho quem faz uma coisa dessas. Eles são privados de tudo e a filha usufruindo numa boa de tudo o que eles conquistaram. Mas, como você disse, ela também vai envelhecer.
    Bjs

    ResponderExcluir
  21. Oi, Tais! Passando por aqui pra agradecer seu comentário e pra conferir as últimas no seu campeão de audiência. Espaço privilegiado e inspirador! Um beijão.

    ResponderExcluir
  22. Tais, os filhos chegaram onde estão graças aos pais. Pais que teriam condições para manter uma vida digna se não fossem abandonados. Nem adianta eles se prepararem para a velhice porque não sabem o que vão fazer com suas economias. Para ficarem bem, os pretensos herdeiros passam sobre o maior dos sentimentos, o amor. Ainda que este não existisse, onde guardam o respeito e a gratidão? Não consigo encontrar o sentido de família nos fatos que descreveu. E nem adiantaria a filha "tentar" explicar, porque não existe fundamento para suas atitudes. Do jeito que as pessoas estão se relacionando, atualmente, melhor seria que, ao sentir a velhice chegar, preparássemos nossas malas , vendêssemos nossos bens e encontrássemos um lugar decente para viver, com tratamento adequado e às nossas custas. Bjs.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Marlene, a explicação toda foi jogando a culpa pela situação nas costas dos outros irmãos, o que não deu pra entender, pois todos são filhos... Daí as várias perguntas que fiz ficarem sem respostas. Eu levaria meus pais para minha casa, independente dos irmãos. E o plano de saúde?? Foi um escândalo, sem resposta.

      Beijo.

      Excluir
  23. Querida Tais, como não se emocionar e ao mesmo tempo ficar com raiva por tamanha insensatez. Que filhos são esses?
    Todos estamos envelhecendo e isso me causa um pouco de insegurança, porém creio que meus filhos nunca fariam algo parecido, pois demonstram um grande respeito por nós, seus pais.Fico imaginando você, minha querida amiga, ouvindo os comentários da filha ingrata.Porém há milhares de situações semelhantes e o pior que nada podemos fazer, já que nem somos da família.Aí, até me sinto covarde, mas fazer o quê? Fiquei muito triste, mas que Deus tenha compaixão destes filhos desnaturados.Certo é que eles vão envelhecer e aí......Desculpe-me por tomar tanto espaço, mas eu ficaria escrevendo sobre as injustiças com os idosos, com as crianças e tantas mais. Grande beijo! tenha um lindo dia!

    ResponderExcluir
  24. O abandono e a ingratidão. mais que um pecado são um crime. E na Lei de Deus, ou Lei Natural como preferir, não existe ação sem reação. Não existe premio ou castigo. Só existem consequencias. A consequencia de abandonar seus velhinhos sera voce ser abandonado(a) quando chegar sua vez. Não se iluda. A Lei é clara e inflexivel. Não ha advogado "espertinho" para dar um jeito.
    Vamos sempre lembrar que "O plantio é livre mas a colheita é obrigatoria. É só estudar a filosifia Espirita Kardecista, ou o Budismo, e se convencer disso.

    ResponderExcluir
  25. Pais & Filhos

    Os pais põe no mundo seus rebentos
    E portanto sentem-se bem realizados
    Pois viveram seus dias cem por cento
    E não esperam sequer muito obrigado.

    Se já velhos, não querem paparicação
    Apenas mera filial atenção lhes basta
    Que filhos aos pais lhes deem atenção
    Certa atenção que une, não os afasta.

    Mas o que ocorre em muitas famílias
    Respeito aos velhos pais, uma utopia
    Quer sejam eles netos, filhos ou filhas
    Por eles não nutrem qualquer simpatia.

    Os descendentes formam camarilha
    E dos bens cada um deseja sua fatia.

    ResponderExcluir
  26. Tais, minha querida, que história!
    Me emocionei, de tristeza.
    Perdi minha mãe a 19 anos. Sinto uma saudades imensa dela. Hoje ela estaria com 75 anos. Ás vezes fico imaginando como ele seria se estivesse ainda em seu seio familiar. Meu pai tem 76 anos. Mora em seu sítio de onde sempre tirou o sustento da família com muito trabalho e dedicação. Queria estar todos os dias perto dele. Bater aquele papo, tomar o chimarrão antes do almoço e à tardinha. Ouvi-lo a falar de suas vaquinhas, da lavoura, do preço do soja, da galinha que chocou seus ovos gerando mais pintinhos, etc, etc. Coisas simples de uma vida simples regada de muito amor e carinho. Meu trabalho, a distancia me atrapalham, nos separa. Consigo estar com ele toda semana. Mas queria estar todos os dias. Admiro a cultura da reverencia dos japoneses pelos seus "velhinhos", seus ancestrais.
    É de lastimar ler essas histórias. E olha não são poucas. Trabalho em uma escola e quantas histórias ouço todos os dias sobre a dor de quem tanto amor e carinho deu e hoje só recebe maus tratos. Sofro muito em ver e ouvir. Acredito que quem faz isso terá um destino de muita dor, vai pagar muito caro pelo que faz com quem tanto bem lhe fez.
    Desculpe Tais. Estou meio melancólico hoje.
    Acabo sempre afugentando minha decepção com o ser humano e relembro o que de bom já fiz por aqueles que fizeram tanto na vida.
    Vamos fazer a nossa parte.
    Paz e Luz.

    ResponderExcluir
  27. Estou contigo nesta fila...cada vez mais!

    ResponderExcluir
  28. Muito tocante essa história, Taís. Embora isso seja comum no ocidente, não é caso para descrer da humanidade. Observe que você mesma se horrorizou com isso, e todos os comentaristas seguem sua opinião. Significa que há uma consciência agindo para o desenvolvimento da espécie, não estamos abandonados sozinhos na selva: O moinho vai girando e nós vamos nos desenvolvendo. O problema é apenas de ritmo, a vez de se conscientizarem também chegará para eles. Paciência, paciência, paciência!
    Beijos.

    ResponderExcluir
  29. Bela postagem!
    Bjins
    CatiahoAlc./ReflexodAlma

    ResponderExcluir
  30. Oi Taís, que coisa intrigante...
    Não dá para acreditar a coragem dos filhos, tendo boas instrutura financeiras.
    Que troco terrível estão dando a quem não merecem.
    Como ainda acredito no ser humano, um dia se arrependem... E será tarde demais.

    Abraços

    ResponderExcluir
  31. É verdade! Por estes dias, aqui no condomínio, um senhor de 90 e poucos anos foi para uma "clínica": nome menos assustador do que asilo, mas é a mesma coisa. É triste. Melhor envelhecer do que morrer cedo. Mas com dignidade, saúde e independência.
    E quantos nem visitam seus pais por lá.
    Beijinhos, querida!

    ResponderExcluir
  32. Os netos desse casal de idosos estão presenciando a atitude de seus pais. É uma pena, mas a probabilidade de fazerem o mesmo com eles é muito grande.
    Belíssimo depoimento Taís.

    ResponderExcluir
  33. Boa noite Tais.
    Muito triste esse relato, por dinheiro o ser humano esquece de qualquer sentimento, isso é para quem tem sentimento. Nesse caso com certeza ela não precisava dos irmãos, faria uma curatela dos pais e assumia a responsabilidade por eles. Enfim muito triste a realidade hoje em dia , não consigo entender como existe pessoas desse tipo, egoístas, desumanos. Se fez isso com os pais,imagine com outras pessoas. Uma feliz noite. Beijos.

    ResponderExcluir


Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís