27 de outubro de 2015

MUDAR DE CASA, MUDAR A CASA, MUDAR...






           - Tais Luso


Há muitos anos eu adorava mudar os móveis e os objetos de lugar. Mudar a cara da casa: criar, inventar – estilo professor Pardal, o pato desastroso.

Algumas coisas foram ótimas, outras um desastre anunciado, como um jardim suspenso que tentei fazer com pedras de mármore - a sétima maravilha do mundo - dentro de um apartamento. Eu dizia à minha família que seria ótimo, uma questão de adaptação. Assim, com o tempo, ninguém mais se esborracharia pelo chão batendo nas coisas. Enrolava a turma...Mas de vez em quando não dava certo.  Ainda adoro mudar a casa.

Mas à medida que mudar a casa é prazer; mudar de casa é estressante, um suplício:

'Não encosta aqui, coloca lá, cuida o chão moço!!! Olha a mão na parede pintada!!'

Não existe mudança em que as criaturas não se escorem nas paredes para descansar. E depois de tudo, começa a segunda etapa da tragédia: chamar o eletricista, o encanador, os homis, os especializados  que marcam hora e não aparecem.

Mas o ponto máximo dessas loucuras de mudanças é o que ainda encontro de bugigangas, de lembrancinhas (sem mais sentido), de canetas pré-históricas, agendas obsoletas, roupas das cavernas, sapatos, louças duplas e de quatrocentas inutilidades que atravancam a vida. Faço as doações, mas quando vejo, a montanha de inutilidades cresceu. Hoje, prefiro que minhas recordações permaneçam mais no coração. Nele há espaço. Mas é um exercício diário.

Cria-se, assim, uma área mais livre em casa. Espaço é luxo. Luxo no sentido de amplidão, o luxo em si não faz minha cabeça. Gosto da mistura de estilos.

Mas mudanças se farão sempre em nossas vidas, mesmo contra nossa vontade: mudamos os cabelos, os dentes, a fisionomia, a pele; trocamos os sonhos, mudamos as prioridades. Experiências são inevitáveis; umas ótimas, outras nem tanto, mas tudo é um aprendizado e enriquecimento. E tudo é válido, até o dia em que esbarrarmos com a nossa última mudança: aquela...



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33 comentários:

  1. Lindo texto, adoro poder me desfazer de coisas guardadas, se não faço isso me sinto que há algo me incomodando.
    Mudanças de casas, eu só mudei uma vez, da minha casa de solteira para a de casada e ainda moro na mesma.
    Meus filhos insistem para que eu e meu marido a vendamos para comprar uma menor, quem sabe apartamento ou sobrado, mas resistimos a essa ideia, estamos aos poucos tentando pensar em ter que mudar, casa grande com escadas e tudo o que, no futuro será ruim, pois estamos indo, ainda nem penso na velhice propriamente dita, rs, mas ela chegará se não tivermos de nos "mudar" ,rrs "aquela", que nem sequer queremos nem pensar!!!
    Amei ler aqui, abraços linda amiga!

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  2. É como se diz: "De permanente só as mudanças". Beijos, Tais.

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  3. Gostei imenso do texto com o qual me sinto identificada. Sempre gostei de andar a mudar as coisas na casa. Fazia-o em casa da minha mãe, depois na primeira casa que tive e agora nesta. Há móveis que vão andando pelas divisões todas...
    Também sou muito apegada às coisas e guardo tudo. A casa vai ficando cheia, porque tudo o que aqui chega tem um lugar. Também gosto da mistura de estilos, com preferência para um estilo rústico e campestre.

    Enfim, este texto diz-me muito:)

    Um beijinho:)

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  4. Que lindo te ler e esse final diz tudo!Adorei!Podemos mudar tudo no exterior, mas chega uma hora que o interior grita por mudanças! bjs,chica

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  5. Amiga, nem te conto quantas mudanças já fiz em minha vida...Ufa!!! Muito cansativo! Pior de tudo é que teve mudança internacional! Levei um mês inteira para embalar tudo e mandar pelo navio...uma verdadeira epopeia!
    Agora já faz 19 anos que estou no mesmo lugar e estou amando essa rotina!!! Acredite, quando você não tem rotina ela faz muita falta!
    Amei seu texto!

    Bjusssss

    http://marciagrega.blogspot.com.br/2015/10/cada-um-ama-como-pode.html

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  6. Soneto-acróstico
    Mudar

    Mesmo que esteja perfeito este lugar
    Apenas um pouco monótono talvez
    Segue-se que a vera vontade mudar
    Meio que contraria alguma sensatez.

    Uma urgência de pelo mundo vagar
    Dá ao nômade a sensação de fluidez
    Aqui, além, muito longe, até ultramar
    Rodar todo tempo, todo ano ou mês.

    Porém, não cria limo pedra que rola
    Resistir à mudança, vale a pena sim
    Aquele que fica, bem a vida controla.

    Que mudanças não sejam mero fim
    Uma vez que, mudar somente isola
    E o que é bom pode tornar-se ruim.
    ?

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  7. Um belo texto amiga, que incentiva o desapego que tanto acumula tralhas e mais tralhas emperrando nosso caminhar e como estamos num intervalo, nada como desapegar pois que o dia virá e findará a mudança, ou não?
    Um abração com carinho Taís.
    Bela cronica com reflexão.
    Beijo paz.

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  8. Oi Tais
    Eu não sou muito de casa, mas talvez porque trabalhei 39 anos não peguei a minha casa.
    Minha casa é muito grande, os móveis coloniais, um quintal, deixa pra lá. Eu vou tirar umas fotos dela e lhe mandar por e-mail
    Beijos no coração
    minicontista

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  9. Taís querida, como eu te entendo!...
    Belo texto, mais um de qualidade, para uma descrição tão simples.
    Parece um excerto da minha vida.
    Mudar... eu gostava de mudanças, revirava a casa para lhe dar outro ar.
    Agora só mudarei quando as minhas cinzas se perderem pelo ar... daqui a muuuuitos anos!!!
    Beijinho

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  10. Fico muito feliz e honrado por conhecer esta casa maravilhosa!

    Linda e reflexiva postagem! PARABÉNS!

    Fique com DEUS e que ELE te abençoe sobremodo!

    Abraços da Cia. De Teatro Atemporal, Rio de Janeiro/RJ.

    Clemente.

    www.ciaatemporal.com.br

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  11. Cara amiga Tais, como sou um apreciador contumaz de cronicas, sobretudo, as ótimas, então, quando venho neste espaço nem me preocupo muito com o tema, pois o fundamental é viajar sob a batuta da tua pena, mas no fim todos os temas se tornam por demais importantes porque bem escritos, bem elaborados; enfim, uma maravilha. Tu conheces o ofício, és uma cronista de mão cheia.
    Ah, sobre casa e mudança; penso que, às vezes, é melhor mudar não mudando, ou seja, fazer reparos, inserções, adaptações em vez de recomeçar tudo outra vez.
    Um abração. Tenhas uma ótima tarde.
    Ah, uma perguntinha: estás na expectativa da nossa Feira, digo, a do Livro?

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    1. Oi, Dilmar, pois é, Feira do livro... A nossa conhecida e tão prestigiada feira, maior feira a céu aberto! Será que essa chuvarada (que já estão anunciando) permitirá? Esse é um ano que não tenho certeza de nada. Fico meio apreensiva...
      Agradeço esse teu comentário tri de generoso, o que me deixou muito feliz!
      Grande abraço, amigo.

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  12. Minha querida amiga Tais, ao longo desta minha vida independente e trabalhador, em que me sustento, estou morando na minha quarta mudança, e não vou acostumar nunca, pois sou sedentário e acomodado...mas algo muito interessante falaste na crônica (maravilhosa para variar rs), o que lembro das mudanças, além do desgaste físico e emocional, percebe-se que se tem mais coisas do que se imaginava, aparecem tralhas que nem sabia que tinha, roupa então, nunca tenho uma para sair, e nas mudanças é tanta roupa que me espanto, mas serve para mudar mesmo, literalmente, daí aproveita-se a mudança para se desfazer daqueles excessos que nem se sabia. Mudança tem também a angústia do que virá, as expectativas impossíveis de não ter, dá pra moderar, aprendi nesta minha última mudança. Tua lucidez não me permite mais me iludir, estamos mudando o tempo todo, uma mutação, natural e às vezes artificial, mudamos rumos, destinos, gostos, mas chegará o dia de nossa última mudança... Querida Tais, quanto mais leio teus escritos, mais convencido e maravilhado fico com tuas inspirações, este estilo cada vez mais Tais de escrever. Sou tão feliz por fazer parte deste círculo de pessoas muito legais que frequentam por aqui.
    ps. Carinho respeito e abraço.

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    1. Mas sou eu quem gosta demais dos amigos daqui, de todos vocês que trazem amizade e são tão generosos. (Olhe essa turminha aí em cima...)
      Grande abraço, amigo Jair, sempre obrigada.

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  13. Tais, todas as mudanças nos trazem ansiedade (rss). Quando me mudei de São Paulo para BH, tudo que eu possuía dei para meu irmão, que acabava de se divorciar. E fiquei no apartamento da Vera, até reformar e montar meu novo apartamento. Então... não vivi, de verdade, uma mudança de casa. Os novos móveis foram comprados para cada espaço e não os troco de lugar. Só faço isso com as peças de decoração. Mas o acúmulo que mencionou percebo a cada faxina nos armários... lembrança disso, daquilo... Vez ou outra, me desfaço de coisas que, na verdade, já nem me lembrava que estavam guardadas (rss).
    As mudanças em nós mesmos e em nossas vidas são mais complicadas. Costumam ocorrer sem que tenha havido opção para isso e somos obrigados a nos adaptar. Enfim, são constantes, pois tudo se altera ao nosso redor. E lá vamos nós, mudando conceitos, estilos, olhar ... para nos adaptarmos às novas realidades e convivermos com mais sabedoria. Grande beijo!

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  14. Yo no soy de muchos cambios, pero reconozco que darle otro aire a la casa cambiando los muebles de lugar o poniendo nuevas decoraciones le da un aspecto distinto y te anima.
    En general tenemos muchas cosas de las que poco usamos pero siempre nos cuesta deshacernos de ellas.
    Un abrazo.

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  15. Taisinha, ao na medida em que lia esta tua bela crônica ia sendo tomado de uma espécie de desespero, a testa úmida denunciava minha inquietação, e, por pouco, não parei no meio da crônica, não por enfado, mas por um medo, digamos assim, retrospectivo das tantas mudanças que fizeste na casa, que tive presenciar; mas consegui chegar ao final da crônica. Felizmente, estas mais acomodada(o que é muito bom).
    Beijinho daqui do escritório.

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    1. kkkk, sem palavras!!! Acomodada? Calma, ando quieta, é verdade, as crônicas e as artes me absorvem completamente. Preciso de tempo para criar, transformar, inventar!
      Talvez um dia eu volte com novidades na casa...
      Beijinhos!

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  16. GRACIAS POR COMPARTIR TU CRÓNICA DE VIDA.
    ABRAZOS

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  17. Bom dia, querida Tais, fazer mudanças, é muito difícil, pois às vezes, penso em mudar alguma coisa de lugar em minha casa, mas sempre vou adiando.Não consigo, ainda, fazer aquela faxina de desapego, sei que preciso, mas me falta a força de vontade ou quem sabe a força de vontade de me desapegar. Meu marido é muito tranquilo em relação a isso. Já enfrentamos várias mudanças da nossa filha, foi sofrido, foi horrível, nem quero lembrar, me dá arrepios.Talvez seja medo de sair da zona de conforto. Sempre trabalhei fora, hoje, aposentada, nem quero pensar em mudança de nada rsssssssssssss. Porém,nossa casa tem uma pequena escada que nos leva aos quartos, ela já está nos fazendo pensar, no futuro..... Tais, belíssima crônica. Beijos!

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  18. Sou um reacionário assumido, Tais. Não mudo nada de lugar, o que não quer dizer que deixe de melhorar. Admiro as pessoas que gostam de inovar.
    Abraço

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  19. Oi Taís.kkkk
    Você é demais...
    Inspiração tenho demais, se fosse comigo teria matado...
    Beijos
    lua singular

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  20. Olá Tais,

    Nem me fale em mudança de casa, Quando fiz a última, há quase vinte anos, jurei que seria definitivamente a última. A próxima só 'aquela'-rsrs.
    Gosto também de mudar móveis e objetos de lugar, quando possível, mas há coisas que parecem que foram feitas para determinado lugar e não se ajustam em nenhum outro lugar.
    Mudanças algumas vezes são necessárias e, outras, indispensáveis. O importante é que estejamos sempre abertos para as mudanças que acrescentam. Eu própria já mudei tanto, em termos de habitos, valores e maneira de levar a vida que, algumas vezes, nem me reconheço-rs
    Acumular coisas inúteis e supérfluas é natural no ser humano. O apego é um dos motivadores de tal conduta. Somente mesmo através de um exercício diário e de mudanças internas seremos capazes de exercitar o desapego. Nada como abrir espaços no coração, na alma e na vida para a entrada do que realmente vale a pena..

    Ótima crônica.

    Beijo.

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  21. Olá Taís!
    Gostei da desenvoltura em descrever de forma humorada e madura o que está acontecendo em seu cotidiano. Realmente mudamos o tempo todo, seja nos aspectos físicos, seja em alguma característica de nossa personalidade devido experiências boas e/ou ruins... Enfim, só o que não muda é o fato que chegaremos a última mudança com você mesma pontuou. Cabe a nós aproveitar o período em que esta ão chega, da melhor forma que pudermos.

    Fica em paz e tenho uma ótima noite! Abraço.

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  22. Boa tarde Tais.
    Sempre muito bom ler as suas cronicas, raramente saiu daqui sem da uma boa risada, vou começar pelo comentário do Pedro rsrs, imaginei logo a minha filha falando kkk. Ela não gosta de mudança, eu amo, vire e mexe estou a transformar a casa , isso é quando não mudo de casa por um tempo e depois invento de voltar para a mesma casa rsrs, o que aconteceu na ultima vez e ela me fez prometer que iria passar mais tempo. Acho uma delicia jogar tudo fora, amo natal justamente porque ela ate concorda de doar as coisas e comprar tudo novo, tenho uma irmã que se a gente falar porque ela não muda a casa, ela vira uma fera, ela ama as coisas delas, moveis que já tem mas de dez anos e ela não se desfaz de jeito nenhum rsrs. Acredite também gosto de colocar a mão da massa, pegar no pincel etc, me sinto a propria rsrs. Pagar decorador para decorar a minha casa jamais, eu mesmo com a minha filha ficamos lendo revistas de decoração e assim escolhemos o próximo passo, ate agora deu certo. Agora ela escolheu preto, confesso pensei não vai da certo, falei logo permanece os moveis kkk, imagine se desse carta branca a casa iria ficar tudo preto e cinza, a cor que ela mais gosta. Enfim mudar da trabalho, mas no final sempre nós da um prazer especial. Quanto a outros tipos de mudança ,muitas são inerente das nossas vontade, só cabendo a gente aceita-la e bola para frente. Um lindo final de semana para vocês. Forte abraço.

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  23. Taís, a última mudança que faremos, "aquela" rs, será moleza... Não precisaremos de ajuda. Nada para transportar, para embalar, nada das quinquilharias materiais... Levaremos somente uma mala, com todos os nossos atos, bons e maus, dentro dela... E nenhum advogado para nos defender...rs.
    Beijão, Taís!

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  24. Beautiful
    I wish you a great weekend.
    Greetings.

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  25. Oi Tais,
    Obrigada pelo carinho
    Uma linda noite!
    Beijos
    Monicontista2

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  26. Olá Taís, gosto de sua maneira alegre de escrever seus pensamentos e situações, concordo que mudança de casa é durante o ato um transtorno, aliás vários, mas depois quando já estamos instalados e podemos nos largar no sofá e apreciar a nova decoração e o resultado de tudo que jogamos fora (o entulho), eu acho muito bom!
    beijinhos, Léah

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  27. Oi Tais,
    mui difícil.kkk
    Beijos
    Lua Singular

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  28. É verdade Taís.....Eu também ando sempre em' bolandas' , pois tenho que arranjar
    lugar para as coisas que vou fazendo e então.....é um mudar constante os lugares das coisas....
    e criar uma divisão , tipo 'Tuilha do Atílio' (lembra?), onde se vai de vez em quando dar uma
    mexida, para não criar teias de aranha...rsrsrs....
    Mas essa mudança.....eu gostava de ver....
    Xau Taís.....Desfrute......
    Um abraço

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  29. Boa tarde linda!
    Uso dizer Tais... Todas as mudanças se encontram dormindo dentro de nós, e para que elas promovam novos ares para a humanidade precisam ser despertadas.
    A mudança é a lei da vida. Aqueles que olham apenas para o passado ou para o presente serão esquecidos no futuro.
    Deixo-te um big bj em seu humilde coração e um demorado abraço aos demais

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Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís