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Tais Luso
Foi
num dia de grande temporal em que boa parte de Porto Alegre ficou no caos. A luz levou dias para
normalizar em todos os bairros. Sem dúvida que meu bairro ficou, também, na base de lanternas, velas e geradores de eletricidade nos hospitais e alguns prédios. Num certo momento notei que uma de minhas velas estava no seu final, e não
tirei os olhos dela nos seus últimos momentos, queria ver o final
daquela chama, ainda viva e forte.
Criei muitas metáforas. Logicamente lembrei da velha 'chama' que no final vai se
extinguindo, enfraquecendo até chegar ao último sopro. Só que não; não foi
isso que vi ao acompanhar a agonia da minha vela. A chama manteve-se forte e
brilhante até o final, e de repente apagou-se numa fração de
segundo.
Naquele instante tive noção dessa linha tão tênue que separa as
duas pontas da nossa existência. E quando pensei numa das pontas,
não tive como não pensar no tempo; o tempo que perdemos; o tempo
que não valorizamos e que jogamos fora.
Comecei
a pensar o tanto que temos pressa que chegue o fim de semana e
esquecemos de viver os dias úteis; lembrei como ficamos ansiosos
pelas férias, e esquecemos de usufruir o dia de trabalho e o ano
letivo - a riqueza do cotidiano. Ansiosos ficamos no fim do ano para
a troca de calendário, coisa que não curto, não gosto de despedidas, daquele 'Adeus Ano velho!' Uma ansiedade para ir não sei onde nessa
contagem que não para. Que sou envolvida e que não domino.
A minha vela se apagou; estava forte, viva, iluminada, mas me
deixou pensando. Naquela
noite decidi que não quero mais pressa na minha vida. Serei uma
rebelde sem causa. Quero me libertar do relógio, do calendário,
usá-los em compromissos relevantes, apenas.
Quero mais tempo; e que esse novo tempo não venha com pressa, que
não me cobre mudanças bruscas, que não me imponha uma agenda tumultuada, que esqueça um pouco de me rodear. Quero meu tempo de calmaria, de sossego.
Peço, a esse tempo em que vivo, me pegue mais leve.
Claro que não será como Zeca Pagodinho: "Deixe a vida me levar", mas sabendo tirar proveito de cada minuto como se fosse o último, sobretudo nos grande momentos. Ah! se pudéssemos intensificá-los! Afinal, Heráclito, estava coberto de razão: nunca nos banhamos na água do mesmo rio.
ResponderExcluirSe a fez pensar o último sopro da vela, o seu texto nos fez pensar sobre passagem do tempo, com uma leveza ímpar.
Um bom final de semana, Taís
Que linda e profunda reflexão fizeste e realmente quando paramos para ver uma vela até o fim é exatamente como descreveste. Lindo te ler.Pena que a pressa nos rodeia! Gostaria de não ter hora pra nada,. mas sou uma danada pra controlar horário0s dos outros,rs Os meus, controlo bem. Seria bom largar isso, mas aqui em casa, ainda mais agora com a volta às aulas, o tempo é controlado mesmo! bjs, lindo fds! chica( ah, acho que minha pressa das coisas só vai passar quando o mu pavio se apagar...)
ResponderExcluirBelo texto como sempre, cara amiga Tais. Sobre o tempo, pois é, passamos pela estrada (tempo) sem vivenciar a estrada. Realmente nos preocupamos demasiadamente com o final de semana, com o final do ano, com as férias, de tal modo que até parece que no restante dos dias ( fração maior do nosso tempo) estamos de castigo.
ResponderExcluirUm abração. Tenhas um lindo fim de semana.
Soneto-acróstico
ResponderExcluirO tempo
O tempo, seu fluxo é unidirecional
Tem vetor único e prá nós não liga
Ele, no fundo, não é bom nem mau
Mas indiferente, pois há quem diga.
Porquanto, para ele seja tudo igual
O que fazemos nem sequer intriga
Porque homem não é ser especial
Revertê-lo? nem pensar cara amiga!
Então que o tempo não tenha pressa
Como vela que apaga, brilhe até o fim
Inútil pensar onde acaba ou começa.
O que nos resta é obedecê-lo assim
Sempre otimistas e alegres a beça
Observando o que será bom ou ruim.
Oi, Jair:
ExcluirSobre o tempo ser irredutível, concordo sim; mas penso que eu posso mudar a minha maneira de sentir e de interagir; mudar o 'meu tempo'em relação à vida. Não deixar me atropelar por imposições do nosso cotidiano, das circunstâncias viciadas. É isso que quero dizer. Penso que algumas vezes é preciso botar o pé no freio. As escolhas sempre são nossas. E aquela 'linha', realmente me fez pensar...
Grande abraço, amigo, obrigada sempre!
Adorei o texto!
ResponderExcluirBeijinhos e continuação de bom fim-de-semana:)
Tais, há muito deixei agendas, doei relógios, celular vive mais desligado que ligado, curto o meu tempo, pois sei que ele é finito... Adotei viver com pouco e bem na simplicidade. Muito melhor. É uma aprendizagem difícil mas, tenho conseguido.
ResponderExcluirAbraço
Belo texto!
ResponderExcluirOs dias da semana tem sua beleza também, e nem todos os finais de semana são maravilhosos.
Aprendi a receber a vida como ela se apresenta, e tirar o melhor dela, mesmo quando ela está pior.
Abraços!
Oi, Tais!
ResponderExcluirSeu excelente texto nos dias do "fast-tudo" de hoje, vem lembrar-nos que a pressa, o atalho, simplesmente abrevia o pouco tempo que vivemos neste mundo. Bela observação da chama, que certamente se apagará a qualquer momento, como nós!
Beijos e boa semana!
Que lindo Taís! Um texto de grande sensibilidade.
ResponderExcluirÉ nas horas difíceis que tiramos as verdadeiras lições de nossas vidas.
Grande abraço
Leila
Oi Tais boa noite, mas que lindo texto!
ResponderExcluirE é exatamente isso que devemos fazer, seguir o curso da vida, com muita calma, aproveitando cada momento.
Beijos, e uma ótima semana!
Mariangela
SENSIBLE Y REFLEXIVO TU POST.
ResponderExcluirABRAZOS
Olá,bom dia, Tais
ResponderExcluir... muito triste acompanhar as notícias sobre a calamidade vindo daí de Porto Alegre, aqui em Sampa...corremos para cá,corremos para lá,muita pressa, nenhuma calmaria , para manter a nossa vela acesa, e vem uma lufada-quando não alheia- e apaga a nossa vela- tanto corremos para mantê la acesa, por vezes,até decidindo de forma errada, diminuindo a nossa qualidade de vida, o ter em relação ao ser. Há de se buscar mais tempo para si mesmo, de tomar as rédeas da vida,de realmente viver ,porque tudo passa tão depressa,e simplesmente não é possível voltar atrás...
O maior presente de Deus aos homens , é, realmente, a vida, um tempo precioso!
vim agradecer pelas orações,pelas palavras carinhosas,quando daquele meu momento péssimo, muito obrigado, bela semana,belos dias, beijos!
Bom dia querida Tais.
ResponderExcluirUm assunto bem interessante, um texto excelente, muito bem escrito. O tempo algo tão importante, que muitos nem dão importância, ate o momento que percebe o seu grande valor. Um belo exemplo da vela, assim é a vida, muitos cheio de saúde, uma linda vida pela frente, se apaga em minutos por um destino que nunca de fato conseguimos achar uma razão e fica a dor e a certeza que o tempo é algo muito importante, que sempre devemos abraçar quem amamos, viver intensamente cada minuto permitido por Deus, porque amanhá pode ser tarde demais. Eu tenho um grande professor do valor do tempo, a morte, ela me ensina da importância de da valor ao tempo direitinho rsrs. Chuva forte assim que traz esses trastorno é chato demais. Uma linda semana para você, o Pedro e toda família. Enorme abraço.
Taís querida: Certamente tudo que você escreve mostra toda a sua grande sensibilidade, espero também que sua vida seja feita de dias calmos, porém alegres. E que continues escrevendo estes belos textos que são na verdade uma bussola para direcionarmos nossa consciência.
ResponderExcluirFique bem, muitos beijinhos Léah
Oi, querida Léah! São apenas reflexões e mudanças que precisamos fazer ao longo de nossas vidas. O que na verdade me fez lembrar muito de meu pai; homem calmo e com muita sabedoria. Ao falecer, foi igual a essa velinha, numa fração de segundos mudou de cor, um ponto que me impressionou bastante.
ExcluirHá poucos minutos estava assistindo, no canal Brasil, a vida de Saramago, o grande Premio Nobel. Espetacular. Porém chegaram, ele e Pilar - sua esposa - a um ponto tal de esgotamento, com tantos compromissos e viagens, que tiveram de parar, não estavam mais aguentando - dito por Pilar. Impressionante como ele estava debilitado.
Beijos, querida.
Tais, uma bela abordagem. Todos somos levados pela ansiedade, por expectativas, deixando passar o que o instante presente nos oferece. Essa pressa de chegar a um destino específico nos separa de muitas alegrias, dispersas pelo caminho, em virtude de nossa desatenção. Gostei muito. Bjs.
ResponderExcluirTais:
ResponderExcluirSe soubermos reparar, como foi o seu caso, essas pequenas fracções de segundo alertam-nos para mudarmos o rumo da nossa vida.
Um texto muito bem escrito que me prendeu do princípio ao fim.
Beijinho
Fê
Minha querida amiga Tais que belas palavras, sempre me emociono ao ler-te, mas tens o dom de me surpreender, adentrei no clima caótico e o breu daquela noite em Porto Alegre, quase chego a ouvir o rádio narrando a escuridão, mas vi Moacir Scliar quando percebi a vela, num conto em que a vela estava ali, e pequenos mosquitos ou seriam pequenos seres voadores, voando ao redor da chama, que por vezes lhes queimavam as asas e eles tombavam...tenho quase certeza de ser um conto do Scliar, me veio rs...minha amiga a descriçaõ que me fazes pode levar a muitos lugares, em que estamos a mercê do tempo, da natureza, que maravilhosamente ou terrivelmente rs falaste no post anterior.
ResponderExcluir"E naquele instante tive noção dessa linha tão tênue que separa as duas pontas da nossa existência." E a partir desta frase tudo fez sentido, mais sentido, outros sentidos para mim, estamos suspensos no tempo, ou voamos sem medir a velocidade, o tempo que realmente perdemos, achando que estávamos ganhando. Posso ter feito uma grande confusão com este comentário minha amiga, mas estou tão só e distante, que ao receber tua criação foi como um fogo de artifício, deste que se esparramam pelo céu em mil cores e formas e no meio dessa loucura toda descubro que meu silêncio, meu distanciamento necessário esta me permitido aprender a perceber como é bom viver em calmaria...sempre bom demais ter as palavras da amiga para perceber o rumo que estou tomando em minha vida.
ps. Carinho respeito e abraço.
Olá, meu bom amigo Jair, nada como a calmaria, tenho aversão à multidões, à confusões, à ansiedade, à pressa. Fujo. Mas tem gente que adora, precisa disso como o ar que respira. Estou aprendendo a me respeitar como fui feita. Respeitar a minha natureza. Depois vem aquelas doenças psicossomáticas que acabam com a gente. Que nos derrubam porque seguimos a boiada. Tem boi na linha? Fico na minha, dou tempo e espero porque passa.
ExcluirOs anos ensinam. Se com eles não aprender nada, é melhor sumir (rs, olha a dramaticidade!) Acredite, viver na calmaria é um luxo!
Comentário ótimo, não fez confusão, não.
Grande abraço, amigo, fique bem - na sua natureza.
Passamos tantas vezes a vida a correr que nos esquecemos de viver.
ResponderExcluirCom a idade aprendi a apreciar o presente, mas ainda não posso desligar o relógio e ainda tenho de correr bastante.
Beijinhos
Maria
Oi querida,
ResponderExcluirSaber viver é uma arte. O dia tem 24 horas pra que correr nos afazeres, de repente ao sair de casa com pressa, 'puma', a gente cai e se arrebenta toda.
Eu sou mineira bem sossegada, tô nem aí com a vida.
Beijos no coração
Minicontista2
Las `prisas forman parte de una cultura norteaméricana, frenética e impulsiva que vive solo para el trabajo y que cada vez más exigente.
ResponderExcluirEl trabajo debería clasificarse como una "adicción" y por lo tanto, debería ser tratado por los siquiatras como una enfermedad, ja, ja.
Trabajar, sí. Sin agobios, sin prisas. Con la sabiduría de los pueblos antiguos, con tiempo para la familia, los amigos, los paseos y todo lo que supone placer. Estoy de acuerdo completamente.
Un saludo muy afectuoso de Franziska
Oi Tais,
ResponderExcluirEsses desastres da natureza é muito triste, pois muitos ficam d mãos atadas, mas têm os corajosos que jogam sua vida para salvar vidas
Quem tem que ter pressa de viver é chegar à morte mais depressa.
Quando me aposentei joguei meu reloginho surrado no lixo.
A vida é muito curta e numa fração de segundo a morte nos sorri.
Beijos
Minicontista2
Poxa, que coincidência! Ainda agora postei no Face uma frase sobre isso, vê, que vou deixar a guisa de comentário. Beijos!: "Se você quer saber se aquele instante tá valendo a pena, pergunte-se se você gostaria que ele durasse um pouco mais. A vida é boa quando você torce prá ela não acabar. Perceba que a maior parte do tempo a gente torce pra acabar. Torce pro dia acabar pra poder chegar em casa, torce pra semana acabar, por causa do final de semana, torce pro mês acabar pro causa do 5º dia útil, torce pro ano acabar, por causa das festas e das ferias... Sem perceber a gente tá torcendo pra ela passar rápido. A felicidade é o contrario disso. A felicidade é quando você gostaria que não passasse. É quando você lamenta o final do dia, é quando você lamenta o final de uma coisa que estava fazendo” - Prof. Clovis de Barros Filho.
ResponderExcluirOI TAÍS!
ResponderExcluirVERDADE TAÍS, VIVEMOS BEM ASSIM, ANSIANDO PELO FIM DE SEMANA E PELAS FÉRIAS SEM NOS DARMOS CONTA QUE QUANDO ELES CHEGAM É PORQUE PASSOU UMA SEMANA E UM ANO, NUM PISCAR DE OLHOS, E SENDO ASSIM, POUCO DISSO VIVEMOS.
VIVER NA CALMARIA, UMA BUSCA QUE VALE A PENA.
ABRÇS
http://. zilanicelia.blogspotcom.br/
Bonita ilustração desta cronica reflexão. A chama e sua durabilidade.
ResponderExcluirHá uma preocupação na durabilidade da chama e que esquece-se de viver a luz e o seu calor e num sopro final tudo roda. Lembro da ansiedade para atingir a maioridade e poder dirigir, quase que empurrava os dias e as horas.
Passamos olhando e contando tempo e o melhor pode passar ao lado.
Bonita inspiração Taís.
Abraços com toda paz.
É bem verdade! Vivemos tão espartilhados, entre as recordações do passado e os medos e ansiedades do futuro... que pura e simplesmente não nos apercebemos do momento presente... diluído nas suas exigências tão próprias...
ResponderExcluirVivemos... sem dar conta de que estamos vivendo...
Estranha vida esta...
Mais um texto fantástico, que adorei ler... mostrando bem a nossa fragilidade... no tempo presente... e como este tempo é tão efémero e mal aproveitado, por vezes...
Beijos
Ana
É a Arte transformando momentos cruciais em beleza,em poesia,em filosofia de vida...Parabéns querida Tais pela transformação,pela sensibilidade que te toca,pelo talento incrível que possuis.Um grande abraço!
ResponderExcluirBom dia Taís, uma crônica reflexiva que aborda o que acontece com quase todas as pessoas do mundo atual, a correria, a ânsia e preocupações com o tempo e com isso a vida passa sem nos darmos conta de que realmente precisamos de concentração espiritual para separar as coisas, é preciso que estejamos atentos às prioridades para o nosso viver, curtir os bons momentos sem pressa.
ResponderExcluirGosto da sensibilidade expressa em seus escritos.
om final semana.
Bjs!