pintura de René Magritte - 1898/1967
por Taís Luso de Carvalho
Conheci, não faz muito, a emergência do nosso Sistema Único de Saúde, o SUS. Fui visitar uma moça, com 25 anos que, por achar-se muito jovem não deu a mínima para fazer um plano de saúde privado. Podia, mas com certeza achava-se imune às doenças. E, para arcar com tudo ‘particular’, nem pensar.
Então foi ‘baixada’ na emergência, após muito andar e de muito esperar. Coisa torturante para quem estava com uma doença que necessitava de urgência, que precisava de uma intervenção cirúrgica.
Chegando ao Hospital deparei-me com um quadro nada agradável: tive de entrar numa fila enorme. Abriu o sinal verde e entramos, todos. E aí veio o horror: ninguém indicava nada; tive de procurar a moça e entrei por todos os labirintos, corredores e salas: pessoas de todas as idades, crianças, mulheres e homens, todos juntos, uns em macas, outros sentados em cadeiras de fibra - duríssimas e escorregadias. Para os visitantes, nada. Foi todo o tempo de pezito, ora apoiava-me numa perna, ora, noutra. E eu não sou muito mansa pra ficar todo o tempo de pé...
Mas ao entrar no hospital tive a impressão que estava numa zona de conflito bélico; pessoas sofrendo à espera de atendimento. Guardei em minha retina um quadro revoltante, com gente gemendo de dor. Dor física, dor na alma, dor de abandono, de desconforto, dor de miséria humana, dor suplicante. Fiquei apopléctica. Tinha visto isto em filmes, apenas.
Havia, entre elas uma pessoa com tuberculose, que mais tarde foi removida para uma ala isolada. Mas ali ficou por algum tempo tossindo, soltando baforadas de bacilos. E muitos ali estavam à espera de um quarto, sentados naquelas cadeiras horrorosas. Senti-me constrangida por estar desnudando o sofrimento alheio, assim tão de perto.
Como pode um país como o nosso, onde se gasta bilhões em coisas sem importância, onde se rouba às escâncaras, ver gente fazendo vista grossa a esse pobre Sistema Único de Saúde? Será tão difícil dar um jeitinho nesse negócio? Será tão difícil mostrar, pelo menos, algum resultado por menor que seja? Será possível que os médicos que atendem o SUS continuarão a receber esse salário-gorjeta? Terão motivação para trabalhar?
São médicos, longe estão de “São Francisco de Assis” - que passou a dedicar-se aos leprosos e que não apenas cuidava de suas feridas, como as beijava. Não vamos encontrar São Francisco dando sopa por aí... Seria uma benção encontrá-lo no SUS!
Mas, esquecendo o Santo, vejo que o eco não chega ao Ministério: aquilo é impenetrável. Há muito lusco-fusco pelo caminho... Mas muitos continuarão a gritar, mesmo vestindo calça listrada, peruca amarela e nariz de borracha.
Oxalá chegue o dia em que todos nós possamos viver num país decente; mas a coisa não vai ser fácil!
por Taís Luso de Carvalho
Conheci, não faz muito, a emergência do nosso Sistema Único de Saúde, o SUS. Fui visitar uma moça, com 25 anos que, por achar-se muito jovem não deu a mínima para fazer um plano de saúde privado. Podia, mas com certeza achava-se imune às doenças. E, para arcar com tudo ‘particular’, nem pensar.
Então foi ‘baixada’ na emergência, após muito andar e de muito esperar. Coisa torturante para quem estava com uma doença que necessitava de urgência, que precisava de uma intervenção cirúrgica.
Chegando ao Hospital deparei-me com um quadro nada agradável: tive de entrar numa fila enorme. Abriu o sinal verde e entramos, todos. E aí veio o horror: ninguém indicava nada; tive de procurar a moça e entrei por todos os labirintos, corredores e salas: pessoas de todas as idades, crianças, mulheres e homens, todos juntos, uns em macas, outros sentados em cadeiras de fibra - duríssimas e escorregadias. Para os visitantes, nada. Foi todo o tempo de pezito, ora apoiava-me numa perna, ora, noutra. E eu não sou muito mansa pra ficar todo o tempo de pé...
Mas ao entrar no hospital tive a impressão que estava numa zona de conflito bélico; pessoas sofrendo à espera de atendimento. Guardei em minha retina um quadro revoltante, com gente gemendo de dor. Dor física, dor na alma, dor de abandono, de desconforto, dor de miséria humana, dor suplicante. Fiquei apopléctica. Tinha visto isto em filmes, apenas.
Havia, entre elas uma pessoa com tuberculose, que mais tarde foi removida para uma ala isolada. Mas ali ficou por algum tempo tossindo, soltando baforadas de bacilos. E muitos ali estavam à espera de um quarto, sentados naquelas cadeiras horrorosas. Senti-me constrangida por estar desnudando o sofrimento alheio, assim tão de perto.
Como pode um país como o nosso, onde se gasta bilhões em coisas sem importância, onde se rouba às escâncaras, ver gente fazendo vista grossa a esse pobre Sistema Único de Saúde? Será tão difícil dar um jeitinho nesse negócio? Será tão difícil mostrar, pelo menos, algum resultado por menor que seja? Será possível que os médicos que atendem o SUS continuarão a receber esse salário-gorjeta? Terão motivação para trabalhar?
São médicos, longe estão de “São Francisco de Assis” - que passou a dedicar-se aos leprosos e que não apenas cuidava de suas feridas, como as beijava. Não vamos encontrar São Francisco dando sopa por aí... Seria uma benção encontrá-lo no SUS!
Mas, esquecendo o Santo, vejo que o eco não chega ao Ministério: aquilo é impenetrável. Há muito lusco-fusco pelo caminho... Mas muitos continuarão a gritar, mesmo vestindo calça listrada, peruca amarela e nariz de borracha.
Oxalá chegue o dia em que todos nós possamos viver num país decente; mas a coisa não vai ser fácil!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís