... da crônica de Juremir Machado da Silva
Muito interessante a crônica (15 de abril de 2007, Correio do Povo –‘Bebidas de Substituição’) do jornalista Juremir Machado da Silva, ao falar dos bebedores de cerveja, whisky e vinho.
Transcreverei os trechos que considerei mais hilariantes.
“O bebedor de cerveja é uma praga nacional, felizmente inofensiva. Poderia ser na vida de técnico de futebol, revolucionário ou um grande sedutor. Limita-se a ser um grande criador. De barriga. Na verdade, o bebedor de cerveja prima pela capacidade de antecipação. É um gênio precoce que começa a se empapuçar bem cedo e, fiel ao seu gosto, dificilmente troca de bebida ao chegar aos 40. O bebedor de cerveja tem uma tara: colecionar garrafas em cima da mesa de um bar. Chega ao êxtase quando vê uma floresta de cascos vazios à sua frente. Cada garrafa é um troféu que, na sua imaginação, corresponde a mais uma mulher levada para a cama”.
Mais outro trecho...
“O bebedor de uísque considera-se um sujeito que evoluiu e venceu na vida. Se não for contrabandista, nem diretor de novela, é empresário ou político. Despreza os cervejeiros. Em Porto Alegre, quando um homem de 40 anos passa a beber uísque, toma outras duas providências imediatas: compra uma casa na zona sul ou uma cobertura na Bela Vista e arranja uma amante com perfil BBB. O problema é manter a casa ou a cobertura na aposentadoria. Em geral a manutenção ou o condomínio tornam-se impagáveis e drenam até a graninha do uísque. Aí só resta vender tudo e voltar a tomar cerveja no sofá de casa ou junto à churrasqueira”.
Outra, a melhor...
“O bebedor de vinho julga-se um caso à parte. Tem cultura, viaja, não se deixa arrastar pelos hábitos de novo rico dos bebedores de uísque nem pela baixaria dos cervejeiros. Questão de distinção. O vinho é para os eleitos. Precisa-se fazer biquinho, conhecer uma infinidade de nomes, de tipos de uva, de castelos, de regiões e de gestos rituais. O bebedor de vinho elegante deve, em público, cheirar a rolha sem rir, sentir o perfume do líquido como se conhecesse todas as nuanças do ‘néctar dos deuses’ e balançar o vinho dentro do cálice com um ar ‘blasé’ de quem vê a Juliana Paes nua e nem transpira. Acima de tudo, deve ser capaz de falar em ‘robe e bouquet’ com ligeira displicência e demorada reflexão, acrescentando frases poéticas como ‘humm, tem um ligeiro gosto de pinheiro com tomates ásperos da estação das chuvas’. Porém, escolhe o vinho pelo preço ou pelo nome mais sonoro.
Finalizando:
“Os bebedores de cervejas costumam se meter com mulheres que armam barraco e desmontam apartamentos.
As mulheres de bebedores de uísque só pensam em mansões, mas aceitam um duplex.
As dos bebedores de vinho vivem com a cabeça em castelos, mesmo que seja para um fim de semana.
Para mim, são todos e todas igualmente respeitáveis e dignos de admiração.
O bebedor de cerveja é um filósofo que ‘deixa a vida lhe levar’ e sonha em levar a vida na boa.
O bebedor de uísque quer sempre levar a ‘boa’ na vida.
Por fim, o bebedor de vinho é um metafísico que enigmaticamente questiona depois de um gole filosofal: qual é a boa?”
Muito interessante a crônica (15 de abril de 2007, Correio do Povo –‘Bebidas de Substituição’) do jornalista Juremir Machado da Silva, ao falar dos bebedores de cerveja, whisky e vinho.
Transcreverei os trechos que considerei mais hilariantes.
“O bebedor de cerveja é uma praga nacional, felizmente inofensiva. Poderia ser na vida de técnico de futebol, revolucionário ou um grande sedutor. Limita-se a ser um grande criador. De barriga. Na verdade, o bebedor de cerveja prima pela capacidade de antecipação. É um gênio precoce que começa a se empapuçar bem cedo e, fiel ao seu gosto, dificilmente troca de bebida ao chegar aos 40. O bebedor de cerveja tem uma tara: colecionar garrafas em cima da mesa de um bar. Chega ao êxtase quando vê uma floresta de cascos vazios à sua frente. Cada garrafa é um troféu que, na sua imaginação, corresponde a mais uma mulher levada para a cama”.
Mais outro trecho...
“O bebedor de uísque considera-se um sujeito que evoluiu e venceu na vida. Se não for contrabandista, nem diretor de novela, é empresário ou político. Despreza os cervejeiros. Em Porto Alegre, quando um homem de 40 anos passa a beber uísque, toma outras duas providências imediatas: compra uma casa na zona sul ou uma cobertura na Bela Vista e arranja uma amante com perfil BBB. O problema é manter a casa ou a cobertura na aposentadoria. Em geral a manutenção ou o condomínio tornam-se impagáveis e drenam até a graninha do uísque. Aí só resta vender tudo e voltar a tomar cerveja no sofá de casa ou junto à churrasqueira”.
Outra, a melhor...
“O bebedor de vinho julga-se um caso à parte. Tem cultura, viaja, não se deixa arrastar pelos hábitos de novo rico dos bebedores de uísque nem pela baixaria dos cervejeiros. Questão de distinção. O vinho é para os eleitos. Precisa-se fazer biquinho, conhecer uma infinidade de nomes, de tipos de uva, de castelos, de regiões e de gestos rituais. O bebedor de vinho elegante deve, em público, cheirar a rolha sem rir, sentir o perfume do líquido como se conhecesse todas as nuanças do ‘néctar dos deuses’ e balançar o vinho dentro do cálice com um ar ‘blasé’ de quem vê a Juliana Paes nua e nem transpira. Acima de tudo, deve ser capaz de falar em ‘robe e bouquet’ com ligeira displicência e demorada reflexão, acrescentando frases poéticas como ‘humm, tem um ligeiro gosto de pinheiro com tomates ásperos da estação das chuvas’. Porém, escolhe o vinho pelo preço ou pelo nome mais sonoro.
Finalizando:
“Os bebedores de cervejas costumam se meter com mulheres que armam barraco e desmontam apartamentos.
As mulheres de bebedores de uísque só pensam em mansões, mas aceitam um duplex.
As dos bebedores de vinho vivem com a cabeça em castelos, mesmo que seja para um fim de semana.
Para mim, são todos e todas igualmente respeitáveis e dignos de admiração.
O bebedor de cerveja é um filósofo que ‘deixa a vida lhe levar’ e sonha em levar a vida na boa.
O bebedor de uísque quer sempre levar a ‘boa’ na vida.
Por fim, o bebedor de vinho é um metafísico que enigmaticamente questiona depois de um gole filosofal: qual é a boa?”
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Vinho é arte, mas, com moderação.Já as outras bebidas, excepto um licor caseiro de lima-limão, em nada se compara a água.
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