- Tais Luso de Carvalho
Leio,
penso, indago e observo muitos rituais religiosos. Indago e me
questiono.
Há tempos fui à Igreja que meus pais frequentavam, a mesma igreja em que casei há muitos anos. Sentei no banco em que eles sentavam. Uma homenagem aos dois que faleceram, talvez numa ânsia de conversar com eles e refletir sobre nossas vidas - quando ainda juntos.
Há tempos fui à Igreja que meus pais frequentavam, a mesma igreja em que casei há muitos anos. Sentei no banco em que eles sentavam. Uma homenagem aos dois que faleceram, talvez numa ânsia de conversar com eles e refletir sobre nossas vidas - quando ainda juntos.
Sinto
saudades e volta e meia muitas lembranças me visitam. Lembranças
do que eles me passaram de valores, de ensinamentos.
Como
meus pais eram muito católicos, estava eu lá, na esperança de que
havendo outra vida, após a morte, nossos espíritos se juntassem. E
lá fiquei por uma hora, sentada, acompanhada das minhas lembranças.
Respeito todas as crenças e religiões porque respeito as escolhas do ser humano, embora tenha as minhas, já fundamentadas. Acho saudável ter uma religião, uma crença. Particularmente simpatizo muito com a filosofia budista, mas há outras doutrinas que também gosto. Só não gosto de me sentir oprimida, cobrada.
Respeito todas as crenças e religiões porque respeito as escolhas do ser humano, embora tenha as minhas, já fundamentadas. Acho saudável ter uma religião, uma crença. Particularmente simpatizo muito com a filosofia budista, mas há outras doutrinas que também gosto. Só não gosto de me sentir oprimida, cobrada.
Mas
fiquei a refletir sobre a existência de outra vida ou se com a morte
tudo se acaba. Gostaria de ter a certeza que minha vida
continuará; gostaria de ver algum sentido em nascer, viver, pensar,
construir uma vida inteira, dar vida a outras vidas e depois morrer.
Ser apenas uma memória? Isso intriga muita gente. Mas existe algo de
bom, a fé. E nessa não cabe perguntas.
Fiquei
sozinha, sinto que trago dentro de mim uma educação religiosa.
Fiquei num silêncio respeitoso, que só encontramos num Templo. Todo
o Templo guarda seus mistérios, seus dogmas, o indiscutível que
deve ser aceito sem contestação por aqueles que têm fé.
Havia
pouca gente na Igreja, meia hora faltava para a missa das 18:00
horas. Olhei para o lado onde ficam os confessionários -
aquelas casinhas criadas para o padre ouvir nossos pecados, dar a
penitência que nos cabe e depois voltarmos a fazer tudo igualzinho,
como sempre. É, acontece, muitos retornam e pedem perdão novamente.
E assim vão vivendo, com a certeza do perdão Divino.
Mas,
fiquei a observar um velhinho que mal conseguiu chegar no
confessionário. Se arrastava com enorme dificuldades. Fiquei
pensando na tristeza daquele ato; que difícil foi chegar! Que pecado
teria cometido aquele senhor, no crepúsculo de sua vida, já tendo a
despedida tão próxima; que pecado teria ele a confessar, que
penitência lhe seria dada se maior punição do que a morte não
existe!? Senti piedade.
Fiquei
um tanto indignada por ter assistido aquilo dentro de uma Igreja. Bem
que o pobre homem poderia ter conversado mais com Deus, na sua intimidade. Mas fomos educados assim. E achei que faltou misericórdia
de algum lado. A velhice já é um estado de resignação, e acho que
isso tem de ser pensado. É muita dureza na consciência. E as vezes,
pela nossa cultura, damos uma dimensão enorme para as coisas. E em
outras situações, quando precisa ser aplicada a lei dos homens...
Nada, Nada!!
O
fato de morrer é tão brutal que dispensaria pedidos de perdão na
reta final. Por que não deixar que aquele pobre velhinho desse seu
último voo sem muito lhe exigir? Seria um presente.
Um
dia todos nós acertaremos nossas faltas com quem, de fato, tem o
poder de julgar. Aquele era o momento de deixar o ajuste de contas
para a instância máxima. E lá, sem dúvida, haverá a sentença
decisória. O tempo restante é para compaixão.
Levantei
e fui embora. Não me fez bem ter assistido aquilo, talvez porque
lembrei de meu pai e ainda me senti fragilizada pela perda. E por
dias fiquei com a imagem daquele velhinho que mal podia caminhar, se
arrastando, tentando se redimir sei lá de que, com a esperança de
ganhar a vida prometida.
Grande
mal não deve ter cometido. E não me pareceu ter sido um tirano, um
torturador; se fosse, certamente não estaria ali, desprotegido e sozinho, ao contrário, estaria com muita proteção! Jamais naquela
vulnerabilidade. Sabemos disso. Os tiranos não aparecem daquela
maneira.
Existe
pecado maior nesse mundo (a ser reparado) do que a desigualdade, a
morosidade ou a inexistência com que é aplicada a Lei dos Homens?
Penas são amenizadas devido a posição social, credo, instrução
e cargo...
Isso
sim é um pecado preocupante.
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HERMOSO LEER TE! BELLA FOTO
ResponderExcluirBem colocadas tuas palavras, como sempre! E participo desa tua indignação! Também frequento igrejas apenas quando sinto vontade de nelas entrar e sempre quando elas estão vazias, sem o padre falando lá na frente!
ResponderExcluirQuanto à confissão, nunca aceitei falar dos "pecados"( tantas vezes crianças devem inventar para fazer a primeira comunhão) para um padre que nada mais é do que um homem e tantas vezes um grande pecador, disfarçado sob a batina!!
Assim, já mostrei o que penso e o quanto concordo contigo! Alguns ao me ler, me acharão pecadora,rs beijos,chica
Gostei de seu texto. Muito reflexivo. Quanto a continuação da vida eu, como espirita kardecista, creio que a vida continua apos a morte do corpo e tambem que voltamos a este mundo em uma nova vida. Deus em sua bondade não poderia condenar alguem pela eternidade por ter pecado. Ele sempre nos da uma nova oportunidade de nos melhorarmos, para um dia , quem sabe, chegar ate Ele.
ResponderExcluirLembre -se de que Jesus disse;" È necessario nascer de novo para chegar ao reino do Pai."
Também fui dogmatizada na Igreja Católica. Tudo era pecado. Hoje sei que, pela falta de cultura das pessoas, os padres, os religiosos em geral, eram "os doutores da lei"... E, para os pais um catecismo de castração impugnado aos filhos e principalmente, às filhas. Fiz parte de todos os movimentos dentro da Igreja. Hoje, sei separar o joio do trigo. Não frequento igreja alguma, há muitos anos. Meu templo é meu lar. A quem "devo ou peco" procuro olhar no olho e falar com toda maturidade que a vida me ensinou. Um amigo confidente, hoje para mim, vale mais que muitas confissões que fiz quando adolescente, obrigada por meus pais com a listinha de pecado nas mãos... Oras, isso me causa arrepios. Felizmente me libertei desse jugo. Também respeito o grau em que cada um atingiu em seu "ser religioso". Não ergo bandeira alguma. Não sou fundamentalista. Sou espiritualizada e, com muito amor a mim e ao próximo procuro viver. Respeito todas. Você Tais, pontuou com sobriedade um tema muito polêmico. Plenamente de acordo! Excelente!
ResponderExcluirAbraços, Célia.
Sempre tive muitos problemas com o que se fez do Cristianismo, é muita culpa para pôr na conta da gente. Quando falam em Deus, geralmente se é muito genérico com relação a isso. Todos que fala d'Ele falam do seu amor, da sua infinita misericórdia, mas na maior parte das vezes não é o que olho no discurso dos religiosos em geral. A vida é muito curta, dura só um instante e há tanto para fazer! Há tanta gente para amar! Será que pecado de verdade não seria deixar de fazer isso?
ResponderExcluirAbraços.
Tais, fui educada dentro do catolicismo e também recebi imposições tais como: se não for à missa não fará isso ou aquilo. Meu pai era muito rigoroso com o cumprimento dos preceitos religiosos. Com a liberdade que chega com a independência, passamos a agir de conformidade com o que nos dita o coração. Mantenho a fé, respeito todas as crenças e nenhuma delas julgo pelo comportamento de quem se apresenta como transmissor da palavra divina. São todos homens, falhos e "pecadores". Creio ser importante receber educação religiosa, eis que a fé nos ajuda em muitos momentos da vida, nos traz consolo e também esperança. Pensei no idoso que mencionou e o vi de forma diversa. Ele seguia o que lhe pedia o coração e, embora possa nos parecer equivocada sua conduta, em função da idade, a importância que coloco em sua disposição está no bem estar que, certamente, sentirá após a confissão. Se foi lá, precisava dela para encontrá-lo, ainda que não tivesse praticado atos merecedores de culpa.
ResponderExcluirEntendo que há propósitos maiores e que nossas vidas são, de fato, um caminho, apenas. E abraço a confortadora ideia de que tudo não termina com ela. Bjs.
Estou consigo praticamente em tudo....Sabe.....eu tomei 'dose cavalar',
ResponderExcluirquando era miúdo e hoje tenho uma certa abertura na questão de religiões....Desde que não sejam fundamentalistas.......qualquer uma é válida....Fui criado com um tio, que era individualidade respeitada na igreja católica.....Era tido como um santo, mas não para a família., pois que a obrigação da prática religiosa, era por demais condenavel..........mas havia que dar o exemplo. Logo que atingi a maioridade fiz-me à vida......mas só porque já tinha umas luzes de democracia....não zangado com ele....Era de facto um exemplo. Mas ainda hoje, se quero encontrar um momento de Paz, entro numa igreja
e ali estou eu em Paz..Não haja duvida, que os Bons exemplos
ajudam ..........
Pelos vistos, parece que entrei no confessionário....rsrsrs..
ABRAÇO
Pequemos
ResponderExcluirVamos que esse tal pecado exista
E que o mesmo nos açule desejo
Existirá pois, algum futuro à vista
No qual livre de tal ônus me vejo?
Vamos que esse tal pecado resista
A meus reclamos, orações e preces
Será que se eu o relatar numa lista
Minha conceito junto ao céu cresce?
Vamos que esse tal pecado insista
À minhalma pecadora dar conselho
Devo abandonar conduta otimista?
Vamos que esse tal pecado egoísta
Faça o pobre velho dobrar o joelho
Devo isso considerar uma conquista?
Cara Tais
ResponderExcluirAcho que este é um dos textos mais profundos que li em seu blog. Você aborda temas fundamentais que cada dá uma biblioteca inteira de discussões. Se não vejamos: nossa posição religiosa diante da vida (ou não); a questão do objetivo final de nossa existência; a questão do tempo tão atraente tanto filosoficamente quanto para a ciência; a questão da justiça social, arre... você foi fundo.
Olá,Boa noite, Taís
ResponderExcluir+ uma bela crônica do nosso cotidiano...sim...no mundo há incontáveis religiões diferentes – e que, mesmo dentro de uma religião, pode haver inúmeras ramificações – fica claro como é importante o respeito á diversidade. Nosso compromisso ao respeito começa no nosso dia-dia. No relacionamento com nosso próximo. Na maneira como respeitamos ou deixamos de respeitar aquele nosso semelhante que nasceu com a capacidade de pensar livremente. E, portanto, ter religião diferente... Eu sou católico e sei que muitos deixaram de recorrer à Confissão porque já introjetaram uma mentalidade individualista e orgulhosa. Ora, Deus, em sua onipotência, poderia muito bem ter feito de outra forma. Poderia ter dito à multidão que se confessasse a si mesma, ou que apenas invocasse o Seu nome e seus pecados seriam perdoados. No entanto, não foi desta forma que Ele quis...e com certeza, creio,que o idoso , ainda que nos pareceu penoso, acredita piamente que de outro modo não poderá alcançar o perdão dos pecados e a tranquilidade da alma no ajuste de contas...
sim,bem diferente da Lei dos Homens, onde prevalece a posição social, raça, credo, instrução e cargo...
Obrigado pelo carinho,belos dias, beijos!
Minha querida e doce amiga Tais, como é bem beber na fonte de tuas palavras...texto inspirador e ao mesmo tempo abre pontos específicos, dos quais silencío, e tão dificeis de manter um diálogo saudável, mas algo me é particularmente bom, a FÉ, é o que me move. Aprendi com minha vó materna, ela me ensinou a acreditar no invisível, ela plantou Deus dentro de mim; fazendo de uma forma que eu encontrasse um lugar para me refugiar e estar em melhor contato com Deus, o Templo...por isso ao começar a ler o post, querida Tais, foi com se entrasse em um lugar sagrado, para orar, comungar, ouvir a palavra,e aqui nos é dada com sabedoria, inteligência, com uma verdade que transcende nossa conexão internética rs. Vivo muito neste mundo de saudade dos que partiram ou me deixaram (depende de quem tenho uma versão), mas o fato é que aqui estamos, nestes tempos em que pedir perdão tornou-se algo corriqueiro para uma geração cada vez com mais pressa, e com isso esquecem estes valores, que nos moldam...não é de estranhar tanta falta de honestidade no mundo, em nossos políticos, em nossas igrejas, em nossas vidas...profundo, tocante e só para eu dizer novamente, muito lúcido. Obrigado Tais, por mais uma pérola, que graças a Deus, está sendo colhida por pessoas muito especiais que apreciam, assim como eu, este espaço.
ResponderExcluirps. Carinho respeito e abraço.
Taís, não existe religião perfeita, a contento. Vez ou outra gosto de estar na igreja enquanto vazia, mas outro dia me veio à mente que se ela não conseguir estar cheia, pelo menos, nos finais de semana, então não se manterá apenas para visitações esporádicas. Sigo minha religião apesar de não colocar em prática tudo aquilo que ela estabelece como regras. Não acredito na absolvição dos pecados uma vez que eles são repetidos inadvertidamente. E como esse assunto é polêmico, melhor não me estender, rsrs.
ResponderExcluirBeijos
Blogger CHIICO MIGUEL disse...
ResponderExcluirTaís de Luso,
Nome bonito para uma pessoa tão bonita de alma e coração:você não posso dizer que foi surpresa, só que foi acima de minha expectativas.Agora me alivio por ter feito alguma coisa boa no dia mais importante em comemoração - Dia da Água - Dia da Vida.
Ontem, se não me engano, estive no seu blog ou site,e não consegui fazer nada. Não acertei - sou meio burro para essas coisas de internete, ainda me permite (80 anos). Mas vou tentar de novo
Abraços carinhosos e agradecidos do
Francisco Miguel de Moura
28 de março de 2014 03:24
Até hoje fico lembrando de uma frase, encontrada no Oráculo de Delfos, Grécia Antiga: "Invocado ou não invocado, Deus está sempre presente." Não a compreendo como deveria.
ResponderExcluirAbraço,
Jorge
Pois é Tais, pecado por cima de pecado e esquecemos de amar. Se todas as religiões praticassem o amor, seríamos outro. O velhinho com certeza na sua ignorância, continua obedecendo esta lei criada por homens em nome de deus. Quantos vivem ainda assim? Em pleno século 21 no ano de 2014, com tantos avanços tecnológicos, tantos livros e a Bíblia, que muitos se desviam dela, mas a carregam como fosse sua bula e ainda por cima a usam para visarem o $$ e ficarem ricos. Detesto esta lei de julgar que as religiões praticam esquecendo que estão afastando cada dia mais as criaturas do criador.
ResponderExcluirAbraços
Acho a vida basicamente trágica, Tais. Como ouvi uma vez de uma senhora no ônibus: "É mais fácil morrer que viver". Triste, mais é um fato.
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