-Lançamento da 39ª Dartis
VERNISSAGE / crônica
crônica na Dartis / Tais Luso
Filó era uma péssima vendedora de produtos de beleza. Tinha uma voz rouca e forte. Chamava as pessoas de ‘meu amor’, era espalhafatosa e seus braços eram verdadeiras alegorias, o que fazia muita gente entrar em surto. Usava a expressão ‘com certeza’ para preencher o vazio que ficava no ar. Seus cabelos eram desgrenhados e sua pele oleosa. Não possuía credibilidade para vender nada. E a vida, cada vez mais difícil: a fome já começara a rondar...
Porém, não demorou muito para que Filó tivesse uma idéia, segundo ela, genial: freqüentar exposições de arte... Vernissage! Hum...Vinhos, canapés, docinhos... Maravilha! E Astolfo, o marido desempregado, achou a idéia divina.
Lá foram eles para a exposição no Museu de Arte do Estado. Os dois passaram pela apresentação de Marc Chagall sem dar ‘a mínima’: quem foi, onde nasceu, onde viveu... O objetivo, ali, era outro: vinhos e canapés.
Filó deslizava pelo grande salão feito bailarina, olhando aquele mundo diferente. Balançava a cabeça como num ato de aprovação, como quem estivesse entendendo alguma coisa do artista e da obra. E dizia em voz alta: genial, genial! E Astolfo quase chegando às lágrimas, comovido e concordando com o falso entusiasmo da sua mulher.
Filó perguntava, impaciente: ‘cadê o Chagall, eu quero cumprimentá-lo! Decepcionados por não conhecerem Chagall, e sem os comes e bebes que esperavam, os dois ilustres visitantes foram embora, desiludidos. Mas não desistiram: não demorou em agendarem a próxima visita: uma conceituada Galeria de Arte.
Óleo sobre tela: o artista? Pouco interessava! Mas, bem vestidos e aparentando um bom traquejo, ninguém os impediu de entrar. Garçons de luvas brancas passeavam com o vinho da melhor safra, e apetitosos canapés... Filó e Astolfo perplexos! Após se empanturrarem, deram uma voltinha pelas salas, olhando com esmero e demonstrando compreender os abstratos, discutindo o porquê dos traços e das cores, descobrindo - segundo suas percepções - pinceladas dramáticas, bizarras ou apenas lúdicas. Após toda essa encenação, saíram à francesa. Que noite fantástica!
Após intensa maratona, por várias Galerias da cidade, tiveram a oportunidade de degustarem canapés e vinhos, assim como de conhecerem vários artistas e suas obras. Mas foi dessa maneira que passaram a ler e a pesquisar sobre obras e artistas, e, por força das circunstâncias, aprenderam a se comportar nessas ocasiões.
E, através de um programa do governo, conseguiram um empréstimo bancário oferecido às pequenas empresas: nasceu, então, a sonhada empresa Coquetel em Artes, especializada em coquetéis para “Lançamentos Literários e Vernissage”, como constava no seu Folder.
Atualmente a empresa é um sucesso. Filó já é outra mulher: mais traquejada e mais requintada no trato, embora, lá no fundo, resvale, de vez em quando, no ‘meu amor’ e no abominável ‘com certeza’. Mas nada que chame muita atenção. E aprendeu a se cuidar: seus cabelos não são mais desgrenhados e sua pele não é mais oleosa. Os braços, comportados, não marcam mais os espaços, Filó gesticula com parcimônia.
E, um pouquinho sobre obras de arte, deve ter aprendido, e hoje não cometeria mais o deslize de querer conhecer pessoalmente Marc Chagall. Aprendeu a ficar calada, o que já foi um progresso. E, descobriu, também, que ouvir as pessoas com atenção lhe dá o status de ‘connaisseur’.
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crônica na Dartis / Tais Luso
Filó era uma péssima vendedora de produtos de beleza. Tinha uma voz rouca e forte. Chamava as pessoas de ‘meu amor’, era espalhafatosa e seus braços eram verdadeiras alegorias, o que fazia muita gente entrar em surto. Usava a expressão ‘com certeza’ para preencher o vazio que ficava no ar. Seus cabelos eram desgrenhados e sua pele oleosa. Não possuía credibilidade para vender nada. E a vida, cada vez mais difícil: a fome já começara a rondar...
Porém, não demorou muito para que Filó tivesse uma idéia, segundo ela, genial: freqüentar exposições de arte... Vernissage! Hum...Vinhos, canapés, docinhos... Maravilha! E Astolfo, o marido desempregado, achou a idéia divina.
Lá foram eles para a exposição no Museu de Arte do Estado. Os dois passaram pela apresentação de Marc Chagall sem dar ‘a mínima’: quem foi, onde nasceu, onde viveu... O objetivo, ali, era outro: vinhos e canapés.
Filó deslizava pelo grande salão feito bailarina, olhando aquele mundo diferente. Balançava a cabeça como num ato de aprovação, como quem estivesse entendendo alguma coisa do artista e da obra. E dizia em voz alta: genial, genial! E Astolfo quase chegando às lágrimas, comovido e concordando com o falso entusiasmo da sua mulher.
Filó perguntava, impaciente: ‘cadê o Chagall, eu quero cumprimentá-lo! Decepcionados por não conhecerem Chagall, e sem os comes e bebes que esperavam, os dois ilustres visitantes foram embora, desiludidos. Mas não desistiram: não demorou em agendarem a próxima visita: uma conceituada Galeria de Arte.
Óleo sobre tela: o artista? Pouco interessava! Mas, bem vestidos e aparentando um bom traquejo, ninguém os impediu de entrar. Garçons de luvas brancas passeavam com o vinho da melhor safra, e apetitosos canapés... Filó e Astolfo perplexos! Após se empanturrarem, deram uma voltinha pelas salas, olhando com esmero e demonstrando compreender os abstratos, discutindo o porquê dos traços e das cores, descobrindo - segundo suas percepções - pinceladas dramáticas, bizarras ou apenas lúdicas. Após toda essa encenação, saíram à francesa. Que noite fantástica!
Após intensa maratona, por várias Galerias da cidade, tiveram a oportunidade de degustarem canapés e vinhos, assim como de conhecerem vários artistas e suas obras. Mas foi dessa maneira que passaram a ler e a pesquisar sobre obras e artistas, e, por força das circunstâncias, aprenderam a se comportar nessas ocasiões.
E, através de um programa do governo, conseguiram um empréstimo bancário oferecido às pequenas empresas: nasceu, então, a sonhada empresa Coquetel em Artes, especializada em coquetéis para “Lançamentos Literários e Vernissage”, como constava no seu Folder.
Atualmente a empresa é um sucesso. Filó já é outra mulher: mais traquejada e mais requintada no trato, embora, lá no fundo, resvale, de vez em quando, no ‘meu amor’ e no abominável ‘com certeza’. Mas nada que chame muita atenção. E aprendeu a se cuidar: seus cabelos não são mais desgrenhados e sua pele não é mais oleosa. Os braços, comportados, não marcam mais os espaços, Filó gesticula com parcimônia.
E, um pouquinho sobre obras de arte, deve ter aprendido, e hoje não cometeria mais o deslize de querer conhecer pessoalmente Marc Chagall. Aprendeu a ficar calada, o que já foi um progresso. E, descobriu, também, que ouvir as pessoas com atenção lhe dá o status de ‘connaisseur’.
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E quantas histórias dessas, não se tornam realidade?
ResponderExcluirOi Táis, aqui é Waleria Lima, lembra? Como disse pra vc, eu precisava de um tempo, p/ler Porto das Crônicas com calma, pois tem mto conteúdo...amei essa história, mto bem escrita,chega ser engraçada, pois sabemos q/realmente existe mta gente que vai em exposições, somente pra filar os comes e bebes, mas como tdo tem o positivo e o negativo, nesse caso, eles só ganharam...comeram, beberam, e tiveram a oportunidade, de conhecer alguns artistas, de forma leve e tranquila, e com algumas atropelos, q/ só o tempo conserta.
ResponderExcluirEu deixei um comentário, mas vc não me respondeu, perguntava se eras Gaúcha? Pois tem tdo jeito...e pelo q/eu li...pois minha tia tb é gaúcha de Rio Grande-RS.
Visite meu blog, essa última postagem esta linda, modéstia parte. http://www.wallperlima.blogspot.com
Bjoca da amiga. Waleria Lima