13 de junho de 2010

COM O PÉ NA COVA...



       
     - Tais Luso de Carvalho


Como faltava pouco para o início do inverno, fui receber a vacina da gripe comum e também para a gripe H1N1.

Uma fila enorme se formou ao longo da tarde, e muitos velhinhos impacientes já meio cansados. A fila era para a H1N1 e para a gripe comum, tudo por conta do Estado. Maravilha. Não podemos nos queixar, este é um serviço de saúde que funciona muito bem aqui, nota 10.

O curioso, nestas filas, é que se ouve de tudo e as pessoas ficam íntimas quando o assunto é doença, tragédias, assassinatos e futebol. Cada um tem um caso pra contar. 

Lembro que não estava me sentindo muito confortável: a velhinha ao meu lado estava com medo porque sua vizinha tinha contraído a H1N1. Que azar... já comecei a me coçar!

De repente, um cidadão brasileiro, com mais de 85 anos, perdeu a paciência ao se dar conta que tinha esquecido sua carteira de identidade quando lhe pediram para comprovar seus dados, sua idade. E deu rebuliço; formou-se uma roda, todos defendendo o velhinho  que já estava cansado.

Ele olhou pra mim - que estava na fila ao lado da dele - e disse:

- Mas pra que carteira de identidade? Ainda não deu pra ver que já estou com o "Pé na cova?"
- É... que bobagem... - disse-lhe eu.

O pessoal ao redor arregalou os olhos! E bota constrangimento nisso! É o que dá quando a gente fala sem pensar; eu não precisava concordar com aquela sua visão de finitude. Mas não sei por que soltou a frase olhando pra mim! Senti-me meio nas 'obrigadas' de dizer alguma coisa. E saiu essa bobagem.

Ao chegar a minha vez de receber a vacina, na sala ao lado da H1N1 - acho que como castigo divino -, me aplicaram a injeção acima do músculo, perto do ombro. Mas não reclamei, quis me redimir; às vezes o silêncio se faz necessário. Mas vi estrelas com aquela agulha no osso.

Contei para os meus filhos e eles disseram quase que em coro: 

- Pô, mãe, mas que bocão!! 

Por que fui contar...? Nem um ato de solidariedade! 
Senti-me a última das redimidas. 
Meu silêncio vai ser grande daqui pra frente.




________________________________






23 comentários:

  1. Aí, Taís, que boca grande mesmo!
    Mas acho que todo mundo já passou por isso! Voce fala e imediatamente morde a língua, se dá conta da asneira que falou. Mas palavras que se soltam no vento, não voltam mais.
    Bom fim de domingo pra vc!

    ResponderExcluir
  2. Eu tive até sorte com a minha H1N1(Nome estranho para uma vacina). Fui o segundão na fila e a moça que aplicou tinha mãos de plumas. Virei pra ela e falei:

    - Estou preocupadíssimo comigo agora.
    - Por quê?, disse ela.
    - Não senti nada. Eu nem chorei.

    Estive por aqui já vacinado e com o coração sangrando!

    ResponderExcluir
  3. Tais, q maldade a minha, mas ri imaginando a tua situação.
    Acho q passas poucas vezes por estas.
    E eu q dizem q "penso, falando",tenho uma franqueza q as vezes me assusta..
    vivi situações q não dá para explicar, pois daí complica mais..
    tu foste induzida a concordar, pensa assim.
    boa semana.

    ResponderExcluir
  4. Também, Tais, convenhamos: estar com o pé na cova não significa que vá entrar nela logo, logo, não é mesmo? rsrs. São os os tais atos falhos, mas sem nenhuma má intenção, creio. P.S: Você me fez lembrar de uma frase que uns atribuem a Nelson Rodrigues, outros a Otto Lara Resende: "mineiro só é solidário no câncer." Abração. Paz e bem.

    ResponderExcluir
  5. Confesso que não vi nada demais, afinal, diante da situação em que vivemos, onde a pessoa sai de casa sem ter a certeza se vai retornar; assaltos constantes, bala perdida pra todo lado, motorista embriagado no volante. Portanto, quem poderá de sã consciência afirmar que amanhã estará vivo? Daí, Acredito que todos nós estamos com o pé não, com os pés na cova.

    Beijos e ótima semana pra ti e para os teus.


    Furtado.

    ResponderExcluir
  6. Oi Tais!

    Já passei por este tipo de situação! A gente fala e depois reflete e percebe que o maior "fora"!
    Você concordou para dar apoio ao velhinho, afinal era desnecessária a Carteira de Identidade diante da figura, né?
    É muita burocracia e má vontade e você só quis reforçar que o velhinho tinha razão!

    Beijos
    Lia♥

    ResponderExcluir
  7. Ahaha! Excelente, Taís!

    E que furo, hein? Não o da injeção, mas o do comentário...

    Poxa, mas também isso é uma armadilha e tanto, né? O velhinho chega e pergunta isso, assim, na lata pra vc! Quer ouvir o quê?

    "Pé na cova? Imagine! Pensei que você tivesse uns 28, 30 no máximo!"

    E vc ainda poderia complementar com um puxão de orelhas:

    "Tá de picaretagem, rapazinho! Vá já buscar o RG e pára de enrolar a moça que a fila tem que andar!"

    Que roubada... rs

    bjão
    Cesar

    ResponderExcluir
  8. Tais, me ví em você. Muitas vezes dou foras e tento remendar e a coisa fica pior.
    De qualquer maneira querida, você pode ter dado um fora concordando com o velhinho mas foi imensamente feliz escrevendo esta belissíma crônica.
    Bjs da tua vizinha de Porto Alegre.

    ResponderExcluir
  9. rs. Às vezes a gente solta cada uma, né? Mas também, o tiozinho perguntou para concordar.rs.

    Além da dor, não tive nenhum outro revés por conta da vacina. =D

    Beijos

    ResponderExcluir
  10. Taisamiga

    O nosso segundo, o Paulo (hoje com 44) era tão «maricas» como eu no que toca a coisas dessas que picam, ainda que eu aguentasse um pouco mais mais...

    Quando tinha sete anos, em Luanda, fugiu de uma freira-enfermeira que o tentava vacinar. Com a agulha espetada no bracito. Foi uma verdadeira tourada para o apanhar e trazer de volta à tortura seringal...

    Hoje, já me autodomino e até faço pensos aos meus netos e coisas dessas. Em mim, aguento quase tudo. Atenção: escrevi QUASE...

    Abs para o Pedrão e qjs para tu

    ResponderExcluir
  11. Olá Taís,
    Seus textos cada dia estão mais saudáveis, mais leves, mas gostosos de se ler.
    Você põe sempre um temperinho a mais o que os deixa bem convidativos.
    Um abraço e tomara que você não tenha tido reação a vacina.
    Dalinha Catunda

    ResponderExcluir
  12. Tb não vejo nada de mais no comentário. O absurdo é exigir de alguém que se percebe ter mais de 60 anos a bendita comprovação documental. Isso é fruto da burocracia terrível que impera no seio de nosso funcionalismo, seja de qual esfera for. Papéis, papéis e papéis...nada vale sua palavra é preciso provar e comprovar.

    ResponderExcluir
  13. Poxa amiga... que falta de sorte, hein?!
    Bjão querida e uma terça super iluminada :)

    ResponderExcluir
  14. tais querida,
    enviei comentario anterior errado apague por favor.
    amiga eu ainda não fui tomar a tal vacina por causa da idade que não beteu ainda rsrsrs.
    mas meu médico pediu para eu e meu marido tomarmos mas fico adiando um pouco de medo.
    meus filhos tomaram e tudo bem e meu filho que é mé dico fica no meu pezinho rsrsrs mas sera que no dia que for vai ter um bocão hahahaha eu não quero o coro rsrsrs.
    mas que situação dificil!
    amiga sobre Carpinejar
    tenho paixão pela sua obra.
    e adorei sobre o que não gosto do texto que postei, e sobre o que esta lendo canalha deixo para você algo que consta dele que aprecio muito:
    beijos com carinho...

    O amor é o solitário do balcão, a retirar vagaroso o rótulo úmido da garrafa porque não pode despir sua mulher. Fica delirando em braile.Aprende inglês com as moscas. Joga dama com os cascos.Reza dez ave-marias para cada pai-nosso. Descobre que o terço é feminista. A cada vez que pensa em si, pensa dez vezes no corpo dela. Não se limpa um amor no banheiro. Limpa-se com as mangas da camisa nafrente de todos. O amor é a boca assoando.O amor não pede a conta na mesa, é a conta. Não há amor se você não for o último cliente. O último a sair é que está realmente amando."

    Carpinejar, em Canalha!

    ResponderExcluir
  15. Ah, que delícia de texto!

    Taís, isso aí é a minha cara. Vira-mexe faço isso. Quantas vezes reagi a uma pergunta ou observação qualquer sem pensar... Assumo minha escorregada e, quando há oportunidade, (porque às vezes as pessoas ficam tão iradas que ela inexiste), procuro me desculpar. Eu e minha língua,... que não sabe ficar quieta dentro da boca. rsrs Por sorte, os amigos já me conhecem, (já estão vacinados) e quando extrapolo com eles, simplesmente ignoram, ou me transformam num alvo de muita piada... Eu mereço!

    Adorei o texto, amiga! Bjs e inté!

    ResponderExcluir
  16. Oi Taís, desculpe mas eu ri muito da sua história só de imaginar que vc deve ter ficado com 'cara de paisagem"na hora...mas esquenta n menina, como dizem os italianos: normale!!! Amei sua crônica. Bjos querida.
    PS: Ja cometi cada gafe, vc nem imagina,kkkkkkkkkkkk...

    ResponderExcluir
  17. È Tais, muitas das vezes a espontaneidade é mal entendida por isso que sofrer da "doença do bocão" faz parte da história de todos nós. Fica triste não!
    Linda semana,
    Bjkas,
    Calu

    ResponderExcluir
  18. Oi, lindona!!!
    Nunca me vacinei contra gripes. E acabo me gripando todo o início de inverno.
    Estou exausta, mas vim ler as novidades.
    Obrigada pela visita que me encanta sempre.
    Muitas beijoquinhas pra você!!!
    Sônia Silvino' Blogs!
    Vários temas & um só coração!
    "Amigo é coisa pra se guardar...
    no lado esquerdo do peito...
    Adivinha onde está você???

    ResponderExcluir
  19. amiga tem um presente para você la no meu espaço
    espero que aceite.
    bjos com carinho.

    ResponderExcluir
  20. Andradarte19:27

    ...o que eu me ri....
    Estive a reler a sua crónica ou narrativa??..e vi que a história é igual
    aí ou aqui....sem tirar nem por...
    Que giro...
    Beijo

    ResponderExcluir
  21. Hahaha… To me acabando de rir!

    Dizem que a primeira coisa que passa na cabeça de uma pessoa quando lhe perguntam alguma coisa é a verdade. Nosso cérebro tem que fazer um esforço para mentir. Eu nasci com defeito. Minha resposta automática é concordar com a pessoa. Não importa o que for. Depois de falar sem pensar é que cai a ficha da burrada.

    Já fiz a mesma coisa que você.
    Só que no meu caso foi pior, porque o seu velhinho, você provavelmente não verá de novo.

    Um dia, a avó de uma amiga me pegou para contar o histórico de doenças dela. Eu liguei o automático. Sorria e concorde... Não lembro direito o que ela falou... mas foi bem parecido com o seu ‘pé na cova’. Sem prestar atenção, soltei um ‘pois é, tem toda razão’. Pronto, a família inteira da minha amiga me crucificou. A velhinha não pode nem me ver até hoje...

    ResponderExcluir
  22. Hua, kkk, ha, ha, por que obrigado pelos comentários menina?

    Mas se ele considerava no pé da cova, por que tanto interesse pela vacina?

    Fique com Deus, menina Tais Luso.
    Um abraço.

    ResponderExcluir
  23. Muito bom dia querida Tais.. primeiramente grato pelo comentário..
    é um assunto e tanto aquele que abordei né..
    o banquete que faz muita gente sair correndo só de imaginar.
    adoro brincar com todos os assuntos então eu as vezes pego tri pesado e outros tri docemente..
    fazer o que srsrs li muito Augusto dos Anjos e ele falava demais nesses temas..
    sobre tua postagem... primeiramente essa vacina é uma farsa.. e tem videos comprovando isso e teve gente que perdeu até diploma por abrir o jogo.. todas as vacinas são uma forma de controle.. eles colocam coisas dentro que afetam tudo em nós.... tempos atrás ouvi sobre uma vacina as mocinhas.. quando fala vacina todo mundo morre de medo e corre para o posto.. Farmacias e laboratórios estão juntos nisso.. tem um sistema muito grande.. nunca as fiz e estou melhor que muita gente.. não sei mais o que é gripe..
    um amigo meu fazia todo o ano por medo, quando pegou uma pneumonia do nada se foi..
    teu corpo não precisa desses venenos Tais.. mais antes tome uns belos chás.. a cura tem de ser natural, o resto é para gerar doença, não para proteger a gente..
    sobre o cuidarmos com o que a gente diz... pois é.. as vezes parece um círculo vicioso.. vc acaba estando no meio de pessoas que só falam de doença e contamina nossos pensamentos e sai o que não era para sair.. mas melhor fora do que dentro né..
    eu já fico de cara com a minha mãe.. tem uma irmã dela que quando liga é só pra puxar assunto de doença e minha mãe que cada dia tem uma dor em algum lugar abre o livro.. é complicado.. não existe doença.. existem mentes doentes que só pensam nela ao invés de procurar a cura para suas mazelas..
    beijos e um lindo dia.. até sempre querida amiga

    ResponderExcluir


Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís