- Tais Luso de Carvalho
Há muito queria escrever sobre a relação médico-paciente. Sinto-me muito à vontade, uma vez que meus antepassados (três gerações) eram médicos. Então, sem melindre e sem ofensas aos médicos íntegros e sensíveis; aos médicos com um perfil humanitário e aos médicos que podem servir de exemplo à classe. Quero falar de outro tipo de médico.
Existem médicos que não gostam de responder perguntas e dúvidas dos pacientes. Não lidam bem com a situação dos questionamentos. Por isso é que vamos aos consultórios médicos munidos de um arsenal de informações obtidas nos sites médicos da Internet. Em geral, os médicos não aceitam intromissão de quem não é médico, acham que não deveríamos questionar: seguir o tratamento dado e pronto. Fazer os exames pedidos e regressar com os resultados. Mas não é bem assim que as coisas têm de funcionar.
Tenho dificuldade de consultar e me submeter sem saber de nada, no escuro. Estou falando de um atendimento mais humanizado, e não do avanço tecnológico da medicina e da excelente técnica e conhecimento de nossos médicos. Falo de outra coisa: da interação, da confiança, do nosso gostar. De sairmos satisfeitos da consulta e podendo dizer: que baita profissional, esse é completo! É uma felicidade fora do comum. E eu digo algumas vezes! Não poupo elogios.
Já acostumamos com os especialistas específicos e objetivos. É difícil encontrarmos um médico que esteja disposto a nos ouvir, como pessoas que estão numa enrascada e muitas vezes com o espírito em frangalhos. Tratam as doenças; mas esquecem dos pacientes angustiados e frágeis diante do desconhecido. Tratam da tuberculose e não do tuberculoso; tratam da hipertensão e não do hipertenso; tratam do câncer e esquecem o desesperado.
Os médicos não se dão conta que o paciente ajudará mais em sua cura se sair da ignorância; se forem ouvidos. Por isso tanta gente tentando pesquisar na Internet, entrando em sites de medicina. E no fim se dão mal.
Não gosto desse processo desumanizador em que a medicina mergulhou. Tudo é máquina; só os exames darão a resposta. Conheci um médico que deu - por telefone - um diagnóstico de câncer ao seu paciente (casualmente outro médico). Eu presenciei a reação deste paciente! Este paciente era o meu pai, e não foi tratado com o zelo que deveria ser tratado numa hora tão difícil. Não tem perdão para médicos que venham a agir sem humanidade, seja pela rede pública, seja por qualquer convênio ou mesmo particular.
E, também, não vejo com bons olhos certos profissionais que se atrevem a dar um tempo de vida a um paciente. Segundo um trabalho publicado no 'British Medical Journal', 85% desta previsão dá errado. Para que servirá esta maldita previsão? Para deixar tudo arrumadinho? Tenho como exemplo um amigo da minha família, que aos 44 anos recebeu o conselho do seu médico cardiologista para que arrumasse sua vida e documentos, pois não viveria mais que seis meses; seguiu os conselhos, mas morreu quarenta anos depois. E de enfisema pulmonar.
Empatia e confiança entre médico e paciente são fundamentais. E quando esse elo não existe, está mais do que no momento de trocar de profissional. Esperar para ver se as coisas tomam outro rumo é dar asas à doença. Mas a escolha é nossa.
Depois, restam apenas lágrimas e um médico ausente...
Há muito queria escrever sobre a relação médico-paciente. Sinto-me muito à vontade, uma vez que meus antepassados (três gerações) eram médicos. Então, sem melindre e sem ofensas aos médicos íntegros e sensíveis; aos médicos com um perfil humanitário e aos médicos que podem servir de exemplo à classe. Quero falar de outro tipo de médico.
Existem médicos que não gostam de responder perguntas e dúvidas dos pacientes. Não lidam bem com a situação dos questionamentos. Por isso é que vamos aos consultórios médicos munidos de um arsenal de informações obtidas nos sites médicos da Internet. Em geral, os médicos não aceitam intromissão de quem não é médico, acham que não deveríamos questionar: seguir o tratamento dado e pronto. Fazer os exames pedidos e regressar com os resultados. Mas não é bem assim que as coisas têm de funcionar.
Tenho dificuldade de consultar e me submeter sem saber de nada, no escuro. Estou falando de um atendimento mais humanizado, e não do avanço tecnológico da medicina e da excelente técnica e conhecimento de nossos médicos. Falo de outra coisa: da interação, da confiança, do nosso gostar. De sairmos satisfeitos da consulta e podendo dizer: que baita profissional, esse é completo! É uma felicidade fora do comum. E eu digo algumas vezes! Não poupo elogios.
Já acostumamos com os especialistas específicos e objetivos. É difícil encontrarmos um médico que esteja disposto a nos ouvir, como pessoas que estão numa enrascada e muitas vezes com o espírito em frangalhos. Tratam as doenças; mas esquecem dos pacientes angustiados e frágeis diante do desconhecido. Tratam da tuberculose e não do tuberculoso; tratam da hipertensão e não do hipertenso; tratam do câncer e esquecem o desesperado.
Os médicos não se dão conta que o paciente ajudará mais em sua cura se sair da ignorância; se forem ouvidos. Por isso tanta gente tentando pesquisar na Internet, entrando em sites de medicina. E no fim se dão mal.
Não gosto desse processo desumanizador em que a medicina mergulhou. Tudo é máquina; só os exames darão a resposta. Conheci um médico que deu - por telefone - um diagnóstico de câncer ao seu paciente (casualmente outro médico). Eu presenciei a reação deste paciente! Este paciente era o meu pai, e não foi tratado com o zelo que deveria ser tratado numa hora tão difícil. Não tem perdão para médicos que venham a agir sem humanidade, seja pela rede pública, seja por qualquer convênio ou mesmo particular.
E, também, não vejo com bons olhos certos profissionais que se atrevem a dar um tempo de vida a um paciente. Segundo um trabalho publicado no 'British Medical Journal', 85% desta previsão dá errado. Para que servirá esta maldita previsão? Para deixar tudo arrumadinho? Tenho como exemplo um amigo da minha família, que aos 44 anos recebeu o conselho do seu médico cardiologista para que arrumasse sua vida e documentos, pois não viveria mais que seis meses; seguiu os conselhos, mas morreu quarenta anos depois. E de enfisema pulmonar.
Empatia e confiança entre médico e paciente são fundamentais. E quando esse elo não existe, está mais do que no momento de trocar de profissional. Esperar para ver se as coisas tomam outro rumo é dar asas à doença. Mas a escolha é nossa.
Depois, restam apenas lágrimas e um médico ausente...
Bom texto,obrigado pela partilha.
ResponderExcluirBeijo.
Taís,
ResponderExcluirBom tema. Mais que bom, importante tema. Conheço bastante desse universo da frieza médico-hospitalar. Até escrevi um conto a respeito, Tapioca. Nunca consegui resumir as coisas que acho, minha indignação a respeito do tema, em uma crônica, como você conseguiu fazer. Para mim é um tabu, pois perdi pai, mãe, um tio querido, todos depois de passar por um calvário na mão de médicos, nem sempre humanos, por isso optei por esconder minhas considerações na pele de personagens de ficção.
Parabéns pela abordagem!
Cesar
Taís, volta e meia eu me refiro a estas relações em minhas crônicas. São tantas coisas que vêm se modificando aceleradamente... Os cursos de medicina ganharam um enfoque mais técnico e mais mercantil. O lado humano, vai pouco a pouco sendo fragmentado também, jogado para especialistas. Os médicos novos estão muito perdidos. Eu tenho amigos que trabalham com saúde pública, naqueles plantões brabos e dizem que mais da metade dos atendimentos que lhes chegam são resolvidos com cinco, dez minutos de atenção ao paciente. A sobreposição de carências é muito grande e se o médico não tiver sensibilidade ele mesmo corre o risco de transformar em doença uma coisa que era apenas uma carência afetiva somatizada. Minha opinião de leigo também. Meu abraço e obrigado pela abordagem tão agradável. Paz e bem.
ResponderExcluirMINHA QUERIDA AMIGA,ESTUDEI MUITO POUCO,PORÉM ENTENDI TUDO QUE VC DISSE NESSE TEXTO,QUE É REAL,O RELACIONAMENTO MÉDICO PACIENTE,É MUITO RUIM,INCLUSIVE
ResponderExcluirEM POPULAÇÕES POBRES,PARABENS MUITO BEM ESCRITO,BEJOS TERE.
Boa noite,
ResponderExcluirComo médica posso dizer o que percebo:
Ter uma boa relação médico-paciente na maioria das vezes ajuda muito mais do que o próprio medicamento (pelo menos na minha área - psiquiatria).
Também acho errado vero paciente apenas pela doença e esquecer que há muito além disso, o ser humano.
Abraço
Mariza :-)
É lamentável, mas infelizmente é a pura realidade. Belo texto.
ResponderExcluirAbraços e ótimo domingo.
Furtado.
Ouço falar muito em humanização e fico pensando: como seres humanos estão indo para salas de aula em busca de tornarem seres mais humanos? Então concluo que com as especializações os médicos e outros profissionais de saúde perderam o foco do todo. O ser humano não é visto mais como um ser biopsicossocial. É, realmente, triste que o ser José deixe de sê-lo para torna-se o cardiopata...
ResponderExcluirParabéns pela abordagem. Beijos.
Oi Taís
ResponderExcluirConcordo com você. Também acho que informar o paciente é fundamental. Afinal, é a nossa saúde que está nas mãos do médico, precisamos confiar nele.
Fica difícil para quem depende do sistema público de saúde. Em uma realidade em que conseguir uma consulta em um prazo menor que meses é lucro, escolher o médico é luxo. Sem falar dos médicos, que se encontram sobrecarregados e têm que lidar com os recursos disponíveis. Como sempre, a corda arrebenta para o mais fraco. O paciente.
Fui Jovem Acolhedora no HRA da minha cidade. O projeto é exatamente um dos muitos para tentar humanizar as relações dentro do hospital.
Conheci alguns médicos, uns realmente dedicados, atenciosos. Outros; pareciam que tinham um rei na barriga, do tipo que olham enfermeiros e atendentes de cima, como se fossem superiores a eles. E os pacientes então, apenas trabalho, uma doença a ser tratada.
Nessa pequena fase de convivência, 1 ano, ouvi muitas histórias. Também muitas reclamações de pacientes. E incrivelmente, em primeiríssimo lugar, antes da falta de recursos e da demora do atendimento, reclamavam do tratamento dos médicos, justo daqueles que se julgavam superiores.
As palavras de uma enfermeira me marcaram muito. Ela me disse que a rotina do hospital endurece quem trabalha nele. Eles se acostumam. A morte de um internado precisa ser encarada como um leito vago porque eles têm de continuar e se dedicar a quem substitui o leito. Por isso fazem o possível para não se envolver demais.
Por outro lado, uma médica que trata de pacientes terminais me disse que o trabalho de um médico, mais do que adiar a morte, é dar qualidade de vida aos seus pacientes enquanto estiverem sob seus cuidados.
Beijos Taís
Adorei o tema
Quase escrevi um livro como comentário.. rsrs
Ei Tais!
ResponderExcluirPorque você é nossa seguidora, viemos te convidar para a campanha "Ler é Fashion"
Entre na moda e participe do sorteio!
Beijos
Fla e Ge
Equipe "O que elas estão lendo!?"
Aqui em casa já vivemos mais de uma vez momentos difíceis, muito difíceis, por conta de diagnósticos errados.
ResponderExcluirHoje, Taís, quando eu ou qualquer pessoa de minha família temos um problema de saúde não vamos a um médico. Vamos a pelo menos três médicos. Procuramos ouvir várias opiniões. Infelizmente a medicina está virando uma indústria complexa e sem controle, e fica cada vez mais difícil confiar. E em meio ao mar de questionamentos ao qual ela nos lança perder tempo pode significar perder a vida.
E sempre que falo na necessidade de humanização da medicina penso que talvez seja preciso colocar em prática a arte da guerra... Embora pareça uma incoerência, dar alguns passos para trás e, só então, avançar com alguma segurança.
Bjs, amiga, e inté!
querida tais,
ResponderExcluirotimo texto e verdadeiro mas é lamentavel que isto acontesa.
amiga eu venho logo mais estava viajando e logo vou de novo.
recebi seu convite com muito gosto mas demorei por isto venho ver a crônica com calma.
bjos com carinho..
Fato mais corriqueiro que deveria,este suscitado em tua crônica.Lendo os depoimentos nos apercebemos ainda mais da urgência da mudança de muitos(maus)médicos em suas atitudes de deuses supremos.
ResponderExcluirComo vc mesma disse_"...pera lá, estamos no século XXI e somos capazes de conhecer acerca de tudo."Merecemos respeito em qualquer área da vida,ainda mais nesta que reflete a própria manutenção dela.
Dias alegres p/ vc.
Abraços,
Calu
É isso Tais,
ResponderExcluira relação de confiança entre médicos e pacientes é fundamental para a saude do doente, e isso se consegue quando o médico se interessa pela vida do paciente.
Houve uma época em que eu estava entrando em depressão, ficava tão angustiada que meu coração parecia explodir. Fui em 3 medicos e diziam que eu não tinha nada. Só quando resolvi procurar uma médica
particular e que me deu mais atenção, foi que acertou em cheio o meu caso e com a medicação correta eu nunca mais tive tais sintomas. É assim que muitas pessoas depressivas perdem a vida, não são diagnosticada corretamente e independente da gente, a depressão mata.
bjs
É algo complicado Tais, pois penso que os médicos tratem os paciente de forma mais "bruta" para não se apegar ao se humano, pois os médicos sempre vão ter mais caso de morte para lidar...
ResponderExcluirFique com Deus, menina Tais Luso.
Um abraço.
Taís, tuas crônicas são sempre muito sábias e sensatas. A relação médico/paciente é realmente muito delicada... Há quem justifique a frieza de alguns médicos como zelo profissional, contudo para mim não existe justificativa para a falta de humanidade, que é isso que você mencionou: tratam a tuberculose e não o tuberculoso e etc.
ResponderExcluirFelizmente, teu primeiro parágrafo faz uma ressalva para os bons representantes da categoria. São raros, mas existem! A obstetra, que comandou a cirurgia através da qual nasceram meus dois primeiros filhos, é exemplo perfeito disso. Exemplo de profissional e de ser humano, será sempre citada por mim como alguém que honra o título que carrega de 'salvadora de vidas'.
Beijo,
Suzy