16 de junho de 2012

Da tortura dos Pés de Lótus à Missão Espacial

 Pés de Lótus                         1ª astronauta da China


- Tais Luso de Carvalho

Ter vindo 'mulher' no Antigo Império Chinês não deve ter sido coisa fácil. Aliás até hoje existem coisas ainda horrorosas por esse mundo afora. Bem, a prática das mulheres de pés pequenos era sinônimo de status social e de nobreza na antiga China. 

A partir do século IX algo muito peculiar existia entre as mulheres chinesas - consideradas nobres. Na verdade só seriam nobres as mulheres que possuíssem pés muito pequenos, e só atingiriam a perfeição as que ficassem com seus pés em nada além de 7 a 10 centímetros - uma loucura.

Para que isso acontecesse, e as mulheres não ficassem rebaixadas ou menosprezadas perante a sociedade, desde muito pequenas - a partir dos 4 anos -, as meninas tinham os pés quebrados na região abaixo do calcanhar e sempre enfaixados, cada vez mais apertados para que os ossos não crescessem. Os muitos metros de faixas para as ligaduras seriam usados o resto da vida. Dessa forma os pés ficavam parecidos com uma pequena flor de lótus. E, com isso, suas mães acreditavam que suas filhas teriam um belo casamento.

Seus pés muitas vezes necrosavam – pelas infecções e ossos quebrados. O cheiro de carne putrefata era constante, aos poucos iam sendo cortadas as partes necrosadas. O marido nunca os via, apenas olhava a graça do tamanho e o caminhar sensual. E nada mais. Não podiam tirar as faixas dos pés de suas mulheres: a estética ficava na imaginação!

Os dedos se encaixavam para baixo do pé. Dores intensas as impediam de dormir, estudar, brincar... Caso o marido descobrisse que sua esposa não tinha pés de lótus, o casamento poderia ser anulado. Era também uma forma machista da esposa ficar numa total dependência de seu marido, servindo apenas para lhes satisfazer e dar ordem aos empregados, pois nada mais conseguia fazer.

Certamente eram submetidas à dores alucinantes nesse processo que transcorria durante toda sua infância e juventude. Depois, ao crescerem, como os pés eram muito pequenos, não tinham equilíbrio para permanecerem em pé. Caso engordassem, não suportariam o peso de seus corpos. Nos períodos de gravidez ficavam deitadas a maior parte do tempo.

Para os homens, o caminhar balançado dessas mulheres, conhecido como a Marcha de Lótus era extremamente erótico e excitante. Era considerado impossível arranjar um marido do mesmo status social se a mulher tivesse os pés normais – pés de elefantes. E as de classes mais pobres não passariam de serviçais e escravas.

Porém, já no século 19, 50% das mulheres chinesas já tinham cometido a prática de manter os pés ainda pequenos, mas apenas enfaixando, sem cometerem a mutilação dos séculos passados: menos deformados e sem quebrarem os ossos. Mas o processo, ainda doloroso.

Só na metade do século XX, com a Nova República da China, que a prática foi proibida por lei, por ser deformante, incapacitante e não permitindo uma educação adequada devido a tantas dores em que a mulher era submetida. Nas nas zonas mais remotas, as mulheres ainda apresentavam os pés deformados, mesmo depois da Revolução de 1949. Acredita-se que 4 bilhões de mulheres chinesas foram submetidas a essa prática no decorrer de mil anos

Esse fato se mostra muito importante: as mulheres se preocuparam sempre com as questões estéticas e de moda, que são capazes de passarem por cima de dores intensas simplesmente para cumprirem uma regra social. Não se tem conhecimento de nenhuma revolta feminina na China contra essa barbárie histórica ocorrida durante quase mil anos.

Porém, hoje, 16 de junho de 2012 a China enviou  ao espaço a primeira mulher astronauta do país. Esta operação também tentará uma manobra de acoplamento com um pequeno módulo em órbita, algo que até agora apenas os Estados Unidos e Rússia conseguiram fazer.

Liu Yang,  33 anos, piloto da Força Aérea Chinesa, foi escolhida em um rigoroso processo seletivo em que verificavam aptidões físicas e intelectuais.

O  Gigante acordou e a mulher chinesa é outra: agora mais valorizada por sua capacidade   intelectual, e cada vez mais incluída no crescimento daquele  país. Chegarão a um maior reconhecimento, sem dúvida. 

clique nas  fotos / zoom


O que ela está mostrando são os dedos do pé!

 Em   16 junho de 2012...    1ª astronauta da China



20 comentários:

  1. Puxa, eu nunca seria capaz de aguentar isso.Sofro muito om meuis pés sem estarem quebrados, imagina!! E que transformação... Daquele tempo para hoje, um salto, ou melhor, um lindo voo dessa mulher... Parabéns à elas...beijos,chica

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  2. mutilação foram abolidos. Contudo, mutilações dos genitais femininos ainda resistem em grande porção da África subsaariana, o que, em pleno século vinte e um é uma aberração tão medonha ou pior que os pés de lótus.
    De qualquer modo, parabéns para os chineses e para as mulheres em geral por essa conquista da "cheirosa" Liu Yang, e parabéns para você também pela ótima postagem. Abraços, JAIR.

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  3. Oi, Jair, não quis misturar outras mutilações e outros horrores, seria muita coisa para uma postagem só. Mas esta que você fala, não tem comparação!

    Obrigada!
    Tais

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  4. A quantos horrores mulheres foram submetidas. Ainda há alguns desequilíbrios,entre mulheres e
    homens mas, dentro de poucos anos,
    com certeza, pelas vias legais, esse
    equilíbrio será alcançado.
    Vê-se, pelo "andar da carruagem"...

    Bela e importante postagem, Taís.
    Um abraço,
    da Lúcia

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  5. O interessante é que até hoje o pé é o lugar ideal de " tortura" para sermos "elegantes": ou alguém vai dizer que saltos altíssimos são confortáveis? Eita, qto sofrimento esta vida de mulher " chique"...rs

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  6. Oi Taís!
    A ditadura da estética é um horror!
    Que triste e doloroso caminho dessas mulheres! Ainda bem que neste aspecto houve um avanço e elas podem finalmente içar voo.
    Excelente texto!
    Beijinhos e uma linda semana!

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  7. Olá Taís,
    ainda bem que o tempo corrige os desvios... que alívio sentimos só por saber que não se deformam mais os pés na China. Agora existe um movimento tentando acabar com as castrações femininas na África...
    E a China vai tirando a diferença tecnológica em tempo record...
    Um grande abraço de todos nós do atelier. A musa vai bem e manda um beijo!

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  8. Olá Taís, eu não sabia com detalhes da história dos pés, sabia por alto, que coisa pavorosa, imagina o sofrimento que elas passavam, ainda bem que as coisas mudaram p elas! Muito corajosa essa astronauta! Bjooooss

    Recadinho aos amigos:
    A partir de amanhã meu blog sairá do ar por 2 ou 3 dias p repaginada, não será possível fazer visitas nesse período! volto no fim da semana! Abraçosss

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  9. Oi Taís! Muito triste essa imposição para as mulheres chinesas, ainda bem que tudo mudou e já não é mais assim!
    Uma feliz semana para você!
    Beijos
    Mariangela

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  10. Tais, estou certa de que eu seria uma serviçal muito feliz na China antiga!

    Olhando assim de longe, cronológica e fisicamente falando, é muito fácil afirmar que eu não me submeteria a semelhante tortura em nome do status. Mas não ouso criticar as mulheres daquela época, criadas sob o peso de regra social que para nós hoje é aberração... para elas era o normal, o aceitável, o desejável - apesar de todas as dores! Elas não viam da forma que vemos hoje, simplesmente se deixavam conduzir pelos ditames da "moda" em questão. Pobres criaturas, sinto compaixão!

    Hoje, felizmente, os tempos são outros e a moda, embora ainda ditadora, pelo menos não exige fratura dos ossos! Parabéns para a astronauta Liu Yang, disposta a escrever um novo capítulo pra triste história da mulher chinesa. Que seus pés de elefante conquistem muito mais do que o espaço: simbolizem o avanço cultural e intelectual de um povo, enterrando definitivamente no passado o amargo período dos pés de lótus e o doloroso andar que balança.

    Beijo grande, minha amiga!

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  11. Taís do céu! A loucura humana é incomparável, sem referência em qualquer outra coisa do reino animal. (pelo menos alguma coisa boa vamos poder falar da revolução maoista, que acabou com esta tortura.rsrs)

    Outro dia eu assisti no canal Nat Geo que depois da "ocidentalização chinesa" criaram uma cirurgia para fazer as pessoas crescerem pois os chineses são considerados muito baixos para os padrões das empresas ocidentais que lá aportaram. Mas o negócio é rudimentar, serram as pernas, colocam um pedaço de chapa ou parafuso e emendam novamente. A pessoa tem que ficar seis meses imobilizada , esperando a cicatrização.

    Eu não me espanto mais com esse horrores. Só não deixo de me indignar. Como disse o Carl Seagan: "quem dera o ser humano evoluisse na mesma velocidade que a ciência".

    Abração, Tais e ótima semana

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  12. Estarrecedor!
    Sofrer calada, sofrer a dor da mutilação e da posterior violação emocional deve ter feito destas mulheres seres que alcançaram um grau de superação impensável...eu não consigo imaginar...senti embrulhar o estômago enquanto ia lendo tua crônica... como a Suzy, eu tb seria uma serviçal feliz, sem a escravidão desse horror!

    Apesar da barbárie (tem coisas piores, quase nem dá pra acreditar!), teu texto me forneceu mais informações sobre essa prática horrenda. Conhecimento nunca é demais, né amiga?

    Boa semana, bjos!

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  13. O gosto dos homens....é muito 'estúpido'. Felizmente que a China
    está suplantando rapidamente esses
    e outros problemas....
    Fiquei a saber mais desta tortura...
    Beijo

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  14. Taís, não dá nem para reclamar em ser mulher hoje em dia, principalmente, na cultura ocidental. As mulheres chinesas sofreram as barbaridades de um tempo e uma sociedade machista e extremamente cruel.
    Que bom que você concluiu o texto com uma boa notícia,rsrs.

    Beijos

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  15. Incrível como as mulheres se submetem aos homens...´até nos dias de hoje só mudaram as formas de submissão.São formas menos radicais, porém tão doloridas quanto. Muito triste, para algumas mulheres, é claro. Um abraço Tais.

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  16. .


    Eu não vim discutir o assunto,
    até porque, cultura de um povo
    e o poder que a mulher inteli-
    gente exerce sobre o homem não
    se discute. No entanto eu vim
    trazer o meu beijo e os meus
    respeitos a você, que tanto
    gosto.

    Palhaço Poeta






    .

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  17. Olá Taís,
    Que coisa mais horrenda!
    Cheguei a sentir dores nos pés só em pensar naquelas torturas. Até que ponto o homem chinês conseguia se sentir bem sabendo do sofrimento de sua companheira, obrigada a ter os pés aleijados e em extrema situação de penúria, apenas para satisfazê-lo.
    Ainda bem que, com o passar dos tempos, muitas coisas mudaram e hoje, já não existem mais aqueles barbarismos e, sim, veem as mulheres com muito mais sensibilidade.
    A prova disto é esta chinesa que levantará voo, mostrando ao mundo que a mulher deve ser reconhecida não apenas pela beleza que possa aparentar, mas sim, por sua inteligência, coragem e sagacidade.
    Gostei muito de sua postagem!
    Um grande beijo, amiga.
    Maria Paraguassu.

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  18. Cada maluqiuce né minha amiga ? Vi neste domingo na Record que menininhas nao me lembro de qual país que precisam ser obesas para serem consideradas lindas e atraentes...meu Deus...até quando?Mas que felicidade...que presentão( dia 16/06 é meu níver...rs...)A mulher chinesa dá seu " urro "de liberdade....Ainda que tardia...Beijos...estava com saudade....

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  19. Há pouco tempo, vi todo esse processo em um filme. Senti muita pena ao assistir as cenas em que as mães quebravam os dedos dos pés das filhas e os imobilizavam, obrigando-as, depois do ato, a caminharem pela casa, entre lágrimas. Tudo, realmente, em função de um bom casamento.
    Mas quando soube da astronauta, imaginei o orgulho das mulheres chinesas, ocupando espaços tão especiais, no mundo moderno.
    Bjs.

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  20. Meu Deus quanta barbaridade! Tudo em nome de um bom casamento, quanto sofrimento! Quanto a astronauta o orgulho é imensurável!
    Beijos!

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Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís