- Fabrício Carpinejar
Maurício estava separado. Sua esposa recém abandonou a casa. Levou as roupas e os pertences sem motivo. Um suicida seria mais educado: pelo menos, deixaria um bilhete e uma explicação. Não foi o que ocorreu.
Para complicar, Maurício e Karen irradiavam felicidade nas últimas semanas, o que ferrou com a cabeça do sujeito. Não houve nenhuma discussão, nenhuma cobrança, nenhum problema pontual.
Não entendia até aquele momento uma verdade dura dos relacionamentos: a felicidade separa mais do que a infelicidade. Poucos suportam depender de outro. Não há mais humildade do que precisar de alguém.
A empregada Leonice vinha sempre às 8h, e encontrava o bancário arrumado e com a mão na maçaneta.
Naquela sexta, não foi diferente, a não ser a esperança da reconciliação.
- Karen ficou dormindo, somente acordará ao meio-dia. Parecia muito cansada. Assistimos a um filme e deitamos tarde.
A empregada suspirou feliz com a reconciliação do casal. Só faltou benzer a porta fechada do quarto.
- Volto para o almoço às 14h – completou.
A empregada foi ao mercado comprar ingredientes e preparar um empadão de palmito, prato predileto de sua patroa. No decorrer do caminho recebeu ligação do Maurício.
- Não esquece a rúcula e o iogurte natural que acabaram. Karen não abre mão.
Ao meio-dia Maurício telefonou de novo:
- Ela levantou?
- Não, permanece quietinha lá, sonhando com os anjos – respondeu Leonice.
- Então deixa dormindo.
Quando Maurício regressou para o almoço, no meio da tarde, Karen não tinha dado sinal.
Ponderou, ponderou e decidiu não despertá-la.
- Ela nunca pode dormir. Não deve ter trabalho hoje. Não é o caso de incomodá-la. Acordará sozinha.
O tempo rodou 15h, 15h30min, 16h, 16h30min.
Maurício ligou mais uma vez:
- E Karen?
- Nada ainda.
- Compra flores na esquina e decora a sala. Gerânios, ela adora essa palavra: gerânio. Ela costuma falar que a palavra já tem cheiro.
Satisfeita por dentro, Leonice riu com suas covinhas, concluiu que os dois continuavam apaixonados um pelo outro.
Quando Maurício regressou às 18h, Karen resistia dormindo.
Ele teve de pedir:
- Vai acordá-la, passou do limite, o almoço já é janta.
Leonice ressurgiu na sala branca, esverdeada, rosa, azul, amarelo, lilás, alternando as cores do medo.
- Não tem ninguém no quarto.
Maurício respirou fundo e somente disse:
- Não estou pronto para saber disso. Vamos continuar fingindo que ela ainda mora conosco, tá bom, Leonice?
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- Publicado no jornal ZH de 4 setembro 2012
Limerique
ResponderExcluirAbandonado marido sentiu afronta
Chateado com sua cabeça tonta
Fingiu que não sabia
Assim passava o dia
Melhor era viver um faz de conta.
Olá Taís, Coitado desse homem gente, que dó rsrsr, a separação é muito triste qdo um dos dois ainda ama! Bjoooosss e ótimo finde!
ResponderExcluirLimerique
ResponderExcluirUm dia a esposa foi embora
Chateada resolveu dar o fora
Marido desaponta
Faz o faz de conta
Pois homem macho não chora.
Uma das grandes bênções da vida
ResponderExcluiré a experiência que os anos vividos nos concebem.
Aniversariar é uma amostra das oportunidades que temos de aprender a contar os nossos dias.
mais uma janela e abre diante dos meus olhos,
mais um espinho foi retirado da flor,
restando somente a beleza de tão bela data.
Com fé, na esperança e no empenho por ser melhor a cada dia.
Seguindo pelos caminhos da verdade e do amor.
Um dia encontrarei o mais belo jardim, o jardim que representará a realização
dos meus maiores sonhos.
Com saudades .
desejo um feliz final de semana
venha curtir meu aniversário.
Beijos na sua Alma,Evanir.
É fato que os casamentos atuais tem prazo de validade. Talvez esta nova geração acostume trocar de conjugue como troca-se de carro.
ResponderExcluirSinal dos tempos...
Não creio em separações onde os sinais da insatisfação de uma das partes, ou de ambas, já não seja evidente. Mas sair sem dizer adeus!!!
ResponderExcluirTadinho dele!!!!! Bjs.
Pobre homem, Tais!
ResponderExcluirDifícil aceitar um fim que veio dessa maneira, sem aviso prévio e sem adeus. Mas será que ele não teria deixado escapar os sinais? Da mesma forma que ele agora rejeita a realidade do abandono, pode ter rejeitado os indícios da insatisfação da esposa... Mas não há como saber, o jeito é enfrentar a situação, por mais dolorosa que ela se apresente!
Sabe, Tais, mascarar a realidade me parece muito mais destrutivo. Significa prolongar uma dor inevitável. Evito isso, seja qual for a dor. Prefiro vivê-la intensamente num momento e deixar que ela se vá, recomeçar, do que fingir, disfarçar, e sofrer por dentro por dias sem fim. Espero que os Mauricios acordem e percebam que a vida continua; que aprendam que a felicidade não pode estar condicionada ao outro, mas deve ser encontrada plenamente dentro de si mesmos.
Beijos, querida. Belo conto de Carpinejar, gostei muito!
É... minha querida Taís, fiquei sem palavras, justo eu!!! rssssssssssss
ResponderExcluirQue bela fuga! Não havia ouvido ainda uma desse tipo! E bela, bela fuga: sem desespero, sem tristezas, um teatro.
O problema é somente o de adiar o sofrimento, que virá, com certeza. A menos que ele se abrigue na fantasia para sempre, o que significará doença!
Agora, a atitude da mulher foi de uma covardia sem fim, né não?
Bjsssssssssssss, quérida!
P.S.: Consegui colocar o seu blog no meu blogroll: agora saberei na hora quando vc postar! Ôba!
Ô faz-de-conta mais doloroso esse, hein.... Um início de semana iluminado!
ResponderExcluirAbraço fraterno e carinhoso!
Elaine Averbuch Neves
http://elaine-dedentroprafora.blogspot.com.br/
Que história heim???
ResponderExcluirGostei de ler mas difícil de entender as razões.
Boa semana
Beijo
Oi Taís!
ResponderExcluirMenina, que situação? Não é fácil a separação quando se expõe todas as mazelas, imagine assim sem explicação. Não sei se é coitado, pois toda história tem dois lados e eu desconheço a outra, mas que foi terrível, foi.
Beijinhos e uma semana de alegrias!
Maravilhosa, porém triste!
ResponderExcluirMas o que torna a vida intrigante são os fatos pelos quais temos que passar, enfrentar, ou apenas fingirmos e deixarmo-lo dormindo.
Amei!