- por J. A.
Pinheiro Machado
Niccolò di Bernardo dei Machiavelli, historiador, diplomata, filósofo,
escritor e político memorável nascido há 543 anos, que morreu de
desgosto em 21 de junho de 1527.
No
poder adorava uma boa intriga palaciana murmurada numa mesa farta,
com toalhas de linho, talheres pesados, porcelanas assinadas, vinhos
de boa data servidos em copos de cristal. Demitido e exilado,
cultivou em textos soberbos uma ironia discreta em relação às
agruras de seu tempo. Essa ironia, carregada de desalento resignado
em face da realidade, é confundida com cinismo:
'Grande é a diferença entre a maneira em que se
vive e aquela em que se deveria viver'.
Constatou
com simplicidade e realismo em O Príncipe, advertindo a
seguir:
'Quem deixar de fazer o que é de costume, para fazer
o que deverá ser feito, encaminha-se mais para a ruína do que para
a sua salvação'.
A
obstinação de Maquiavel não eram as mulheres, como Casanova, nem a
boa mesa, como Brillar Savarin, mas, sim, a política, na qual as
ferramentas não deixam de ser semelhantes: também aí é
indispensável o uso competente das armas da sedução e da
conquista, além da capacidade de conciliar – ainda que seja o
sabor dos vinhos com o aroma dos pratos.
Maquiavel
sempre quis ser apenas um político e, de fato, teve intensa
atividade no governo florentino, dos 29 aos 43 anos de idade.
A
literatura foi uma fatalidade. Derrubado pelas fofocas, construiu sua glória nos 15 anos de exílio do poder.
Com
o ócio forçado pelas circunstâncias, teve os vagares necessários
à sua obra. Escreveu para não enlouquecer, até morrer, com apenas
58 anos. Numa dolorosa ironia, é preciso reconhecer que, graças às
perseguições dos Médices – que o levaram à solidão, ao exílio,
ao último refúgio da escrita e à morte – temos hoje O
Príncipe, seu texto mais famoso, embora Discorsi sopra la
Prima Deca di Tito Livi seja a obra-prima.
Maquiavel,
na verdade, não tinha nada de amoral ou maquiavélico, no sentido
perverso que o termo ganhou. Era franco, sincero e inovador. Os
huguenotes franceses, os puritanos ingleses e os jesuítas, que
tinham reduzido a atividade política a intrigas palacianas
sustentadas pela força das armas, foram apanhados de surpresa pela
força renovadora do pensamento de Maquiavel.
A
admiração (temperada com a inveja) que sua inteligência fulgurante
despertou naquele tempo deriva da coragem que teve ao escrever certas
verdades muito desagradáveis:
'É muito mais seguro sermos temidos do que amados.
Os homens, com facilidade, ofendem aqueles que amam. Mas preferem um
silêncio cauteloso diante daqueles que temem'.
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Crônica retirada de ZH de 5 de
nov de 2012.
Advogado e jornalista J. A.
Pinheiro Machado.
Taís um texto maravilhoso. Maquiavel realmente era um homem com idéias fundadas no moralismo político e ele apenas explicitava os fatos com uma dose generosa de filosofia irônica e aí muitos confundem como sendo de fato o que ele ensinava.Naverdade ele tentou desvincular a ética da política, pois tinha como base um "Estado que funcione e não um ‘’Estado ideal".
ResponderExcluirAdorei o texto Taís e tentei lembra de um livro em espanhol que li, mas olvideme del título, pero era algo asi como "Las maldades de maquiavel"
Na
beijokas doces e boa semana.
Marli, é exatamente isso que você diz. Quando postei essa crônica deliciosa, já tinha lido algumas coisas sobre Maquiavel. E preferi postar o texto de Pinheiro Machado, excelente, gostoso de ler.
ExcluirTenho aqui comigo, além de outros, um livro assim: 'Galeria Pittoresca de Homens Celebres' (escrito assim mesmo) do ano de 1905 - obra composta pelo Dr J.Ph.Anstett. Bota antigo nisso, amiga, é uma relíquia!! Você iria adorar. E o texto sobre Maquiavel é excelente, mas bem didático. totalmente diferente dessa crônica.
Grande beijo!
Taís: É bom ler os teus postes traze-nos coisas do paasado que por vezes desconhecemos Adorei.
ResponderExcluirBeijos
Santa Cruz (Diácono Gomes)
Olá, Santa Cruz, fico contente de ter gostado.
ExcluirBeijos, aí pra Portugal, amigo.
Limerique
ResponderExcluirMaquiavel enxergou com lucidez
E do poder destacou a estupidez
Que mantém o povo calado
Ensinou ao potentado
Bem se faz aos poucos, mal de uma só vez.
Ótimo, Jair, bota sabedoria...
ExcluirAbraços, amigo.
Tais,
ExcluirEu li Maquiavel e "O Príncipe" foi quase meu livro de cabeceira durante muitos anos. Abraços e parabéns pela bela postagem.
Oi, Jair, eu contei à Marli, acima, que tenho aqui um livro sobre vários gênios datado de 1905! Era dos meus avós. Muito curioso, uma relíquia. Cita e fala sobre O Príncipe, Discurso sobre Tito Lívio, Tratado de arte da guerra e História de Florença, para citar alguns. Sei que você gosta muito desses assuntos, deve ter lido muito sobre Maquiavel. Também acho fantástico, mas há muito que ele é visto sobre um ângulo meio diferente.
ExcluirObrigada, sempre, pela sua presença e pelos criativos Limeriques, que dizem muito coisa em poucas linhas.
Querida Taís, já há muito nao aparecia por aqui e acho que já estava na hora... Blogs assim como o teu estao finado cada vez mais raros no mundo virtual. Tudo parece dirigir-se à "rapidez", tres palavras no lugar de 30, abreviacoes no lugar de pensamentos... Por isto vir aqui e "me sentir em casa", faz-me pessoalmente muito bem!
ResponderExcluirIntrigas maquiavélicas... Nao sei se foi pelo fato de ter sido vítima de uma destas há pouco, mas sua postagem bateu profundamente... 'Grande é a diferença entre a maneira em que se vive e aquela em que se deveria viver'.
Obrigado, querida!
Olá, Tertulías, muito obrigada por suas palavras e por gostar desse blog, fico muito contente. É verdade, hoje tudo é com muita pressa, o mundo dos recadinhos com 140 caracteres. O que pouco se diz e pouco se compreende.rsr
ResponderExcluirMas você fala nas 'Intrigas Maquiavélicas', e aí fico pensando, mas quem de nós não passou alguma vez por uma delas? É terrível, frustrante para quem não espera do jeito que veio; de quem veio e por que veio. É triste. Mas é o nosso mundinho e seus habitantes.
Grande abraço pra você, e obrigada!
E não há como contestar. Maquiavel ainda está certo. Obrigada por pinçar um texto tão bom. Ele tinha três qualidades que até hoje são temidas na nossa sociedade: franqueza, sinceridade e inteligência.Como se a hipocrisia fosse melhor, não é mesmo?
ResponderExcluirUm beijo grande!
É verdade, Rovênia: pincei uma crônica muito bem escrita e ótima de ler. Além das três qualidades que você fala há mais uma: honestidade! Temos uma mania de exaltar alguém por ter sido honesto, por devolver algo que não é seu, quando ser honesto é uma obrigação! Veja a que ponto chegamos.
ExcluirBeijos, amiga!
Uma bela aula de história! Resumida e tão bem elucidativa!
ResponderExcluirLendo suas respostas ao comentários anteriores, juro fiquei com inveja (no bom sentido) desta sua relíquia, um livro de 1905 e que pertencera aos seus avós. Isto não tem preço!
Bjs.
Oi, Estela, realmente é uma relíquia. São 240 biografias e retratos. Só tenho de cuidar a grafia que é muito antiga... Muitas vezes tenho de ler outra vez para ver se é o que entendi mesmo! rsr
ExcluirBeijos, amiga!
Oi, Tais!
ResponderExcluirLendo esse texto me lembrei das minhas aulas de Sociologia no ensino médio. Eu quase não ouvia falar sobre Maquiavel, mas quando me aprofundei no assunto, percebi que ele não imaginava que tantos anos depois seus relatos de O Príncipe seriam tão presentes na atualidade...
Um abraço!
Oi, Fellipe, pois é, mais presentes do que nunca! E por ter sido tão devotado aos interesses de sua pátria, e cujos destinos permaneceram durante 15 anos sob sua influência, e que incomodou muita gente, foi despojado de todas as suas funções, condenado ao exílio e lançado na miséria. Anos depois, novamente chamado para desempenhar várias comissões, desgostoso pelos lamentáveis acontecimentos que se desenrolaram, morreu no mesmo ano. Precisaríamos de um Maquiavel, não?? Como você vê, os homens são os mesmos...
ExcluirAbraços, amigo!
Tais, você trouxe ao seu público uma crônica muito bem escolhida, de deliciosa leitura e que não deixa de ser igualmente informativa. Muito bom ler sobre Maquiavel num contexto dissociado do termo perverso ao qual seu nome foi para sempre atrelado. E quantas vezes foi assim na História, os inovadores taxados de loucos por abrirem caminhos até então desconhecidos? Lembrei-me da frase que li no consultório de um médico, com dizeres nesse sentido... Não me admira Maquiavel ter morrido de desgosto, imagine que coisa chata viver uma vida de incompreensão por ter a mente décadas a frente de seu tempo!
ResponderExcluirForte abraço, amiga Tais!
Oi, Suzy, para entender Maquiavel nada melhor do que ler 'O Príncipe'. São tantos os labirintos, se tratando de leis, de Estado, de intrigas, de homens ávidos pelo poder que retrata muito bem nossa sociedade, e aí vê-se que o poder corrompe mesmo. Transforma e cria feras. E que feras! Parece que a história se repete sempre, pois o homem se aprimora cada vez mais nas suas artimanhas sempre para enganar, para tirar proveito.
ExcluirBeijo grande, amiga!
Oii Taís, bacana saber um pouco mais sobre Maquiavel, acho que qdo estamos mais maduros compreendemos melhor estas figuras polemicas e geniais, na adolescência qdo o estudei não tive esta mesma visão, achava chato esse tipo de aula! Legal observar que amadurecemos nosso olhar! Bjoosss, bom estar de volta!
ResponderExcluirOi, Kellen, realmente, na adolescência queremos saber de outras coisas, outras leituras, outros divertimentos. O conhecimento vem com a idade, rsrs, na calmaria...
ExcluirBeijão pra você. Vejo que já chegou da viagem...
SIEMRPE APRENDO MUCHO CONTIGO
ResponderExcluirFELIZ DIA
Obrigada pela presença, Rojas.
ExcluirSuas postagens também ensinam!
Feliz dia pra você também.
Visitando, lendo, gostando e participando.
ResponderExcluirSabe que lí "O príncipe" e não gostei, se me lembro nem consegui terminar! Lendo assim em sua crônica ficou mais atrativo.Acho que vou voltar nele rsrs
Mas, abração.
Olá, Odair, pois é, muitas vezes lemos algumas coisas que colocamos de lado, que não 'sintonizou'. Passado algum tempo, tentando, muitas vezes já vemos com outros olhos. Acontece muito.
ExcluirMuito obrigada pela sua visita, bem-vindo ao blog.
Abraços!