O NATAL DE HOJE

- Taís Luso de Carvalho

Estou no computador e fico a olhar o vazio da tela. Sinto-me como se estivesse num emaranhado, sem nenhuma ideia festiva. Está muito difícil de escrever sobre estas festas de fim de ano, a não ser que criasse histórias comoventes.

Já escrevi, em épocas distintas, sobre a festa em si, dos meus Natais de criança, da reunião familiar, das saudades que bate, da mesa decorada, do pobre do peru - que já nasce pra festa -, das guarnições, das bebidas, dos presentes, dos enfeites, das expectativas mais diversas. Ah, e do charmoso pinheiro - hoje artificial!

Tudo sempre tão igual, inclusive a tentativa de abrir o espírito para a solidariedade e fraternidade que jorram nessa época do ano e que depois se dissipam.  São muitos os efeitos de luz e sombra; lágrimas e sorrisos nesse dia. E tudo fica magnífico, coração batendo e a alma aos pulos.

Já estamos no último mês do ano e tudo muito tumultuado. Tudo se mistura: as festas, férias, as perdas, dores, injustiças e violência, onde pessoas se debatem numa arena sem leões, mas muito mais repleta de crueldade e ódio, de uma loucura crescente. Uma volta à barbárie.

Hoje, penso que Natal só teria sentido se houvesse um pacto para a diminuição das hostilidades, das dores, dos incômodos, do egoísmo, da miséria, da falsidade, das injúrias e da corrupção. Penso ser a única data capaz de conciliar e de tocar os corações. É a data que mexe com a nossa sensibilidade e que harmoniza o que temos de verdadeiro e de sólido; da boa configuração que o ser humano traz consigo ao nascer - e que depois se perde. Gostaria mais do Natal se esta data tivesse a capacidade de tocar nosso espírito por mais tempo. 

Como não vou mudar coisa alguma,  vou ao shopping comprar as ilusões para a festa, afinal, o mundo está feito, as águas seguem seu curso e as tradições não vão mudar. Certas pessoas não querem mudar; outras não conseguem mudar. 
Outras se superam. Feliz delas.

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