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Tais Luso de Carvalho
Tenho
um grande respeito por todas as religiões, seitas e filosofias de
vida. O ser humano é livre em suas escolhas, perguntas e dúvidas.
E certos pensamentos me assaltaram devido ao recente falecimento do
escritor G. Garcia Márquez; logo depois o do jornalista Luciano do Valle e
do menino Bernardo Boldrine - assassinado brutalmente. Sempre o
falecimento de alguém conhecido, ou numa circunstância macabra –
como do menino de 12 anos – faz a gente lastimar e pensar no
fim de tudo, mesmo sendo otimista e estando de bem com a vida.
Hoje
estamos vivos, amanhã podemos estar apagados, sem cerimônia. Sempre
nos colocamos um pouco no lugar da vítima. E bate um medo. Não
existe ninguém com uma alegria tão disparatada que o impeça de
pensar no fim de tudo. É presunção querer encenar que a vida nos
sorri 365 dias sem uma interrupção.
Ao
ver as belezas da natureza, regiões fantásticas, a vida pulsando no
planeta, já pensei no dia em que não verei mais nada. Esse
sentimento de perda e de visualização da vida, mexe comigo e me
pergunto onde está o sentido de tudo, se somos seres racionais,
dotados de razão, de inteligência, de genialidade, de amor, de
compaixão…
Mas
esse sentimento é algo muito pessoal e não sei bem como acontece.
Acredito que ter fé é um presente, independente de vontade. Fortalece o espírito nos
momentos difíceis. Mas não basta lermos a Bíblia para termos as
respostas de tudo. Antes precisa-se acreditar na Bíblia. E acreditar
na Bíblia é ter fé na palavra de Deus. E tem de ser respeitado o
ritmo de cada um até alcançá-la. Ou não.
Não
esqueço de uma conversa com meu pai, já doente e pressentindo que seu momento não levaria muitos meses. Lembro do meu desespero para minimizar a sua tristeza, e abraçada com ele falei meio de mansinho:
–
Pai…fica calmo, ficarás ainda muito tempo conosco, mas se sabes que um dia te encontrarás com Deus, se tua fé te levará
a uma felicidade eterna, qual a razão de tuas lágrimas? Qual a
razão da tua agonia, pai? E continuamos aquela conversa por mais algum tempo.
Minha intenção era lhe passar força e conforto, mas o que ouvi dele foi um show de fé. O seu problema não era partir, mas nos deixar... Deixar a família. Preocupação.
Fiquei pequena, um grão.
Fiquei pequena, um grão.
Meu pai nunca precisou de explicação para desvendar o Sentido da Vida.
Eu ainda questiono.
Eu ainda questiono.
Grandiosidade na resposta de teu pai! Um pai preocupado com os filhos e família que ficava. Lindo te ler!Adorei! beijos,chica
ResponderExcluirSobre a vida
ResponderExcluirRefletindo sobre o que a vida realmente é: uma dádiva da natureza. Para aqueles que acreditam num Ser que a tudo antecede, e que criou a própria natureza, ela é uma dádiva desse Ente. Mas uma dádiva da qual dispomos por apenas algum tempo, sobre a duração da qual não temos a menor ciência e nos é dado apenas o prazer de usufruí-la. Algumas pessoas podem aproveitá-la por mais tempo do que outras, mas todos teremos que deixá-la um dia. Não há exceção e a vida é uma só, não se justifica desperdiçá-la. Alguns, como eu, não enxergam a vida como exercício para um devir, uma passagem para o além, mas como um fim em si mesmo. Todos nossos recursos mentais e organizacionais devem ser voltados para o bem estar e a saúde da vida terrena. Neste caso, egotismo deixa de ser condenável, passa a ser uma virtude. Uma existência hígida, honesta e ativa deve ser o escopo de todas nossas ações. Portanto, num período tão curto seria no mínimo trágico deixar que nossas mentes sejam tomadas pelo veneno das amarguras e da ira. Tais armadilhas desviam nossa energia da finalidade última que é aproveitar melhor nossas vidas e torná-la construtiva, não só para nosso deleite, mas contribuindo para tornar a passagem dos outros pelo Planeta, algo agradável também. A vida se justifica plenamente se vivermos com a mente aberta e atentarmos para o direito que todos têm de viver a seu modo. Não nos é dado o poder de sermos donos da verdade, mas, sim, apenas a faculdade de sermos felizes, e isto é o suficiente. Quando nos formos, o valor de nossas vidas individuais será calculado pelo bem que tenhamos feito aos demais seres enquanto partilhamos este Planetinha azul, e não pelos bens materiais que tenhamos acumulado. JAIR, Floripa, 16/10/11.
Sempre teremos o que aprender de nossos pais querida Tais, e esta tua última lição é uma verdadeira prova de amor, do amor que ele tinha por ti, por tua família. Muito lindo. Mas esta tua preocupação me aflige também, diante das recentes tragédias, mortes súbitas como o Luciano do Vale ou premeditadas como o pequeno Bernardo, onde se percebe uma falha imensa dos órgãos destinados a cuidar das crianças, existe até um código o ECA, que não foi seguido, afinal quando Bernardo buscou ajuda, ao invés de ajudá-lo, investigar, chamaram o pai, que não tinha interesse nenhum em resolver a vida do menino, mas acabar com ela, enfim...muito dolorido falar disso, como dizes, mesmo de pessoas que não nos são próximas. Tenho uma Bíblia, que gosto muito, gosto de ler e quanto a minha fé, já conheces, senão não estaria mais por aqui...adorei isso e me identifiquei demais, acho que penso assim também: "Hoje estamos vivos, amanhã podemos estar apagados, sem cerimônia. Sempre nos colocamos um pouco no lugar da vítima. E bate um medo. Não existe ninguém com uma alegria tão disparatada que o impeça de pensar no fim de tudo. É presunção querer encenar que a vida nos sorri 365 dias sem uma interrupção." Obrigado querida Tais, por compartilhar mais um belo post, que trata de nossas dores, no sentido que procuramos para a vida.
ResponderExcluirps. Todo meu carinho meu respeito e meu abraço.
Gratidão é bom e o planeta e todos os seres viventes agradecem...
ResponderExcluirCada pessoa reage de uma maneira a chegada da morte. Esse mes de abril foi muito triste em minha familia com 3 perdas. Um deles se foi com muita tranquilidade, coragem,dignidade. Coisa que não se explica,pois nem era religioso.Seu texto ficou maravilhoso e gostei de ler e refletir com vc. bjs,
ResponderExcluirO sentido da vida pra mim já não tem mais segredo, a fé que nos impusiona a não querer morrer,só a certeza que tenho.
ResponderExcluirbjs
http://eueminhasplantinhas.blogspot.com.br/
A vida é…
ResponderExcluirAo contrário da exata matemática
Vida é uma rede de complexidade
Para a qual não há solucionática
Que elimine a dor da humanidade.
A natureza em sábia sistemática
Deixou-nos a opção de escolha
Não existe uma solução estática
Como que selada em uma bolha.
Não justifica uma posição apática
Como a espera de mágico clarão
Algo como milagre da informática.
Porquanto a vida não tem versão,
Pois ela é no mínimo emblemática
Que apenas aceita pouca correção.
Essa é uma percepção íntima e única de cada um de nós. Acredito que, não há roteiro perfeito para seguirmos na vida, ao encontro da morte. Penso que, na fé, encontramos o entendimento, e uma certa aceitação. Vida e morte se complementam. Não há como mudar. Maturidade e muita serenidade cabe a essa aceitação.
ResponderExcluirAbraços.
Tais Luso: Nós devemos reger a nossa vida por aquilo que somos nada temos a ver com aquilo que são outras e a religião que praticam, porque todos nós devemos ter na nossa mente que neste mundo apenas somo peregrinos e um dia partiremos, apenas nós devemos reger por fazer o bem uns aos outros.
ResponderExcluirBeijos
Santa Cruz
Querida todo poeta ou todo escritor traz um mundo de beleza no olhar.Somos privilegiados.O sentido está em compartilhar. Somos apenas mais um no universo querendo o que é de melhor para todos.Questionamentos sempre haverão.A fé é a nossa maior energia.Belo texto.Bjs Eloah
ResponderExcluirOi Tais, prazer.
ResponderExcluirLindas e verídicas suas palavras.
Por mais lindas palavras que falamos para um ente querido neste momento, acredito que é um sentimento único e exclusivo da pessoa.
Acreditamos em algo eterno e iluminado para onde caminhamos, mas sempre temos dificuldades de aceitação.
Creio Senhor, mas aumentai a minha fé.
Paz e Luz.
Muito obrigado, Gilberto Cantu, bem-vindo ao blog!
ExcluirAbraços.
Olá Tais.
ExcluirÉ um prazer estar em seu blog.
A respeito da Ave Maria tocada em flauta, eu também não a conhecia.
Quando a ouvi quis logo partilhar.
Realmente é muito linda.
Faça a experiência: ouça novamente, mas feche os olhos.
Depois conte-me a experiência.
Paz e Luz.
Bom e abençoado final de semana.
O respeito abre muitas portas. Parabéns pelo seu blog.
ResponderExcluirOlá, Flip, seja bem-vindo ao blog!
ExcluirObrigada, abraços.
Eu também, Tais luso, me preocupo com essas questões desde que me entendo por gente. Os animais são mais felizes nesse sentido, no seu imediatismo. vivem o aqui e o agora, não sabem que morrem, nem porque adoecem. Simplesmente vivem é pronto, protegidos por sua irracionalidade.
ResponderExcluirSabe, Tais, eu sou tão curioso neste lado que às vezes penso estar errado. Vivo, e só isso. O que vai acontecer, é inevitável. Não adianta pensar no assunto, mas caminharmos juntos a longa - ou curta - estrada da nossa existência, com a maior dignidade possível.
ResponderExcluirMuito bonito seu texto. Bonita também é a sabedoria de seu pai, a maior preocupação de quem vai, é com os que ficam. Acho que o real sentido da vida está no que podemos fazer de bom para nós e pelos outros. Abraços.
ResponderExcluirOlá, Tais.
ResponderExcluirMuitos confundem fé com religião, mas fé é esperança, e esperança é não saber o que vai acontecer de ruim amanhã, pois se soubesse-mos que ia-mos sofrer algum acidente no retorno de uma festa, não haveria o menor sentido irmos a essa festa. No fundo, o sentido da vida é isso, o desconhecido, o incerto, o otimismo de que tudo vai dar certo no final.
A vida é um precioso presente. Infelizmente nem todos sabem valorizar. É simplesmente divino!
ResponderExcluirCom tantos textos maravilhosos, nunca pensaste em escrever um livro, amiga? Tens um material farto. E cada crônica melhor do que a outra. Ou já fizeste isso e eu é que estou desinformada? Teus textos são top de linha!
Beijos!
Nossa... que comentário cheio de elogios! Mereço?
ExcluirTenho algumas coisas publicadas, sim, em coletâneas, revistas e jornais, estão na guia superior! Mas gosto muito da Internet, é democrática, e vai longe...
Sonia, te agradeço pelo carinho!
Beijo grande.