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Tais Luso
Quem
consegue ser feliz no lugar em que mora, ver beleza na simplicidade
do cotidiano, já é meio caminho andado para achar, no final, que
valeu a pena. Moro no meu bairro desde minha juventude. Ao caminhar entre as grandes árvores, prédios e casas antigas sinto-me feliz. Casei e
fiz meu ninho por aqui. E aqui também morava meu marido.
Hoje,
após o almoço, caminhando em direção ao Correio, Pedro e eu fomos
interrompidos, bruscamente, por um homem que já avançava os 80
anos. Eta bichinho esperto e alegre! Chegou já cortando a
nossa frente e, com sua voz forte, e olhando nos nossos olhos disse:
Oh!
Que saudades que tenho
Da
aurora da minha vida,
Da
minha infância querida
Que
os anos não trazem mais!
Ficamos meio assustados, assim na rua... Isso foi inédito. Mas mal acabou e eu disse rapidinho,
apontando para ele: Casimiro de Abreuuu!!! E nós três caímos num
riso gostoso, assim, sem nos conhecermos, apenas enlaçados pelo
poema que ele declamava, faceiro da vida. Nem considerei se o homem estava meio fora da casinha...
Mas jamais diria pobre do velhinho... Digo que rico e alegre homem! Que encontro
simpático. E continuou seu trajeto, enquanto nós dois atravessamos
a rua, rindo. Amo esse bairro atípico, lindo e tradicional. Sempre encontro
coisas do arco por aqui.
É
aqui que entro e saio dos lugares e sou chamada pelo meu nome; é
aqui que dizem leva... paga depois! É aqui que, mal saio do meu
prédio, me perguntam sobre meu cachorro, meus filhos, meu marido; é
aqui que muitos se dizem saudosos de meus pais e lembram de meus
avós.
Quero
encontrar o declamador, novamente. Quero sentir alegria pelas ruas do
bairro que é a extensão da minha casa.
Mas no
próximo encontro direi para o nosso declamador que aqui é
Parságada; é aqui que somos felizes e amigos do rei...
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Que linda postagem, eu também nasci e fui criada e ainda vivo no mesmo bairro, só mudei de casa uma vez, quando deixei a dos meus pais quando me casei, sinto essa forte raiz, isso é tudo de bom!
ResponderExcluirAmei ler aqui amiga Taís, tenhas um lindo fim de tarde e boa noite de domingo!
Abraços!
Sabe Tais sinto me constrangida por comentar em seu blog pois vc é a pessoa mas correta com as palavras , como diria melhor inteligente por demais, mas me arrisco e te falo que blog interessante é este , gostoso
ResponderExcluirforte abraço
elisa
Que coisa bem boa esse encontro, os versos do velhinho que sempre caem bem, e do teu baurro onde passaste toda tua vida! Lindo! bjs, chica
ResponderExcluirA cronista no entorno voeja
ResponderExcluirNunca sendo incomodada
Conhecem-na quem a veja
Até as pedras da calçada.
Taís, como gostei de ler este teu texto! Lindo!
ResponderExcluirVim de visita à minha ilha e tenho encontrado amigas/os que eu não via há 50 e tal anos, outros vou encontrando quando cá venho e acontecem cenas muito engraçadas nos encontros! Aqui em S. Miguel a minha família era muito conhecida, porque o meu pai foi um advogado de sucesso e ... muito bem humorado. Ainda hoje há quem conte estórias hilariantes e verídicas que se passaram com ele. Um dia escrevo, mas como já disse algures num comentário, o meu dia precisava de mais umas 6 ou 7 horinhas... e eu só descanso 8 por noite... para poder escrever... escrever... escrever!!!
Beijinhos. Agora vou visitar teu marido!
As grandes épocas de nossa vida ocorrem quando sentimos aquela ancia em dar uma volta no quarteirão e rever com detalhes cada curiosidade que possa despertar de épocas passadas, em que corria-mos descalço pelas ruas esburacada e poeirentas... Hoje nossos olhos esta a confrontar com grandes mudanças cercados por enormes arranhas céus a comprimir o pouco no verde que ainda resiste aos tempos...
ResponderExcluirEm nossa memória tudo continuara da forma como sempre foi, por que nela nenhum urbanista ou arquiteto poderá toca-la, a não ser o seu projetor, e dador da vida....
Lindo poema repleto de belas recordações simples de um cotidiano que continua vivo na memória de vocês dois..
bj de carinho.... belo inicio de semana!
Ainda que tentem calar nossa voz, declamamos versos que nos acalantam, ou na melhor das hipóteses, produzimos em estrofes, sentimentos internos: - fora ou dentro da casinha, as coisas do arco da velha - devem ser registradas! Agradabilíssimo encontro que precisa ser documentado nessa crônica de uma tarde domingueira! Parabéns, Tais
ResponderExcluirAbraço!
Cara amiga Tais, criadora de belas cronicas.Nossa Poa tem dessas coisas; pessoas engraçadas, surgindo de repente nos fazendo rir com ditos irreverentes ou espirituosos, além de alguns personagens que ficaram famosos pelo carisma, como o Bataclan, a Teresinha Morango, o Gurizada Medonha...
ResponderExcluirEu vivi um episódio absurdo, mas real há muito tempo, do qual me lembro como se houvesse ocorrido na semana passada.Então, eu cursava o 2º grau - infelizmente já era fumante, vicio que larguei em 2004 - e tinha dificuldade com física, sobretudo, porque não gostava das exatas, preferia as humanas. Pois um dia, eu estava sentado à entrada do colégio concentrado no livro de física, mas sem entender nada do via, quando surge um rapaz, parecendo meio doido, não muito bem-vestido pedindo um cigarro. o rapaz acendeu o cigarro e ficou olhando-me por alguns minutos, por fim disse: parece que tu estás meio perdido na Cinética. Eu concordei: estou totalmente embrulhado. Ele pediu uma folha e a minha caneta esmiuçou o exercício de uma maneira tão clara e tão didática que ao fim de uns 4 ou 5 minutos eu entendi o problema. Em seguida bateu a hora da entrada e tive de dispensar meu "sábio desconhecido", mas antes perguntei quem ele era. Ele me disse que nascera aqui e formou-se por uma universidade de Lisboa, mas sendo louco, a família o pusera na rua...
Um abração. Tenhas uma linda semana.
Tais, só não disseste ser ai que apanhas bons motivos de crónicas, como a presente bem cultural. Nesta Lisboa, onde moro, nem no mesmo prédio, as pessoas se conhecem todas, porque sempre houve mudanças amiúde, mas em observações, vão sempre aparecendo motivos de interesse para reportar. O engraçado, é há tempos, saí a tomar um café - na ida, encontrei um louco, na volta e cerca do mesmo local encontro outro louco. Subi e sentei-me frente ao teclado e escrevi, de imediato, um poema de título: ENCONTRO COM A LOUCURA.
ResponderExcluirBeijos
Eu fico danado da vida quando tratam quem já chegou nessa quadra da vida como criança ou um ser totalmente destituído de razão. Com diminutivos, com brincadeiras imbecis, subestimando essas criaturas que chegaram a uma altura da vida onde nem todo mundo irá chegar. Veja esse senhor totalmente cônscio, alegre, vivendo dentro da realidade de sua idade. É verdade com as limitações imposta pelo tempo implacável, tudo muda, até a voz, mas, há todo um relicário existencial, todo um aprendizado, pra compensar por traz de seu corpo já não tão ágil. Conheci também um senhor assim, seu Clodoaldo, homem culto, que me chamava a atenção na época quando era mais jovem via-o, ao passar no ônibus em frente a sua casa lendo um livro na mesa do único vão que se multiplicava em sala, quarto, cozinha, morava só. E que um dia vi na espera da barbearia, conversando comigo, pra minha admiração, recitar de cor, os Versos Íntimos de Augusto dos Anjos, e dizer ficar irritado quando alguém vinha lhe tratar como uma incapaz, "um velho", no sentido de ultrapassado, peso morto, inútil. Saudoso, seu Clodoaldo! Legal, Tais. Beijos!
ResponderExcluirE fica na memória, os versos de Casimiro de Abreu, sobretudo, por você poder viver hoje, em seu bairro de ontem.
ResponderExcluirParabéns, Taís!
Beijos e boa semana!
Bela a tua crônica Tais! Que bom seria se em cada esquina surgisse um declamador. Talvez assim, a maioria das pessoas se interessassem mais e viajassem pelo mundo da poesia.
ResponderExcluirBeijos e uma ótima semana para ti e para os teus.
Furtado.
Bom dia querida Tais..
ResponderExcluirnos contagia e percebemos de longe a alegria
que o viver para algumas pessoas é...
muitos com a cara fechada...
muitos vivendo o status e não a simplicidade..
a vida é simples, nós é que a complicamos..
e ainda por cima ele a declamar verso deste que tb gosto muito....
a vida sempre nos reserva boas surpresas.. bjs e feliz dia
Minha querida amiga Tais, como é gostoso ler-te, como é bom perceber a maestria e segurança com que conduz teus escritos, e paixão, dá pra sentir o amor com que desenvolves teus temas. Com esta crônica não é diferente, chega a ser comovente, e consigo entender teu espanto de alegria ao se deparar com um poema livre, sendo dito na rua, e tu estavas, junto ao dr Pedro de testemunha auricular rs de um poema que está no nosso inconsciente coletivo...sinto a paixão também quando falas do lugar onde está, fico feliz por ti, porque nos dias de hoje é cada vez mais complicado isso de vizinhança rs....sabes que estou nesta cidade pequena e bela (pra mim) cidade de Rio Pardo, conheço desde muito criança, tenho um tio falecido que fez família aqui, tenho primos, mas não consigo entender e nem sentir que este é o lugar, meu lugar, sinto-me inseguro, agora estou bem, mas lembras do problemas que tive, né ? Em tese estão resolvido e estou bem, mas não o suficiente para achar aqui o meu lugar no mundo, e talvez seja meu último lugar, vá saber. Adorei mais este post, li ontem e iniciei um comentário, mas perdi (sou o lesado da internet rs), mas ele não me saiu da cabeça, um misto de alegria com o que li e uma sensação de frustração comigo, mas estou vivo, e enquanto houver vida, há esperança. Sempre muito, mas muito bom te ler.
ResponderExcluirps. Carinho respeito e abraço.
Querida Tais: ¡Que bella crónica llena de sentimientos! Volver a la ciudad…,barrio …,casa donde nos hemos criado es como volver al nido.
ResponderExcluirSiempre tus crónicas me hacen recordar momentos de mi vida:
Después de 40 años, visité el pueblo de mi querida Andalucía, en el sur de España, donde me crié. Al visitar mi casa, no pude resistir la tentación de entrar y decir: “Perdonen pero en esta casa me he criado” y ..¡Oh sorpresa! La persona que la habitaba dijo el nombre de mi padre a pesar del tiempo transcurrido; mi marido que me acompañaba quedo sorprendido, se nos seguía recordando. Fue el reencuentro con el lugar de mi niñez donde di los pasos de ser lo que soy.
Felicidades por esas interesantísimas cronicas.
Besos
Boa noite Tais.
ResponderExcluirJá lhe disse, mas repetindo você escreve bem demais, as suas escritas me mostra a pessoa iluminada e humana que é, que são , pois o Pedro pelos poema e comentários percebemos que também é uma pessoa especial. Deve ser maravilhoso esse sentimento que sentes pela sua morada e bairro. Por aqui ultimamente ate que passei a me da com vizinhos e não tive arrependimentos, mas eles são bem fechados, agora que conseguimos pelo menos no condomínio manter um circulo de amigos. Que lindo esse senhor ler uma poema para vocês, uma experiencia interessante. Beijos.
Ele "não leu", Mirtes, declamou, de sopetão, lá do alto de seus mais de 80 aninhos! Cena inédita, na rua...rss Encontrei beleza e alegria na atitude dele...
ExcluirBeijinho, amiga!
Olá, Tais!
ResponderExcluirSeu texto me fez lembrar um senhor, não tão idoso assim, mas que sempre que eu passava de manhã para o serviço, pela sua porta, ele, vestindo um velho terno cinza, suspendia um documento oficial do tipo registro de nascimento, e lia em voz bem alta, o cabeçalho. Acredito que ele fazia isso sempre que passava alguém, na intenção de demonstrar que sabia ler... são personagens interessantes, que preenchem as ruas com suas características ímpares.
Muito bom o texto.
Abraço grande!
Magnifico e belo texto que devorei e gostei e como é bom viver em bairros onde todos de conhecem e se respeitam.
ResponderExcluirUm abraço e continuação de uma boa semana.
Bom dia, Tais!
ResponderExcluirMe comovi com seu post.
Acredito que a beleza e a felicidade se encontram no dia-a-dia e temos que ser gratos por nossas bênçãos. Já que entreguei meu caminho a Deus, sei que Ele faz o melhor por mim e sei que estou onde devo estar neste momento.
Mas o que me comoveu no seu relato foi o fato desse carinho entre as pessoas. Sei que recebemos o que damos, mas meus pais moram no mesmo lugar há muitos anos e muita coisa mudou. Onde moro, cresci lá e meus avós moravam lá. A vizinhança já é outra e infelizmente, o crescimento acelerado tomou conta.
Lendo seu relato, me senti entrando numa outra época e até pude contemplar o sorriso do homem "poeta".
Abração e um dia lotadinho de bênçãos e encontros marcantes.
Márcia.
Que crônica faceira, Taís. Essa curta caminhada, poderia ter sido tão comum e sem graça, se você não tivesse a sensibilidade enxergar com os olhos da alma...
ResponderExcluirQuerida amiga, muita Paz!
EXCELENTE TU RELATO.
ResponderExcluirABRAZOS
Ser feliz,nem todo mundo consegue,porque colocam a felicidade como alguma coisa inatingível,um oba oba todo,correndo atrás,vendo se encontra,quando para uma pessoa sábia,ela é isso mesmo,vive escondida no dia á dia,nas coisas mais simples...Amei!
ResponderExcluirOi Tais
ResponderExcluirPor quê não deixa a gente comentar no outro blog?
Beijos
minicontista
DORLI querida, aquele blog, 'Das Artes' é um blog para pesquisa, onde muitas pessoas e estudantes enviam e-mail pedindo ou perguntando algo etc (e não me nego). Então achei melhor colocar o quadro de contato, apenas. Foi só para me facilitar a vida, pois vai tudo para uma pasta e respondo aos poucos.
ExcluirMuitos respostas, em diversas postagens, eu tinha de responder na hora que postava o comentário da pessoa. E comentários temos de postar na hora,
Você viu o número de visitas lá? Fica difícil. Foi essa a razão.
Beijo, meu carinho pra você.
Interessante este encontro inspirador de reflexão e mais lindo ainda saber que a poesia em mentes muitas não imagináveis por nós. Posso imaginar sua alegria e tranquilidade de estar em ambiente amistoso e amigo. Lembro bem o lugar que nasci e me criei onde nós somos conhecidos em referencia aos pais, eu era(sou) o Toninho de Sr, Joaquim dos Reis e assim somos todos uma parte importante deste todo.
ResponderExcluirGostei Taís e oxalá encontre o bom senhor declamador e possa estender o papo e extrair mais historias que ele carrega e compartilhar conosco.
Um lindo e bel fim de semana a vocês.
Meu terno abraço amiga.
Beijo de paz.
Maravilhoso relato.
ResponderExcluirAproveito e fico com vc aqui.
Bjs
http://arroz-di-leite.blogspot.com.br/
Bonita crónica!
ResponderExcluirÉ bom viver num local assim, nos dias de hoje, em que as cidades se desumanizaram.
Bom fim-de-semana:)
Querida Amiga de outros mares: Deve ser muito bom mesmo sentir nossas raízes, infelizmente para mim não foi assim o lugar onde moro é o décimo terceiro, por questão de trabalho do meu marido andei morando em outros estados deste país. Até já me sinto cigana de tanto mudar de casa e de lugar.
ResponderExcluirMas gostei muito do encontro que você descreveu com tanta graça e propriedade. Felicidades
beijinhos, Léah
Que felicidade é, morar ainda no mesmo ninho......
ResponderExcluirQue saudade......direi....
Bom fim de semana
Beijo
Olá Tais,
ResponderExcluirO senhor 'declamador' lembrou Casimiro de Abreu e você lembra Manuel Bandeira.
Quem dera eu residisse num bairro assim como o seu. Para você ter uma ideia, moro há mais de quinze anos no mesmo prédio e mal tenho contato com os meus vizinhos de apartamento. Pouco sei sobre eles, assim como eles pouco sabem de mim. Também só tenho notícias dos vizinhos do bairro quando minha secretária doméstica menciona algum fato referente a eles. Seu estilo de convivência em seu bairro me lembra muito o modo como eu vivia no interior, antes de mudar para BH. Bons tempos!
Deliciosa crônica.
Tenha um ótimo e feliz domingo.
Beijo.
Que maravilha de encontro, o declamante é dessas pessoas que enfrentam a idade conservando na cabeça a juventude. Londo isso!
ResponderExcluirUm lugar abençoado querida flor!!
ResponderExcluirQuem dera fossem todos os lugares assim...mas a desenfreada ganância do progresso os afasta dos amigos,dos vizinhos e até mesmo de nós mesmos..em muitas das vezes!!
Abraços meus.
Tais, a sensação de prazer que você sente nos foi passada, de forma perfeita, em sua crônica. É que você e seu marido cresceram no bairro, criaram laços, são abertos para a vida que lá acontece, o que é por demais agradável. Por vezes, as pessoas nascem e vivem em pequenas cidades, sem conseguir isso. Creio que criam barreiras e impedem que o belo as abrace. Esse encontro com "o rico e alegre homem", só foi prazeroso porque vocês fizeram dele um momento especial, com sabedoria. Muitos outros teriam se afastado, incomodados. Estranha a vida, não??? Depende de nós colecionar prazeres. Grande beijo!
ResponderExcluirPerfeita sua visão, Marilene, realmente é isso, sentimos esse entrosamento com a cultura do bairro, esse, muito diferenciado aqui em Porto Alegre. E temos o maior prazer em andar por ele.
ExcluirBeijos, amiga!