- Tais Luso
Contou-me,
ela, que
chegou ao hospital
às pressas, de madrugada. Na
emergência, chorava muito. Mal a criatura podia aguentar tanta dor. E foram muitas horas de angústia.
Nada
mais adiantava a não ser Morfina, receitada pelo médico da
emergência, que se compadeceu de tamanha dor. Mas no curto espaço de tempo,
na pausa da dor, ela sentia a maior felicidade do mundo. Do
contrário, a vontade era morrer.
Naquele
lugar, de um branco asséptico, viveu entre lágrimas, exigências, exames e hipóteses. Mas queria era um cirurgião. Urgente.
Passou-se uma madrugada e uma manhã, e ela em crise aguda. Ao meio-dia lhe avisaram que seria operada à tarde. Sem mais esperas.
Foi uma cirurgia
difícil, efetuada por ótimo médico, jovem e experiente. Finalmente desceu para o andar inferior onde foi recebida com simpatia por uma paciente que compartilharia o quarto. A essas alturas tudo estava bom demais.
À
noite, seu marido permaneceu ao seu lado. Dormiu junto, numa cama encostada, resguardados por biombos. Dormiram de mão
dadas. A certa altura ela levantou-se e foi ao banheiro. Na
volta, começou a ver coisas muito estranhas naquele amplo quarto.
Num canto, encoberto por grossas cortinas, havia visto um velho deitado sobre uma tábua de passar roupa sendo massageado por uma enfermeira. Caramba!! Que loucura! Naturalmente seu
marido se espantou ao saber, jamais imaginou um quadro assim dentro de um
hospital de referência. Mas pegou no sono, exausto, esqueceu do velho sarado.
Não
demorou para que ela lhe apertasse a mão e lhe dissesse para não se
mexer, haviam várias pessoas, entrando e
saindo do quarto, comercializando drogas e com armamento pesado. Uma forte luz que vinha da rua, entrava pela janela emitindo sinais de comando... O marido puxou as
cobertas deixando apenas os olhos descobertos. O homem em pânico
começou a pensar como tiraria sua mulher dali, do quarto 305, onde todos falavam com cautela e por códigos
– segundo lhe contava sua mulher, recém operada. Noite de cão!
O
dia clareou. Começava a rotina das enfermeiras do turno da manhã:
mais remédios, mais injeções, mais curativos. No janelão, a solidária companheira de quarto olhava para a rua.
'É uma comparsa da gangue' – pensava ela deitada em sua cama e tratando todos com rispidez. Ninguém entendia aquela agressividade misturada com temor. A mulher, antes, tão dócil, tão meiga...
'É uma comparsa da gangue' – pensava ela deitada em sua cama e tratando todos com rispidez. Ninguém entendia aquela agressividade misturada com temor. A mulher, antes, tão dócil, tão meiga...
Bem
mais tarde, seu marido desconfiou que algo deveria estar errado:
começou a lembrar dos
faróis sinalizando a entrega de drogas; gente armada dentro do
quarto; uma sala com porta falsa e um velho massageado que ele nunca vira por ali…
Deu uma volta pelo andar; olhou canto por canto ao redor do quarto e nada viu! Tudo
normal. As pessoas normais, as enfermeiras normais!
Mas veio uma luz: lembrou, de imediato, dos efeitos alucinógenos das tantas doses de Morfina aplicadas em sua mulher para aplacar as dores.
'Caramba - pensou ele - tudo pareceu tão real!!'
'Caramba - pensou ele - tudo pareceu tão real!!'
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Ta´s, cheguei ao seu cantinho e ainda passarei no outro blog. Estou voltando depois de quase dois anos sem blog. Perdi o VIÇO depois que perdi meu INFINITO PARTICULAR, mas agora estou de casa nova e revendo os amigos que gosto aos pouco.
ResponderExcluirBem sua crônica me fez lembrar a minha noite de cólica renal num hospital. Foi horrível... queria mesmo que me desse algo forte para que eu suportasse tamanha dor, porém não tão forte. Bem sei que os efeitos de certos medicamentos são avassaladores...
Oi Taís,
ResponderExcluirVocê sabe nos prender até o o fim nos seus contos. Ainda bem....Já com medo, só, nessa minha imensa casa.
Beijos
Minicontista2
Boa noite querida Tais.
ResponderExcluirQue terror, coitado do pobre marido rsrs. Pois se realmente foi ilusão devido a doses altas de morfina, pelo menos ela estava viajando no efeito e o pobre marido ficou aterrorizado rsrs. Muitos mitos existem em torno de medicação opioides, no meu ponto de vista, só altas doses podem provocar efeitos semelhantes. Logico que rir muito com a sua cronica. Você é demais rsrs. Um feliz domingo para voce e seu amado marido o Pedro. Enorme abraço.
Um texto de leitura empolgante e surpreendente... que nos agarra até à ultima palavra!...
ResponderExcluirParabéns pelo talento, Tais!
Beijos! Bom domingo!
Ana
Tais, se esse conto tivesse se passado em Poa, até poderia ser verdade e não efeito alucinógeno... A coisa tá feia aqui até nos hospitais ,onde gangues entram, acabam com um, tiroteiam lá dentro e tiudo mais. mas foi um conto,rs Quase real e muito bem escrito!Adorei, (ainda mais que não estava lá,rs)
ResponderExcluirbeijos, lindo domingo! chica
Que medo! Fiquei presa até o final de seu conto ótimo e engraçado,
ResponderExcluirO pobre do marido procurando uma passagem secreta, foi demais, rss.
Você é uma escritora nata, parabéns!
Tenho uma pessoa da família que é esquizofrênica e me telefona contando coisas absurdas e impossíveis que ela diz acontecerem em sua casa,só que é produto de sua mente doente, não por conta de alucinógenos, no caso dela é doença mesmo.
Coisas da vida.
beijinhos, Léah
.
A vida imita a arte, hein Taís, pois acabo de ver notícias bem semelhantes em hospitais brasileiros... Uma crônica da vida real, amiga!
ResponderExcluirAbraço.
Tais, no início do texto pensei que ia falar sobre os sérios problemas que os doentes enfrentam em hospitais. Mais à frente, percebi que esse não era o foco, e imaginei que fazia uma narrativa diferente da usual, entrando campo do suspense. E quando terminei a leitura, comecei a rir. Você foi ótima e me fez lembrar uma amiga da adolescência que levou para o hospital um jogo novo de camisola e robe e, após a cirurgia, ainda sob efeito de medicamentos, só perguntava pelas peças e dizia que poderiam ser furtadas (kkkkkkk). Grande beijo!
ResponderExcluirE eu que tanto adoro filmes e livros de suspense.
ResponderExcluirAdorei!!!
Beijinhos
Maria
Uma história muito bem contada. Com "suspense" à mistura.
ResponderExcluirBeijo.
Bajo los efectos farmacológicos uno puede ver lo irreal.
ResponderExcluirQue tengas un feliz domingo.
Um excelente texto, narrado entre o surreal e a realidade,
ResponderExcluirnos capturando no imaginário do desfecho.
Um domingo em paz e alegria, querida Taís!
Beijo.
Ps:Grata pelo carinho...rss
MUY BUENO, EXCELENTE RELATO.
ResponderExcluirABRAZOS
Do jeito que a coisa anda, cara amiga Tais, de repente fantasia e realidade andarão juntas. Excelente cronica. Um abraço. Tenhas uma linda semana.
ResponderExcluir(risos) que viagem heim amiga !!!! vai saber né ??? Alucinógenos ou não, hoje tudo é provável, e algumas cenas dessa história já andaram acontecendo por aí... beijos linda Tais!
ResponderExcluirOlá minha querida amiga Tais, mais um texto surpreendente que leio. Com o desenrolar da história fui sentido a perspicácia de tua crônica, o descaso da saúde pública contrastando com o atendimento neste hospital, com médicos humanos, compadecidos com a dor da paciente (isso já é surreal), e na parte mais surreal que é o campo de guerra do banditismo dentro do hospital, acontece, aconteceu na nossa Porto Alegre. Gosto dessa sensibilidade crítica e criativa e como sempre, escrita de maneira leve de se ler, temas pesados de se viver...mas o que gostei mesmo foi o amor, o companheirismo do casal protagonista. Querida amiga, sempre bom demais estar por aqui.
ResponderExcluirps. Carinho respeito e abraço.,
Querida Tais, que sensacional, hein.Que loucura interessante. O marido , procurando encontrar o perigo descrito pela esposa, que estava vivendo o terror em sua imaginação.Excelente, parabéns! Abraço!
ResponderExcluirAh! A frágil mente humana e a bendita morfina...
ResponderExcluirVocê sempre prende nossa atenção, Taís, com suas belas crônicas, ao retratar a realidade da vida.
Beijos e um bom dia!
Excelente cronica, muito interessante!
ResponderExcluirAssustadora a imagem!
Abraço
Um relato que me prendeu muito até o fim...Bom que foi só um susto devido aos remédios.
ResponderExcluirUm abraço.
Que cronica interessante Tais.
ResponderExcluirJá ouvi dizer algo assim... Não sei se para o doente é bom (pela morfina)
Ou ruim (pelo medo). Mas nesta época em que vivemos,não é nem um pouco difícil de acontecer em certos hospitais!
Grande abraço!!
Mariangela
Porém o terror existe
ResponderExcluirTrás paredes do hospital
Deixa atenção em riste
Com medo do grande mal.
Uma história surpreendente.
ResponderExcluirGostei imenso.
Bom fim de semana, querida amiga Tais.
Beijo.
imaginativo bello y lleno de encanto tu relato Tais , mis saludos jr.
ResponderExcluirAmiga Tais:
ResponderExcluirFiquei completamente refém desta sua excelente crónica rss.
Os hospitais também me causam terror!
Estava desejando chegar ao final que excedeu as minhas expectativas.
Parabéns!
Um beijinho e até breve !
Fê
OLá, Taís.
ResponderExcluirDeu-te para boa!
Agora histórias de suspense, com direito a gangue e tudo, num hospital, às custas da alucinação!?
Já passei muito dentro de hospital, mas alucinação a esse nível, alto lá! =)
Muito boa.
bjn, querida Tais
Que história surpreendente, com tamanha narrativa ao expor a dor e a realidade emocional que as drogas que deveriam acalmar acaba elevando a euforia.
ResponderExcluirEnquanto a morfina lhe trazia uma breve calmaria, as alucinações eram sentidas pelo o marido que em seu leito sentia na pulsação frenética que se estendia na corrente sanguínea daquela a quem ele a amava.
big bj em seu coração
Taisinha,
ResponderExcluirConheço bem essa história, que, como tu, ouvi das personagens: marido e mulher. Ele foi o primeiro a contar-me do susto que teve, quando a esposa dizia-lhe, no decorrer da madrugada, que havia um bando de criminosos entrando no hospital, e que estavam justamente no quarto em que eles se encontravam. E que no início pensou que fosse verdade. Para ele, então, esses bandidos estavam num quarto anexo, onde um velho que era massageado sobre uma taboa de passar roupa, em trajes menores, por uma enfermeira. E que somente pela manhã é que o marido deu-se conta que a mulher, sob o efeito das drogas, contara-lhe essa história. “Minha mulher estava drogada”, disse-me ele, com grande alívio.
Excelente crônica, Taisinha. Parabéns.
Beijinho daqui do escritório.
Olá Taís,
ResponderExcluirPelo que li do comentário do Pedro trata-se de um fato real, que você transformou,com perícia e talento, em um envolvente conto de suspense. Provocando ou não alucinações, a morfina, em muitos casos, é lenitivo para dores insuportáveis.
Vim agradecer e retribuir a sua última visita. Está tudo bem por aqui; somente necessito de um descanso maior, por isto pausei o blog. Perdi o fôlego, pois corri demais-rsrs. Obrigada!
Até breve!
Beijo.
Taís adoro estes contos, que nos prendem e nos inserem na cena. Vi cada figura desfilando pelo quarto, imaginei o Rio de Janeiro, clinica da SUS, a desorganização orquestrada da irresponsabilidade. Tive ojeriza da velhinha e olhei pela janela com medo.
ResponderExcluirMuito bom, maravilha de construção amiga.
Meus aplausos.
Um abração,