Pablo Picasso - Mãe e filho / 1921
(para
as mães excessivas – Lya Luft)
Os
filhos que pari trilharam seus caminhos
como
dizem que deve ser.
Eu
não me conformei: andei em seus calcanhares,
lancei-me
em mil direções, fiquei perdida
nessa
casa vazia.
Toda
a noite espreito os velhos quartos
para
ver se as memórias dormem direito,
se
escovaram os dentes, fizeram as lições.
Meus
filhos tiveram outros,
e
eu me fragmentei ainda mais.
No
espelho não vejo ninguém:
virei
poeira de gente, soprada entre eles.
Tanto
me entranhei em suas vidas,
que
tentam limpar-se de mim
para
poderem crescer, para não serem
meus
filhos.
______________________________
Lya Luft / Para não dizer adeus - ed Record, pag 79
Formada
em Letras anglo-germânicas e com mestrados em Literatura Brasileira
e Linguística Aplicada, Lya Luft trabalha desde os 20 anos como
tradutora de alemão e inglês. Já verteu para o português obras de
autores consagrados como Virgínia Woolf, Günter Grass, Thomas Mann
e Doris Lessing, além de ter recebido o prêmio União Latina de
melhor tradução técnica e científica em 2001 pela tradução de
Lete: Arte e Crítica do Esquecimento, de Harald Weinrich.
Romancista, ensaísta, cronista e poeta, deixo aqui alguns de seus livros. Lya nasceu em Santa Cruz do Sul, em setembro de 1938 - RS.
As
Parceiras / 1981 – A Asa Esquerda do Anjo / 1981 - O Ponto Cego /
1999 - Reunião de família / 1982 - O Quarto Fechado / 1984 - Mulher
no Palco / 1984 - O Rio do Meio 1996 – Mar de Dentro / 2002 -
Perdas e Ganhos / 2003 – Histórias do Tempo / 2000 - Pensar é
Transgredir / 2004 - Histórias da Bruxa Boa / 2004. Atualmente
escreve uma coluna na Revista Veja.
"É natural ter várias possibilidades de expressão, como um pintor emprega aquarela, óleo, acrílico, esculpindo ou desenhando. A gente abre portas, espia, apanha e usa o que ajuda a ver melhor".
"É natural ter várias possibilidades de expressão, como um pintor emprega aquarela, óleo, acrílico, esculpindo ou desenhando. A gente abre portas, espia, apanha e usa o que ajuda a ver melhor".
Boa Tarde, querida Tais!
ResponderExcluirAcabei de poetar sobre meus filhos... gostei de passar por aqui e ver seu texto lindo!
Bjm muito fraterno
Palavras se sentido, fortes, fazem pensar nessa relação mãe e filhos, eterna...LINDO! bjs, de volta, chica
ResponderExcluirPor coincidência, amiga Táis, o meu último post é sobre o amor que me une à minha filha que não vejo à uma ano, amanhã se Deus quiser vou abraçá-la e tê-la por 20 dias.
ResponderExcluirEla voou para longe de mim, seguiu os seus sonhos e eu apesar das saudade estou feliz por ela.
No entanto compreendo a profundidade e o sentimento de vazio do texto de Lya Luft.
Um beijinho grato e até Setembro !
Fique bem!
"A gente abre portas, espia, apanha e usa o que ajuda a ver melhor"
ResponderExcluirextraordinária Mulher! vou reter o nome e procurar conhecer melhor
bjs
Acróstico
ResponderExcluirFazê-los, foi a mais fácil parte
Iniciando em pequenos bebês
Logo se aprendendo esta arte
Hoje não sabemos os porquês
O que fazem da vida, destarte
Sermos uns bons pais, talvez.
Temos tendencialmente predisposição para sermos excessivas,
ResponderExcluirfacto que acontece principalmente com as mulheres de origem
latina, só o bom senso e o auto-controle conseguem resolver
a situação...
Parece fácil cantar num poema singelo um problema complexo
como este, mas não é.
Um poema muito expressivo, humano e admiravelmente sintético.
~~~ Abraço Taís ~~~
Querida amiga, Taís Luso, boa noite !
ResponderExcluirA manifestação literária da intelectual Lya Luft,
espelha a tensão de quem, eternamente, se preocupa
com a prole. Também sou assim, mas tento me vigiar
para não cometer excessos...
Muito grato por partilhar, e uma feliz semana, com
o meu fraterno abraço.
Sinval.
Lya Luft é dona de um texto maravilhoso e de posições avançadas.
ResponderExcluirO poema é uma grande lição de vida, sobretudo para quem tem filhos, pois sabe como é tê-los "sem tê-los como sabê-lo".
Beijo,
Lya Luft narra em seu poema a realidade da vida... Fizemos assim cm nossos pais... Agora, é a nossa vez de atravessarmos o vazio do ninho, dos quartos, da casa, em geral. Importante é não deixarmos cair no vazio nossas emoções dos bons tempos. Cuidar da nossa autoestima.
ResponderExcluirAbraço.
Taisamiga
ResponderExcluirEstou de volta aqui (peço-te desculpa de tão longa ausência...) e venho encontrar uma Mulher com caixa alta. Não conhecia Lya Luft, mas agora com a tua preciosa ajuda já conheço. O poema fez-me lembrar o adágio popular Quem filhos tem cadilhos, mas é belíssimo! Parabéns pela escolha e pela publicação. A relação entre pais e filhos e entre os avós e os netos fica aqui plasmada sem motivo para interrogações. É o retrato da vida!
Qjs do Leãozão
___________
Venho informar que vou publicar na NOSSA TRAVESSA (até ao fim desta semana) um CONCURSO que para mim é fácil, tem a sua piada – e dá prémios…
Gracias Tais por permitirme conocer la obra de Lya Luft.
ResponderExcluirComoveu-me o poema. E confesso que me revi nele...
ResponderExcluirGosto muito da poesia de Lya Luft. Este livro "Para não dizer adeus" faz parte da minha estante de poesia. Foi muito bom encontrá-la aqui.
Uma boa semana.
Beijos.
Palabras muy profundas, gracias por compartir este verso, una feliz semana.
ResponderExcluirNão se conforta nunca com os filhos que partiram! abração
ResponderExcluir¡Cuantas mujeres han trabajado por la cultura y qué pocas han perdurado! No conocía a Lya Luft, igual por ignorancia mía. Pero desde ahora sé de su obra y un poco de su vida. Gracias por aportar tu granito de arena a la causa.
ResponderExcluirAbrazos
Tais Luso
ResponderExcluirBelo e interessante, o poema de Lya Luft, até por ser bem concludente.
Depois para quem, como eu, aprecia a cultura brasileira, tomar conhecimento de intelectuais da Pátria irmã, é sempre agradável.
Postagem “Maranhão – São Luis”
Veja e comente o post
http://amornaguerra.blogspot.pt/
BRASIL: O SORRISO DE DEUS.
Bjs
Cara amiga Tais, justa homenagem à eclética e talentosa Lya. Um abraço. Tenhas uma linda semana.
ResponderExcluirNo seu poema "Demasia”, Lya Luft não tem dificuldade em externar o sentimento da mãe que viu seus filhos crescerem e saírem em busca de seus próprios ninhos. A mãe fica perdida na casa vazia, onde os filhos foram criados, e passa a espreitar os quartos vazios, premida pela saudade, sabendo que os seus netos impõem a ela uma existência fragmentada, e, mais ainda, sabe a mãe que agora necessitam fugir de sua influência (“Tanto me entranhei em suas vidas, / que tentam limpar-se de mim / para poderem crescer, para não serem / meus filhos”).
ResponderExcluirUm belo poema, profundo e realista, que mostra como a poetisa vê os seus filhos deixarem a casa e saírem para o mundo, prontos para as suas próprias conquistas.
Um beijinho daqui do escritório.
Por muito que se compreenda que os filhos têm de seguir as suas vidas, é muito dificil ver as casas vazias .... a ausência faz doer a alma.
ResponderExcluirExcelente escolha, maravilhoso poema.
Beijinhos
Maria
Bom dia querida Tais.
ResponderExcluirBela partilha do poema Demasia, Lya Luft espoe o forte sentimento de mãe que criou seus filhos e eles saírem em busca de seus próprios caminhos. Eu sempre criei a minha filha e meu sobrinho que o tinha como filho para entregar um dia ao mundo. Eu sempre procurei ser uma mãe moderna, porque antigamente os filhos ainda demoravam mais para sair de casa e procurar a sua propria independência. Hoje a partir de 20 anos já fazem. Aos 24 anos meu sobrinho me comunicou que iria mora no interior e se casar, e o que eu achava ? Se eu volta-se ao passado teria dito a ele para avaliar melhor, a mulher dele tinha 19 anos e não quis largar os pais que moravam no interior. Ele largou tudo, ate a faculdade, na época eu achava que a decisão é dos filhos, afinal é a vida deles, hoje eu não penso totalmente assim, acho que devemos da assas aos filhos quando sentirmos que eles já estão prontos para voar. Nessa caso ele nem chegou a se casar, pois com apenas um més, beberam em uma festa e ele bateu o carro em um poste, e teve morte ainda no local. Depois disso involuntariamente sufoquei a minha filha de cuidados, mas logo depois cai em si e deixei ela bem a vontade de seguir a vida dela, devemos deixar que os filhos tenham vida propria, e siga o seu caminho, no tempo certo. A ausência doer demais, mas antes o quarto vazio por eles te indo ser feliz, do que por alguma fatalidade. Acho enfim que para tudo na vida tem que ter equilíbrio, quem tem filhos tem que entender que eles foram emprestados por Deus para ser orientados pelo pais ate terem a sua propria vida, muitas vezes longe deles mais eternamente juntos nos corações. Um belo poema, que mostra como a poetisa vê e sente a ausência os seus filhos que a deixaram para conquistar seus próprios sonhos. Um lindo e abençoado agosto para você, o Pedro e toda família. Grande abraço.
ResponderExcluirQuerida Taís: Os filhos voam e os pais ficam com suas asas vazias, sem função. Recolhi as minhas e deixei que voassem. Compraram um apê juntos e foram, ficamos e nos adaptamos. O filho casou e mudou-se do tal apê, a irmã ficou. Tempos depois divórciou-se, aí sim sofri com ele e por ele. voltou para o apê.
Agora por conta desta casa em que moramos e que os deixa preocupados,ainda não estamos nesta situação eles passam dias aqui e dias lá, claro que estou amando isso :)...
A situação aqui está ao contrário, eles é que abrem as asas e nos protegem. Embora jurem que não querem casar, só namorar, eu acredito que são só palavras e torso para que formem suas famílias.
O importante é que sejam felizes do jeito que quiserem.
Já tive a feliz oportunidade de ler dois livros da Lya e amei, assim como este poema que além de lindo é uma constatação real.
Parabéns pela maravilhosa postagem.
beijinhos, Léah
Os filhos têm mesmo que sair do ninho....., depois cabe
ResponderExcluira eles, não esquecerem quem lhes deu a vida.....e aÍ...???
Os tempos continuam em mudança..
Beijo
Minha querida amiga Tais, amo demais Lya Luft, conheço praticamente toda a obra dela e amo, aprendi com ela e ver de um viés que quase sempre tentamos esconder ou não ver, o lado dolorido de nossas vidas que esta colado ao lado colorido e feliz, mas tudo se mistura e podemos nos perder. Lendo Lya aprendi que a dor é possível exorcizá-la e é possível comemorar o amor, o cotidiano. É um belo poema e não posso deixar de pensar em minha mãe (deu saudade, vou ligar). Ocorre assim, apesar de ainda e para sempre ser o filho e entendo bem esta necessidade que a vida tem de nos separar, seja pela morte, seja pelo trabalho longe. Devo estar muito sensível hoje, estou comovido com este poema. Hoje consigo entender a preocupação de minha mãe, quando era jovem e saía, hoje faço questão de dar satisfação de minha vida para ela, acho que é uma forma de não cortar o cordão umbilical. Obrigado por compartilhar. Sempre muito bom estar aqui.
ResponderExcluirps. Carinho respeito e abraço.
OI TAÍS!
ResponderExcluirQUE IMPRESSIONANTE, NÃO CONHECIA ESTE TEXTO. É ASSIM MESMO, HÁ MOMENTOS EM QUE NOS SENTIMOS ASSIM, COMO SE JÁ TIVÉSSEMOS PASSADO E NÃO SOUBÉSSEMOS DISSO. OS FILHOS TEM DE SEGUIR SEUS CAMINHOS MAS, NOS CUSTA MUITO DAR ESTE ESPAÇO.
COMO SEMPRE FAZES UMA BELA ESCOLHA PARA DIVIDIRES CONOSCO.
ABRÇS, AMIGA.
http://zilanicelia.blogspot.com.br/
Gostei imenso do poema.
ResponderExcluirTenho alguns livros da Lya Luft e gostei de todos, mas de poesia não conheço. Vou ver se há aqui à venda em Portugal.
Beijinhos e um bom fim-de-semana:)
A imagem escolhida é muito bonita. É uma conjugação perfeita:)
Oi Tais que texto maravilhoso.
ResponderExcluirPuxa como é difícil para uma mãe cortar o cordão que prende aos filhos!
Mas basta respeitar a individualidade de cada um, com muito amor, para que possam viver suas próprias vidas, e crescerem da melhor forma possível!
E Saber acolher, quando necessário!
Um grande abraço!
Mariangela
Gosto imenso do que leio desta autora... apesar de não conhecer muito da sua obra...
ResponderExcluirGrata por esta belíssima partilha, sobre um tema tão sensível, a todas as mães...
Beijinhos! Bom fim de semana! Um feliz mês de Agosto, para vocês, e até breve!
Ana