- por taís luso de carvalho
- Armiiiiiinda! - grita o homem - toma este calmantezinho aqui...
- Mas eu tô calma, homem, tô vendo minha novela!
- É pra prevenir mulher... É justamente pra não ficares nervosa. Esta tua novelita me dá nos nervos!
- Que merda...
Arminda, indignada, levanta-se, apaga a televisão e bate a porta do quarto.
- Viu! Já tá nervosa. Êta mulher destrambelhada. Eu avisei! Mais um pouquito e te aplico um calmante na veia!
Para a construção de Philogônio, comecei dando uma olhadela para um lado, um pouquinho à esquerda, à direita, e meus neurônios entraram em ebulição... Tudo tão perto... Tantas manias, tantos tiques!
Mas, continuando:
Homem de físico atarracado, com olhos pequenos e espertos, mantinha seus cabelos pintados de um amarelo luminoso e presos na nuca como um rabicho de cavalo. Apenas uns fiapos, pois não era homem de muitos cabelos. Ainda trazia, a reboque, um bocão que me fazia pensar que a criatura estava com intenções de engolir o mundo. Era o quadro da desolação!
Este era o perfil de Philogônio Othão, 55 anos, brasileiro, vaidoso, casado e aposentado.
Porém, este homem, dentre tantas manias, era um obcecado colecionador de anéis para o mindinho. Não sei por que os homens adoram anéis de mindinho?! Quando os vejo tomando cafezinho com aquele dedinho afetadamente empinado, me dá uma coisa.
Mas, voltando ao Philogônio quero ressaltar que a criatura era macho. Enfeitar um mindinho é algo irrelevante, um pequeno e obscuro deslize.
Philogônio Othão, sempre trabalhou como representante de laboratório, e tendo adquirido grande experiência no ramo, não foi difícil ser chamado para gerenciar uma rede de farmácias.
Faceiro demais o homem parecia estar no paraíso! E lá foi ele, com sua mala de experiência, seu mindinho purpurinado e com seu horroroso bocão, gerenciar a tal rede. E mais: Philogônio era hipocondríaco. Verdadeiro e assumido. Nada dissimulado.
Rodeado de pílulas, xaropes e toda alopatia existente, não descuidava, no entanto, de suas ervas e receitas caseiras. Possuía um enorme arsenal para qualquer tipo de doença que viesse a ‘pintar’ no pedaço. Todo seu arquivo era informatizado o que lhe assegurava rapidez e eficiência nas receitas de suas ervas. Era a alegria dos desesperados e encontrava forte respaldo nos aficionados da homeopatia, mas para consumo próprio, era ligadão em formol, éter, hospitais e laboratórios.
Mas nem só a obsessão pelos remédios e hospitais caracterizavam Philogônio. Era o tipo da criatura que todos chamavam de ‘esquisita’. Costumava caminhar tardes inteiras à procura de lanternas. Na verdade, serviam, apenas, para iluminar suas idas e vindas ao banheiro, e que, distraidamente, direcionava o foco de luz para os olhos adormecidos de Arminda. Homem cheio de manias; possuía, três relógios os quais ficavam ‘escondidos’ no próprio quarto, tocando, simultaneamente, até despertar, por completo, a enlouquecida criatura.
E Arminda? Ah, grande mulher! Para agüentar Philogônio...pra dormir com Philogônio?? Coisa pra Arminda!
Numa de suas noites de insônia, a mulher ligou seu radinho de pilhas, colocou o fone de ouvido, e, no escuro, foi rodando o dial, subindo a escala indicadora. Num certo momento, parou numa emissora e achou interessante o leve som, mais parecendo chicotadas que ouvia ao fundo das notícias. “Bonito isto, estão inovando”, pensou ela. Mas, ao trocar de estações, percebeu que as chicotadas continuavam presentes, aparecendo em todas as rádios. “Que porcaria de rádio”, pensou ela.
Irritada, desligou aquela geringonça, tirou o fone de ouvido e, para seu espanto, as chicotadas continuavam: pfiu... pfiu... Olhou para o lado e... “filho da mãe!” Era ele! Philogônio sonhava tranqüilo e feliz, acalentado por aquele ruído infernal, que a princípio encantara a desencantada Arminda.
Mas como se não bastassem todos os roncos, todos os grunhidos e chicotadas Philogônio sempre adormecia com um enorme relógio de pulso, luminoso como um holofote, com o qual agraciava a pobre Arminda, iluminando suas noites de insônia, mas apagando os seus sonhos de mulher...
Hoje não sei mais de Philogônio; nem por onde anda, e nem o que faz. Mas deve andar por aí borboleteando com aquele seu rabicho de cavalo, pintado de amarelo, e refestelando-se com o safado daquele mindinho arrogante que nunca me desceu pela goela...
- Mas eu tô calma, homem, tô vendo minha novela!
- É pra prevenir mulher... É justamente pra não ficares nervosa. Esta tua novelita me dá nos nervos!
- Que merda...
Arminda, indignada, levanta-se, apaga a televisão e bate a porta do quarto.
- Viu! Já tá nervosa. Êta mulher destrambelhada. Eu avisei! Mais um pouquito e te aplico um calmante na veia!
Para a construção de Philogônio, comecei dando uma olhadela para um lado, um pouquinho à esquerda, à direita, e meus neurônios entraram em ebulição... Tudo tão perto... Tantas manias, tantos tiques!
Mas, continuando:
Homem de físico atarracado, com olhos pequenos e espertos, mantinha seus cabelos pintados de um amarelo luminoso e presos na nuca como um rabicho de cavalo. Apenas uns fiapos, pois não era homem de muitos cabelos. Ainda trazia, a reboque, um bocão que me fazia pensar que a criatura estava com intenções de engolir o mundo. Era o quadro da desolação!
Este era o perfil de Philogônio Othão, 55 anos, brasileiro, vaidoso, casado e aposentado.
Porém, este homem, dentre tantas manias, era um obcecado colecionador de anéis para o mindinho. Não sei por que os homens adoram anéis de mindinho?! Quando os vejo tomando cafezinho com aquele dedinho afetadamente empinado, me dá uma coisa.
Mas, voltando ao Philogônio quero ressaltar que a criatura era macho. Enfeitar um mindinho é algo irrelevante, um pequeno e obscuro deslize.
Philogônio Othão, sempre trabalhou como representante de laboratório, e tendo adquirido grande experiência no ramo, não foi difícil ser chamado para gerenciar uma rede de farmácias.
Faceiro demais o homem parecia estar no paraíso! E lá foi ele, com sua mala de experiência, seu mindinho purpurinado e com seu horroroso bocão, gerenciar a tal rede. E mais: Philogônio era hipocondríaco. Verdadeiro e assumido. Nada dissimulado.
Rodeado de pílulas, xaropes e toda alopatia existente, não descuidava, no entanto, de suas ervas e receitas caseiras. Possuía um enorme arsenal para qualquer tipo de doença que viesse a ‘pintar’ no pedaço. Todo seu arquivo era informatizado o que lhe assegurava rapidez e eficiência nas receitas de suas ervas. Era a alegria dos desesperados e encontrava forte respaldo nos aficionados da homeopatia, mas para consumo próprio, era ligadão em formol, éter, hospitais e laboratórios.
Mas nem só a obsessão pelos remédios e hospitais caracterizavam Philogônio. Era o tipo da criatura que todos chamavam de ‘esquisita’. Costumava caminhar tardes inteiras à procura de lanternas. Na verdade, serviam, apenas, para iluminar suas idas e vindas ao banheiro, e que, distraidamente, direcionava o foco de luz para os olhos adormecidos de Arminda. Homem cheio de manias; possuía, três relógios os quais ficavam ‘escondidos’ no próprio quarto, tocando, simultaneamente, até despertar, por completo, a enlouquecida criatura.
E Arminda? Ah, grande mulher! Para agüentar Philogônio...pra dormir com Philogônio?? Coisa pra Arminda!
Numa de suas noites de insônia, a mulher ligou seu radinho de pilhas, colocou o fone de ouvido, e, no escuro, foi rodando o dial, subindo a escala indicadora. Num certo momento, parou numa emissora e achou interessante o leve som, mais parecendo chicotadas que ouvia ao fundo das notícias. “Bonito isto, estão inovando”, pensou ela. Mas, ao trocar de estações, percebeu que as chicotadas continuavam presentes, aparecendo em todas as rádios. “Que porcaria de rádio”, pensou ela.
Irritada, desligou aquela geringonça, tirou o fone de ouvido e, para seu espanto, as chicotadas continuavam: pfiu... pfiu... Olhou para o lado e... “filho da mãe!” Era ele! Philogônio sonhava tranqüilo e feliz, acalentado por aquele ruído infernal, que a princípio encantara a desencantada Arminda.
Mas como se não bastassem todos os roncos, todos os grunhidos e chicotadas Philogônio sempre adormecia com um enorme relógio de pulso, luminoso como um holofote, com o qual agraciava a pobre Arminda, iluminando suas noites de insônia, mas apagando os seus sonhos de mulher...
Hoje não sei mais de Philogônio; nem por onde anda, e nem o que faz. Mas deve andar por aí borboleteando com aquele seu rabicho de cavalo, pintado de amarelo, e refestelando-se com o safado daquele mindinho arrogante que nunca me desceu pela goela...
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