- Tais Luso de Carvalho
Quando me deparo com uma obra de arte vejo seu lado estético, sua linguagem, sua mensagem e a beleza que está inserida nessa mensagem. Vejo suas cores e seus traços.
Admiro obras que retratam a nossa história, o nosso cotidiano, as injustiças sociais, a brutalidade e a miséria. Cumprem, aí, a sua mais nobre missão: a de retratar os fatos, de protestar e de clamar por mudanças. De alertar a sociedade. Através da arte o artista manifesta, e muitas vezes inconscientemente, emoções que o atormentam, e que também não deixam de ter seu lado belo.
Também vejo a Arte que alegra o espírito e prima pela beleza: são as paisagens, cenas de bar, marinhas, festas, flores, retratos, cenas familiares, e o fantástico Surrealismo - sonhos que brotam do inconsciente. Ou outras imagens que levam paz, como a Arte Sacra, por exemplo. Obras que dizem algo, que retratam uma história pra contar entre belas e coloridas nuances. Isso é arte.
Através da arte a humanidade relatou sua história. Desde tempos remotos, o homem deixou suas pinturas nas cavernas, importantes para o estudo da nossa espécie.
Gostar de uma obra é algo subjetivo, depende da sensibilidade de cada um. Alguém pode não gostar do Barroco, Romantismo, Cubismo, Realismo, Impressionismo, Surrealismo, Pop Arte... Mas penso em arte quando ela é pura e verdadeira - não empulhação. Há muito tempo que se pensa no artista quando ele é dotado de técnica, de bom gosto e de espírito crítico.
Mas o triste é o que vejo atualmente em certas Bienais:
Vejo uma porção de tijolos empilhados: é arte.
Vejo tocos de madeira cercados de arame farpado: é arte.
Vejo um assento de vaso sanitário virar moldura para espelho: é arte.
Vejo uma montanha de pneus acompanhados de uma placa qualquer: é arte.
Vejo paralelepípedos colocados em sequência, é arte.
Vejo uma porção de palitos de fósforos colados num Eucatex, é arte.
Vejo violência gratuita, com o sofrimento de animais - em exposição - e tenho de achar o quê?
Será que tenho de achar tudo isso magnífico e inovador? Aplaudir o sofrimento em nome da arte? Então fica difícil de entender e de captar certas mensagens. Fica difícil rotular isso de arte ( pra mim ).
Leio, estudo e vejo arte em vários Museus, Galerias, Residências, Oficinas e Igrejas. Vejo obras dos grandes mestres, de todas as épocas, de todos os movimentos e depois dou de cara com algumas coisas inéditas e que minha sensibilidade tem de se amoldar rapidamente. Impossível.
Não quero ninguém tentando me convencer que uma tripa de ferro velho é um avião, e que as asas ficam para minha imaginação. Ninguém pode ter essa imaginação, mesmo porque teria de imaginar primeiro, que a tripa seria o avião - o que já seria meio complicado.
A proposta para que o observador solte sua imaginação, deve, ao menos, partir de um princípio: dar um indício para poder se chegar a algum ponto. E a liberdade, de gostar ou não da obra, é um direito indiscutível de quem a vê.
Arte, para mim, é quando ela tem a capacidade de emocionar, quando dá prazer em olhar e descobrir detalhes, técnica e transmitir alguma mensagem dentro de uma lógica. Enfim, ver uma obra inteligente. E quem quer interagir precisa ser um pouco mais claro. É a lógica que se espera. Essa comunicação existe desde a antiguidade, existe na pintura clássica, moderna, contemporânea, enfim. Em todas os períodos. Em todos os movimentos.
Não acredito em alguém que escreva para si; ou em alguém que faça uma obra para ficar escondida. Tanto escrever como trabalhar uma obra de arte, é estar à busca de uma linguagem para comunicação.
A arte tem de ser uma manifestação democrática. Mas não é por ser democrática que pode exceder limites. E cabe aos que veem, compartilhar ou não. Podemos e devemos expressar - sem medo - nosso gosto, como fazemos na literatura, na música, em filmes, em peças de teatro e tantas outras manifestações. Por que é aceitável não gostar de uma obra literária ou de jazz, de música clássica... e o mesmo não se dá com a arte em si? Por que o 'não gostar' de alguma obra de arte ou de um Movimento torna-se quase uma agressão e gera discussões intermináveis? Há algo de errado. O que sinto e o que vejo é que jamais se chegará a uma unanimidade do que realmente possa ser considerado arte. Há uma paixão acima da razão. E são essas coisas que a própria razão desconhece.
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