obra de Salvador Dali 1904 / 1989
- por taís luso de carvalho
Sei que este não é um assunto muito agradável, porém várias pessoas me perguntam sobre cremação devido ao recente falecimento de minha mãe.
Ela não tinha dúvidas quanto a ser cremada; estava convicta e nenhuma dúvida ou medo lhe passava pela mente: meu pai tinha a mesma convicção, mas quanto ao sepultamento tradicional. E estava feito o impasse: Meu irmão e eu tivemos de interferir, pois minha mãe não satisfeita, queria fazer a cabeça de meu pai.
Lembro-me do dia em que meu pai chamou o ‘Agente Funerário’, a domicílio, para deixar tudo arrumado, já que era uma pessoa organizada e prática.
Ao passar pela sala, onde estava tratando dos pormenores, chamou-me num tom de gozação perguntando-me se eu não queria aproveitar e fazer minha comprinha... Lembro-me que quando vi do que se tratava, da compra da sepultura, passei pelo agente como veterana de uma formula 1... Que coisa horrível; me fui, voei pra minha casa.
Interessante... têm pessoas que tratam dessas coisas numa boa. E meus pais faziam parte deste time. Eu não quero nem pensar, mas por força das circunstâncias e, pela cremação ser algo novo entre nós, vou relatar o que vi e o que senti. Vou fazer uma forcinha. Até aqui consegui narrar com certa leveza...
O SEPULTAMENTO
É aquilo que se sabe: o falecido no caixão, guirlandas de flores roxas com frases saudosas, velas gigantescas, um crucifixo atrás, deixando a coisa mais pesada, as pessoas levando suas condolências aos que ficam e, em seguida, saindo um pouco pra fora da capela, pra aliviar o quadro de dor. A paisagem é catacumba em cima de catacumba. Benção do padre e a cerimônia do sepultamento na catacumba de número tal, horrorosa. Entre muita dor vê-se o caixão sendo empurrado e o coveiro lacrando com cimento. Depois o acabamento de mármore, decoração. Coisa tétrica. E, à noite, uma lembrança que dói demais; o corpo de meu pai lá, entre centenas de catacumbas. E depois, ano após ano, as visitas no Dia dos Finados, trazendo à nossa mente, aquele triste dia do sepultamento. Isso jamais se esquece uma vez que, todo ano a coisa se repete.
CREMAÇÃO
A cremação é algo muito diferenciado: pessoal treinado para lidar com a dor alheia, com emoções. Desde a escolha do caixão segue-se uma rotina de conforto emocional. Tudo muito organizado; somos procurados para todos os detalhes. O próprio Crematório, o qual minha mãe foi cremada, é de arquitetura leve, nada lá dentro causa opressão; é arejado, limpo, moderno e com um astral de muita paz; sim, sente-se paz.
O Columbário (palavra que vem do latim e que significa casa das pombas), é um recinto fechado por vidros, com nichos o qual ficam as caixas com as cinzas, com o retrato da pessoa ou com algo pessoal como terço etc., até quando os familiares decidirem o que farão com as cinzas. Pode ficar no Columbário para sempre, se assim a família desejar.
A cerimônia em si é que dói demais, é algo mais forte, é emoção pura: não se compara ao sepultamento tradicional.
A capela já é diferente; é um tipo de anfiteatro, acarpetado, com cadeiras forradas, tudo em tom de azul. No centro é colocado o caixão aberto. Antes, porém, os filhos, no caso, meu irmão e eu, fomos chamados para escolhermos as músicas que queríamos para a despedida de nossa mãe. O Frei falou um pouco da vida dela, mas foi breve.
Eu escolhi Feelings, para a entrada, e Ave Maria para minha despedida, poucas palavras eu consegui dizer; meu irmão se juntou a mim e, para acompanhar suas palavras ouvia-se Ghost. Após, o caixão foi fechado e suavemente foi descendo enquanto um painel dourado ia subindo... Meu irmão e eu ficamos abraçados em frente ao painel. Não preciso contar das lágrimas que se juntaram às nossas...
A cremação do corpo acontece 24 horas depois.
Todos os funcionários vieram se despedir. Após 2 dias fomos avisados que nossa mãe já estava no Columbário, à nossa disposição. Antes de levar suas cinzas para soltar num canteiro de flores - onde ela pediu - podemos visitá-la a qualquer hora, sentados e num ambiente de paz.
A missa é avisada pelos jornais.
A perda é algo tão dilacerante que tentar suavizá-la é uma obrigação que temos para conosco.
Contudo, conseguimos uma despedida de amor, não ignorando que nossa recuperação será lenta.
Acho, amigos, que consegui contar o que me propus.
A cremação, para os que ficam é difícil de aguentar, segura coração! Mas como contraponto a lembrança é sublime. E é ali que tudo acaba. Mas é neste momento que se acredita na eternidade do espírito.
Ela não tinha dúvidas quanto a ser cremada; estava convicta e nenhuma dúvida ou medo lhe passava pela mente: meu pai tinha a mesma convicção, mas quanto ao sepultamento tradicional. E estava feito o impasse: Meu irmão e eu tivemos de interferir, pois minha mãe não satisfeita, queria fazer a cabeça de meu pai.
Lembro-me do dia em que meu pai chamou o ‘Agente Funerário’, a domicílio, para deixar tudo arrumado, já que era uma pessoa organizada e prática.
Ao passar pela sala, onde estava tratando dos pormenores, chamou-me num tom de gozação perguntando-me se eu não queria aproveitar e fazer minha comprinha... Lembro-me que quando vi do que se tratava, da compra da sepultura, passei pelo agente como veterana de uma formula 1... Que coisa horrível; me fui, voei pra minha casa.
Interessante... têm pessoas que tratam dessas coisas numa boa. E meus pais faziam parte deste time. Eu não quero nem pensar, mas por força das circunstâncias e, pela cremação ser algo novo entre nós, vou relatar o que vi e o que senti. Vou fazer uma forcinha. Até aqui consegui narrar com certa leveza...
O SEPULTAMENTO
É aquilo que se sabe: o falecido no caixão, guirlandas de flores roxas com frases saudosas, velas gigantescas, um crucifixo atrás, deixando a coisa mais pesada, as pessoas levando suas condolências aos que ficam e, em seguida, saindo um pouco pra fora da capela, pra aliviar o quadro de dor. A paisagem é catacumba em cima de catacumba. Benção do padre e a cerimônia do sepultamento na catacumba de número tal, horrorosa. Entre muita dor vê-se o caixão sendo empurrado e o coveiro lacrando com cimento. Depois o acabamento de mármore, decoração. Coisa tétrica. E, à noite, uma lembrança que dói demais; o corpo de meu pai lá, entre centenas de catacumbas. E depois, ano após ano, as visitas no Dia dos Finados, trazendo à nossa mente, aquele triste dia do sepultamento. Isso jamais se esquece uma vez que, todo ano a coisa se repete.
CREMAÇÃO
A cremação é algo muito diferenciado: pessoal treinado para lidar com a dor alheia, com emoções. Desde a escolha do caixão segue-se uma rotina de conforto emocional. Tudo muito organizado; somos procurados para todos os detalhes. O próprio Crematório, o qual minha mãe foi cremada, é de arquitetura leve, nada lá dentro causa opressão; é arejado, limpo, moderno e com um astral de muita paz; sim, sente-se paz.
O Columbário (palavra que vem do latim e que significa casa das pombas), é um recinto fechado por vidros, com nichos o qual ficam as caixas com as cinzas, com o retrato da pessoa ou com algo pessoal como terço etc., até quando os familiares decidirem o que farão com as cinzas. Pode ficar no Columbário para sempre, se assim a família desejar.
A cerimônia em si é que dói demais, é algo mais forte, é emoção pura: não se compara ao sepultamento tradicional.
A capela já é diferente; é um tipo de anfiteatro, acarpetado, com cadeiras forradas, tudo em tom de azul. No centro é colocado o caixão aberto. Antes, porém, os filhos, no caso, meu irmão e eu, fomos chamados para escolhermos as músicas que queríamos para a despedida de nossa mãe. O Frei falou um pouco da vida dela, mas foi breve.
Eu escolhi Feelings, para a entrada, e Ave Maria para minha despedida, poucas palavras eu consegui dizer; meu irmão se juntou a mim e, para acompanhar suas palavras ouvia-se Ghost. Após, o caixão foi fechado e suavemente foi descendo enquanto um painel dourado ia subindo... Meu irmão e eu ficamos abraçados em frente ao painel. Não preciso contar das lágrimas que se juntaram às nossas...
A cremação do corpo acontece 24 horas depois.
Todos os funcionários vieram se despedir. Após 2 dias fomos avisados que nossa mãe já estava no Columbário, à nossa disposição. Antes de levar suas cinzas para soltar num canteiro de flores - onde ela pediu - podemos visitá-la a qualquer hora, sentados e num ambiente de paz.
A missa é avisada pelos jornais.
A perda é algo tão dilacerante que tentar suavizá-la é uma obrigação que temos para conosco.
Contudo, conseguimos uma despedida de amor, não ignorando que nossa recuperação será lenta.
Acho, amigos, que consegui contar o que me propus.
A cremação, para os que ficam é difícil de aguentar, segura coração! Mas como contraponto a lembrança é sublime. E é ali que tudo acaba. Mas é neste momento que se acredita na eternidade do espírito.
Amiga Thaís,
ResponderExcluirHoje é um dia que estou muito saudosa.Há dois anos que o meu pai faleceu.E em novembro próximo fará um ano que a minha mãe também faleceu.E foram cremados.
Hoje li seu depoimento sobro cremação e fiquei um pouco aliviada pois estou muito confusa em relação a tudo isso.Principalmente pelo destino dado as cinzas deles.Como eles não haviam escolhido o destino delas,nós que somos 7 filhos apos ter deixado um tempo no columbario,decidimos coloca-las num parque florestal,pois eles gostavam muito de plantas.Mas sinto falta de um lugar como referencia de onde estão os restos mortais deles,apesar de ser espirita.
Um abraço,
Patricia
Oi, Patricia, este teu comentário vale uma crônica. Há muito o que se falar sobre este assunto. Me aguarde. Pena não teres deixado teu e-mail. Espero ter a sorte de, quando postá-lo, contar com tua leitura.
ResponderExcluirUm abraço, amiga.
Taís
para alguns a morte pode ser o fim da linha .. mas para mim e o começo de uma nova vida que renaçe do aprendizado da vida terrena que fomos aqui colocados por isto quando morremos estamos em contato com o autor eprofessor do renacimento da vida e morte.. (viva para depois morrer)....... e renaçer em cristo.........
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