12 de abril de 2015

APRENDENDO COM A VIDA





     
 - Tais Luso de Carvalho

Moro num lugar alegre e arborizado, e mesmo assim faz parte da minha vizinhança um dos maiores hospitais da América do Sul. Onde moro tenho, de graça, fatos e fotos que só me acrescentam: tenho aulas sobre valores, atitudes, solidariedade, metas, realidade, futilidades, sonhos desfeitos... Tudo me é dado de graça: uma amostra do muito e do pouco que posso ser como pessoa.

Desço e vejo uma criança paraplégica, com a mãe ao lado, cobrindo seu filho de carinho, e que dependerá a vida toda de alguém. Ela me olha e eu baixo a cabeça. Senti-me constrangida, não pelo fato em si, mas pelo seu sofrimento presente e futuro. Por saber que aquela 'dor' será para sempre. Evitei de falar com os olhos.


Vejo pessoas idosas, já na última instância de suas vidas nostálgicas e sem sonhos, apenas esperando... Vejo gente lutando para sobreviver, clamando por mais um tempinho de vida; vejo, nas minhas andanças - perto do hospital -, crianças saindo da quimioterapia, gente acompanhando seus doentes. Tenho essas amostras, de luta pela vida, todos os dias. Tenho sempre o que aprender dia-após-dia. E isso, sem querer, vai me dando outra visão das coisas, da vida e das pessoas. E posso traçar parâmetros para mim. Isso faz com que eu dê valor unicamente ao que tem valor.


Saio de uma realidade e vejo a outra: gente discutindo e se incomodando por um armário de cozinha que ficou com um tom acima do idealizado, dando um valor excessivo à matéria. Vejo gente falando do pedigree de seus cães querendo desmerecer os outros animais; vejo gente que se descuida em ser mais ética; vejo brigas enormes em inventários, com pessoas achando que estão sendo logradas; pego o carro e vejo pessoas discutindo porque o outro fez uma manobra infeliz. Vejo de tudo um pouco. E aí lembro do hospital, meu vizinho.


Só não aprendi, ainda, a lidar com a dor física.  Nenhum ser deveria passar por dor física e, muito menos ser submetido à torturas devido à ideologias políticas ou religiosas.

          Quanto desperdício de vida!






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29 comentários:

  1. Taís, grande lição de sensibilidade e de valorizar o que é importante na vida que nós tantas vezes desperdiçamos com futilidades.
    Um beijo.

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  2. É... a vida é simples e poderia ser bela, nós a complicamos...

    Araço Taís!

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  3. Dna Tais,
    Prazer em conhece-la, sua escrita me trouxe um ritmo familiar,do tempo que iamos aos mais experientes pedir um conselho, ou somente uma simples opinião.Obrigada,voltarei sempre.
    Eu me pergunto diariamente,como o ser humano cria um mundo próprio, e opta por não olhar para fora dele.Sei ser condição humana escolher somente o que interessa no momento ,mas o mundo se apresenta tão vivo,tão grande,que cristalizar-se em uma unica busca,em um estreito ponto de vista me choca.
    Desejo que seu olhar se mantenha límpido,sua mente se mantenha aberta,aprendendo sempre,e seus dedos digitando bem, para que eu possa também partilhar um pouquinho da suas vivências!
    Tanks

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  4. Muito singelo de sua parte, retratar estes fatos escolares da vida, pois isto sim, é a vida, um contraste de passagens de cor, do Branco dos hospitais, para o preto de nossas vidas, isto é exorbitante quando nos deparamos com duas formas de sentimentos iguais, mas, de proporções extremamente diferentes, uma pessoa que esta triste por ter adquirido um câncer, ou alguém que foi na manicure e ficou “triste” com um esmalte que não lhe caiu bem, o problema da paz e da sociedade, somos nós mesmo, que supervalorizamos algumas coisas, e desvalorizamos outras, tornando um esmalte, ou uma novela, ou ate mesmo um programa de TV, um grande tapa olho de problemas, não deixando com nós vejamos os tristes de verdade deste lugar que chamamos de MUNDO.

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  5. Oi Taís,
    Quem pode fazer alguma coisa está recheando seu caixão de dinheiro para não sentir dor nas costas a hora em que os bigatos começarem a comê-los.
    A desigualdade social tomou um grau tão insuportável que me da nojo.
    Beijo

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  6. Dores alheias também são nossas!ótimo texto!
    beijogrande

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  7. Bom dia querida Tais..
    como sempre diz meu pai, feliz daquele que não precisa de hospital.. pois dentro do mesmo nossa vida se esvai.. lembro do meu pai quando ficou 15 dias a cuidar da minha avó.. só o ficar lá.. a pessoa volta desgastada.. por isso que temos de nos ajudar e muito..
    ia até falar no email a vc mas acabei esquecendo..
    tem um tipo de cura chamada bioenergetica..
    um tratamento com argila, ervas.. argila é cura pura...
    vou ver se te passo o link de um senhor que fala sobre isso..
    quanto a criança que tu falou.. tive um amigo assim.. cresci com ele.. mas hj vejo por outro lado.. estar nesta situação é quitar um carma de vida passado.. uma maneira rápida de na próxima vida estar tudo em ordem..
    falo tb na outra parte citada.. as pessoas parecem amar um hospital.. só pensam em exames e o que os mesmos vão dizer.. minha mãe tá na espera de uns resultados.. parece que sempre espera para que o mesmo tenha algo pra ela ir lá comprar remédios.. é complicado isso né.. saber que a cura é tão simples quando se quer a mesma..
    te desejo um lindo dia e melhoras.. beijos meus

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  8. He pasado por esos trances dolorosos donde me he jugado la vida y cada vez he aprendido lo que dices en tu profundo escrito....ese dar el sentido verdadero a la vida ...valorar lo que es importante, dar gracias a Dios por lo que te sigue dando en amor , comprensión, solidaridad, ser feliz porque sabemos que tenemos alcance a un nuevo amanecer , la esperanza viva....y también saber compartir ese amor, solidaridad....humanidad....
    Muy hermoso texto de profundo contenido.
    Fuerte abrazo
    Cristina

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  9. A vida é a nossa melhor escola de diversos aprendizados. Valorizá-los, depende da nossa capacidade de assimilação humana! Difícil é o "currículo" que muitas vezes temos de inserir em nosso dia a dia. Requer estratégias e muita logística para sobrevivermos. Seu post define bem a sensibilidade e/ou a falta da mesma... Viver é uma arte!
    Abraço.

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  10. Minha amiga Taís, texto reflexivo, viver aqui nesse mundo onde se depara com todos os tipos de dores, sei como é, minha mãe sofria de dores constantes, nunca se curou (reumatismo no sangue e ácido úrico)e morreu de um ataque cardíaco, acredito que de tanto sentir dor perdeu a vontade de viver!
    Isso faz vinte e cinco anos, hoje a medicina está tão adiantada que muitas dores estão sendo contornadas com remédios adequados!
    Bom texto linda amiga, sempre se aprende com as dores alheias, pelo que entendi, você também sente dores, concordo contigo, ninguém deveria sentir dores físicas e/ou ser submetido à tortura!
    Deixo aqui um abraços bem apertados!

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  11. Tocante. Um banho de realidade. Um tapa sem mão. Um duro aprendizado como disse bem. Forte, Tais, mas necessário, a vida como ela é.

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  12. Muito tocante este texto.....Mas não sei se escrevendo sobre o tema.....isso aliviará a sua
    dor, ou gravará ainda mais fundo a dor que vê
    nos outros....
    Todos temos nalgum momento, uma futilidade
    a que damos importância desmedida e a dor
    dos outros passa ao lado....
    O mundo será sempre assim...não há volta a dar...
    Uma boa semana Taís.

    Andei conhecendo este meu Portugal......e posso dizer melhor, que é mesmo lindo.....
    Um abraço

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  13. Soneto-acróstico
    A lição

    A vida é escola para quem sabe observar
    Tantas as variadas lições que se aprende
    Ali há dor há sofrimento acolá algum pesar
    Lógico que certo afeto que surpresa rende.

    Haverá sempre até um desfilar de conflitos
    Uma passarela de tipos bons e nem tanto
    Mesmo se tentar ignorar esses seres ditos
    Alguma lição sempre lhe trará, no entanto.

    Nada de extraordinário se houver reflexão
    Indignar-se é tão somente algo bem normal
    Dois mais dois soma quatro, a primeira lição.

    A vida estará pronta para nos ensinar afinal
    Dela tirar algum proveito será nossa decisão
    E assim na escada humana subir um degrau.

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  14. Bem podes dizer ser uma Graça teres , por vizinhança, um local de Esperança para a minimização da dor.
    A dor física, passa-se; mas a dor dos sentimentos avassala-nos.
    A solidariedade e a Caridade ajudam-nos, também, a cada um de nós.
    Belo Texto.
    Parabéns, Tais.


    Beijos


    SOL

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  15. Boa noite, querida Tais, senti mesmo a sua falta, eu fiquei ausente um pouco, não sabia da sua cirurgia, fico feliz por estar bem. Sua crônica nos mostra o quanto sofrem muitos dos nossos irmãozinhos. Temos que aprender com a escola da vida que mesmo não querendo nos mostra o sofrimento de muitos. Que Deus abençoe você! Grande beijo!

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  16. Taisinha,
    Aprendemos juntos todas essas lições de vida, que estão descritas em tua realista crônica, por vivenciarmos no nosso dia-a-dia a triste realidade de nosso país, no que se relaciona ao Sistema Único de Saúde – SUS – bem como por razões outras, que dizem respeito à desventura de uma criança nascer doente ou por vermos homens e mulheres idosas lutando por mais um sopro de vida.
    Beijinho.

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  17. Boa noite Tais
    Excelente e verídico texto!
    Beijinho e um feliz fim de semana

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  18. Olá Tais, espero que já esteja recuperada da cirurgia e passei prá deixar um grande abraço!
    Excelente crônica!! Beijos!!

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  19. QUERIDOS AMIGOS, meu afastamento do blog se deu por uma cirurgia de emergência, não estava nos meus planos. Sim, as dores foram terríveis até partir para a cirurgia. E isso nos faz pensar muito.
    Dor física é tão dilacerante que não me entra na cabeça que um ser humano possa torturar o outro, seja por ideologias políticas, religiosas ou o que for.

    Grande abraço a todos, obrigada pelo carinho da visita.

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  20. Olá minha querida amiga Tais, lamento muito o que passaste, concordo contigo, dor ninguém deveria sentir, muito menos provocar em alguém, mas infelizmente não é o que nossa realidade diz e mostra. Tua escola é realista demais, mas nos mostra e ensina o que é a vida, o que é nossa vida, e o que estamos fazendo. Preciso deste choque de realidade que tens todos os dias, morando perto de um hospital deste porte, quem sabe minhas crises existenciais não pararíam, quem sabe minha depressão não existisse, porque o sofrimento alheio me incomoda muito, é como se minha mãe estivesse doente, eu preferiria que eu estivesse e não ela, mas não funciona assim...e contra-partida existe uma parte da sociedade que tem outras preocupações, como escolher um novo restaurante para jantar, trocar o carro, comprar roupas, as melhores nas melhores e mais caras lojas, cada qual com sua preocupação rs (isto é horrível e cruel, pois há um mar gigante que separa estes dois lados, os afortunados e os desgraçados).
    Minha querida amiga Tais, muito obrigado por se fazer presente em minha vida, tuas palavras sempre encontram o caminho de meu coração. E por fazer parte dos que aprendem nesta escola da vida, vou seguindo, tentando, vivendo, buscando a paz que preciso...fica com Deus, querida Tais.
    ps. Carinho respeito e abraço.

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  21. Tais, de volta após partida do filho, vim te ler! Concordo que temos lições da vida de graça.Basta estar atentas! Vi no teu comentário lá no blog do Jair, que foste operada! Tudo bem? Te cuida! beijos, chica

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  22. Quanta sensibilidade em sua alma, Tais. Ainda bem que você sabe tirar lições de tudo que vê.
    Mas, tem uma coisa: Nós somos os criadores e por isso mesmo, os protagonistas das injustiças que existem.
    Grande beijo!!!

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  23. Maus momentos... Eles existem sempre, prezada Taís. Também sinto isso. É a Vida, não há jeito!

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  24. Estimada, Tais Luso.

    A vida. Ah, a vida.
    Qual o valor da Vida ?
    O outro.
    Sim, o outro ? Qual o valor, do outro ? Para quê nos serve ?
    A vida, para alguns, resume-se, às suas vaidade.
    Amei, a sua crônica. Um ponto excelente, para reflexão.
    Um abraço

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  25. Você demonstra uma imensa sensibilidade. Bom seria que todos olhassem a vida como consegues. Fico feliz em saber que já superaste o problema de saúde que lhe acometeu
    Que seus dias sejam sempre muito felizes,
    Élys.

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  26. Soube agora ao ler alguns comentários, que foi operada de urgência. Espero que esteja melhor e a caminho da recuperação total.
    Ter assim um hospital à porta é realmente uma lição de vida constante. A mim o que mais me aflige é ver crianças doentes e em sofrimento. Mas a vida é assim.

    Não vale mesmo a pena perdermos tempo com brigas tontas por motivos tontos. Vale sim tentar ser feliz, sem pisar ninguém. Não sou ambiciosa e por isso creio que consigo ser feliz a maior parte do tempo.

    Gostei imenso do seu texto.
    Um beijinho e mais uma vez lhe desejo as melhoras.

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  27. Olá Tais,

    Espero que já esteja recuperada de sua cirurgia.
    Quando nos sentimos desolados por pouco, basta dar uma passada por um pronto socorro hospitalar, principalmente do SUS, para despertarmos para o muito que possuímos e aprender a valorizar o que realmente importa.
    Gostei imenso da crônica, que reflete sua sensibilidade como ser humano e reforça lições importantes para o nosso viver.

    Beijo.

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  28. Tais, espero que esteja bem. Não sabia que passara por um procedimento cirúrgico. A dor dos outros nos ajuda a enfrentar as nossas. Percebemos que não estamos sós e valorizamos os que estão ao nosso lado, eis que muitos não possuem qualquer apoio em momentos difíceis.
    Hospitais, dentro e fora, proporcionam ensinamento para quem tem sensibilidade. Também não gosto de fitar os olhos de mães que carregam filhos com necessidades especiais. Abraço a dor delas e isso me faz mal. Só peço que Deus as ajude a vencer seus desafios.
    Bjs.

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Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís