Mahatma Gandhi |
-Tais Luso de Carvalho
Ouvimos tanto falar de paz e amor; recebemos tantas mensagens pela Internet, tantos cartões de Natal desejando mais paz e amor, que as frases viraram clichê. Houve uma época, no movimento hippie, que muitos acreditaram numa paz em nome do amor.
Os hippies fervilhavam pelo mundo com suas mensagens; discordavam da Guerra do Vietnã, de bombas atômicas, de violências, do capitalismo, do autoritarismo, e pregavam o amor livre. Só pegou o amor livre, o resto foi pro brejo, apesar de John Lennon ter figurado como mais um porta-voz de uma paz que todos nós almejávamos, principalmente de paz interior. Mas a paz só se faz quando nosso interior e exterior comungam dos mesmos pensamentos e atitudes. Quando entram em harmonia.
E não se extermina com facilidade monstros externos que criam discórdias. Estejam eles próximos ou não de nós, de alguma maneira seremos atingidos.
Como recebemos diariamente mensagens de paz e amor, e outras tantas em datas festivas, fico eu cá a refletir sobre esse desejo coletivo e vejo que são votos rotineiros, que eu também enviava. Caprichava na escolha do bom velhinho entre guirlandas e árvores. E lá ia o tal do cartão, com mais visual do que conteúdo.
Mas quem não vê que a paz está cada vez mais escassa? Impossível vivermos em paz numa sociedade que – se puder – nos tira o oxigênio que respiramos. Tudo em nome do lucro. Fraternidade é uma palavrinha de difícil compreensão. Ou demagogia de políticos.
As tentativas para se viver com mais qualidade de vida e portanto com mais paz, estão em todos os lugares, mas já faz parte do movimento surrealista: só em sonhos.
Muitos não encontram paz na família, o que dirá nos amontoados de condomínios, nas praças de lazer - onde crianças se agridem -, nos hospitais, nas faculdades, no trabalho, nos colégios... Tudo isso requer que nossas antenas estejam ligadas em tempo integral.
Temos sistemas de alarmes, fios elétricos, seguranças particulares, cachorros ferozes, grades e, apesar disso, sobressaltos nas madrugadas por conta de estranhos barulhos. Que estranha paz!
Leio jornais diariamente, mas as boas notícias não enxergo - muito poucas. Leio os confrontos políticos - sempre muito meigos -, mil reivindicações da sociedade, crimes, violência contra crianças, trabalho explorado, mulheres com seus rostos deformados, ameaçadas de morte e sem proteção. Salvo o caderno de Cultura, o resto dá nó em qualquer cabeça, e cada vez mais nos recolhemos e nos intimidamos diante de tanta brutalidade.
Não existem mais limites para a ganância; o bom senso acaba diante de vaidades e intolerâncias. O que mais se vê é um aumento, sem travas, da corrupção, deitando e rolando diante de leis fracas. Esquecemos que a vida é curta e nada caberá dentro do caixão.
Com o final do ano se aproximando, até o 'Peru de Natal' conspira contra nós. Pelo exagero dos preços, sempre tive dúvidas se estava comprando um peru ou pavão. E olhando para a classe pobre, é triste ver milhões de famílias tentando fazer um pequeno Natal. Vemos milhões de crianças sonhando com um carrinho ou uma simples bonequinha, enquanto outros brindam com as mais caras bebidas, e o assunto é fraternidade e amor. É lindo, sim...
Achar que as festas de final de ano minimizam as dores do mundo, as injustiças sociais, a brutalidade e a miséria é muita ingenuidade, pois no dia 2 de janeiro o mundo volta ao normal. Tenho de parar pra pensar a que mundo se referem ao falarem tanto de amor, pois este aqui já está há milhões de anos mergulhado na corrupção, na crueldade e no egoísmo. Na barbárie.
Ernesto Sábato, numa de suas brilhantes entrevistas disse que o grave problema é que nesta civilização doente não há só exploração e miséria, mas uma correlativa miséria espiritual.Tá coberto de razão.
Portanto, estas mensagens de paz e amor é puro fricote. O que ouvimos são apenas sons de uma língua que nunca entenderemos, que jamais conseguimos traduzi-la, embora várias tentativas feitas. Portanto, só posso desejar sorte e vida longa a todos. E para qualquer época do ano.
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Adorei, seu post e estou de acordo com o que colocou aqui.
ResponderExcluirPaz, em todos os dias da nossa vida
Incrível acabei de postar sobre a violência contra às mulheres,
Nada de paz, absurdo como matam mulheres em nome de quê, sei lá?
Paz na família, entre marido e mulher, enfim em todos os lugares que temos de estar no nosso dia a dia..,
Beijo, amiga e gostaria da tua opinião sobre o meu post, bem polêmico e um pouco parecido com o teu.
Até , adoro teu blog.
Palavras têm força quando se acreditam nelas. Palavras vãs, soltas no vento, de nada servem a não ser para poluir o ambiente.
ResponderExcluirUm grande bj querida amiga e boa semana!
Eita!!!!!!!!! que texto porreta menina!
ResponderExcluirAdorei.
Um beijo grande
Tais a gente deseja o que não tem. Fala-se muito do que não se tem.
ResponderExcluirLucido texto.
beijos
Taís,
ResponderExcluirhoje não é o dia do amigo, da secretária, das crianças ou dos idosos! Que coisa mais comercial!
Desejar o bem é normal todo dia e o dia todo. Concordo que a necessidade de se comemorar datas destinadas à paz e ao amor acabam por esvaziar o verdadeiro sentido dessas palavras.
Acho que podemos fazer a nossa parte, todos os dias - em casa, no trabalho, no supermercado, etc.
Podemos manter o respeito e a paz no interior de nossos lares. podemos ser honestos e gentis no convívio com nossos vizinhos, colegas de trabalho e com quase todo mundo.
Eu disse quase todo mundo, porque tem gente que não merece nada!
Ainda assim devemos respeitar aos infelizes corruptos, criminosos, invejosos, etc.
Devemos respeitar a nós mesmos!
Desculpe por me alongar tanto, é que você despertou a minha indignação e o meu desejo de dizer que dá para melhorar, pelo menos em casa!
Um grande abraço minha amiga.
Essa PAZ está faltando mesmo...Muitas vezes só existe no papel ou na palavra...
ResponderExcluirbeijos,linda semana,chica
....aceito os votos que faz....pois
ResponderExcluircada vez a sua falta é 'obvia'...Mais
um belo Post.....
Beijo
Tais,
ResponderExcluirO Homo sapiens construiu uma civilização onde os bens materiais e o "ter" são mais importantes que apenar "ser". Estamos inseridos numa sociedade que perdeu os verdadeiros valores como: justiça, solidariedade, altruísmo, bom-caratismo, piedade, dignidade e bondade. Você colocou bem, nossa sociedade usa palavras ocas, e PAZ é algo que não nos damos conta do significado. Parabéns pela postagem, JAIR.
Paz no mundo, onde?
ResponderExcluirNo meu coração!
Acredito completamente que a paz começa dentro de nós mesmos e esta vibração se espalha....
É simples.
Boa noite, querida amiga.
ResponderExcluirNossa... Viajei no tempo e na "evolução" dos anos sessenta pra cá.
Adorei quando você diz que dos ideais, o que pegou, foi o amor livre. E como... Foi o caminho mais fácil, no meio de tanta utopia.
Se a paz fosse prioridade, ela começaria dentro das próprias famílias.
O idealismo tem seu alicerce pautado na coletividade, mas infelizmente o ser humano é individualista.
(Não sou antiquada, mas acho que o culto ao corpo e à toda sensualidade que ele pode oferecer, tem um papel pernicioso nos acontecimentos atuais).
Desejo-lhe muita vida e boa sorte.
Beijos.
Que belo texto Taís! Também acredito que essas falsas mensagens estão atreladas somente ao comercial, esse consumismo exagerado que vejo por todo lado, faz-me desacreditar até nos votos de Feliz Natal.
ResponderExcluirDesejar o bem aos outros deveria ser comum todos os dias. Paz para você!
Beijos
O libriano Gandhi demonstrou em sua vivência o que realmente ele acreditava. Talvez se encontrarmos a paz dentro de nós isso faz que espalhe para o externo. Somos ondas através da física quântica que sabe nessa próxima Era que é Aquário estaremos mais reflexivos sobre esse tema. Bjs Cynthia.
ResponderExcluirTais, você sempre chega no ponto exato, coloca o dedo na ferida da sociedade moderna, e eu adoro isso!
ResponderExcluirDe fato, a paz tão desejada nos cartões de Natal e Ano Novo se fecha junto com eles e fica guardada em uma gaveta qualquer... não é vivida nem nos lares, muito menos num contexto mundial onde reina a barbárie.
Isso me entristece, mas não me intimida. Sinto-me responsável pela minha paz e luto diariamente por ela e para estendê-la ao meu ciclo de convivência. Mudar o mundo com essa humilde ação? Não sou ingênua a ponto de esperar esse milagre, posto que foi o próprio livre arbítrio do ser humano que nos levou a esse caos. Mas por causa disso vou aderir a insanidade alheia? De jeito nenhum, otimista sigo remando meu pequeno barquinho, enfrentando ventos e forte correnteza. Que seja, mas em mim haverá sempre a paz!
Beijos, minha linda amiga.
Taís, você poderia terminar o seu artigo/crônica assim: "e que Deus ajude cada um de nós, porque quanto a nos ajudarmos uns aos outros, esqueçam!"
ResponderExcluirOlha, perfeito o texto, e tão sensível. Me senti lendo um dos sensíveis artigos da Lya Luft, que ela escreve na VEJA.
Parabéns!
bjo
Cesar
Oi Thaís,
ResponderExcluirDatas que antes foram sagradas, hoje se tornaram um grande "comércio", com metas e prazos.
O mundo enriqueceu seus bolsos e empobreceu a alma!
Grande abraço
Muito bom querida!
ResponderExcluirA paz me invadiu e te desejo-a em todo o tempo tá?
Bjs
Realmente a paz soa nas línguas dos povos, mas aonde será que ela se encontra neste momento onde a maldade de pensamentos e ações imperam no planeta terra?!? Como devemos agir, como devemos nos sentir, não sei responder...só sei que se continuarmos assim iremos nos destruir, pois de certa forma já sentimos um clima pesado no ar, onde já não vemos, nem sentimos como antes, até parece que as coisas estão perdendo o encanto!
ResponderExcluirConcordo piamente com suas palavras, onde ouvimos falar em paz, mas não sentimos a paz - sempre disse isso, onde vejo as pessoas repetirem aquilo que escutam, mas no íntimo existe um fio muito frágil onde a qualquer momento pode se desfazer...hummmmm...deixa eu parar, pois já estou viajando...
Bjos meus.
WaleriaLima.
Olá!
ResponderExcluirNão pensava sob o ângulo apresentado na sua crônica... Intuitivamente, sempre achei desnecessário esse jogo de aparências, o confete pró-forma para falsas ou ilegítimas cordialidades. Quanto tempo e recursos se desperdiça com isso.
Grande abraço, de verdade.
Adh2bs
Tais,
ResponderExcluiracredito eu que esses cumprimentos tragam na essência o desejo de serem realizados. Diante de tudo que vc tão bem descreveu,só nos resta a esperança de algum dia vermos um mínimo de decência, dignidade , paz e respeito acontecendo.
Por isso, creio , que damos imagem, letra e vez aos nosso anseios nesta forma de mensagens que,numa aspiração quase infantil,soltem-se aos quatro cantos do mundo.
Tuas reflexões são sempre clareadoras.
Bjos,
Calu
Oi, Tais! Eu estava conversando com o meu pai sobre esses assuntos dia desses. Ele me ouviu o tanto que pode e depois me disse:- meu filho, quer sossego? Só no cemitério.
ResponderExcluirEstá difícil conceber tais desejos. Onde fraternidade se o que se estimula é a competição? Onde amor ao próximo se o próximo tem que sair do caminho para que o outro se dê bem? Eu já tô pensando em ficar como o Chico disse numa magistral música:
" a filosofia hoje me auxilia a ficar indiferente assim. Nessa prontidão sem fim, vou fingindo que sou rico pra ninguém zombar de mim."
Abração, Taís. paz e bem.
Que triste realidade onde quem pode mais chora menos. A ganância do homem não tem limites. O que será das futuras gerações, o homem está destruindo tudo, acabando com o planeta. A violência está demais, temos medo de tudo, como ter paz assim, não é mesmo, Tais?
ResponderExcluirFiquei tão feliz com sua visita, volte sempre que puder. Boa noite, um beijo.
Taís
ResponderExcluirAcho que o pensamento de Ernesto Sabato, que vc sabiamente colocou para fechar seu texto, realmente sintetisa a solução de um mundo em decadência. Evolução espiritual é tudo. E não é preciso evolução material nem cultural para atingir esse grau maior de evolução. Yuri Gagarin disse que um dia a humanidade irá desaparecer ou se transformar em outra coisa que olhará nossos velhos ossos como nós hoje olhamos os ossos de um neanderthal.
Gostei muito.Acredito que a paz nos dias de hoje é com certeza o artigo de que mais necessitamos, porém desviamos o seu verdadeiro sentido. Enquanto buscamos paz em coisas materiais, em realizações, deixamos de encontrá-la facilmente dentro de nós mesmos.Se cultivarmos a paciência a aceitação, se nos doarmos um pouco mais. Um abraço, e uma linda tarde cheia de paz prá você.
ResponderExcluirÉ obvio que falar de paz é uma
ResponderExcluirutopia.Não pode haver paz enquanto
um homem escravizar outro...
Enquanto a distribuição do capital
não for justa.
Estamos a viver uma época de grande
preocupação a nível mundial, com o
mundo a ser gerido por:
incapazes
corruptos
mentirosos
loucos
e em que cada vez há menos emprego,
mais miséria, mais fome, portanto
falar em paz é uma utopia.
Precisamos de estar mais atentos
e interventivos.
Precisamos de não ser tão indiferentes...
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Parabéns por este seu texto,como
sempre nos habituou.Com qualidade.
Beijinho
Irene