9 de fevereiro de 2014

MEDOS




         - Tais Luso de Carvalho

Faz muito tempo que penso escrever sobre esse assunto. Aliás é o mesmo medo do padre "Fábio de Melo" em entrevista dada à Marília Gabriela: o medo de ser enterrado vivo! 
Poxa, padre, você tirou daqui, ó! Fico solidária com você nessa agonia que lhe tira da casinha. Que lhe deixa mal.

Já pensaram que loucura? Tenho um medo mórbido por fogo, e sou meio claustrofóbica. Não posso pensar em ficar presa num caixão rodeado por cimento. Preciso de espaço. Morrer sim, mas esticada, com espaço! Com conforto.

O ideal seria partirmos tipo o filme Ghost: vamos caminhando entre as nuvens, sumindo não sei pra onde, mas com certeza para um lugar melhor do que esse, sem dúvida. E com aquela música maravilhosa - Unchained Melody -acompanhando nossos passos… Morrer assim dá gosto! É emocionante.

Fiquei pensando de onde veio isso, essa minha neura que não deixa de ser engraçada. Pois foi da mesma maneira que veio a do padre Fábio! Veio da infância, por parte de minha mãe, que era uma pessoa que não tinha problema nenhum com a morte. Brincava! Contava as histórias que lia e que ouvia. Mas que tinha medo de ser enterrada viva... ah tinha! E teve a gentileza de me passar esse horror.

Ainda estou decidindo se escolho cemitério ou crematório – logicamente quando todos passarem e eu passarinho - como dizia  Quintana -, estará decidido; que decidam por mim. Seja o que Deus quiser. Por enquanto estou vivendo uma vida boa, feliz da vida  e pensando, de mentirinha, na minha eternidade. O planeta azul é lindo, principalmente onde o homem ainda não chegou.

Mas também tenho outros medos, e esses fazem parte da conjuntura social em que vivo: ser sequestrada. Se eu soubesse, de antemão, que o ladrão seria bonzinho, que seria educadinho e levasse apenas bens materiais, talvez minimizasse meus medos.

Também tenho medo de AVC, daquele tamanho família, que nos bloqueia, nos incapacita e passamos a depender dos familiares, dando um trabalho de cão. Tenho familiares que tiveram, e sabendo que Genética não brinca, tenho uma pequenina preocupação.

Tenho medo de incêndio: como meu edifício tem alguns velhinhos – acima de 90 anos –, tenho medo que um deles, já meio esquecido da vida, esqueça algo ligado… Sim, penso nisso, principalmente no inverno onde ligam suas estufas e dormem. Volta e meia sinto cheiro de algo queimando e fico meio desatinada. Moro em andar alto, e sair correndo e encontrar esses velhinhos descendo as escadas não seria moleza. 

Tenho medo da revolta dos desassistidos desse país,  cujo número está crescendo e os cegos, lá do poder central, da Ilha da Fantasia, não enxergam. 

Tenho fobia por baratas, não aguento essas coisas fugindo e se escondendo. Prefiro que mostrem suas caras. Não gosto de luta desigual, tem de ser olho no olho para uma batalha campal igualitária e mais justa. Por pouco não digo fraterna...

Também tenho medo quando meus filhos saem de carro à noite… Mas esse medo, não deixo transparecer. É preocupação  de mãe neurótica. Mas fico quieta.

Mas acima de tudo, tenho medo, muito medo da  Justiça do Brasil... Não é nada confortável pensar nela e ver certas coisas. As consequências de seus atos são cumulativos, e vão deixando rastros para que um dia exploda a mais poderosa e temerosa das bombas: a perda da nossa Democracia e da nossa liberdade.
Então, estaremos de volta ao passado: é... aquele mesmo!


28 comentários:

  1. Só posso concordar e à medida que te lia, via medos que todos temos. Ao final, quando vejo o medo da JUSTIÇA, aplaudo vigorosamente! Temos medo e posso falar de cadeira. Fui advogada e vi de perto. Quando vi, abandonei, não foi pra isso que me formei com 4 filhos pequenos na época. A cada dia vejo que minha decisão foi certa pois não existem remédios jurídicos eficazes. Todos nos deixam frustradas! Pena! bjs, chica

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    1. Pois é, você está coberta de razão...
      Justiça? Onde? Essa palavra está desgastada...
      A gente sabe o final. Mas quando acontece 'positivamente', a gente aplaude e se rasga!
      Beijão

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  2. Vivemos em todo tipo de insegurança possível. Temos medo de nossos sentimentos, de nossas finanças, de nossos governantes, do nosso futuro. É divertido ler o que você escreveu, mas a reflexão é de fato temerosa.
    Abraços.

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    1. Thomaz, peguei leve, sim, mas tenho muitos medos, principalmente dos governantes que já nos deram a resposta exata do que nunca farão e do que nunca acontecerá no nosso país. E simplesmente porque não é negócio pra eles.
      Abraços!

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  3. Medo? Tenho muitos...alguns superados e outros ainda me assustam. Medo de defunto, cemitérios, sapo...são alguns deles....
    Dizem que para se livrar deles temos que enfrentá-los! Estou pensando seriamente no assunto.

    Beijos e ótima semana!

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    1. Marineide, defunto não me assusta. Cemitério respeito, e tem obras de arte lindas!
      Acho que o único medo que não superarei é de baratas! E enfrento!
      Beijo!!

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  4. Olá querida amiga Tais, que oportuno este post, nos últimos tempos tenho tido muito medo, de praticamente tudo...outro dia li um poema do poeta Dilmar em que falava do medo e em meu comentário assumia isso, que morro de medo rs. Minha mãe sempre diz que quando morrer quer ser enterrada mais de 24 horas após sua morte, ela também tem este teu medo...e eu também. Hoje o que mais temo é a Justiça e o Poder Público geral, cheguei num ponto em que não admito mais esta desonestidade no serviço público. Percebo que existe hoje um interesse absurdo das pessoas investidas em cargos em se beneficiarem, ao invés de prestar o serviço para o qual é pago, de forma justa e equilibrada. Temo a morte, mas hoje temo muito mais a vida, minha vida, minhas escolhas, meus caminhos, onde estou; as pessoas que convivo, tenho medo do que possam falar de mim ou para mim. Tenho medo de acordar (preciso rezar para me acalmar e agradecer que estou vivo e acordado). Tenho medo de não mais amar ou ser amado. Tenho medo do próximo, embora meu coração diga que estamos todos no mesmo barco, enfim...( ufa, divaguei rs).
    O poder de tua escrita, além de conseguir expor de forma tão leve um assunto meio pesado, de me fazer refletir e rir da morte – não consegui deixar de imaginar tu descendo as escadas com pressa e um bando de velhinhos descendo, na tua frente, lentamente rs.
    Obrigado querida Tais, por mais um belo post.
    ps. Meu carinho meu respeito e meu abraço.

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    1. Olá, Jair, também li o poema do nosso amigo Dilmar Gomes e gostei muito.
      Na verdade, muitos dos nossos medos servem de proteção, de alerta para certos cuidados a serem tomados. Acho natural termos medos, mas até certo ponto. Quando eles ultrapassam certo nível, que nos deixam em permanente estresse e doentes, aí temos de tomar alguma medida terapêutica. Não podemos sofrer tanto.

      Tenho saudades quando meus medos eram pequenos, mas a própria vida que levamos, o que o país nos oferece (ou não oferece) como cidadãos, infelizmente tornaram nossos medos muito relevantes. Tratei esse tema com a máxima leveza, embora saiba da gravidade de sentir medo.
      Grande abraço, amigo Jair! Muito obrigada pelo carinho de suas palavras.

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  5. Very interesting ...
    Greetings.

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    1. Beijos aqui do sul do Brasil, querida Pantherka!
      Uma linda semana.

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  6. Tais, creio que todos nossos medos atuais que traduzem nossas fobias sociais e emocionais. Mas oque eu tenho mais medo é de que tantas fobias que vamos adquirindo, assim vamos nos enterrando, vamos deixando de viver. E esse é o meu maior medo, morrer em vida...
    bjkas doces

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    1. Marli, essa é uma opinião que tenho ouvido, também. Por isso que acho esse assunto muito pessoal. Eu tenho alguns medos, sim, e acho natural. Muitas vezes tenho alguma coisa que me avisa, que me coloca em estado de alerta... e dá certo! Mas são poucos os meus medos. Não chegam a me atrapalhar.

      Beijos, meu carinho.

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  7. Tais Lindo texto para refletir medos todos nós temos os nossos medos, par mim isso não passa de fobias derivadas a sociedade em que vivemos.
    Beijos
    Santa Cruz

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    1. Certo, Santa Cruz. Obrigada pela sua presença sempre tão querida.
      Um abraço a Portugal, país lindo, cheio de história e belas artes!
      beijos.

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  8. Pois é, nossos medos... Somos seres em evolução e ter medo é muito natural. Acho que não existe ninguém que não tenha medo de alguma coisa. O Chico Xavier, ser iluminado e consciente da imortalidade do espírito - ciente de que a morte é passagem de um plano para outro -, quando viajava de avião, tinha medo de morrer durante o voo. À medida que formos atingindo estágios mais espiritualizados, certamente iremos perdendo os medos, entretanto, talvez ainda tenhamos que passar por algumas existências para superarmos isso.
    Um abração. Tenhas uma boa tarde.

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    1. Dilmar, achei ótimo o seu poema, o qual você narra nossos períodos e medos, medos que vamos mudando no decorrer dos anos. Mesmo assim penso que nunca vamos nos livrar de alguns...Como você disse, no seu poema, vamos substituindo... Mas um medo sempre estará presente, pois possuímos o instinto de conservação e o apego à vida. Esse medo 'passei por cima', creio que nunca desaparecerá: é o medo do desconhecido...

      Abraços, amigo, uma boa semana.

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  9. O medo de ser enterrado vivo... quem não tem? Quem vai saber? É daí que vem aquelas histórias de defunto que senta no caixão, de barulho na sepultura...

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    1. Mas tem gente que não pensa nisso! Só de pensar me dá uma agonia...
      Beijos, Anabela

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  10. Oi Tais,

    como gosto de ler os seus textos! Eles tem a suavidade de uma conversa, com o conteúdo de uma conversa séria. Muito bom!
    Compartilho com você quase todos esses medos, em especial ao das baratas que detesto e ainda desconfio que sejam seres de um outro planeta que se instalaram aqui para nos espionar... rsrs

    Grande abraço e muito obrigada por nos brindar com um texto tão bom!

    Leila Rodrigues

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    1. Oi, Leila, que bom ouvir essas suas palavras. O que eu poderia dizer senão um obrigada do tamanho do meu carinho? Aliás, estamos há tempos nesse mesmo barco, não?
      Gosto, sim, de escrever como se tivéssemos conversando, sem enxertos, direto. E longe das baratas!
      Beijos!

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  11. Uma vez eu vinha á noite vindo do colégio por volta das 22:00 hs. Eu e um amigo meu, resolvemos entrar num beco estreito pra cortar caminho, quando percebemos na nossa frente na outra extremidade um negro alto, camisa no ombro e bermuda Jeans. Só se divisava os olhos ameaçadores. Disse ao amigo: - Vamos voltar, ao que ele discordou, - Não, nessa distancia ele corre e nos alcança , se quiser, vamos em frente ,fé em Deus! Fomos devagar e el nos acompanhando com os olhos, cada vez mais próximo, suspense... mais próximos... próximos... passamos em frente a ele e ele nos fitando, passamos, ufa! Quando no meio do caminho, ouvimos gritar: - EI!!! - E agora!! - Vocês não são assaltantes, não, nê?, perguntou. a gente negou , logico! Foi quando ele disse aliviado: Que susto! Um tempo desses fui assaltado aqui, queria correr e tava paralisado de medo!

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  12. rssss, isso acontece comigo, Vejo algo meio estranho e já fico um ouriço. É o resultado dos tempos em que vivemos, e vai piorar essa nossa neura enquanto esse país não começar a educar seus cidadãos para que tenham um nível de vida decente. Esse nosso medo é fruto da irresponsabilidade e da ganância de quem nos governa. Gostei da tua história... rs
    Beijos.

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  13. Não Tais aquele passado não. Nossos medos carregamos e estão sempre a nos assombrar. Eu criança carregava meus medos em pequenos sacos de panos que chamavam de embornal e os trouxe comigo, para avivarem minhas lembranças. A invasão de nossos quintais é um medo que devemos considerar neste país que não se preocupa com o crescimento da desigualdade.
    A confusão entre a policia e o ladrão tudo me faz ter medo, o ladrão que se veste de gerente bancário me assusta e o crescente uso de dinamite pelos bandidos mostra que estamos perdidos a expostos a toda sorte.
    Suas cronicas são boas e nos permitem interagir e soltar nossos sentimentos e aqui nossos medos.
    Muito bom ter voce para ler.
    Fica meu abraço com admiração da arte.
    Beijo de paz e luz amiga.

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    1. Oi, Toninho, meus medos, no fundo, são os medos de todos com algumas variantes. Claro que gostaria de viver sem medos, mas no fundo eles nos protegem, são um aviso dizendo onde devemos pisar. Infelizmente o mundo é assim, tem dois lados, e um deles sempre nos pega de surpresa...
      Sim, meus textos fazem parte do cotidiano de todos e é bom demais interagir, nos sentimos mais iguais, não tão diferentes, não tão solitários.
      Beijos, querido amigo.

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  14. Carregamos muitos medos adquiridos na infância. Também já ouvi muitos "causos" assustadores e nem conseguia, à época, ir para o quarto sozinha. Alguns fui perdendo, mas adquiri outros. Temo pela insegurança que nos envolve, em todos os sentidos. E por não ver luz em nossos caminhos, não só no Brasil, mas no mundo. Bjs.

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    1. Os medos são nossos eternos companheiros, Marilene! Quando me vejo livre de um, aparece outro...
      Beijos, querida.

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  15. Morro de medo de lugares fechados! tenho medo que algo possa ocorrer com os meus familiares e comigo! Medo! Medo! Mas, a fé em Deus e na espiritualidade, junto com a terapia me ajudam muito.

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    1. Olá, Abylene, bem vinda ao blog!
      Ter medo é natural, não tê-lo é que acho algo errado. Lógico, falo de medos normais. Fobias já é algo a tratar. Mas somos assim, nada é perfeito.
      Abraços!

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Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís