Como
se morre de velhice
ou
de acidente ou de doença,
morro,
Senhor, de indiferença.
Da
indiferença deste mundo
onde
o que se sente e se pensa
não
tem eco, na ausência imensa.
Na
ausência, areia movediça
onde
se escreve igual sentença
para
o que é vencido e o que vença.
Salva-me,
Senhor, do horizonte
sem
estímulo ou recompensa
onde
o amor equivale à ofensa.
De
boca amarga e de alma triste
sinto
a minha própria presença
num
céu de loucura suspensa.
Já
não se morre de velhice
nem
de acidente nem de doença,
mas,
Senhor, só de indiferença.
- Cecília
Meireles, in 'Poemas (1957)'
Descendente pela linha materna de família açoriana de São Miguel, Cecília nasceu em 1901 no Rio de Janeiro e faleceu em 1964. Seu pai, faleceu 3 meses antes de seu nascimento aos 26 anos. Aos 3 anos Cecília perde sua mãe. A tutela ficou com sua avó.
Com outras perdas familiares teve uma certa intimidade com a morte, onde aprendeu a relação entre o efêmero e o eterno. Apesar de tudo guardou boas recordações de sua infância.
Seguiu toda a carreira de professora primária, mas paralelamente desenvolveu intensa atividade literária e jornalística, escrevendo nos principais jornais da imprensa carioca.
Em 1938 lançou 'Viagem', conquistando o prêmio da Academia Brasileira de Letras. Em 1965, pós-mortem, a Academia Brasileira de letras concedeu-lhe o Prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra.
Foram 22 livros escritos. Seu primeiro livro de poemas foi Viagem, em 1939 - o livro que a consagrou, recebendo o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras. 'Ou Isto ou Aquilo' foi a última obra que Cecília publicou em vida. Entre as duas pontas estão Solombra - 1963, , Sonhos - 1950 - 63, e Poemas de Viagens escrito entre 1940 e 1964. Porém sua obra conta em torno de 22 livros.
'Eu canto, porque o instante existe e a minha vida está completa.'
Que triste essa poesia e nada pior do que a indiferença, quando nada mais nos anima, nada entusiasma, nada faz sentir viva! beijos, lindo restinho de semana e bem viva,rs...chica
ResponderExcluirEssa tal indiferença
ResponderExcluirDo século o pior mal
Pior que dor e doença
Dela se morre, afinal.
«Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.»
ResponderExcluirGosto muito de Cecília Meirelles, como pessoa e como distinta Poeta
da nossa língua.
A minha mãe tinha os olhos claros parecidos, uma cor muito frequente
nos habitantes das ilhas no início do século.
Como está bem construído este poema que só aparentemente é simples!
E como é tão atual!
Parece que o mundo não evolui!
Parabéns pela seleção e pela homenagem de muito bom gosto.
Abraço, Taís.
~~~~~~
Taisamiga
ResponderExcluirAdoro Cecília Meireles. Incluo-a numa onda de Poesia na nossa língua portuguesa de que constam Sophia de Mello Breyner Andresen, Florbela Espanca, Maria Teresa Horta e Natália Correia, todas do lado de ca
A Poesia não tem lugar, não tem tempo, não tem oportunidade. Só tem Poesia...
Repito: adoro Cecília Meireles. Ponto.
Qjs do Leãozão
Lindo e triste, eis uma verdade que se diz em poesia, nada pior do que a indiferença, Cecília Meireles nos deu essa bela reflexão!
ResponderExcluirAmiga Tais, sempre nos presenteia com ótimos textos!
Amei ler!
Abraços apertados!
Oi Taís
ResponderExcluirEu não quero morrer de velhice e estou caminhando pra ela.kkk
Beijos
no coração
Minicontista2
Boa noite, queridda Taís!
ResponderExcluirGosto muito dela.... de seus escritos... o de hoje postado por vc é fenomenal!
Bjm muito fraterno
Lindo!
ResponderExcluirCecília tinha o dom de dizer tudo com um sopro, de certa forma, com leveza e mão pesada.
Que maravilhosa, triste e muito verdadeira esta poesia!
ResponderExcluirPara mim, não existe mal pior que a indiferença.
Esta sim já contaminou o mundo.
Adorei a escolha.
Beijos, e um ótimo dia Tais!
Mariangela
A doce Cecília! Fiz um texto sobre ela, onde descreve com profunda sensibilidade o haicai.
ResponderExcluirAbraço, amiga Tais.
Valiosa partilha, Taís!
ResponderExcluirA Cecília Meireles é a maior poeta brasileira, a sua
expressividade poética e literária é única numa
dimensão especial.
Na lista dos poemas que eu adoro, tem vários dela.
Ótimo final de semana para vocês!
Bj.
excelente escolha, Tais.
ResponderExcluiro meu universo poético - passe a presunção - é muito marcado pela Poesia de Cecília Meireles, a que sempre associo Sofia de Mello Breyner e Natália Correia. todas grandes e todas elas divinas.
saudações cordiais.
No ano que esse poema foi feito nem tinha nascido. E já tinha-se esses questionamentos e angustia existenciais, claro, claro... More-se também de indiferença, congelado de tédio, entediado. Triste. Beijos, Tais.
ResponderExcluirTaisinha,
ResponderExcluirEsse é mais um dos poemas de Cecília Meireles que aprendemos a gostar juntos, desde o dia que tu o leste para mim, num dia nublado de inverno, em Gramado, junto à lareira. Nas livrarias sempre estamos à procura de mais poemas de Cecília, e muitas vezes temos sorte. É sempre bom ler e reler essa poeta maior.
Beijinho, daqui do escritório.
Cara amiga Tais, Cecília Meireles, já tem poesia no nome! Nome poético e musical. É sempre uma boa dica, uma boa lembrança.
ResponderExcluirUm abraço. Tenhas um lindo fim de semana.
Esta autora entra con su indiferencia que puede matar igual que la vejez en un terreno muy sugestivo y moderno, muy adelantado a la épòca que le tocó vivir. Interesante de veras su biografía. Será muy díficil que encuentre ninguno de sus libros en la biblioteca. Ignoro si se ha publicado algo en España pero me temo que, por la época, será muy díficil.
ResponderExcluirSaludos con el mayor afecto.
Morrer de indiferença. É daquilo que mais se morre hoje em dia...
ResponderExcluirCecília Meireles, nem é preciso dizê-lo, faz poemas de uma extrema sensibilidade. Foi bom lê-la aqui.
Um beijo.
Cecília no fundo do fundo da alma humana.
ResponderExcluirBelíssima triste partilha.
Aprende-se e ainda assim não se blinda-se.
Abraços Taís.
Grato pela partilha.
Bjs de paz amiga.
Querida Tais,li avidamente teu conto,fiquei comovida do começo ao fim,mas não consegui postar um comentário,e que feliz escolha tiveste ao postar este poema de Cecília Meireles...Realmente,a indiferença mata as pessoas,sufoca-as com a injustiça que esta causa...Meus parabéns amiga!
ResponderExcluirGosto muito da poesia da Cecília Meireles. Tenho um livrinho com a obra poética.
ResponderExcluirUm beijinho e um bom domingo:)
Boa tarde querida amiga!
ResponderExcluirUma escolha feliz dessas só poderia vir de um talento como ti!
A indiferença é pior que a ofensa amiga!
Um grande abraço!