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Tais Luso (conto)
Filó,
assim chamada, era uma vendedora de produtos de beleza. Mas além de
espalhafatosa, tinha uma voz rouca e forte. Seus braços eram
verdadeiras alegorias, quando ela se descontrolava. Quando surtava. Usava
muito a expressão 'com certeza' para preencher o vazio que ficava no
ar. Não possuía credibilidade para vender produtos de beleza, pois
seus cabelos eram desgrenhados e sua pele era oleosa, o que delatava relaxamento. Pois é, a vida estava ficando difícil para Filó.
Aguentava-se
do pouquinho do que tinha aplicado em Banco - na Poupança - e do Seguro desemprego. Mas
gostava de conhecer coisas novas. E resolveram, um dia, ela e seu
marido Astolfo visitarem o MARGS (Museu do Estado do Rio Grande do
Sul).
E
lá foram eles ver a exposição de Marc Chagall, mas sem terem a
mínima noção quem era o artista, onde nasceu, como viveu. O mundo das artes não era o mundo deles. Mas como tudo tem um começo,
iniciaram o tour pelo Museu.
Filó
deslizava pelos salões olhando aquele mundo diferente.
Balançava a cabeça como num ato de aprovação, como se estivesse
entendendo as profundezas do artista. Achava tudo genial sem saber o
porquê. E Astolfo quase indo às lágrimas, concordava com o falso entusiasmo da sua mulher.
Lá
pelas tantas, Filó perguntou a um grupo de visitantes:
-
Cadê o Chagall, eu quero cumprimentá-lo!!
Que
horror; era óbvio que todos olharam perplexos para a retardada criatura. De onde havia saído aquela mulher? Era a pergunta que
percorria os salões.
Decepcionados
por não terem conhecido Chagall, os dois ilustres visitantes foram
embora. Mas visitaram outras exposições, gostavam dos ambientes
requintados e cultos que envolviam as artes.
Outra,
entre muitas visitas, foi numa conceituada Galeria, onde havia uma
exposição de arte moderna. Lá estava o casal para o Vernissage,
mas já aparentando melhor desenvoltura. Mais comedidos nos seus
palpites e em suas manifestações. Mais discretos.
Dois garçons
serviam um champanhe de boa safra e apetitosos canapés. Filó e
Astolfo deram uma voltinha pelas salas, olhando com esmero os
abstratos e discutindo o porquê dos traços, das cores e das
pinceladas dramáticas vindas do inconsciente do artista. Após à
visita, saíram à francesa. Uma bela noite, por certo.
Nessas inúmeras visitas foram pegando
traquejo, informações e conhecimentos de um mundo até então
desconhecido. E, por força das circunstâncias, aprenderam a se
comportar melhor nessas ocasiões. Filó concluiu que se ficasse mais
calada, passaria por uma connaisseur; sentia essa necessidade pela
sua própria insegurança.
Através
de um programa do governo, Filó conseguiu montar sua pequena
empresa, a sonhada Coquetel em Artes, especializada em coquetéis
para exposições e lançamentos literários - como constava no seu
Folder.
Tornou-se
mais traquejada no trato com as pessoas e seus braços ficaram mais
comportados, gesticulava com parcimônia. E jamais cometeria
novamente o deslize de querer conhecer pessoalmente Marc Chagall,
artista nascido em Vitebsk, Bielorrússia , no ano de 1887.
Deu-se
conta de que se fazia necessário, para o bom andamento da Coquetel
em Artes, manter-se discreta.
Na
vida, discrição é luxo.
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A última frase diz tudo!
ResponderExcluirRelativamente à Arte ... eu gosto de ver que mesmo não gostando muito ... se consegue tecer um comentário!
Bj amigo
Que beleza e a vida ensinou a Filó, que pelo menos conseguiu aprender a lição e ainda assim, conseguiu sair-se bem, até uma empresa montou...Lindo e delicioso te ler! bjs, chica
ResponderExcluirSendo observador apenas
ResponderExcluirComo faz o esperto gaúcho
Sem falar coisa pequenas.
Na vida, discrição é luxo!
Me encanta, amiga Tais, como remueves las grandes y pequeñas alegrías y penas de la vida.
ResponderExcluirE de trapalhada em trapalhada... Filó conseguiu tornar sua vida mais orientada... pois sua nova empresa, terá sido um sucesso...
ResponderExcluirÉ uma maravilha, sempre poder apreciar a sua criatividade, conjugada com um toque de humor nos seus textos, Tais!!! Astolfo?!?!?
É que eu nunca tinha ouvido semelhante nome!... :-D Adorei!!!!
Ainda bem que ela nem tentou fazer amizade com o Leonardo, do vinte... se calhar não deu com o número da porta...
Uma grande verdade! Na vida, discrição... é tudo, mesmo!
Beijos! Boa semana!
Ana
Uma crónica excelente, Taís. Podemos tirar dela várias lições de vida. Começar por algum lado e ter o espírito aberto para a aprendizagem necessária, nem que seja só aprender a ser discreto...
ResponderExcluirUma boa semana.
Beijos.
Assim consegue-se empiricamente um 'vernizinho' cultural,
ResponderExcluiraprendendo com erros e desvalorizando ou negligenciando
o estudo, atitude suficiente para mentalidade de copeira.
Mas a vida ensinou-lhe uma ótima lição - a discrição -
que todos necessitamos, porque não somos enciclopédias...
Gostei muito deste género de parábola...
Beijinhos, querida amiga.
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Olá Taís, adorei a crônica. A Filó era uma figura, mas no fim, depois de muito aprendizado, venceu.
ResponderExcluirGostei também dos seus comentários no blog, obrigado.
Nós adotamos o vegetarianismo, estamos nos dando bem. Carne só como exceção,e muito raramente. Um grande abraço, Loyde manda beijos!
Amiga Tais, gosto da leveza das tuas cronicas, mesmo quando dissertas sobre temas assim não tão leves, pois o lápis - façamos de conta que não estamos na era digital - desliza com suavidade e elegância à medida que compões os personagens dos teus escritos. Muito bom! Um abraço. Tenhas uma linda semana.
ResponderExcluir- Cadê o Chagall, eu quero cumprimentá-lo!!
ResponderExcluirEsse é o tipo de gente que gosta de aparecer, de chamar a atenção, só que, de forma negativa.
Realmente! Na vida discrição é luxo, mesmo sem nada custar.
Beijos,
Furtado
Filó conseguiu não ser tão atrapalhada e deu a volta por cima,sendo uma empresária.
ResponderExcluirUma crônica que serve de lição para muitos.
Adorei ler Taís.
Bjs,obrigada pela visita e uma ótima semana.
Carmen Lúcia.
Tais
ResponderExcluirAo visita exposições de arte, sempre nos deparamos com alguém parecido com a Filó, que parece não se aperceber que, calado é o melhor modo de vir a saber estar no ambiente artistico.
Beijos
Querida Taisamiga
ResponderExcluirAlzira (segunda parte)
Na sequência de pedidos diversos publica-se hoje a segunda parte da séria Alzira, que tem por título Alzira: vida e obras. Mais se informa que a série não deve ficar por aqui…
Entretanto o mistério do feed continua sem solução, ainda que tudo esteja a ser feito para ultrapassar esta chatice. Desculpa, mas ela não é minha
Henrique, o Leãozão
Por lo menos aprendió, pues esto de ir a una exposición sin saber nada del personaje es ir como perdido por los pasillos como Filo.
ResponderExcluirUn abrazo.
Oi Amiga, Taís Luso, boa noite !
ResponderExcluirJá vi muitas "Filó" por este mundo afora.
Logo são identificadas, por vezes, até...
Um fraterno abraço, querida.
Olá,...verdade, discrição é um luxo,a pessoa discreta sempre tem bom senso para falar e agir, principalmente em lugares públicos ,pessoas/ambientes que não temos muita familiaridade... claro, que não precisamos ser discretos em todas as situações da vida, ainda mais se este modo de agir for causador de uma plena liberdade interior. Porém, há de se ter serenidade e saber agir/falar , salvante o risco de cometer algumas "gafes", como ocorreu com Filó ( e Astolfo);Belos dias!
ResponderExcluirAh, querida amiga Taís, como gostei de sua crônica, já encontrei tantas e tantas Filós, que não podes imaginar.
ResponderExcluirTemos ainda aqueles que parecem ter olhos nos dedos, gostam de tocar nas obras! Os que colam a cara nas telas, como se olhando bem de pertinho fossem entender o que não compreendem.
Você é ótima em suas cronicas, mas se superou. Amei de montão :)
beijinhos,
Léah
Ser discreta e observadora faz da pessoa um ser admirável. Ouvir e aprender são ações de inteligência emocional para uma boa performance...
ResponderExcluirAbraço.
A discrição é essencial no tom da elegância de viver.
ResponderExcluirE também a discrição acompanha a trilha sonora do
silêncio (preciosa) neste mundo tão barulhento!...
Uma ótima semana, querida.
Beijo.
Taisinha, gostei muito dessa tua crônica, com o título de “ Uma vida atrapalhada”, com o destaque que dás a essa grande figura que é a Filó, personagem que foi criada por ti, fruto da tua vivência com as artes plásticas, em especial com as galerias (e aqui em Porto Alegre são tantas) nas quais são exibidas e comercializadas as obras, bem como nos muitos museus que frequentas, tais como o MARGS, o Fundação Iberê Camargo e tantos outros.
ResponderExcluirComo sempre te vi observadora nesses locais, não apenas às pinturas e pintores, mas também aos frequentadores de locais tão distante do grande público (o que é uma pena, pois todos deveriam frequentá-los, pessoas de todas as idades, sem nenhuma discriminação).
Não preciso dizer que ri muito com essa figura que criaste, a Filó, que ao longo da crônica vai aos poucos ficando íntima de nós, os leitores. Está excelente. Parabéns.
Beiinho daqui do escritório.
Tais, desculpe o pouca prática que sou: gravei teu blog com o endereço "a vida não é brincadeira", e cada vez que eu copiava e colava, estava na mesma postagem. Eu inadvertidamente achava que nada mais havias escrito. Depois sem querer cliquei em algum lugar que mostrou o panorama... Desculpe-me! Mas já aprendi mais uma. Com referência a esta postagem, Tais, a Filó me foi uma grande cicerone a levar-me pela mão a meandros e nuanças desta arte que eu desconhecia. E meus parabéns e admiração pela robustez dos teus conhecimentos nesse campo, que realmente não é nada fácil - é cubismo, é Iluminismo, é realismo, acadêmico, surrealista, ingênuo, deve ter malicioso, arrogante... Você, realmente tem muitos anos de estrada nesse campo, pois desde que eu a conheço, já trilhavas nesse caminho. Parabéns. Através do sua Filó aprendi bastante. Abraços. Laerte.
ResponderExcluirOi, Laerte, pegaste o endereço de um link , meu amigo! (rsss)
ExcluirO endereço do blog é:
https://taisluso.blogspot.com (Crônicas e Poesias)
Ou clica no meu nome, ao lado da minha fotinho que fica nos comentários do teu blog - vais dar no meu perfil, ali ficam meus 2 blogs para clicares.
Minhas postagens são semanais.
Obrigadíssima, adorei teus comentários, como sempre, FILÓ também agradece!
Mil abçs!
Hoje não vou só dar-te os parabéns, Tais, vou também bater palmas a essa Filó que procurou aprender aquilo que ninguém lhe ensinou, Há pessoas todas empertigadas que vão a exposições sem entenderem patavina só para mostrarem que são bem formadas e muitas vezes portam-se pouco melhor que a Filö. Dou muito valor a pessoas como ela. Agora vou contar aqui uma coisa muito engraçada; no Porto , no museu de Serralves está aberta ao publico uma exposição de Mirö. Conta-se como piada que uma professora levou a criançada para ver os quadros; pouco depois um rapazinho, olhando para um quadro cheio de riscos ( assim entendia ele ) disse para o colega : " olha, é melhor sairmos daqui, pois vão achar que fomos nóse ainda nos prendem" e correram para a saída,
ResponderExcluirTais, obrigada pela crónica interessante e que nos faz pensar que, se quisrrmos, omos capazes de tudo. Beijinhos
Emilia
Boa noite querida poeta...
ResponderExcluirA cronica acima nos deixa um legado.
Quanto mais agente amadurece, mais a opinião dos outros se torna irrelevante, quando desejamos novas mudanças, sejam ela pequenas ou grandes.
Nós poderíamos ser muito melhores se não quiséssemos ser tão bons. Um bj seguido de um abraço aos demais membros deste lar.
Que delicia de crônica e com muito aprendizado, provavelmente a partir de suas experiências e observações neste mundo das artes.
ResponderExcluirOi Tais,
ResponderExcluirGostei demais dessa crônica com personagem atrapalhada. Adoro as suas crônica.
Que Deus abençoe sua família
Beijos no coração
Minicontista2
Boa tarde, querida Tais,as crônicas por si só já são espetaculares, porém as suas estão sempre à frente. Pelo que escreveu podemos perceber que a discrição nas pessoas sempre é bem- vinda, e em todas as situações. Fiquei feliz pela Filó ter aprendido a duras penas o valor do comportamento.Podemos chamá-la de vitoriosa, pois além de aprender, conseguiu ser dona de uma pequena empresa com o sugestivo nome: Coquetel das Artes. Grande abraço!
ResponderExcluiroi Tais, muito boa a tua crônica. Que pena, Filó era tão espontânea! rs Uma verdadeira pedra bruta e que foi sendo lapidada até se tornar moldada e refinada. Perde-se algo, para se poder ganhar. E saber encaixar-se nesse tabuleiro que é a vida, é primordial.
ResponderExcluirbeijinhos, amiga. =)
Agora estou craque! Melhor que Neymar, só com o salário um pouquinho menor. É..., minha mulher me chama de cabeça dura por não dar ouvidos a ela... Porém agora, já me explicou tudo e já me largou sozinho por este mundo de Deus. Grato a ti também pelas dicas, Tais. A cada dia este guri vai ficando mais experto... Abraços. Laerte.
ResponderExcluir(rsss) é bom ouvires mais a Sandra, as mulheres são mais detalhistas, mais atentas (rs)! Mas tem muito gente que salva o link (que comentaram) ao invés de salvarem o endereço do blog. Tem de voltar para o HOME.
ExcluirMas com o tempo vais pegando as dobras e manobras da blogosfera, ainda mais que apareceram certas mudanças que estão deixando muito gente em dúvida, os tutoriais não estão sendo muito claros. Mas só pra ressalvar, teu blog está bombando, Laerte, Parabéns!
Abraçosss!
Boa noite Taís.
ResponderExcluirGostei da Filó rsrs. Mesmo dando alguns gafe não se intimidou, pelo contrário se aprofundou no assunto e ao final teve sucesso profissional. Ainda estou ausente mas virei as vezes. Um feliz fds para vocês. Abraços.
O que vai de Filó's por esse mundo fora....!!
ResponderExcluirMas pelos vistos, não tinha nada de burra..., só desconhecimento
no comportamento.....Mas aprendeu depressa..Do mal o menos...
Gostei de mais esta crónica....
Beijo
Excelente história.
ResponderExcluirSim, na vida há que saber manter a discrição e vamos aprendendo com as quedas e gafes cometidas.
Beijinhos
Maria
Querida Tais:
ResponderExcluirLa prudencia cuando no se tienen conocimientos de una materia, es fundamental en la vida.
Personajes como Filó con su espontaneidad, desparpajo y falta de discreción nos los encontramos en todos los ambientes.
Una crónica llena de humor pero también llena de sabiduría.
Un abrazo amiga.
Tais,que delícia de leitura,confesso que as pitadas de humor me fizeram rir muito,tu és incrível amiga!Amei!
ResponderExcluirSin tiempo para leerte ahora, paso ahora a saludarte al regreso
ResponderExcluirde mi viaje al Rio de la Plata a ver a mi familia de allá.
Um abraço
Boa cronica Taís.
ResponderExcluirA ilustração é maravilhosa.
Filó existem muitas neste mundo e muitas nunca se tocarão e perderão toda chance de se elevar,
Abraços.
E eu acrescentaria: na vida quase tudo se aprende, por isso a importância de proporcionar diversas experiências educativas e culturais às crianças e jovens; só assim se preparam públicos para a fruição das artes.
ResponderExcluirAdorei a crônica, asim como a anterior.
BJ, Taís ☺
Nunca gostei de artes, portanto só ia mesmo de diferente ao teatro. Não perdia uma peça quando morava numa metrópole.
ResponderExcluirUma vez dei uma gafe porque teatro você tem que ter um entendimento bem a frente dos autores. Todos riram e eu não achei graça. De repente comecei a rir(imagina que era a protagonista). Aí Dercy Gonçalves, olhou para mim e disse: pensa que não tenho tetas e arrancou aquelas duas pelanca para fora, aí sim que me deu uma crise de riso que contagiou muita gente. Saí do teatro, peguei o carro e fui embora rindo.Ai, cada uma que já aprontei.
Felices fiestas
ResponderExcluirGracias por tus visitas en mi blog es mucho de agradecer.
Besos