28 de janeiro de 2016

ETERNA MÁGOA




              - Augusto dos Anjos


O homem por sobre quem caiu a praga
Da tristeza do mundo, o homem que é triste
Para todos os séculos existe
E nunca mais o seu pesar se apaga!

Não crê em nada, pois nada há que traga
Consolo à mágoa, a que só ele assiste.
Quer resistir, e quanto mais resiste
Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga.

Sabe que sofre, mas o que não sabe
É que essa mágoa infinda assim, não cabe
Na sua vida, é que essa mágoa infinda

Transpõe a vida do seu corpo inerme;
E quando esse homem se transforma em verme
É essa mágoa que o acompanha ainda!

_______________________________________

EU E OUTRAS POESIAS / Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos
 - Porto Alegre: L&PM 2007, pg 95




21 comentários:

  1. Oi Tais!
    Que tristeza! Não existe nada pior que a mágoa, esta que corrói, corróe o amor, transforma o coração em grande ferida!
    Uma ótima escolha amiga!
    Beijos, uma linda tarde!
    Mariangela

    ResponderExcluir
  2. Perdão Taís, mas você tocou no meu poeta predileto, então coloco aqui poesia que fiz inspirado por ele:

    Pastiche de Augusto dos Anjos
    Clausura

    Naquele claustro de salas silenciosas
    De paredes úmidas e úmidas arcadas,
    Abóbadas sombrias, feias, tenebrosas,
    Na vastidão silente, sérias e caladas.

    Vagueiam tristemente murchas rosas
    Guardando cinzas de vidas passadas,
    Freiras e monjas, sóbrias e tristurosas
    Escondendo suas almas mal amadas.

    E à noite, quando rezam na clausura,
    No segredo das orações misteriosas,
    Nem sombra da mais leve de ventura.

    Só as arcadas romanas e misteriosas
    Veem as tais prisioneiras com candura
    Entendendo que isso as faz corajosas.

    ResponderExcluir
  3. O Homem
    Inspirado em Augusto dos Anjos

    Hoje velho, fico revivendo minha infância,
    Que parece distante, existiu em outra era
    Talvez mais pura, mais honesta e sincera
    Que, agora, à velhice oferece substância.

    Claro, lhe fornece douração, tal distância,
    Acrescenta até alguma dose de quimera
    Que, parece, é talvez algo que se espera
    Nada do gênero angustioso de dar ânsia.

    Toda maturidade será portanto um misto
    De infância e mocidade, porquanto existo
    Enquanto momentos bons e ruins somem.

    Fazendo de mim quem sou, exatamente
    Um animal racional o qual pensa e sente
    Em outras palavras, fez-me um homem.

    ResponderExcluir
  4. O mar
    O avesso de Augusto dos Anjos

    O mar é alegre sob qualquer critério;
    Cada cor abrandada revela a doçura,
    Da coberta de espuma sua brancura
    Até pontuais marés e seu gesto sério.

    Ah! dirão, e a profundeza de mistério,
    Cujo fundo se encontra àquela lonjura
    De amplidão imensurável e tão escura
    Do tamanho de um inteiro hemisfério?

    Quando à mente tais questões tragas,
    Pense na água, não apenas nas fragas,
    De modo que qualquer dúvida se esvai.

    Refletindo a luz do avermelhado poente
    O poeta transcende pelo que vê e sente,

    ResponderExcluir
  5. Linda escola do soneto e do poeta, era assim, poeta tinha de escrever as tristezas e as dores da alma, as mágoas eternizadas!
    Amei ler amiga Tais, também ando num rebusque de coisas que falam do passado, pois comparando tudo, vemos que o passado está tão presente, nossa!
    Abraços linda amiga, amo poder ler suas postagens que me atraem!

    ResponderExcluir
  6. Taísssssssss! Saudades amiga! Saudades daqui!
    Guria, que inferno, quando eu tenho tempo, mal tenho conexão! Ódio!
    Mas que maravilha é passar por aqui e dar de cara com um dos meus poetas favoritos. :))))
    Não vou entrar no "mérito" de ficar "pregando" contra a mágoa, por achar que não convém.
    Gosto muito de autores que vão fundo na ferida, que não escrevem só o mais do mesmo que o senso comum quer ouvir para "se consolar". Eu gosto de leituras tristes e até mórbidas e perturbadoras!
    E percebi que nosso gosto literário é muito parecido!
    Beijos minha querida e um ótimo ano de 2016 para ti! :)))))

    ResponderExcluir
  7. Apesar da mágoa grande, linda poesia e escolha! beijos, lindo e feliz fds! chica

    ResponderExcluir
  8. Tão triste!
    É um bocadinho a humanidade.

    Um beijinho e um bom fim-de-semana:)

    ResponderExcluir
  9. Triste e sofrido.
    Beijinhos
    Maria

    ResponderExcluir
  10. Confesso o meu desconhecido acerca deste poeta, mas a sensibilidade tocante e dolorosa deste seu soneto fez-me ficar curiosa da sua obra.

    Um beijinho grato

    ResponderExcluir
  11. La angustia la mayoría de las veces nos impide funcionar correctamente.
    Un saludo

    ResponderExcluir
  12. Tão verdadeiro, tão antigo, mas tão atual é esse soneto!
    Nossos poetas, traziam os sentimentos mais profundos em seus versos.
    Uma literatura rica, que foi legada ao brasileiro e é tão pouco "explorada"
    no meio acadêmico, nas universidades...Dos melhores, Augusto dos Anjos! Obrigada, Taís, pela partilha. Meu abraço.

    ResponderExcluir
  13. MUY MELANCÓLICO!!!
    ABRAZOS

    ResponderExcluir
  14. olá Taís: Os poetas da época falavam com muita dor à respeito de suas vivências, por isso este poema a pesar de lindo é tão contundente.
    Bom final de semana, beijinhos,
    Léah

    ResponderExcluir
  15. Magnífico soneto lleno de sentido y reflexiones filosóficas. Un buen poeta es, sin duda. Gracias por compartirlo. Un abrazo y gracias por sus comentarios en mi blog.

    ResponderExcluir
  16. Oi, Tais!
    Obrigado pelo brinde na excelente companhia de Augusto dos Anjos!
    Pra ficar na memória:"E quando esse homem se transforma em verme
    É essa mágoa que o acompanha ainda!"
    Beijão e bom fim de semana!

    ResponderExcluir
  17. Triste é chegar-se a não ter mais esperança e apenas cultivar tristezas e mágoas... A carga fica muito mais pesada de ser levada...
    Abraço.

    ResponderExcluir
  18. Final contundente e verdadeiro.
    Beijokas, Taís!!!

    ResponderExcluir
  19. Oi Taís, mágoa tão belamente descrita por Augusto dos Anjos, pesa toneladas no peito. Dor mais ingrata!
    Beijos

    ResponderExcluir
  20. Um poema forte, uma alma sofredora. Ele fez parte de minha vida estudantil, embora, na ápoca, tivesse dificuldade para entender essas manifestações poéticas (rss). Uma excelente escolha. Atualmente, ficam esses grandes escritores relegados a segundo plano. Bjs.

    ResponderExcluir
  21. Um soneto reflexível, com sua profundidade de dizeres que faz-nos ver o quanto a vida muita das vezes prega-nos peças, fazendo desta fardos adicionais..... Contudo confesso que amei... Assim como estes e outras por ai a fora de Augusto dos Anjos nos faz sempre refletir no acaso dos acontecimentos.... big bj linda...

    ResponderExcluir


Muito obrigada pelo seu comentário
Abraços a todos
Taís